Translate
Seguidores
Papel da direção do SIMMP: combater ataques a quaisquer profissionais da educação e cumprir o calendário eleitoral
"No
bojo da narrativa dos atuais e legítimos dirigentes sindicais, percebe-se o
intempestivo desejo de alguns de não realizar as eleições neste momento, como
determina o calendário eleitoral previsto pelo estatuto."
*por
Herberson Sonkha
A live de ontem (01) do SIMMP sobre o racismo misógino da ditadura do “bico da caneta” do atual prefeito contra duas dirigentes com mandato sindical classista, movimentou remotamente a cidade. Houve participação de várias representações de entidades sindicais e de movimentos sociais de Vitória da Conquistas, alguns ligados ao Fórum Sindical e Popular e dirigentes de outros municípios do estado da Bahia.
O
convite feito aos APN’s enviado pela própria dirigente do SIMMP ao meu WhatsApp,
no dia 31/08/2020, levou-me a participar da live. Logo após a minha fala
no ato virtual, passei a receber algumas mensagens de pessoas que me acompanham
nas redes sociais e de pessoas leitoras de meu blog (Blog do Sonkha). Elas queriam saber sobre a minha posição em relação a direção atual do SIMMP. Essencialmente, desejavam saber o porque de minha postura, já que eu havia feito defesa inexorável do
ex-vice presidente do SIMMP que se ressentia da postura intransigente da
presidente a ponto de renunciar, o amigo sindicalista e professor linguista
Davino Nascimento Silva.
A
“polêmica” gira entorno de minha posição enquanto intelectual orgânico de
esquerda, dirigente nacional dos APN’s e recém-filiado ao PSOL em relação ao
recente artigo que fiz para o SIMMP criticando esse ataque vil e a minha
recente intervenção na live. As mensagens manifestavam interesse em
saber qual era a minha vinculação política com a atual presidente do sindicato
e a ligação com o espectro ideopolítico de sustentação da direção do SIMMP.
A
presidente do SIMMP tem acento do Conselho Municipal de Saúde e todos (as) nós
conselheiros (as) com representação dos movimentos sociais e de profissionais de
saúde temos partilhado das mesmas críticas a este (des)governo municipal sem
qualquer compromisso com o Sistema Único de Saúde (SUS). Principalmente, com a
agenda progressista baseada na tríade desenvolvimentista – Educação, Saúde e Desenvolvimento Social. Umas das principais reclamações que chegam com frequência a este
imprescindível colegiado de Controle Social é a de perseguição a servidores
públicos municipais. Por isso, estamos sempre atentos!
A
saber, estou dirigente nacional do Agentes de Pastorais Negros e Negras do
Brasil (APN’s) compondo com outros e outras malungas a coordenação Nacional de
Formação Política. A nossa entidade, que é dirigida por uma mulher negra, a
carioca Rosilene Torquato, não poderia se furtar a prestar solidariedade (de
classe, étnico racial e de gênero) e fazer defesa a essas mulheres diante de ataque
tão vil.
A
nossa entidade compõe o Fórum Sindical e Popular com posição bem definida e
ação inequívoca acerca do combate aos racismos (estrutural, institucional e
religioso), a misoginia e ao odioso ataque anti-classista, sobretudo este perpetrado contra
essas duas Mulheres Negras que neste momento estão na alça de mira da
extrema-direita, alojada no atual governo municipal.
Este
militante que escreve com certa regularidade sobre as múltiplas dimensões das
violências socioeconômicas e políticas na sociedade contemporânea, não poderia
se omitir e, exatamente por isso, tenho chamado a atenção para o que ocorre a cada
milésimo de segundo que passa contra a mulher, sobretudo a mulher negra que é infinitamente mais invisilibilizada, perseguida, oprimida, explorada, estuprada
e assassinada do que a mulher branca.
Destas
inúmeras formas de violência, a simbólica contra as mulheres neste país, neste
estado e no município de Vitória da Conquista parece ser a mais perversa porque
nem sempre é percebida por todos e as vítimas quase sempre permanecem caladas
porque não consegue explicar aquilo que muita gente não consegue enxergar por
limitação ou má-fé.
Por
isso, tornou-se uma marca indelével na perversa dinâmica de uma sociedade
escandalosamente patriarcal o silencio estrepitante diante de tantos atos de
crueldades contra as mulheres, a exemplo da desigualdade salarial, a negação
aberta ou velada de competência e a constante criminalização como método de
desmoralização por ser mulher. Não há como ficar caldo quando uma mulher é
violentada e agir como se fosse algo normal. É necessário tomar posição sim ao lado
da luta das mulheres contra tudo isso. Independe de amizade, de companheirismo,
de laços de parentesco ou de ser oposição a forma de conduzir uma instituição sindical,
social, pública ou privada.
Como
intelectual comunista, penso que qualquer instituição anticapitalista deve ter o
compromisso ideopolítico com a construção efetiva do Socialismo científico. Não
exatamente aquela aberração criada pelos regimes totalitaristas stalinistas ou
do clichê criado pelos ideólogos do liberalismo que o classifica como
socialismo real. O socialismo não é uma criação da mente iluminada de algum
privilegiado, mas da práxis política aplicada na construção coletiva diária do esgarçamento da
democracia formal para a democracia substancial participativa (se vai ser por meio de uma violência revolucionária não se sabe), construtora da
liberdade baseada peremptoriamente na emancipação humana e social da classe
trabalhadora e das poluções subalternizadas pela classe dominante (a elite do
atraso de Jessé Souza) e a sua serviçal de primeira hora, a alta e a média
classe média venal.
Aliás,
isso deve ser buscado de modo concomitante com a emancipação das populações
negras, mulheres e a emancipação da orientação religioso dominada pela
hegemonia branca judaico-cristã e emancipação da orientação sexual humana com o
respeito a identidade de gênero – o fim da hegemonia heteronormativa que visa
exterminar com as populações de múltiplas orientações sexuais.
Como
militante que se pauta pela construção contínua de uma solida formação crítica
de intelectual orgânico de esquerda, compatível com um tipo de práxis política
emancipacionista, compreendo que as instituições políticas que derivam de todas
as lutas de classes encetadas pelo movimento sindical (classe trabalhadora) e
movimentos sociais populares (negras, mulher, religiões e múltiplas orientações
sexuais e de gênero) devem convergir ideopoliticamente energias para alavancar
a correlação de forças contra a classe dominante dentro da ordem civil burguesa e seu sistema de mercado
capitalista em curso, visando sempre superá-los.
Por
isso, estou observando atentamente a dinâmica de forças que se alternam na
direção do SIMMP ao longo de mais de três décadas – Aliás, o SIMMP foi fundado
em 4 de setembro de 1987, portanto completará 33 anos no dia 4 de setembro. Pelos
menos duas, dessas três décadas, eu tive o privilégio de participar de algumas
lutas importantíssimas para o município e parte delas ocorreram quando a
professora Luciene Rocha estava compondo a direção da entidade e o fiz como
estudante e dirigente de grêmio livre.
Tendo
explicado minha necessária intervenção na live do dia 1 de setembro do
SIMMP aos meus leitores e ouvintes, peço vênia para expor a minha análise sobre
o momento crucial em que o SIMMP atravessa, principalmente sobre os nós de marujo a
serem desatados para liberar uma pauta à
esquerda ou talvez progressista – já estaria de bom tamanho. Os desafios para
essa conjuntura complexa não são simples e não depende de nenhum iluminado que
se reivindique dono do pensamento sindical. Basta compreender a dinâmica de
reprodução do capital e lá estarão todos os elementos que constituem os verdadeiros interesses dos representantes da
burguesia municipal. Para isso, exige-se mais que um olhar superficial sobre os
ânimos acirrados deste ou daquele sindicalista alvissareiro com a possibilidade
de assumir o comando de um dos mais importantes e estratégicos sindicatos da
região sudoeste.
Deste
modo, sigo na certeza de que é preciso aprofundar um pouco mais no rico caldo
produzido pelo fluxo de alternância que resulta das disputas do SIMMP. Diante dessa
realidade de fragilidade das pautas e do compromisso com uma agenda revolucionaria para o
movimento sindical dos servidores públicos municipais, limito-me a analisar apenas duas necessidades prementes que se tornaram um nó, uma vez desatado segue-se o fluxo
sindical dentro da legitimidade, mas com a presença de um debate mais
progressista ou quem sabe mais à esquerda.
Nessa
perspectiva, duas tarefas imprescindíveis estão na lista de medidas
urgentíssimas a serem realizadas imediatamente pela direção executiva do SIMMP:
se defender de ataques e organizar o processo de sucessão a atual gestão que se esgota no final deste ano. No entanto, examinando melhor o estatuto da
entidade, vê-se que para organizar politicamente a categoria contra o misógino
ataque de agentes políticos do atual governo municipal à membros da direção
sindical com licença para mandato classista obtido democraticamente nas últimas
eleições à presidência do SIMMP, impõe-se respeitar o calendário eleitoral do
sindicato.
Observe que uma coisa não está desvinculada da outra, pois no que pese a conjuntura
pandêmica, o judiciário que compõe um dos três poderes da República Democrática
brasileira realizará as eleições municipais para evitar brecha aos golpistas
fascistas de plantão que rondam a possibilidade de romper com a ordem
constitucional e instalar (de direito porque já existe de fato) definitivamente
a autocracia no Brasil para prolongar ad infinitum a permanência no
comando da institucionalidade.
No
bojo da narrativa dos atuais e legítimos dirigentes sindicais, percebe-se o
intempestivo desejo de alguns de não realizar as eleições neste momento, como
determina o calendário eleitoral previsto pelo estatuto. A despeito desse
discurso perigoso, se prevalecer, perde-se o respeito à legitimidade que tanto
se reivindica nessa quadra da história de crescimento assombroso de ataques as liberdades democráticas, de
desregulamentação de direitos trabalhistas e previdenciários.
Além
do mais, perde-se a condição moral da direção de convencimento e passa-se a impor a categoria, sobretudo
ao movimento interno mais à esquerda que
faz oposição por defender um sindicato pela base. Portanto, perde-se o direito a não realização de uma
assembleia geral na qual exige-se maiores explicação sobre a natureza desse ataque vil
do atual governo municipal ao SIMMP, a tentativa de vincular o sindicato a
candidatura do ex-prefeito Zé Raimundo e a polêmica pauta eleitoral.
Não se
pode combater atos administrativos considerados desrespeitosamente autoritário
do atual governo municipal que se utiliza de práticas de judicialização, se
opondo a liberdade de expressão de militantes que compõem legitimamente a
categoria, inclusive de adeptos do atual prefeito ligados ao movimento de
extrema-direita. No entanto, para se reivindicar a legitimidade de um mandato
sindical classista é necessário cumprir o calendário eleitoral que, segundo o
estatuto deverá ocorrer no final do ano.
Caso
não aconteça, a atual gestão poderá incorrer em erros crassos e que certamente
serão caracterizados como golpe na ordem constitucional que assegura a livre
organização sindical e a livre escolha de suas representações por meio de
eleição. A eleição é um expediente que estrutura as liberdades democráticas.
Não há razão coletiva para postergar esse processo.
Para
efeito legal, já deveria ter sido marcada uma assembleia para constituição da
Comissão Eleitoral que conduzirá todo o processo e o pleito. Aliás, uma vez que até o termino do mandato não ocorra o processo eletivo de escolha, isso incorrerá
em vacância de cargo eletivo que só, e somente só, poderá ser substituído por
meio de um processo eleitoral.
Portanto,
a primeira tarefa exige habilidade para exercer a dialogicidade crítica com outras
categorias e com movimentos sociais e isso de alguma forma já vem sendo feito,
embora precise ampliar essa frente para combater sistematicamente essa prática
de judicialização contra este ou aquele sindicato que faz o enfrentamento
ideopolítico ao patronato que dá sustentação financeira e condução política ao
atual governo municipal.
Isso
implica em garantir de maneira isonômica a todo e qualquer sindicalizado o
direito de votar e ser votado. Mas, isso não significa apenas marcar eleições
quando achar conveniente não, esse direito começa quando se cumpre o calendário
eleitoral previsto pelo estatuto da entidade, garantindo todas as condições necessárias para
realização democrática do pleito, sem manobras, jeitinho e arranjos políticos
eleitorais que ferem sinistramente os interesses da categoria. Aliás, isso foi o que
aconteceu no passado recente – não nos esqueçamos da ex-dirigente que assumiu um cargo de livre nomeação do prefeito na pasta da educação desse atual governo e, como “sindicalista”, a sua prática
institucional nefasta não está sendo boa para os interesses socioeconômicos e políticos
da categoria de profissionais da educação.
A
segunda tarefa é o cumprimento ipsi literis do calendário eleitoral do
sindicato sob o risco de reproduzir a mesma prática de nossos algozes no
governo municipal. Mas, esse governo que vem transformando a gestão num puxadinho do governo federal fascista miliciano, que por extensão segue como
capacho o Donald Trump que ameaçou (militar-mente?) não respeitar o calendário
eleitoral dos EUA com intenção explicita de estender autocraticamente o prazo
de vigência de seu mandato – Isso já aconteceu no Brasil do pós-golpe
civil-militar (1964-1985), quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
comprou abertamente o centrão (isso já não seria mensalão?) e não se ouviu nenhum alarde da classe média com a corrupção escancarada para aprovar um terceiro
mandato.
Portanto, a legitimidade moral dessa gestão
não pode ferir a tradição sindical do SIMMP quê, independente de quem estiver no poder, sempre realizou abertamente seu processo eleitoral e de maneira
democrática. Independentemente de quem esteja disputando o poder, deve ser assegurado o
direito legitimo de disputa. É na disputa ideopolítica direta (olhos nos olhos)
que se combate e expurga a extrema-direita alojada no governo municipal. Sem subterfúgio!
A
tradição sindical do SIMMP sempre respeitou isso. Por que quebrar ou postergar
agora? Qual a finalidade? Afinal de contas, não foi essa garantia pétrea de liberdade
democrática que possibilitou os adeptos da sindicalista seguidora da
orientação nacional da extrema-direita bolsonarista (anti-corrupção?) ascender
a direção da entidade? Inclusive contou com apoio equivocado e irrestrito de militantes que
se reivindicam intelectuais orgânicos de esquerda tomados pela cegueira e pelo ódio exalado das entranhas da classe média venal
queria derrotar a todos custo José Raimundo Fonte nas eleições de 2016?
O
trágico resultado foi o aparelhamento do sindicato que o transformou em mera correia
de transmissão para alavancar a campanha do atual prefeito. Não é à toa que
grande parte dos servidores (e o fazem discretamente porque temem a represália
truculenta desse coronel perseguidor) públicos municipais da prefeitura de
Vitória da Conquista estão frustrados e descontentes com o atual prefeito.
Cabe
as forças políticas sindicalistas de esquerda orgânica capitanear esse processo
de disputa, organizando politicamente as insatisfações para retomar a
correlação de forças interna no SIMMP pela base sindical, com a finalidade de
superar o culturalismo liberal burguês que impregnou nas mentes e corações mais
incautos, possibilitando a instrumentalização de parcelas significativas de servidores contra toda a esquerda (e não importa se for do PT, do
PSOL, do PCdoB, do PSB, do PCB ou de qualquer setor que se reivindique socialista e/ou comunista), se
organizando para disputar a direção do sindicato.
Qualquer que seja a força vencedora no árido campo de esquerda, terá sido um importante avanço das forças progressistas, mas isso não significa transformar o SIMMP em correia de transmissão do governo municipal ou estadual. É preciso garantir autonomia política e liberdade ideológica sindical, respeitar as pautas da categoria que visem fortalecer socioeconômica e politicamente os trabalhadores do setor público municipal. Isso deve ocorrer pari-passu a consolidação de uma compreensão crítica da política como expressão da luta de classes por dentro das relações de poder que perpassam a sociedade civil liberal burguesa e o sistema capitalista de mercado neoliberal.
Este é o combate revolucionário que deve ser feito sistematicamente nesse campo de batalha árido aonde os opressores constroem as suas miraculosas estratégias e executam inescrupulosamente as suas artimanhas táticas para que seus representantes na política ocuparem a
institucionalidade municipal.
0 comments :
Postar um comentário