Translate

Seguidores

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Gotas de chuva em uma floresta em chamas

"[...] as ações do Governo Federal diante da crise parecem um bombeiro querendo apagar uma floresta em chamas com um conta-gotas."

 

*por Josias Alves e Vinícius Correia

 

No final do século XIX, o economista inglês Alfred Marshall, ao descrever o ciclo de vida das empresas, comparou-as a uma floresta. Segundo Marshall, em uma floresta existem árvores pequenas, médias e grandes que competem por oxigênio. As árvores maiores, por serem mais altas, conseguem mais oxigênio e, por isso, crescem mais rapidamente. O desafio que se coloca para as árvores menores é tentar sobreviver nesse ambiente hostil na busca por oxigênio.

Em uma analogia com a competição nos mercados, firmas pequenas, médias e grandes travam uma batalha pela sobrevivência. Utilizando a analogia marshalliana, podemos dizer que o capital de giro nas micro e pequenas empresas se assemelha ao oxigênio para as árvores menores na floresta. Ter capital de giro é uma sobrevivência.

A crise sanitária que se apresentou no Brasil desde fevereiro de 2020 está produzindo um efeito nefasto sobre a economia. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 700.000 empresas fecharam no país até o mês de julho. A maioria das empresas fechadas é de micro e pequenas empresas. Já são mais de 3 milhões de desempregados nesse período. As previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) para 2020 são de queda acima de 10%. Em Vitória da Conquista a situação não é diferente. Vários pequenos e médios estabelecimentos fechados, aumento de desemprego, aumento da pobreza nas ruas da cidade.

Diante da maior crise sanitária e econômica do mundo o governo brasileiro demorou a agir. Lançado em 18 de maio de 2020 através da Lei 13.999, o Programa Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresa (PRONAMPE) previa uma ajuda às empresas de 15,9 bilhões de reais. Esses recursos esgotaram-se em apenas um mês e beneficiou apenas 218 mil empresas, segundo dados do Ministério da Economia. Para o mês de agosto de 2020, o Congresso Nacional aprovou uma suplementação de mais R$12 bilhões.

Dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro Empresas (SEBRAE), apontam que apenas 16% das empresas que buscaram crédito através das linhas disponibilizadas pelo Governo Federal conseguiram os recursos. Excesso de burocracia com documentações, exigência de certidões negativas e apresentação de garantia real são os maiores entraves apontados pelas micro e pequenas empresas.

Voltando a Marshall e sua analogia entre mercados competitivos e florestas, as ações do Governo Federal diante da crise parece um bombeiro querendo apagar uma floresta em chamas com um conta-gotas. O incêndio causado pela crise sanitária é enorme e o governo parece que ainda não percebeu o tamanho e a extensão das chamas. Nesse incêndio as árvores pequenas, algumas ainda são apenas brotos, precisam de maior proteção. O capital de giro é fundamental para a sobrevivência das pequenas empresas. A demora na ajuda pode chegar tarde demais. Tomara que a sociedade brasileira possa renascer após esse incêndio qual a ave Fênix da Mitologia.

 

______________________________________

*Josias Alves é doutor em Desenvolvimento Regional e professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB. Vinícius Correia é doutor em Serviço Social e professor da UESB.

0 comments :

Postar um comentário

Buscar neste blog

Inscreva seu e-mail e receba nossas atualizações:

Arquivo