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Gotas de chuva em uma floresta em chamas
"[...]
as ações do Governo Federal diante da crise parecem um bombeiro querendo apagar
uma floresta em chamas com um conta-gotas."
*por
Josias Alves e Vinícius Correia
No final do século XIX, o economista inglês Alfred Marshall, ao descrever o ciclo de vida das empresas, comparou-as a uma floresta. Segundo Marshall, em uma floresta existem árvores pequenas, médias e grandes que competem por oxigênio. As árvores maiores, por serem mais altas, conseguem mais oxigênio e, por isso, crescem mais rapidamente. O desafio que se coloca para as árvores menores é tentar sobreviver nesse ambiente hostil na busca por oxigênio.
Em uma
analogia com a competição nos mercados, firmas pequenas, médias e grandes
travam uma batalha pela sobrevivência. Utilizando a analogia marshalliana,
podemos dizer que o capital de giro nas micro e pequenas empresas se assemelha
ao oxigênio para as árvores menores na floresta. Ter capital de giro é uma
sobrevivência.
A
crise sanitária que se apresentou no Brasil desde fevereiro de 2020 está
produzindo um efeito nefasto sobre a economia. Segundo o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 700.000 empresas fecharam no país
até o mês de julho. A maioria das empresas fechadas é de micro e pequenas
empresas. Já são mais de 3 milhões de desempregados nesse período. As previsões
para o Produto Interno Bruto (PIB) para 2020 são de queda acima de 10%. Em
Vitória da Conquista a situação não é diferente. Vários pequenos e médios
estabelecimentos fechados, aumento de desemprego, aumento da pobreza nas ruas
da cidade.
Diante
da maior crise sanitária e econômica do mundo o governo brasileiro demorou a
agir. Lançado em 18 de maio de 2020 através da Lei 13.999, o Programa Nacional
de Apoio às Micro e Pequenas Empresa (PRONAMPE) previa uma ajuda às empresas de
15,9 bilhões de reais. Esses recursos esgotaram-se em apenas um mês e
beneficiou apenas 218 mil empresas, segundo dados do Ministério da Economia.
Para o mês de agosto de 2020, o Congresso Nacional aprovou uma suplementação de
mais R$12 bilhões.
Dados
do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro Empresas (SEBRAE), apontam que apenas
16% das empresas que buscaram crédito através das linhas disponibilizadas pelo
Governo Federal conseguiram os recursos. Excesso de burocracia com
documentações, exigência de certidões negativas e apresentação de garantia real
são os maiores entraves apontados pelas micro e pequenas empresas.
Voltando
a Marshall e sua analogia entre mercados competitivos e florestas, as ações do
Governo Federal diante da crise parece um bombeiro querendo apagar uma floresta
em chamas com um conta-gotas. O incêndio causado pela crise sanitária é enorme e
o governo parece que ainda não percebeu o tamanho e a extensão das chamas.
Nesse incêndio as árvores pequenas, algumas ainda são apenas brotos, precisam
de maior proteção. O capital de giro é fundamental para a sobrevivência das
pequenas empresas. A demora na ajuda pode chegar tarde demais. Tomara que a
sociedade brasileira possa renascer após esse incêndio qual a ave Fênix da
Mitologia.
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*Josias Alves é doutor em Desenvolvimento Regional e professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB. Vinícius Correia é doutor em Serviço Social e professor da UESB.
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