Translate
Seguidores
O PSOL saiu sozinho ou foram alguns partidos de esquerda que mudaram o discurso e o curso à direita de seus programas?
"O
voto no PSOL é diferente do voto desideologizado que não se compromete com
nenhuma pauta histórica da classe trabalhadora e das lutas sociais pela emancipação
das populações periféricas e campesinas subalternizadas"
*por
Herberson Sonkha
Como trabalhador, militante comunista de movimentos sociais e recém filiado ao Partido Socialismo e Liberdade peço vênia ao partido para expressar minha posição sobre a correta e estratégica postura ideopolítica do PSOL nessas eleições municipais. Considero que o voto ideológico da militância crítica, de pessoas cultas, de intelectuais ativistas, artistas e religiosos progressistas no PSOL tem um recado explicito para quem mudou o curso de seus programas de governos à direita.
Isso
tem a ver com o vácuo criado pela esquerda institucionalizada, que aos poucos
passa a ser ocupada com o fortalecimento de uma esquerda originalmente orgânica
que se coloca para a cidade desde meados da primeira década do século XXI. O recado em forma de advertência vem se
tornado cada vez mais forte a cada eleição e conta com o apoio de pessoas não
partidárias.
Isto
singulariza o crescimento do PSOL como um partido de esquerda com autonomia em
relação a esses partidos de centro-esquerda institucionalizados na cidade. Se
ergue passo-a-passo numa conjuntura de pós-linchamento moral feito por setores
de extrema-direita da burguesia contra partidos, sindicatos e entidades dos
movimentos sociais progressistas e de esquerda. Esse marco histórico nos lembra
que a extrema-direita não começou agora, mas a partir da sobrevivência da
narrativa conservadora depois da derrota eleitoral do presidenciável neoliberal
Aécio Neves (PSDB) em 2014.
O voto
no PSOL é diferente do voto desideologizado que não se compromete com nenhuma
pauta histórica da classe trabalhadora e das lutas sociais pela emancipação das
populações periféricas e campesinas subalternizadas pelo capitalismo e sua
ordem civil burguesa opressora. Esse voto fluido reflete apenas a posição tênue
de manutenção do status quo de quem já possui privilégios. Por isso,
prefere se manter solto para circular livremente entre propostas que expressam
um desejo ardente de manutenção de poder, em detrimento do voto consciente que
cria as condições materiais objetivas para a sobrevivência das populações
empobrecidas que estão confinadas nas periferias e zona rural da cidade.
Esse
voto líquido, conjunturalmente representado por esse campo ideologicamente mais
fluido, se identifica com esses partidos de centro-esquerda com sérias
inclinações conciliatórias, sem maiores comprometimentos com as necessárias
transformações estruturais de um Estado viciado e corrompido, subserviente ao
livre mercado e indiferente com as hostilidades opressoras da sociedade civil
burguesa.
Na prática,
se traduz na permanecia obsequiosa às elites socioeconômicas, mantendo-se
obediente e cordialmente dentro dos limites exigidos pelo falacioso liberalismo
da eficiência do Estado mínimo e do mercado máximo, como querem os detratores e
perseguidores da esquerda orgânica.
Aliás,
é isso o que fazem aqueles pragmáticos despolitizados que comandam a
institucionalidade do governo do Estado da Bahia, contra servidores públicos do
estado, a classe trabalhadora e as populações subalternizadas. Esses políticos
progressistas no discurso, mas neoliberais na prática institucional, expressam
exclusivamente o desejo que evidencia o apreço incondicional por candidaturas
rarefeitas, baseadas em consensos construídos sem o mínimo de comprometimento
ideológico com as lutas sociais.
Esta é
a controversa e recusável condição que querem impor ao PSOL, como se o partido
tivesse qualquer interesse no trânsito livre entre as alas moderadas de
centro-direita que se reivindicam de esquerda para confundir uma população que
pouco compreende essas contradições na política brasileira. Mas, não ignoramos
o fato de que esse campo ideologicamente flácido neste momento se opõe ao
fascismo-miliciano bolsonarista.
No que
pese a inevitável crítica a essa fluidez programática que só apadrinha àqueles
oportunistas inúteis grudados nas tetas do estado, sobretudo aquele outro à
serviço da manutenção da tradicional política exigida pelo liberalismo (social
ou econômico), vê-se em linha geral que
esse voto liquido é importante nessa conturbada conjuntura de retrocessos das
liberdades democráticas e das conquistas sociais promovida pelo crescimento
institucional da extrema-direita de verve fascista.
Contudo,
compreende-se que o PSOL não mergulhará nessa aventura da liquidez ideopolítica
para abrir mão de sua coerência programática com a esquerda. Não se
transformará num trânsfuga de sua própria história, um pária desertor de sua
práxis política emancipacionista para se vincular a este ou aquele partido que
serve a ordem burguesa só por causa do pontual posicionamento de combate aos
fascistas.
Que o
faça cada qual em suas próprias fileiras, uma vez que essa posição se torna
estratégica e momentaneamente necessária para impedir a consolidação da
capilaridade do bolsonarismo no município com a intenção de alavancar uma
possível reeleição em 2022.
No
campo de visão mais ligado a perspectiva de esquerda, existe uma compressão de
que mesmo com essa posição ideologicamente fluida e alinhamento com o
centro-direita, percebe-se a possibilidade dessa contraposição ao voto
fundamentalista em Herzem Gusmão e David Salomão que representam a genuína
extrema-direita na cidade.
Essa
oposição circunstanciada se deve a necessidade
de sobrevivência do próprio campo de centro-esquerda, condição exigida
para combater este voto fundamentalista com a finalidade de evitar a
continuação do clã fascista-miliciano bolsonarista, que tem logrado êxito ao se
apresentar a cidade sob a esfinge do conservadorismo patriótico-cristão.
Convenhamos
que essa gente não tem absolutamente nada de patriótica ou de cristã e, o maior
exemplo disso são os gestos belicosos das mãos como se fossem arminhas é a
simbólica réplica da estátua da liberdade na entrada de todas as lojas Havan
(do apoiador e financiador da campanha de bolsonaro), símbolo do capitalismo
imperialista internacional norte-americano que atua abertamente contra os
interesses do Brasil, enquanto nação. Aliás, além de uma religiosidade
farisaica esse fundamentalismo tem por finalidade subordinar de modo colonizado
a soberania nacional e o povo brasileiro aos interesses imperialista do capital
norte-americano.
A
população conquistense precisa ser convencida de que esse voto fundamentalista
permite ao governo realizar as privatizações, o vilipêndio e o rombo das
riquezas da nação; a destruição total do meio ambiente; o fim das liberdades
democráticas e de direitos sociais, econômicos e políticos adquiridos com as
lutas sociais da classe trabalhadora e das populações marginalizadas das
periferias.
Eles
estão explorando a simplicidade de nosso povo que ainda não alcança os
desdobramentos futuros do voto honesto dado hoje nessas duas candidaturas
municipais que se reivindicam herdeiras do bolsonarismo. Essas duas
candidaturas representam o movimento nacional de extrema-direita nascidas do
golpe de 2016 que empurrou o país para uma crise sem precedentes, uma
bancarrota econômica que deixa o país à beira do caos em todas as dimensões da
vida socioeconômica e política brasileira.
A
sociedade da desinformação criada pelo analfabetismo funcional e político
favorece aos políticos lacaios que exploram a inocência de nosso povo simples.
Isso ocorre em função de questões estruturais objetivas que eliminam
radicalmente nossas populações da vida material e intelectual, condições
indispensáveis para compreensão minimamente crítica da gravidade da situação do
país. Inclusive, facilitou aos algozes instrumentalizar essas populações contra
a esquerda, sobretudo para culpabilizar o PT ou a pandemia do Convid-19.
Nem mesmo
os “inteligentes” da academia ficaram imunes a investida da extrema-direita,
pois grande parte dessa turma das ciências não se desvencilhara dessa
ingrisilha criada para emplacar o discurso anticorrupção, de demonização das
massas e criminalização desses partidos de esquerda. Não seria o nosso povo
simples (orientados pelo cientifico powerpoint da rede globo), alienados de si
mesmo pelos interesses da burguesia que compreenderia a economia a ponto de
entender que muito antes da pandemia o Produto Interno Bruto (PIB) de 2019 já
apresentava queda de 11,4% no 2º semestre (entre abril e junho) de acordo
analistas do Valor Data.
Alcançar
o palavreado tecnicista dos economistas do Valor Data que alertavam que o
Brasil desde 1996 não havia enfrentado tamanha retração no seu produto interno
(PIB) de forma tão acentuada. Certamente, nosso povo simples não iria
compreender que essas informações acenavam para uma crise no médio prazo do
setor produtivo, em função da política econômica que privilegia multinacionais
e a desaceleração do processo industrial do país, com base no sucateamento do
parque industrial brasileiro, articulado a uma política cambial que favorece
apenas ao aumento das importações, sobretudo de produtos norte-americanos ou
seus aliados econômicos.
Por
hipótese, suponho empiricamente que o incentivo ao desconhecimento tenha por
finalidade motivar a inocência de nosso povo. Isso levaria inevitavelmente a
infantilização na política de nossa gente. Isto é perfeitamente compreensível,
mas nem mesmo a intelligentsia do establishment questionou essa
situação histórica que afeta nosso povo desde sempre. Ao invés disso,
internalizaram o discurso do economês da rede globo e bateram o martelo na
sentença de que essa situação é algo sem solução.
A
tarefa de um partido de esquerda é vocalizar os interesses da classe
trabalhadora das populações subalternizadas de pautar as lutas sociais e criar
mecanismos que faça a contra informação de modo que a população possa
compreender esses movimentos e consiga fazer a devida ligação desse voto com a
continuação de todas as mazelas na sociedade.
Mas, o
PT e o conjunto de partidos aliados fizeram ao contrário, escamotearam a luta
de classes, negaram princípios fundantes da esquerda e realizaram
irrefletidamente a “conciliação” entre classes historicamente antagônicas.
Induziram a população ao erro de achar que achar que a luta por direitos e as
políticas públicas do estado de bem estar social seriam a estação final da
humanidade. Os problemas estruturais na sociedade contemporânea, herdados do
regime escravocrata persistem e nada fizeram (ou farão) para subverter essa
ordem civil burguesa e seu sistema econômico nefasto contra o povo. Só um
programa de governo originalmente de esquerda, constituído pelas pautas
populares poderão possibilitar a insurgências contra o capital e sua ordem
civil burguesa opressora, exploradora e perversamente mantenedora do ódio de
classe, do racismo, feminicídio e multifóbica.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirExcelente reflexão camarada. Fundamental apontar que o Psol se constitui e constrói na cidade à esquerda, assim como PCB e outras(os) militantes que buscam formas de política que não essa apresentada por uma centro esquerda com flerte até na direita em busca de construções políticas apenas para disputar e vencer eleições. Nossa construção é para além disso, queremos transformações estruturais, embora tenhamos bandeiras e lutas comuns em diversas frentes como a luta contra o fascismo, o racismo e tantos outras práticas espúrias dessa corja que está no poder, mas jamais seremos seguidores das mesmas políticas de conciliação de classe e submissão ao capital rentista e ultraliberal que vem sucateando e precarizando a vida da classe trabalhadora.
ResponderExcluir