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terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Vilma Reis: a nossa Dandara dos Palmares chegou!



"Temos em sua narrativa emancipacionista toda uma concepção insurrecta contra o establishment de direita, extrema-direita, de centro e de esquerda positivista."

"Negra (o) entoou
Um canto de revolta pelos ares
No Quilombo dos Palmares
Onde se refugiou"


*por Herberson Sonkha

Minha valorosa companheira de grandes lutas Alaíde Santana (APN’s Bahia), eu tenho escrito insistentemente críticas sobre as defecções políticas e as inflexões ideopolíticas de campos hegemônicos no comando de sucessivas direções do PT de Conquista, da Bahia e do Brasil. Desde 1986 em Jequié, quando iniciei a minha ação política consciente, sempre militei à esquerda. Sobretudo quando entendi quem sou, porque sou assim, de onde vim, onde estou e para onde certamente pretendo ir. Sinceramente, depois de todos esses anos eu espero chegar em breve, pois não estou sozinho.


Nessa minha vida de lutas incessantes, com alguns avanços, noutras retrocessos, eu estou certo de que conseguimos uma síntese avançada com o nome da companheira Vilma Reis para a prefeitura de Salvador. Conheci essa grande mulher em minha cidade de nascimento Vitória da Conquista, quando participou de várias atividades de formação e rodas de conversas em Conquista, quando governávamos a cidade.

Dela herdo um conjunto de conhecimento da sociologia crítica que contribuiu para minha consciência crítica, a pertença étnico-racial negra, a motivação política para o enfrentamento com o establishment branco. Diria quase sumariando que tudo isso está expresso em apenas uma frase que nunca me saiu da cabeça de militante, “nós temos nome e sobrenome” e aprendi a dizer isso com “bico na diagonal”.

Temos em sua narrativa emancipacionista toda uma concepção insurrecta contra o establishmentde direita, extrema-direita, de centro e de esquerda positivista. Precisamos nos empoderar desse saber, nutrir a nossa práxis política com o aprofundamento dessas construções teóricas elaboradas por essa imprescindível socióloga negra, que compõem o grupo de cientistas negras (os) intelectuais brasileiras, chamada Vilma Reis. Sempre se aprende com ela como enfrentar a casa grande, principalmente porque ela nos diz muito sobre quem somos e para onde pretendemos ir.

Ela nos ensina que não basta compreender e apreender para aceitar ou refutar seus pressupostos, aliás, é imprescindível colocar em prática para superar radicalmente esse constructomental beligerante oficial imposto pelo establishment da branquitude, engendrado pela burguesia como ideologia de classe dominante. Na qual se forja a cultura branca patriarcal pautada pela orientação de ódio a classe trabalhadora (principalmente negra), não menos criminosa quanto à misoginia, o machismo, a LGBTfóbica, racismo e o intolerante comportamento criminalizante das religiões de matriz africana.

É com ela nos inspira a aprender sobre o berço de ruptura com a monarquia portuguesa, especialmente porque não nos legou direitos, uma vez que foi alicerçada por liberais escravocratas, “proprietários” de grandes extensões de latifúndios. Essa turma sempre explorou aviltosamente a mão de obra escrava sem qualquer garantia de direitos assegurados pelo trabalho livre restrito aos brancos. Mesmo que isso já estivesse em curso no mundo europeu desde a primeira revolução industrial no século XVIII.

Sua compreensão sobre o surgimento da república, de seu embrionário conceito de Estado “Democrático de Direito” e as garantias coletivas e individuais (que nunca tivemos) fundamentais presentes na sociedade civil burguesa, pensada pelos liberais iluministas, não diz respeito a gente - aos nosso valores, filosofia, conhecimento, religião e cultura. Essa tão propalada democracia burguesa não foi capaz de acabar com a escravidão, muito menos devolver às populações negras tudo aquilo que lhes foram expropriados, inclusive a negação do direito a cidadania de nossas populações, sem nenhuma restrição.

Por isso, esteve e continuarão enraizadas na medula óssea essas “informações” que “naturalizou” comportamentos criminosos, identificados nas múltiplas manifestações de racismo transportado para o DNA socio-histórico e político do povo brasileiro e, particularmente da população baiana. Esse conservadorismo constitui a essência do pensamento dos intelectuais que forjam o Estado moderno e orienta a prática política que decorrer desses valores na sociedade civil.

Esses são os valores que não sucumbe com a queda do Brasil Império, aliás mantem-se na idílica transição ao Brasil Republica (1889), perpassados pelas mesmas expectativas patriarcais brancas presentes nas diversas expressões de racismos (estrutural, institucional e religioso).

O constructomental de que serve o pensamento e a práxis política dessa valorosa companheira Vilma Reis é revolucionário, no sentido de propor rupturas mais profundas nas estruturas de poder calcificadas, se sobrepujadas transformará o tecido depauperado de nossas populações negras.

Seu vasto conhecimento e experiência construíram as inúmeras narrativas que combatem processos socio-histórico, econômico e político que oprime, explora e extermina nossas populações negras invisibilizadas, sob a égide eurocêntrica branca, que sustenta o sistema capitalista e a sociedade burguesa.

Essa se mantem com a mesma luz branca colonizadora dos iluministas do século XVIII que comemorou o fim da escravidão e o começo do trabalho livre e assalariado, a produção mecanizada, a divisão social do trabalho e a modernidade, mas foi incapaz de incluir as populações negras escravizadas aprofundando a miséria e seus múltiplos sintomas, cujas consequências terríveis se estendem de maneira persistente até a contemporaneidade.

A candidatura da companheira Vilma Reis, uma feminista que se respeita exorciza todas as formas de vilania, violência, ódio, extermínio, tortura, cárcere privado, estupro, enforcamento, degola, fome, desemprego, doenças, educação, cultura, lazer e religiosidade herdada dos colonizadores usurpadores. Tudo isso aconteceu, e, continua acontecendo com a condescendência e o silencio estrepitante de parte da sociedade e dos intelectuais da esquerda positivista, centro e da direita.

Só muito recentemente, século XX, no final da década de 60 que avançamos para uma agenda mais ousada de proposições que desaguam nas políticas públicas incorporadas pelas institucionalidades a partir de 2002. Essa gente branca (e não branca também) sempre manteve o status quo, vivem como nababos na zona de conforto das mansões confortáveis desde o século XVI.

 São protegidas pelo poder econômico, aliás, a apropriação privada da riqueza produzida pela exploração da força de trabalho, cujo complexo jurídico legitima todos esses processos, até mesmo o braço armado controlado pelo aparelho ideológico do Estado liberal burguês. Essa gente não se incomoda com a política que mata a juventude negra com autorização de governos que gerenciam o Estado.

Não é a atoa que os indicadores do IBGE confirmam que somos maioria na demografia baiana, refletindo as perversas condições de vida de nossas populações negras. Somos maioria nos índices de letalidades juvenis, feminicídio, encarceramentos em presídios, jogadas em macas nos corredores de hospitais públicos, conformadas nas favelas e nas sarjetas das grandes cidades desse país. Por isso, que nós ainda somos o mais perfeito retrato pintando no afresco, “Famélicos da Fome”, do pintor Cândido Portinari.

A candidatura da companheira Vilma Reis é a possibilidade concreta de rescrever a história, no caminho diametralmente contrário as estórias narradas pelos vencedores. Contamos com sua ideia-força revolucionária para subverter a ordem porque estamos há séculos “fora da ordem mundial”, no dizer de Caetano Veloso e Gilberto Gil.

Precisamos arregimentar pessoas urgentemente em todos os cantos de Salvador (por que não da Bahia?) para soerguermos a bandeira, nossa bandeira manchada de sangue pelos nossos algozes, a cada feminicídio; extermínio da juventude negra; quilombo ocupado por jagunços a mando de grileiro; terreiro invadido pela polícia e estupro encaminhado de morte de alguma pessoa LGBT. Por isso, precisamos que avancemos nessa construção coletiva para quebrar com a hegemonia do patriarcado branco colonialista com séculos de domínio na Bahia.

 Acredito que só hoje fomos agraciados pelo privilégio de ter Vilma Reis disputando internamente no PT com a pré-candidatura contra forças conservadoras do governador. Apresentando um projeto coletivo de gente que se respeita como negra para disputar a sociedade, visando discutir acaloradamente numa eleição municipal, infelizmente de maioria branca, na maior e mais importante cidade negra, fora da África, que é Salvador.

E fazer esse percurso tendo na proa uma intelectual desse peso, dessa envergadura moral é o que nos motiva a ter disposição para a luta. Haveremos de levantar nossas vozes, erguer nossos braços, movimentar nossas pernas, concentrar nossas energias para vencer mais esse combate dentro e fora do partido, como tantos outros que vencemos no percurso dessa nossa estada nesse lugar há mais de cinco séculos excluídos, marginalizados, humilhados, torturados, constrangidos e aviltados.

Obviamente, que não será para manutenção dessa ordem e nem tornar essa gente branca mais rica do que já são. Mas, sim para derrubar o establishment e para isso nós somos milhares por essa cidade peremptoriamente negra, que insiste em nos sufocar, calar a nossa voz, destruir nossas religiões, acabar com a nossa cultura e romper definitivamente com a nossa negritude em benefício do patriarcado branco.

Erguei sua voz com a força da justiça de Xangô, protegeis vossos corpos com a armadura de Ogum e cantais a Exu para abrir nossos caminhos porque cantaremos com Oxum dias alvissareiros vindouros, porquanto bateremos cabeças, firmaremos nossos pontos porque é chegada a hora da extraordinária mulher negra, nascida de nosso terreiro marchar rumo à cidade.

Não é qualquer mulher, é Vilma Reis! E com ela toda a sua bagagem, sua formação intelectual e a histórica militância à serviço da desconstrução de tudo que é atrasado, herança do patriarcado opressor, misógino, machista, pernicioso dentro da perspectiva que representa o liberalismo burguês capitalista.

Salve Vilma Reis! Salve Oxum! Salve Iansã! Salve o panteão Negô!

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