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terça-feira, 14 de junho de 2022

Perseverança

*por Carlos Maia

 

Final de outono
Início de inverno

 

A temperatura começa a cair
Os termômetros marcam 11º C

 

Mas isso não se mostra empecilho
Aos caminheiros da madrugada

 

São eles os que buscam
Melhor desempenho físico

 

Homens e mulheres que andam e correm
Ao lado dos trabalhadores (as)

 

Que na escuridão do sereno
Deslocam-se no lombo de bicicletas

 

No assento dos coxins
Dos selins substitutos

 

De arreios quadrúpedes de outrora
Agora tão somente “magrelas”

 

Instrumentos de locomoção
Ao qual se servem ciclistas esportistas

 

Ou mesmo “bicicletistas” do trabalho
No deslocamento do massacre

 

Mas, mesmo assim
O andarilho das madrugadas

 

Rebate o piso em que marcas de rodas
Não vislumbra asfalto nem pavimentação

 

E os burricos carroceiros
Pastam ao largo de terrenos abertos

 

Na certeza de que fome
Se abastece com capim molhado

 

Pela sede dos pingos do orvalho gelado
Vão-se os dias de um perambular mimético

 

De repetidas rotineiras andanças
Vão-se aqui vai-se acolá

 

A corrida é boa e não pode parar
O destino trabalho espera

 

No martírio dos dias
No embalar dos tempos

 

Na venda da força da labuta paga
Espoliam-se todos os corpos

 

Vencidos no labor diário
Pelo definhar de mentes embrutecidas

 

Na certeza de uma exploração
Continua e continuada

 

No espaço infinito da eternidade do tempo
Onde se rompe amarras e grilhões

 

Pelas quebras das correntes
Que agridem as dores da carne

 

Que alimentam almas que choram
Na cadência acentuada

 

No ritmo alucinante do despertar citadino
Onde se pula dormitórios

 

Para centros comerciais
Para obras e construções

 

Para empresas e fábricas
De dores e remorsos

 

Com abatidos e doentes
Do mundo do capital

 

Na encruzilhada da vida
Trabalho alienado

 

Fetiche da mercadoria
Acaba por encantar todos

 

Que se despertam da submissão
De uma vida vegetativa

 

Sem leitos e hospitais
No fazer diário do esporte do lazer

 

Da aventura e da venda da força
Do trabalho manual e intelectual

 

Onde despontam-se enfermos da penúria
Dos abortos prematuros

 

Dos nascimentos precoces
Dos partos naturais com dor

 

Ao corte dos bisturis cesarianas
Apelam-se ao martírio dos deuses

 

Para se encontrar liberdade
Para se abater-se em grossas mãos

 

As oferendas do ofício religioso
Quer sejam nos signos e estatuetas

 

Ou ainda em “escrituras sagradas”
O homem e a mulher preparam-se

 

Para o mais que perfeito ato de desalienação
O salto mais adiante da revolta proletária

 

Canta comigo atletas do corpo
Canta forte e canta alto

 

No chamamento aos embestados
Já se passou o tempo

 

O cérebro não mais se situa entre as pernas
O ser cortando-se a cabeça o resto é merda

 

E a memória registra em versos
Os designos do poeta

 

Que teima em encampar a pena
Destituída dos arroubos ideológicos

 

 

 

Carlos Maia / Junho- 2022

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