Translate
Seguidores
Perseverança
*por Carlos Maia
Final de outono
Início de inverno
A temperatura começa a
cair
Os termômetros marcam 11º C
Mas isso não se mostra
empecilho
Aos caminheiros da madrugada
São eles os que buscam
Melhor desempenho físico
Homens e mulheres que
andam e correm
Ao lado dos trabalhadores (as)
Que na escuridão do
sereno
Deslocam-se no lombo de bicicletas
No assento dos coxins
Dos selins substitutos
De arreios quadrúpedes
de outrora
Agora tão somente “magrelas”
Instrumentos de
locomoção
Ao qual se servem ciclistas esportistas
Ou mesmo
“bicicletistas” do trabalho
No deslocamento do massacre
Mas, mesmo assim
O andarilho das madrugadas
Rebate o piso em que
marcas de rodas
Não vislumbra asfalto nem pavimentação
E os burricos
carroceiros
Pastam ao largo de terrenos abertos
Na certeza de que fome
Se abastece com capim molhado
Pela sede dos pingos do
orvalho gelado
Vão-se os dias de um perambular mimético
De repetidas rotineiras
andanças
Vão-se aqui vai-se acolá
A corrida é boa e não
pode parar
O destino trabalho espera
No martírio dos dias
No embalar dos tempos
Na venda da força da
labuta paga
Espoliam-se todos os corpos
Vencidos no labor
diário
Pelo definhar de mentes embrutecidas
Na certeza de uma
exploração
Continua e continuada
No espaço infinito da
eternidade do tempo
Onde se rompe amarras e grilhões
Pelas quebras das
correntes
Que agridem as dores da carne
Que alimentam almas que
choram
Na cadência acentuada
No ritmo alucinante do
despertar citadino
Onde se pula dormitórios
Para centros comerciais
Para obras e construções
Para empresas e
fábricas
De dores e remorsos
Com abatidos e doentes
Do mundo do capital
Na encruzilhada da vida
Trabalho alienado
Fetiche da mercadoria
Acaba por encantar todos
Que se despertam da submissão
De uma vida vegetativa
Sem leitos e hospitais
No fazer diário do esporte do lazer
Da aventura e da venda
da força
Do trabalho manual e intelectual
Onde despontam-se
enfermos da penúria
Dos abortos prematuros
Dos nascimentos
precoces
Dos partos naturais com dor
Ao corte dos bisturis
cesarianas
Apelam-se ao martírio dos deuses
Para se encontrar
liberdade
Para se abater-se em grossas mãos
As oferendas do ofício
religioso
Quer sejam nos signos e estatuetas
Ou ainda em “escrituras
sagradas”
O homem e a mulher preparam-se
Para o mais que
perfeito ato de desalienação
O salto mais adiante da revolta proletária
Canta comigo atletas do
corpo
Canta forte e canta alto
No chamamento aos
embestados
Já se passou o tempo
O cérebro não mais se situa
entre as pernas
O ser cortando-se a cabeça o resto é merda
E a memória registra em
versos
Os designos do poeta
Que teima em encampar a
pena
Destituída dos arroubos ideológicos
Carlos Maia / Junho- 2022
0 comments :
Postar um comentário