Translate

Seguidores

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Vagabundos e Cães


*por Carlos Maia

 

Em uma

Grande loja

Do comércio local

Fechada

Pela quebradeira

Geral da crise

Agravada ainda

Pelo buliçar pandêmico

Repousa

De frente

Ao novo terminal

Obra arquitetonicamente

Moderna e arrojada

Três restos humanos

De criaturas

Que o tempo esqueceu

Próximo deles

Descansam e dormem

Três cães vadios

Descendentes diretos

Dos lobos selvagens

Domesticados a milhares de anos

Esta meia dúzia

De seres vivos

Se diferenciam

Drasticamente

Os pedaços

Da compostura humana

São claramente

Identificados

Pela mendicância

Desenfreada

Dos moradores

De rua

Que agora

Habitam as redondezas

Da novíssima e bela

 Estação de transbordo

Mas, em contrastes

Com estes restos

De parição social

Estão eles

Os novos mosqueteiros

Da avenida

Que durante a noite

Vagueiam na vagabundagem

E durante o dia

Bem alimentados

Cochilam e dormem

Aos pés das lojas

E passarelas

Ao monumento

De um novo Deus

Eles

Ao contrário

Das imundices humanas

Não pedem nada

A estes

Serve-se boa ração

Estes não precisam

Submeter-se

Ao ato humilhante

Do pedinte

Da mendicância

A Estes

Guardiões do sossego alheio

Paz e alimento farto

Já aos miseráveis

Da terra

Uma moeda

Que pinga

No ardor alcóolico

Ou na quentinha

Do “bom coração”

Que serve

Ao cardápio do dia

Na maioria

Restos

De Restaurantes

Lanchonetes

Botecos e bares

Ou mesmo

Pelos trocados

Acumulados

Para se matar fome

E vícios

De uma juventude

Que transborda

Pelos cabelos grisalhos

De nossos

Não bem quistos

Moradores do tempo

Assim

Vagabundos humanos

Precipitam-se para a morte

E cães vagabundos

Prorrogam a vida

 

 

Carlos Maia – Dezembro/2021

0 comments :

Postar um comentário

Buscar neste blog

por autor(a)

Arquivo

Inscreva seu e-mail e receba nossas atualizações: