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quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

O Descanso da Velha Guerreira


para Edu Meira

 

Quando a luz

Não iluminou

A aurora matinal

Eis que o escravo

Da pena

Trava mais uma guerra

Entre o pensamento

E o papel

 

Naquele dia

Naquele momento

A inspiração

Não brilha tanto

Como de outras vezes

A linguagem

Não habita repetidamente

O mundo da poesia

 

Está mais

Para uma crônica

Anunciada pelo

Ato teleológico

Das finalidades

Que pelos desejos

Mais sublimes

Do ser poético

 

Ao contrário

Do que se espera

Da claridade deste dia

O manto negro da noite

Encobriu a natureza

Pela ida da amiga anciã

Do simples aconchego da família

Para o repouso eterno na terra que habitou

 

Assim Foi-se beirando um século

Ramira Meira Sertão

Rama

D. Zinha

Zinha para os íntimos

Mãe

Minha mãe

Mainha

 

A história desta mulher

Se constitui um desafio e a ternura

Para todos aqueles

Senhores e Senhoras

Do sertão de Coquinhos

Às matas de Ibicuí 

Ou pelas passagens por São Jorge dos Ilhéus

E de habitar definitivo nas terras de Conquista

 

Mas ela se foi

Teimosa e resistente

Nos últimos tempos

Já não pressentia

O “perigo” da morte

Só o soluçar confuso

Do consciente para o inconsciente

Só os débeis atos de senilidade

 

Assim vão muitos da nossa espécie

Quando a longevidade

Ultrapassa os limites

De uma genética

Pré-concebida

E pelos percalços

Da exterioridade do trabalho e da vida

Que insiste em manter-se

 

A vida não é como a poesia

Que pode sempre

Encantar a todos

Pelos requisitos do pensamento

Essa alma perdida

Nos cérebros das pessoas

Simples e desgarradas

Dos rebanhos fideístas

 

Assim Rama

Viveu

Pensou 

Contou-nos

Sua história

E peripécias

Vividas e apreendidas

Por nós apreciadores do néctar

 

 

Carlos Maia - dezembro/2021

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