Translate

Seguidores

sexta-feira, 6 de março de 2020

O destino de Conquista passa por 2020



"Nesses vinte anos de gestão petista, é indubitável até para o mais ferrenho e combativo cidadão de direita, que a cidade se transformou completamente, ganhando espaço no cenário da Bahia e do Brasil [...] sua gestão eficiente, de resultados efetivos e com um planejamento diferenciado."

*por Ricardo Marques

Estamos às vésperas de um novo processo eleitoral em nossa cidade e observo com muita preocupação a qualidade ou falta do debate político correto e honesto quanto aos desafios que nossa cidade precisa solucionar para as décadas vindouras. A maior dessas preocupações é quanto a grande questão que nos permeia – qual o projeto de cidade que precisamos construir daqui pra frente?

No início da década de 90, onde tínhamos uma cidade dominada pelo grupo dos pedralistas, pudemos observar o fim de um projeto que foi importante e que gerou frutos fundamentais para Conquista ser quem é hoje. Mas, naquele momento, o pedralismo havia se entregado ao Carlismo, cujo protagonista, Antônio Carlos Magalhães, por anos e anos impôs uma perseguição política à Vitória da Conquista, conhecida por sua postura independente e progressista, perfil refletido em toda a sua história, sempre se posicionando com grande importância no cenário político baiano.


Com a crise do projeto encabeçado por José Pedral Sampaio, vimos surgir um projeto novo, iniciado com mais força após o Partido dos Trabalhadores gerir a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia por duas vezes com o então Reitor Waldenor Pereira, e, em seguida, com o surgimento da liderança de Guilherme Menezes, ainda no Partido Verde, mas aglomerando em si a unidade dos partidos considerados, naquele momento, de esquerda: PCdoB, PT, PV e PSB. Esse bloco conseguiu governar a cidade a partir de 1997, inicialmente por conta do voto de protesto da população, mas, posteriormente, por meio de uma gestão que se consolidou por vinte anos consecutivos.

Vitória da Conquista, naquele momento, conseguiu destaque estadual e nacional porque cada vez mais se consolidava como uma experiência exitosa de gestão de esquerda, que poderia ser usada como exemplo em todo o país, e que ajudou a ampliar os espaços de governo do Partido dos Trabalhadores na Bahia e no Brasil. Nomes importantes da nova política nacional por aqui passaram ou por aqui iniciaram sua trajetória, a exemplo do próprio Guilherme Menezes, José Raimundo Fontes, Jean Fabrício Falcão, Jorge Solla, Davi Capristano, Paulo Cézar Lisboa, entre tantos outros que se destacaram em espaços mais amplos a partir do projeto local.

Nesses vinte anos de gestão petista, é indubitável até para o mais ferrenho e combativo cidadão de direita, que a cidade se transformou completamente, ganhando espaço no cenário da Bahia e do Brasil e sendo reconhecida em diversas áreas por sua gestão eficiente, de resultados efetivos e com um planejamento diferenciado. O intitulado “Governo Participativo” foi responsável por colocar Vitória da Conquista por diversos anos como uma das melhores cidades do Nordeste para se viver. O plano foi certeiro. Como tínhamos dificuldade com a questão hídrica e ainda com um enorme desafio de cuidar de mais de uma dezena de distritos e cerca de 200 povoados, a opção seria investir e projetar a cidade por meio do setor de serviços. E duas áreas foram fundamentais: a saúde e a educação.

O crescimento dos serviços de saúde de Vitória da Conquista que começou 1997 com apenas um posto de saúde no centro da cidade foi uma tarefa árdua e uma batalha enorme contra a iniciativa privada, na época, para construir um sistema forte de saúde pública, tendo à frente inicialmente o Dr. Ademir Abreu e logo em seguida, o atual deputado federal Jorge Solla.

A expansão rápida dos serviços públicos de saúde fomentou essa mesma iniciativa privada, que, em seguida, começou a investir fortemente no mercado que se abria de pessoas provenientes de mais de cem cidades, incluindo todo o norte de Minas Gerais. A pavimentação do público abriu espaço para o crescimento do privado. Uma parceria, mesmo que aos “tapas e beijos”.

A liderança conquistada por Guilherme Menezes e posteriormente por Zé Raimundo possibilitou o crescimento da UESB, a chegada da UFBA, a expansão do IFBA e logo em seguida um mercado crescente de estudantes universitários que atraiu os cursinhos pré-vestibulares e logo depois as faculdades privadas, tornando Vitória da Conquista um dos maiores polos educacionais da Bahia.

Esses vinte anos também foram marcados por grandes obras como a Avenida Integração, o Anel Rodoviário, a Avenida Juraci Magalhães, a Avenida Perimetral, a ampliação da Olívia Flores, o anel da Lagoa das Bateias, a melhoria das entradas da cidade, a pavimentação de diversos bairros e uma grande obra invisível que também elevou o patamar da gestão de Conquista: o trabalho de saneamento básico que fez a cidade ser reconhecida por anos e anos seguidos como a cidade mais saneada do Nordeste.

Os investimentos estruturantes, aliado a um modelo de gestão de incentivo à participação popular, por meio dos conselhos e do Orçamento Participativo, as diversas conferências, o debate aberto e amplo sobre as prioridades da cidade, tudo isso foi fundamental para Vitória da Conquista ser o que é hoje. A cidade voltou a ser lembrada no cinema, no esporte e o comércio teve uma crescente constante por conta do volume de pessoas cada vez maior, proveniente de outras cidades que aqui começaram a consumir em busca do comércio local e dos serviços oferecidos na cidade. Em alguns anos, para quase nada era necessário sair de Conquista. De problemas burocráticos a questões de saúde.

Tivemos também anos ricos em intercâmbio cultural, com projetos como o Natal da Cidade, o São João, o Aniversário da Cidade, o Festival da Juventude entre outras iniciativas, que proporcionaram a troca de conhecimentos e de experiências entre a arte local e os artistas de renome nacional. No quesito da transparência, Vitória da Conquista também foi reconhecida nacionalmente por seu modelo e seu legado. E todos esses legados foram transferidos para a atual gestão. Que tratou de rapidamente se apropriar dos resultados e projetos da gestão passada.

Verificou-se, na prática, que a atual gestão não tinha um projeto novo, sequer um projeto estruturado de desenvolvimento e, aos trancos e barrancos, foi gerindo uma estrutura já existente, muitas vezes reduzindo a qualidade já conquistada e tentando criar um projeto de cidade com o carro já andando.

Guilherme deixou uma cidade saneada, organizada, com dinheiro na conta e projetos para executar. Auditorias e consultorias foram realizadas e muito dinheiro público gasto para nenhum tipo de problemas legais serem encontrados na gestão passada. E a maioria dos projetos executados nos três últimos anos foram planos criados e projetos elaborados pela gestão passada. Sobra pouca coisa e, a grande parte delas, pavimentação feita com dois empréstimos robustos que no futuro próximo irão impactar fortemente nas contas municipais.

O atual governo é de transição. Peca por não ter planos para a cidade, não possuir um claro grupo político, não ter apoio estadual, nem federal, e nem de deputados, principalmente depois da prisão de um de seus mentores, o Geddel Vieira Lima. Tenta se aproximar de ACM neto, mas é uma relação fraca. Sem muitas conexões de semelhanças e afinidades. É um governo isolado e vem isolando a cidade, que sequer consegue se manter numa parceria entre seus vizinhos por meio da Policlínica. O governo não tem projetos estruturantes, não deixará legados para a próxima gestão e o pior, deixará uma conta grande por pagar.

Enquanto isso, mesmo falando de modernização, não há um pensamento eficaz de modernizar a máquina pública, se adequar aos novos tempos e às novas tecnologias e de uma série de boas práticas que podem ser aplicadas e adaptadas ao município. Suas obras são maquiagem, mas a zona rural e as periferias estão carentes de serviços públicos municipais.

E no cenário eleitoral que se aproxima, teremos o grande desafio de escolher qual a cidade que queremos para o futuro próximo. Optar pelo governo atual é optar, mais uma vez, pela maquiagem e falta de projetos, com o agravante de estar acabando o fôlego de obras por fazer. E teremos aí a verdadeira face do governo. Pouco a se apresentar, muito a se falar e culpar os prefeitos passados e nenhum benefício claro para o desenvolvimento local sustentável para os próximos anos.

O Partido dos Trabalhadores, nesse cenário, e considerando o sombrio cenário nacional é imposto ao desafio de se reinventar dentro do seu legado histórico local. Porque os tempos agora são outros, os desafios não são mais os mesmos e a realidade dos governos estadual e federal não são tão favoráveis quanto no período do auge do Governo Participativo. Mas o dever de militância nos chama para o desafio de apresentar à Vitória da Conquista um novo projeto em contraposição à falta de projeto do governo atual, indicando para a cidade as novas alternativas e caminhos para promover um novo ciclo de desenvolvimento e de prosperidade.

Um modelo includente, socialmente justo, onde reine a paz social e as boas relações entre os diversos setores da sociedade. Um modelo pelo qual possamos, novamente, conduzir Conquista a uma gestão que respeite as peculiaridades do espaço urbano e do campo. Com novas formas de participação popular e de interação com toda a sociedade organizada. Um desafio imenso, mas plenamente possível de se realizar. No final do processo, caberá à população de Vitória da Conquista optar, mas, para tanto, deverá primeiramente reconhecer que o destino da cidade nas próximas décadas passará pela escolha que faremos em 2020.



______________________________________
*Ricardo Marques é administrador, Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente. Ex Vice Prefeito de Vitória da Conquista e filiado ao Partido dos Trabalhadores desde 2010.

0 comments :

Postar um comentário

Buscar neste blog

Inscreva seu e-mail e receba nossas atualizações:

Arquivo