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terça-feira, 3 de dezembro de 2024

A força motriz da resistência


A força motriz da resistência:
O lugar de Delúbio Soares na história Brasileira


"A democracia não se constrói com concessões à burguesia, mas com a luta pelo poder popular."



*por Herberson Sonkha



No Brasil do século XXI, o destino de figuras públicas como Delúbio Soares ilumina, como um feixe de luz atravessando densas trevas criadas pelo capitalismo, os conflitos estruturais de um país cindido entre sua militância popular e as imposições das elites conservadoras dominantes. À luz da razão do materialismo histórico, ninguém melhor do que Delúbio Soares para defender que não se pode oferecer nenhuma concessão à burguesia na luta pelo poder popular. Portanto, mais que um personagem político, Delúbio é síntese de uma conjuntura onde o combate à desigualdade converte-se em heresia e a luta por um projeto democrático-popular enfrenta o tribunal implacável do poder burguês.

Na última semana, durante o Encontro Nacional da ANATECT, no Rio de Janeiro, Delúbio Soares não apenas narrou sua trajetória; ele reconstruiu as linhas de uma história política marcada por conquistas populares, perseguições jurídicas e um horizonte ético que insiste em não se render.


O Delúbio educador e a insurgência da Classe Trabalhadora

Para compreender Delúbio Soares, é necessário situá-lo como parte de um Brasil profundo, aquele que resiste no meio rural e nas periferias urbanas. Filho de lavradores e educador da rede pública de Goiás, ele emerge na década de 1980 como organizador sindical, articulador político e um dos arquitetos da mais importante engenharia política contemporânea que se tornaram os dois mais importantes pilares fundamentais da luta sociopolítica da classe trabalhadora: o Partido dos Trabalhadores (PT) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT).

Sua narrativa, no entanto, não é de uma ascensão sem rupturas. Ao longo de sua militância, Delúbio enfrentou os mecanismos do que Louis Althusser denominaria como aparelhos repressivos do Estado. As denúncias sem materialidade factível, prisões ilegais e campanhas midiáticas difamatórias que buscaram destituir sua legitimidade configuram-se como parte de um processo de criminalização da política popular.


A judicialização da política e o cerco às lutas populares

Delúbio foi condenado (independente de ser justa ou não ele pagou), não apenas por atos supostamente concretos, mas pelo significado político de sua atuação: a subversão de uma ordem que considera intolerável a ascensão das classes subalternas ao espaço de poder. A Ação Penal 470, o chamado “mensalão”, e os desdobramentos da Operação Lava Jato, devem ser lidos como a instrumentalização de classe dominante do Estado que ultrapassam a esfera jurídica para operar como um aparato ideológico de repressão.

Em suas palavras, as condenações não foram o fim de sua militância, mas o prenúncio de uma resistência renovada: “Não se pode calar um projeto de justiça social. Pode-se aprisionar corpos, mas jamais a utopia.”


Um chamado à Teoria Crítica: Pensar o Brasil a partir de suas contradições

Ao apresentar sua análise no Encontro Nacional da ANATECT, Delúbio Soares não se limitou à defesa crítica de seu histórico pessoal, mas convocou os presentes a pensar criticamente sobre o Brasil contemporâneo. Para ele, as conquistas dos governos progressistas, com seu projeto de erradicação da fome e a ampliação do acesso à educação, saúde, meio ambiente e desenvolvimento social são ameaçadas por uma elite branca conservadora que mantém o país refém de interesses da reprodução do capital estéril de rentistas e de uma lógica neoliberal desumanizadora.

Sua reflexão se ancora em questões estruturais:

  • O desmonte de políticas públicas como o SUS é reflexo de um projeto econômico ultraliberal que privilegia o mercado em detrimento da vida.

  • O avanço conservador no Legislativo não é apenas conjuntural; ele representa a continuidade de um Brasil escravocrata, cujas bases estão ancoradas na exclusão socioeconômica, cultural e política atravessado pelas várias expressões de racismo, sobretudo o racismo estrutural.


Entre a ética da militância e o futuro da política popular

Para além da figura de Delúbio, o que está em jogo é o destino de um projeto político que coloca o povo no centro das decisões. Delúbio Soares simboliza a recusa de aceitar um Brasil onde as vozes populares sejam sistematicamente silenciadas, onde a esperança seja transformada em resignação.

Em um momento de profunda crise civilizatória, em que a desigualdade não é apenas tolerada, mas naturalizada, figuras como Delúbio nos convocam a repensar as categorias de justiça, liberdade e igualdade. “Um Brasil possível só será construído pelas mãos de seu povo”, ele conclui, reafirmando que o legado progressista não pertence a um partido ou a um líder, mas a todos que ousam sonhar com um país mais justo.


Delúbio Soares e a história em movimento

No cerne da mensagem de Delúbio, encontramos a ideia de que a história nunca é estática. Ela é movimento, luta e resistência. Sua figura emerge, portanto, como um lembrete de que os desafios enfrentados hoje não são apenas individuais, mas coletivos.

Na arena política brasileira, onde o discurso dominante busca apagar as conquistas populares e criminalizar seus protagonistas, a narrativa de Delúbio Soares nos desafia a recuperar e re-equalizar a utopia como força motriz de transformação.

Assim, em vez de sucumbir ao silêncio imposto pelas elites, sua história nos inspira a construir caminhos possíveis entre o passado e o futuro, reafirmando que a justiça social não é apenas uma bandeira; é uma necessidade histórica.


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