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quinta-feira, 9 de maio de 2024

Esquerda? Direita? Volver!


 "Nas últimas três décadas a categoria dos professores estaduais da Bahia vem sendo golpeada governo a governo, não importa a bandeira, o partido, o inquilino do Palácio de Ondina. "


"Tudo deve mudar para que tudo fique como está"

Giuseppe Tomasi di Lampedusa

 


*por Josafá Santos


Antônio Carlos Magalhães iniciou seu governo em 1971, plena ditadura, sendo empossado como governador biônico, indicação direta do então presidente General Emílio Garrastazu Médici. Desde sua saída do governo da Bahia, em 1994, seus sucessores do PFL mantiveram ainda por um tempo o longo reinado do “Carlismo”. Depois de ACM, o "Cabeça Branca", vieram Antônio Embassay, Paulo Souto, César Borges, Otto Alencar e Paulo Souto novamente, sendo o último dos seus pupilos eleitos.


Nas eleições de 2006, Souto foi derrotado e o Palácio de Ondina, endereço oficial do governador na Bahia, recebeu novos ocupantes.  A oposição ao Carlismo e à ideologia que este representava, sempre voltada para a direita/extrema-direita, chegou ao executivo do nosso estado através de Jaques Wagner, que trouxe a bandeira do PT, historicamente identificando-se e identificado como sendo de Esquerda, para as terras de Dorival Caymmi. Eu disse Esquerda...? Si, pero non mucho.


Estamos em 2024. Dezoito longos anos depois da chegada da “esquerda” ao poder, a Bahia ainda se mantém no pódio da vergonha, entre os piores índices sociais do país. Péssima localização no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) nacional, estando na 22ª posição num total de 27; é o 4º estado em números de mortes violentas - e onde o maior número de mortes violentas foi registrado, em 2023; tem a 2a Policia Militar que mais mata, a 2ª Policia Civil que menos elucida crimes, só ficando atrás, nesses parâmetros, do Rio de Janeiro. É o 8º Estado com a população mais pobre do Brasil, com mais da metade de seu povo sobrevivendo com menos de RS 670,00 por mês, como foi divulgado no Jornal A TARDE, de 30 de maio de 2023.


O fato é que a Bahia da colorida e cantante propaganda institucional não é a que o baianos conhecem no seu dia a dia. Na educação, trincheira onde luto, educador da Rede Estadual que sou, o descaso, o atraso, A REGRESSÃO é gritante. Não se enganem: a escola pública que aparece na TV, nos jornais e nos discursos de palanque do governador e de sua base aliada, não é a que eu e meus colegas de ofício vemos, vivemos, adoecemos e morremos um pouco mais a cada dia. Poderia listar longamente os problemas de nossa área, mas é mais simples resumir nossa tristeza, falando do quanto fomos saqueados em nossos direitos nos últimos 22 anos, ainda na era ACM, já em seus estertores finais.


Nas últimas três décadas a categoria dos professores estaduais da Bahia vem sendo golpeada governo a governo, não importa a bandeira, o partido, o inquilino do Palácio de Ondina. Diminuição do valor da regência de classe (de 50 para 30%), cobrança de imposto dos aposentados, sucateamento do Plano de Saúde do Servidor (o PLANSERV), perda progressiva de diversos direitos trabalhistas, fim da aposentadoria com valor integral - à limitando ao teto do INSS, não cumprimento do Piso Nacional do Magistério, além de um longo processo de DESvalorizaçao salarial, ano a ano, governo a governo, numa escalada negativa que vem simplesmente achatando o nosso pagamento.


A educação Estadual da Bahia tem o 3º pior salário do Nordeste, perde para o Maranhão, Estado mais pobre do país e nosso IDEB está entre os dez PIORES do Brasil (em 2024). As últimas cerejas desse bolo indigesto, preparado a várias mãos - a saber a imensa parte dos Deputados Estaduais aninhados na Assembleia Legislativa da Bahia, a ALBA - são a atual proposta de “reajuste salarial” oferecida pelo Governador Gerônimo Rodrigues, do PT (menos de 5%, em três vezes) e o já - muito mais que vergonhoso - caso do golpe dos precatórios do FUNDEF, onde fomos lesados em mais da metade dos valores a receber, sem explicação plausível alguma de quem quer que seja.


Antes que alguém isso pense, em momento algum estou elogiando os governos anteriores a Jaques Wagner, da “Era ACM”. Longe disso. Os números hediondos acima citados eram ainda piores, ainda mais brutais, ainda mais infames, sendo ainda mais desumanos quanto mais para trás se olhe, se investigue. “Quanto mais se cava, mais se chega perto do inferno”; é o que dizem.


Nada do que relatei seria surpresa, se pontuados como sendo dos governos anteriores às eleições de 2006, já que até então era a Direita e a extrema direita, com sua conhecida truculência e descaso às questões sociais, que governava nosso Estado, bem aos moldes do coronelismo assumido ou mesmo do regime militar, útero e berço do Carlismo. Mas... Os números citados são do período em que a “esquerda” chegou ao poder, eleita, pela força do sufrágio universal, pelo voto do povo baiano. Inclusive o meu.


Nunca votei na Direita. Me recuso a isso. Por um motivo muito simples: entende-se a Direita como sendo uma ideologia que defenda os interesses do grupo sócio/político/econômico que esteja alinhado aos interesses do Grande Capital, da elite dominante, da Classe Burguesa, dos “donos dos meios de produção”, sendo bem fiel ao modelo de radiografia social descrito por Marx.


Meu voto, desde o primeiro, aos meus 16 anos, em 1985, ao último, agora em 2021, foram direcionados a candidatos alinhados à ideologia da Esquerda. Me identifico como proletário, me recuso a dar força política a quem veja o povo como desmerecedor de direitos, como gado num curral, ou engrenagem numa esteira rolante. O problema é que...


Olhando desapaixonadamente para o antes e o depois de 2006, me fazendo o nem muito difícil exercício de observação fria sobre o estado do meu Estado Bahia, e mais ainda para as atitudes e posicionamentos e legislações de diversos dos ditos eleitos de “esquerda”, muitos dos quais a quem enderecei meu voto, me pergunto: A Bahia mudou? Que algo mudou, no panorama geral das coisas, e para melhor, isso é inegável, seria leviano dizer que não. Mas, melhor QUANTO, a que velocidade, em que nível de REAL percepção e VIVÊNCIA, de melhoria significativa para a população? Ou ainda mais especificamente: O que foi que não mudou?


Para a primeira pergunta, respondo que o ritmo das mudanças, para melhor, poderia - sim - ser muito maior que a vista. E a lentidão de mudanças positivas nos citados parâmetros sociais que frisei é tacanha, desonesta, para dizer o mínimo. Os números que apontei lá acima, todos eles facilmente checáveis por qualquer um, ao toque de um teclado, confirmam isso. São dados de uma nação em guerra, ou na África subsaariana. E me perdoe a África.


Para a segunda, a resposta é ainda mais simples: a engrenagem de desregulamentação dos direitos trabalhistas segue como antes, a pleno vapor. O plano de solapar, de negar, de roubar as nossas conquistas, alcançadas ao longo de anos de luta, segue sem freio e com pouco pudor. Aliás, sem pudor algum.  Falando do chão da fábrica onde labuto, a Escola Pública, eu nela um operário, o que se vê em marcha - desde sempre - é a execução de um projeto que tem como meta ofertar uma péssima qualidade de ensino ao povo, plantando nos educadores, diariamente, o desalento por seu oficio, pondo em prática mecanismos opressores e hiper-burocratizantes que os adoeçam, que os estressem, que faça deles uma engrenagem gasta e fatigada, que os quebre; um projeto que tem como meta a alocação ou a manutenção do povo num estágio basilar, raso, limitado de conhecimentos.


A receita é simples: ao educador? Pague-se mal; não lhe dê direitos. Os direitos existentes? Ou se lhes desrespeite, ou se lhes tire. Que sirvam de exemplo, aos que queiram ser educadores, no futuro. Fatigados e humilhados, que sirvam como modelo a algo que os jovens, seus alunos, não queiram ser. E cada vez menos, esses o querem. São dados também oficiais, basta checar.


Mas espere: esse plano, é o conhecido e velho plano da... DIREITA! Esse é o problema. A “esquerda” que hoje temos na Bahia, pratica exatamente aquilo que tanto prometeu combater, durante as campanhas. E nega, de maneira vergonhosa, depois de eleita, todas as promessas que nos fez, em palanques, nos bairros pobres, nas portas das fábricas, nas escolas. Temos eleições sempre à vista, e isso é ótimo. Mas começo a me perguntar se isso ainda faz alguma diferença. Na Bahia de Todos os Santos, parece que não.



Josafá Santos.

Um historiador e operário pensante.

@josafasantos97

Vit. Da Conquista, 03.05.2024*

*Ano de eleição...


*Josafa Santos é historiador(UESB), graduando em Psicologia e professor da rede estadual.


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