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sexta-feira, 24 de maio de 2024

A revolução socialista já está em movimento, só precisamos percebê-la

Foto: Gramsci e o PCI:
duas concepções da hegemonia
LavraPalavra

"Se a classe dirigente tem a hegemonia econômica, política e cultural da sociedade, torna-se fundamental que a classe subalterna faça um primeiro movimento revolucionário, que é a conquista da hegemonia da sociedade política; a partir desse ponto, faz-se necessária a conquista da hegemonia cultural da sociedade. Aí então, a classe subalterna terá as condições históricas necessárias para a conquista da hegemonia econômica do bloco histórico."


*por Professor João Paulo

 


Quando estamos na militância política de esquerda, deparamo-nos com uma série de questões que só com muita leitura conseguimos obter uma verdade relativa dos fatos. Sempre acreditei que a "luta armada" contra a burguesia estivesse na obra de Marx como uma condição inalienável, tendo como base o discurso de alguns companheiros e companheiras de militância.

Só depois de muita leitura, entendi que a luta armada não aparece explicitamente na obra de Karl Marx; a mensagem é subliminar, e é Lênin quem dá ênfase a essa questão, tendo como base a realidade da Rússia no período em que ocorreu a Revolução Bolchevique.

Outros pensadores ocidentais têm a "luta armada" como uma possibilidade, mas não a apresentam como uma necessidade imutável do processo de superação do capitalismo e para o surgimento do socialismo. Pessoalmente, acredito que, em um processo de ruptura com a ordem capitalista, a burguesia irá resistir e colocará suas forças repressivas contra a classe que vive do trabalho e, caso isso aconteça, não teremos outro caminho que não seja a defesa contra as agressões da burguesia.

Outro dia, há algum tempo, a bem da verdade, em um debate com um colega historiador, fui provocado quando ele disse que no Partido dos Trabalhadores não havia nenhum marxista. Achei incrível, mas o colega parece conhecer nominalmente os quase dois milhões de filiados ao PT, para saber o que e como todos pensam o mundo. Evidentemente, fiz o debate e falei de Antônio Gramsci para esse companheiro; ele rapidamente me interpelou, dizendo que o Gramsci do PT é um "reformista".

Ora! A velha adjetivação das esquerdas que colocam rótulos em tudo e em todo mundo que pensa diferente. O que esse companheiro não entendeu é que nem necessariamente não falar de luta armada seja um sinônimo de reformismo. Quando Gramsci fala de "guerra de movimento", faz uma referência a um processo revolucionário muito mais amplo do que a luta armada em si.

Para esse pensador italiano da primeira metade do século XX, na Europa Ocidental e no mundo Ocidental de uma forma geral, o processo revolucionário não se apresenta da mesma forma da Rússia de 1917. Aqui, onde já existia um Estado Burguês muito bem estruturado, diferente da Rússia pré-revolucionária, o processo de construção da revolução é bem mais complexo, já que as estruturas do capitalismo estão muito mais sólidas. Nesse sentido, exige muito mais organização da classe subalterna e ações efetivas de conquistas da "hegemonia do bloco histórico". Se a classe dirigente tem a hegemonia econômica, política e cultural da sociedade, torna-se fundamental que a classe subalterna faça um primeiro movimento revolucionário, que é a conquista da hegemonia da sociedade política; a partir desse ponto, faz-se necessária a conquista da hegemonia cultural da sociedade. Aí então, a classe subalterna terá as condições históricas necessárias para a conquista da hegemonia econômica do bloco histórico.

Desta forma, não dá para definir qual ação política é revolucionária e qual não é revolucionária; toda ação política de contestação à ordem dominante burguesa é uma ação revolucionária. É isso que Gramsci chama de "guerra de movimento", e é exatamente isso que precisamos exercitar todos os dias. A revolução socialista já está acontecendo, em cada ato da classe subalterna contra seus opressores capitalistas; movemos uma peça neste complexo tabuleiro do xadrez político todas as vezes que nos levantamos contra a classe dirigente. Esse é o nosso papel enquanto classe social.

Marx não definiu a fórmula da revolução; Lênin escreveu a partir da realidade específica da Rússia pré-revolucionária. Desde a segunda metade do século XX até este momento, o capitalismo ganhou contornos bem diferentes do que Marx e Lênin conheceram; então, não existe um método pré-definido de luta contra o capitalismo. O que existe é a luta contra o capitalismo, e o objetivo final deve ser o socialismo; como vamos conquistar esse novo modelo de sociedade são as condições históricas que vão determinar.


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