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domingo, 22 de julho de 2018
SIMMP: do antipetismo ao retorno à luta operária
julho 22, 2018
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por
Vinícius...
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Foto SIMMP Votação-greve-18-07-2018 |
"[...] a direção do SIMMP toma a posição correta de classe em favor dos/as profissionais da educação"
por Herberson Sonkha[1]
Antes de adentrar a natureza política desse diálogo com a práxis política do campo fascista que atuava no SIMMP contra o PT até 2016 à retomada gradativa da luta operária, que pretendo desenvolver sobre a atual conjuntura municipal que originou a deflagração da greve do SIMMP, queria abordar, de en passant, a alarmante correspondência interna da prefeitura como resposta arbitrária a legitima manifestação de rua da categoria, puxada pela direção sindical e amplamente discutida e referendada pela assembleia geral.
A votação da greve, da caminhada com carro de som até a prefeitura com falas, apitaços e as manifestações políticas nos corredores da prefeitura foram aprovadas por contraste visual numa assembleia que superlotou o auditório Carmem Lúcia da Câmara Municipal de Vitória da Conquista.
O referido documento só aumentou a irritação da categoria e, certamente serve de alerta também para o SINSERV e SINDACS sobre a instauração do estado de exceção. A sensação de impunidade dessa gestão, está criando gestores com alto nível de labilidade. Isso explica o comportamento desrespeitoso do agente político que escancaradamente fere o ordenamento jurídico de natureza pública e de caráter social, ao atropelar peremptoriamente a autonomia garantida pelo ente municipal, quanto a fruição democrática nas relações com a sociedade e seus movimentos sociais.
Ao publicar um documento oficial, à revelia de referido ordenamento, longe de ser por amnésia ou lapsos de memória, o autor comete um acinte agravante a lei porque está baseado apenas em sua mediocridade intelectual e política. Uma tentativa inglória de intimidar o movimento grevista de realizar as suas justas manifestações públicas em resposta aos agravos truculentos do prefeito, no qual usa em seu favor uma suposta força da lei.
Esse gestor optou pela caminhada à margem da lei, por tanto um marginal, que exerce seu mandato longe de qualquer legalidade, antes fere o próprio princípio pétreo de direito à greve que por desconhecimento afirma levianamente no corpo do documento respeitar.
Com a rede social presente em quase todos os celulares com interface, o acesso a qualquer tipo de informação torna-se cada vez mais democratizado, parece-nos pleonasmo um gestor dizer que respeita greve porque é um direito do trabalhador. Ninguém minimante respeitável merece o blefe infame desse desgoverno autoritariamente truculento que escreve, em tom de empáfia, que respeita greve como se fosse um arauto da liberdade democrática. Como toda empáfia precede a queda, esse comunicado nasceu morto porque tem animus abutendi (intenção de abusar). Essa escrita não é bona fide (de boa-fé).
A greve deflagrada na quarta-feira (18) pela assembleia geral do SIMMP, apinhada de servidores públicos municipais é uma prova irrefutável do nível de periculosidade desse desgoverno municipal, é uma demonstração inequívoca de insatisfação em todos os aspectos com esse desgoverno. A paralisação é, antes de qualquer coisa, de responsabilidade exclusiva desse desprezível gestor.
A greve é resultado desse desmonte imoral da máquina pública; a transferência de recursos do município para pagamento de serviços “especializados” em assessorias (ASPONE) inúteis e sem nenhum benefício à população conquistense; o ridículo aumento zero e o não pagamento de benefícios; e a crescente privatização de serviços públicos essenciais à qualidade de vida da população conquistense.
É preciso saber que greve é consequência e não causa, portanto não foi inventada pelo SIMPP para desestabilizar o atual radialista. Segundo a revista Forbes Brasil de 28 de abril de 2017 a primeira paralisação que se tem notícias no mundo surgiu em 1.152 a.c. feita pelos artesãos no Egito Antigo, sob a vigência do reinado de Ramsés III. No Brasil só vai ocorrer em 1858 com os tipógrafos dos jornais (Diário do Rio de Janeiro, Correio Mercantil e Jornal do Comércio) cuja pauta de reivindicação contava apenas com o aumento salarial.
A greve no sentido em que todos nós a conhecemos hoje só passa a existir com o surgimento do sindicato. Essa é a instituição política genuinamente do proletariado, forjada no calor do movimento operário nos séculos XVIII/XIX, ao longo da revolução industrial ascensão da burguesia enquanto classe dominante e o acirramento das contradições das relações antípodas entre o capital versus trabalho, sendo que esta última só vai se constituir enquanto classe social com a modernidade.
O termo greve vem de grève que em francês quer dizer cascalho, areal. Relata-se que antes da canalização do rio Sena em Paris com as suas cheias eram depositados em uma praça gravetos e pedras ao qual ficou conhecida por place de grève. Nessa praça costumavam se reunir trabalhadores à procura de emprego. Com o surgimento da paralisação do trabalho, os trabalhadores passaram a se reunir nessa mesma localidade. Com isso o termo grève passou a ser sinônimo de paralisação do trabalho. (ROCHA apud MARTINS, 2010)
O berço que forja o movimento operário no século XIX e a construção sindical no Brasil é o da esquerda operaria, organizada pela ideologia sindical anarco-comunista. No espaço sindical, por via de regra, a presença da direita nesse lugar só pode ser entendida como peleguismo, traição às classes operarias para atender aos interesses do patrão capitalista. Basta lembrar que o SIMMP teve uma postura conservadora e arrivista contra os governos do PT.
Imaginava-se que o SIMMP teria princípios operários radicais de esquerda para confrontar a gestão do petista. Muitas falas destituídas de construção ideológica de esquerda, predominância de lutas corporativistas por melhorias de salários e aparelhamento ideopolítico do sindicato para derrubar o gestor.
Os profissionais da educação de Vitória da Conquista formam uma categoria heterogênea, numericamente forte, porém muitas vezes vacilante ideologicamente porque ainda permite que certos ideólogos burgueses reacionários influenciem em suas posições políticas. Aliás, esse sindicato historicamente sempre foi bem posicionado na arena política contra quaisquer governos opressores (de esquerda ou de direita), sobretudo nas sucessões eleitorais.
Data vênia meu caro leitor, muito cuidado ao praguejar contra a fluida consciência coletiva que rege ideologicamente essa categoria, restringindo seu álibi somente o extrato bancário, já que os últimos mandatos desse importante sindicato não têm sido majoritariamente constituídos por dirigentes de tradição de esquerda.
O SIMMP é um agente que opera a política também e, é exatamente por isso que ela se articula muito bem com a população conquistense quando se trata de aspectos eleitorais, mas não tem o mesmo feedback em relação à defesa dos interesses socioeconômico e político da categoria. A despolitização favorece apenas aqueles à espreita de uma oportunidade para melhorar de vida. Aí reside à razão dos fascistas em transformar a todos e todas numa imensa geleia geral.
Ao contrapor a essa lógica fascista, deve-se abstrair o caráter excessivo de pessoas com comportamentos desonestos na política, pois isso não faz dela uma teoria social na qual a regra geral serve exclusivamente para corromper a integridade humana. A política deve ser exercida com compreensão crítica dos seus objetivos e suas finalidades.
O abuso não impede o uso (abusus non tollit usum). O mau-caratismo generalizado que deixa as pessoas em duvida em relação à idoneidade da maioria dos dirigentes nas diferentes instituições políticas, não faz dela algo desprezível por ser ruim. A política é algo absolutamente saudável porque é boa em si, mas quando justificada equivocadamente pelo senso comum como algo maleficamente intrínseca a própria natureza da política, isso a torna indesejável e terrivelmente perversa.
Desvencilhar-se do senso comum significa superar criticamente a aparência da política (leituras e discussões coletivas) enquanto fenômeno sociológico e buscar compreender a essência que defini a sua razão de ser. Essa compreensão só é possível com uma formação teórica consistente que subsidie a práxis política avançada. Sindicato deve se posicionar criticamente em todos os processos eleitorais da sociedade em que convive, principalmente daqueles que escolhe quem vai dirigir sobre sua vida no legislativo e no executivo.
Exatamente por essa razão, a categoria participou ativamente dos sucessivos processos eleitorais que garantiram ao PT 5 mandatos (20 anos de gestão) consecutivos. Entretanto, também ajudou a eleger o atual prefeito e teve papel decisivo nas (re)eleições de dois vereadores (PT), mas disse um não sonoro a ex-presidente do SIMMP direitista, de verve fascista.
Aliás, a maior parte da categoria já se ressente de ter ajudado excepcionalmente a colocar na prefeitura de Vitória da Conquista um sujeito estranhamente pusilânime como gestor e vacilante moralmente em consequência de seu analfabetismo político. Tudo isso há menos de 3 anos de desastrosa gestão municipal.
Esse arrependimento tão absurdamente ligeiro se deve ao retrocesso imediato em todos os aspectos da vida social que se abate amargamente sobre à prospera Vitória da Conquista, orçada em meio bilhão de reais deixado pelo seu antecessor do PT. Aos incautos servidores que vacilaram com seus votos (pois haviam outras alternativas como Enoque do PSOL, Fabrício do PCdoB e Joás Meira do PSB) resta a lição tirada na pratica do que efetivamente seja uma gestão tecnicamente capaz e uma real democracia participativa.
Essa base sindical, retomada sua consciência crítica, jamais aceitaria que a sua atual direção hesitasse politicamente aponto de cometer o mesmo erro duas vezes. Mesmo que a história política recente dessa categoria tenha registros indeléveis de alinhamento ideológico por parte da maioria da direção sindical às forças políticas conservadoras de direita (grande parte de viés fascista) para “ludibriar” a base para favorecer eleitoralmente o atual prefeito.
Embora reconheçamos que esse “engano” terrível cometido pela categoria tenha mais a ver com o voto de confiança dado pela maioria da população conquistense, fortemente influenciada por uma conjuntura nacional de golpe forjada e o avanço da extrema direita no Brasil.
Em Vitória da Conquista esse movimento de golpe foi liderando dentro do SIMMP pela direitista pelega da ex-presidente do SIMMP que aproveitou a conjuntura e abusivamente uso seu cargo e as estruturas do sindicato para iludir as pessoas. Portanto, considero que por parte da categoria me parece mais uma negligencia intelectual propriamente dita do que má-fé.
Na academia é muito mais difícil ludibriar um estudante ativo politicamente, imagine um professor com hábitos de leituras regulares de leituras mais profundas, por isso que consolida a formação política. Não existe ludibriar na política alguém de esquerda senão for por má fé, principalmente ser for por alguém assimétrico intelectualmente. A docência implicar muita disciplina com a leitura, inúmeras discussões e reflexões constantes sobre as diversas fontes do conhecimento durante e depois da formação acadêmica nas atividades laborais de classe e sindicais.
Dadas as reais condições de inaptidão teórica e pratica dessa equipe de governo para gerir tecnicamente a máquina pública municipal, uma vez que o mesmo não consegue atender as exigências mínimas das peças orçamentárias, bem como a austeridade em sua execução financeira, não demorou muito para a categoria sentir na pele e no bolso os efeitos deletérios de um péssimo gestor e retomar rapidamente o nível de consciência crítica.
Essa inflexão forçada está acontecendo em todo o município de Vitória da Conquista, além dos servidores públicos municipais à população vivencia o drama da descontinuidade de serviços públicos essenciais, principalmente saúde, educação, transporte público, meio ambiente e desenvolvimento social.
Essa situação de compulsória calamidade pública que se instalou de forma generalizada na cidade obrigou não somente a imensa maioria da base sindical a pensar melhor sobre o erro, se convencendo da besteira e das graves consequências para a vida da cidade causado pelo retrocesso na gestão municipal.
Consciente da força da categoria, não menos fragilidade pela conjuntura nacional que se abatia sobre ela, a base foi instrumentalizada pela direção ao negar o debate crítico à categoria. Portanto, dessa forma que se construiu o odeio ao PT e votação em sua grande maioria no atual governo. Aliás, por falta de discussão crítica profunda sobre a natureza teórica da administração pública municipal, a formação do Estado liberal burguês e os difusos interesses socioeconômico e político da base sindical.
O rápido exame de consciência, a luz da experiência empírica (vide o ocaso do pedralismo) e da inteligência para reavaliar criticamente o erro crasso cometido, ao apoiar acriticamente as estultícias e oportunismos de sua ex-presidente, a atual secretaria de governo, levou grade parte da categoria ao amadurecimento e a tomada de cisão pela grave. A organização política do SIMMP para enfrentar seu algoz, o falastrão radialista que sonhava em ser prefeito.
Meio ao caos do transporte público de massa, causado pelo desmonte do sistema municipal de transporte coletivo para atender a um compromisso financeiro com aqueles que custearam as suas eleições, trouxa a cidade um novo elemento deletério que são os milicianos, uma máfia do transporte de vã até então duramente combatida pelo PT por saber que essas são organizações políticas criminosas.
A compulsória redução de investimentos na saúde pública; sucateamento da frota de automóveis; suspensão no fornecimento de medicamentos; redução na oferta de procedimentos clínicos e cirúrgicos; diminuição na oferta de diagnostico laboratorial e por imagem; a crescente privatização de serviços de saúde pública essenciais, abre uma outra janela no tempo de volta ao passado recente em que os capitalistas repartiam entre si os recursos destinados a financiar as políticas de saúde pública, enquanto o povo morria à míngua sem assistência medica e hospitalar.
A educação era a irmã mais prospera dos serviços públicos, pois vem sofrendo todo tipo de ataque do gestor. Apropriação indébita de valores devidos aos profissionais da educação; não pagamento de salários e benefícios conforme prevê a lei (imagine a unificação do piso salarial a partir da graduação e não de uma estratificação que hierarquiza salários) que define um piso salarial aos professores; aumento zero de salário causando a o assalariamento da categoria; não adoção de Planos de Cargos e Salários para monitores; ausência de discussão coletiva sobre a atualização do PME, PPP e demais políticas de educação.
Sucateamento e corte no financiamento das políticas de desenvolvimento social visando o esvaziamento e, consequentemente, o enceramento de importantes programas de proteção e promoção de populações em situações de flagrante vulnerabilidade socioeconômica e política. O objetivo é atender ao reclame geral das elites reacionárias que alegam que não suportam ver seus “empregados” ascendendo socialmente, imputado aos mesmos a pecha de indolência ou preguiça que pesa nas costas do Estado, como se as elites burguesas pagassem impostos.
Compreender essas mazelas características da sociedade burguesa, faz do SIMMP um sindicato que retoma sua condição política de classe que compreender seu lugar de fala ao lado das classes operarias contra as mazelas e comportamento políticos das classes dominantes contra as classes trabalhadoras e as populações subalternizadas pelas elites burguesas no comando político do Estado liberal Burguês.
Portanto, é nesse complexo e tumultuado cenário de lutas de classes que a direção do SIMMP toma a posição correta de classe em favor dos/as profissionais da educação. O momento exige mais que uma inflexão crítica sobre a natureza ideopolítica da greve. Exige organizar e mobilizar a sociedade com o comando de greve, aliás, o sindicato deve ter consciência política de quem são seus verdadeiros algozes, as elites conservadoras de Vitória da Conquista.
Essa greve não deve ser apenas para derrubar esse governo e instituir outro, criando um círculo vicioso improdutivo. Mas, de enfrentar ideologicamente as elites burguesas e seus representantes capitalistas no comando do poder político. Discutir criticamente os elementos econômicos e financeiros das leis orçamentarias. Radicalizar e aprimorar os mecanismos da democracia participativa. Empoderar os profissionais da educação de todo conhecimento holístico e as técnicas que envolvem a gestão pública.
Embora deva ser peremptoriamente combatido, o atual prefeito de Vitória da Conquista é apenas um ventríloquo inconsequente dessa classe dominante fascista. Um radialista alucinado com o poder, exercendo um fetiche alimentado pela compulsão de mandar justificado pela condição “viril” de mando, contudo não passa de um farsante analfabeto político e funcional.
Um politiqueiro estúpido e audacioso a serviços das elites atrasadas que acreditou nas lorotas e estultices de uma ex-presidente malsucedida e rejeitada pela própria categoria, exatamente por conhecer seus verdadeiros interesses espúrios na política.
____________________________
[1] Herberson Sonkha é professor de cursinhos em Vitória da Conquista. Estudante de Ciências Econômicas na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Foi gestor administrativo lotado no Hospital de Base de Vitória da Conquista. Foi do Comitê Gestor da Secretaria Municipal de Educação de Anagé. Presidiu o Conselho Municipal de Educação de Anagé. Coordenou o Programa Municipal Mais Educação e a Promoção da Igualdade Racial do município de Anagé. Foi Vice-Bahia da União Brasileira de Estudante (UBES) e Coordenador de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de Vitória da Conquista (UMES). Militante e ex-dirigente nacional de Finanças e Relações Institucionais e Internacional dos Agentes de Pastorais Negros/Negras do Brasil. Membro dirigente do Coletivo Ética Socialista (COESO) organização radical de esquerda do Partido dos Trabalhadores.
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