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quarta-feira, 18 de setembro de 2013

SINSERV de Anagé: Uma luta necessária!





"Seria uma atitude muito ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que permitisse às classes dominadas perceberem as injustiças sociais de forma crítica..." (Paulo Freire)



* Por Herberson Sonkha

A epígrafe acima nos dá o sentido para fazer a luta cotidiana por aquilo que acreditamos ser possível e, é claro, as razões pelas quais os servidores públicos municipais construíram o SINSERV e porque ele deve ser o caminho para a classe trabalhadora realizar as mudanças sociais de curto, médio e longo prazo, tão necessárias à emancipação humana. Também é deste magno pensador e militante das causas populares, Paulo Freire, o mote que rega o sentimento de liberdade e sustenta a impávida militância, aliás, quando diz que não deve haver ingenuidade (inocente útil) no combate sindical e nem desconhecimento (teoria social) da causa pela qual se luta.


Por isso, ao considerar o papel sindical estratégico do SINSERV, circunscrito à delegacia de Anagé, enquanto movimento organizado de trabalhadores, o faço por entender que jamais as classes dominantes consentiriam uma “[...] educação que permitisse às classes dominadas perceberem as injustiças sociais de forma crítica [...]”. Penso que este não deve se omitir frente aos dilemas que travam o processo de mudanças promovidas pelo novo governo municipal de Anagé, pelo contrário deve ser um importante a gente das transformações sociais. O momento nos dá a possibilidade de desenvolver políticas públicas para intervir na situação daquelas pessoas excluídas dos serviços públicos, possibilitando efetivamente o desenvolvimento equânime da população anageense em situação de extrema pobreza.

Para tanto, levo em consideração também que esta essencialidade deve ser exercida de forma autônoma, crítica e responsável como esta sendo e, ao contrário, do que se imagina por aí não deve atuar nas extremidades: transformando o sindicato em correia de transmissão do governo ou ponto de estrangulamento para o projeto em curso de governança com responsabilidade social.

O sindicato e a luta sindical não devem tangenciar estas extremidades porque descaracteriza o papel histórico do SINSERV. O caminho é tocar a luta e cumprir a agenda sindical porque do contrário, além de cometer um equivoco, suas consequências são prejudiciais ao desempenho positivo do governo em favor daqueles anônimos que nunca tiveram acesso aos bens materiais e intelectuais em Anagé.

Por sinal, estes que não são poucos, são os que efetivamente precisam das políticas públicas dos governos (federal, estadual e municipal) para saírem da situação causada pelo abandono, falta de oportunidade e não eram assistidos pelo serviço público mesmo com os recursos transferidos pelos entes estadual e federal. É preciso continuar a vigilância contra possíveis investidas promiscuas que ensejam aparelhar o sindicato em beneficio de projetos pessoais e mesquinhos. Pois, governo sério respeita a entidade representativa da categoria e não tenta cooptá-la.

O SINSERV é inexoravelmente central na defesa dos interesses políticos e econômicos dos servidores municipais anageenses, para tanto, sulco brevemente pelas veredas escarpadas da história política deste sindicato e da política sindical de maneira geral, para certificar o quão necessária é esta organização para história dos servidores municipais. Deste modo, reafirmo a inquestionável presença desta instituição política na vida da cidade e no dia-a-dia das classes trabalhadoras anageenses.

Apesar disso, faço o devido registro por reputar necessário ao momento político de inicio de governo em que pessoas insistem a em atribuir responsabilidades a quem de fato não tem nenhuma imputabilidade frente a situação encontrada no município. É justamente por isso que a categoria de servidores vem sofrendo constantes assédios e ataques tresloucados para redirecionar o sindicato em favor de suas demandadas pessoais.

Não há sindicato isento e sem posição política ideológica. O que deve continuar existindo são dirigentes sérios e política sindical forte e combativa, exercida com postura ética no fazer da luta em defesa dos interesses da categoria, sem fazer desta luta necessária um cavalo de batalha troiano, para confundir a população em favor de quem nunca quis reconhecer e respeitar o movimento sindical, suas bandeiras e suas demandas.

Outras observações apresentada aqui, diz respeito à inusitada revoada de emergentes para o movimento sindical, todavia com o pensamento alhures, alegando terem “descoberto” o sindicato após todos esses anos atrelados ao serviço público por conveniência pessoal sem quaisquer relações com o sindicato e suas lutas. Estes presunçosos subestimam a capacidade intelectual, a compreensão no âmbito político da correlação de forças nas últimas eleições e o comprometimento dos seus dirigentes sindicais com a luta diária da entidade. Estes sobrepujados eleitoralmente, que outrora achincalhavam lideranças, hostilizavam dirigentes sindicais e incitava violência contra as atividades sindicais, inclusive esbravejavam contra greve da categoria, agora se colocam como demiourgos.[1]

Deste modo, nunca é pouco observar que a presença de novos filiados impõe duas leituras de campos diferentes: uma diz respeito ao fim da perseguição a quem opta por fazer a militância no movimento sindical sem temer quaisquer retaliações pessoais ou coletivas da gestora atual e; a outra leitura diz respeito à revoada inédita de emergentes à procura de espaço para reorganizar as forças conservadoras contrárias ao governo, buscando desconstruí-lo por dentro da organização sindical, aparelhando o sindicato, mesmo que esta seja adversa a tradição sindical e a postura ética de militância sindical.

É evidente que este comportamento conservador representa a visão de mundo de alguém que, mesmo perdendo o status quo, mantém um ethos[2]conservador e fazem seu "JUS ESPERNIANDIS" para reaver de qualquer jeito sua posição privilegiada na estratificação social. Portanto, seus mentores classificam ideologicamente o sindicato como uma organização atrasada, baderneira, comunista, revolucionário, crítico e que sempre vai influenciar “negativamente” a classe trabalhadora a procurar a justiça para obter vantagens desonestas contra o patronato, ou porque se supõem que seu referencial teórico seja marxista e por isso esteja superado por causa das experiências do socialismo real, praticado no leste Europeu, Ásia e América Central.

Assim, este instrumento de luta da classe trabalhadora possui objeção aos negócios espúrios da elite, tomando posição contra as jogatinas da politicagem que “mata de fome, de raiva e de sede”[3]e para eles, o burguês, geralmente não passa de gestos naturais ou banais. Assim, tudo que envolve sindicato passa ser condenado porque perturba a burocracia estatal e denuncia os desmandos do establishment que influí no governo negativamente, operando a maquina estatal contra os interesses da população empobrecida prejudicando o bem estar dos anageenses e, principalmente dos servidores municipais, porque burlam direitos garantidos por lei, conquistados as duras penas nas ruas.

A história do sindicalismo está intimamente articulada com o surgimento do mercado de trabalho, do assalariamento e das sujeições de exploração dos capitalistas no Brasil. Bem, se é aceito por todas as correntes do pensamento moderno que o Estado foi criado pela elite, é razoável considerar também que ela o construiu para servir seus próprios interesses, pois ela fundou o Estado e ela própria dirige. Assim, também o é quando consideramos que as leis que faz mover esta máquina estatal estão pejadas de valores e ethosde quem os criou, a burguesia. O que explica tantos impedimentos legais para implementar as políticas públicas e a instituição de mecanismos de controle social e a distribuição da riqueza do Estado. 

Portanto, o surgimento do sindicato dos servidores públicos vai atender aos interesses dos servidores expostos a sanha de governos formados pelas oligarquias, eleito para dirigir a máquina pública para uma determinada classe social, historicamente privilegiada em detrimento da maioria absoluta da população.

Do ponto de vista prático existem varias propostas sindicais que vão da defesa pragmática comprometida com os interesses jurídico-administrativos, econômicos e políticos dos trabalhadores sindicalizados destituída de qualquer formulação revolucionária; passando pela execrável ação governamental de cooptação ideológica por meio do assistencialismo burguês a exemplo das realizadas pelo trabalhismo getulista;  às varias propostas marxistas de organização e conscientização da classe trabalhadora, tanto como estratagema para fortalecer as pautas de reivindicações e ampliar as conquistas como a defesa da práxis política que visa à insurreição social de cunho socialista e todas as implicações que delas decorrem.

Neste sentido, vejo com bons olhos a postura dos dirigentes sindicais do SINSERV, especialmente do presidente, Sr. Josenildo Matos que mantem firme suas convicções em defesa dos interesses dos servidores públicos municipais sem adentrar no terreno movediço ou no polêmico labirinto de defesa deste ou daquele governo. O que não significa dizer que estes dirigentes não possuam uma compreensão política das relações históricas engendradas a partir das disputas eleitorais de projetos e o empowerment[4]das classes sociais excluídas por governos arcaicos das oligarquias anageenses.





[1]Demiurgo (grego, δημιουργός, demiourgos), significa "o que trabalha para o público, artífice, operário manual", demios significando "do povo" (como em demos, povo) e -ourgos, "trabalhador" (como em ergon, trabalho).
[2]Ethos, na Sociologia, é uma espécie de síntese dos costumes de um povo. O termo indica, de maneira geral, os traços característicos de um grupo, do ponto de vista social e cultural, que o diferencia de outros. Seria assim, um valor de identidade social. Ethos que significa o modo de ser, o caráter.
[3]Caetano Velos [Podres Poderes] “Enquanto os homens exercem/ Seus podres poderes/Morrer e matar de fome/De raiva e de sede/São tantas vezes/Gestos naturais...”
[4]Empowerment, ou Empoderamento, em inglês, significa em a ação coletiva desenvolvida pelos indivíduos quando participam de espaços privilegiados de decisões, de consciência social dos direitos sociais. Essa consciência ultrapassa a tomada de iniciativa individual de conhecimento e superação de uma realidade em que se encontra.

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