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quinta-feira, 5 de setembro de 2013

O HOMEM COMO SER COLETIVO: A NEGAÇÃO AO CAPITALISMO

"A grande expressão destes movimentos foi as CEBS, Comunidades Eclesiais de Bases, movimento de base dos trabalhadores rurais, que de origem a Comissão Pastoral da Terra, MST (Movimento dos Sem terras), MPA (Movimentos dos Pequenos Agricultores)."

* Por Professor João Paulo Pereira

O nascimento do modo produção capitalista, como tudo na história, já trouxe em seu cerne o germe que iria destruí-lo, a classe operária como a teoria marxista chamou, atualmente vamos classificar de a classe que vive do trabalho, já que o conceito de trabalho mudou desde a produção intelectual de Marx até os dias atuais, da mesma forma que o capitalismo mudou a forma de exploração do trabalho.

Mesmo com a proposta de construir o mais belo dos mundos, já no nascedouro do capitalismo industrial, ficou claro que o modo de produção havia falhado e conseqüentemente a idéia dos grandes pensadores do século XVIII, que o capital seria o modelo de desenvolvimento ideal porque daria a humanidade o direito a viver bem, tendo seus direitos fundamentais respeitados, caiu por terra.

O novo modelo de produção deixou claro quais eram as regras do jogo, de um lado o proprietário dos meios de produção, acumulando riquezas a partir do processo que Karl Marx chamou de “mais valia” (a diferença entre o valor do produto produzido pelo trabalhador para o valor do salário que ele recebe pela produção), do outro lado o trabalhador, força motriz da produção, explorado, destituído das condições básicas de uma sobrevivência digna, empobrecidos e muitos relegados a condição de exército de reserva de mão de obra barata para o mercado de trabalho, vivendo na mais absoluta miséria.

É nesse contexto que surge os primeiros embriões da luta da classe que vive do trabalho por uma vida mais digna e que depois se transformou em uma luta por uma sociedade alternativa ao capitalismo onde o processo de exploração do homem pelo homem através da mais valia, fosse definitivamente superado instituindo em seu lugar um modelo de sociedade justa e igualitária.

Os primeiros movimentos produzidos pelos trabalhadores como sempre, aconteceu na Europa, berço do capitalismo, onde surgiram às primeiras indústrias e as contradições próprias do capitalismo foram mostrando seus sinais. Com o advento das Revoluções Industriais na Inglaterra (XVIII), o aparecimento das máquinas a vapor e depois as máquinas movidas à combustão interna e pela eletricidade, a mão de obra humana passou a ser substituída pela máquina, o que causou um aumento rápido nos índices de desemprego e conseqüentemente da pobreza. 

Os trabalhadores ainda em um processo embrionário de formação da consciência de classe avaliavam que o inimigo de classe eram as máquinas, passando a invadir as fábricas para danificar estas máquinas, esse movimento foi chamado de Ludismo, nome que surgiu a partir de uma figura fictícia, Ned Ludd, criado pelos trabalhadores engajados para despertar o interesse de outros e atraí-los ao movimento. O movimento foi duramente reprimido com prisões de militantes e execução das principais lideranças.

Com o avanço da exploração e a ampliação do nível de consciência dos trabalhadores surgiu outro movimento na Inglaterra, o Cartismo. Neste a classe operária já ciente que o grande desafio era vencer o processo de exploração criado pela própria estrutura do sistema capitalista, inicia uma série de lutas políticas, enviando documentos escritos para o congresso Inglês, tentando garantir melhorias nas condições de trabalho e ao mesmo tempo, garantir maior intervenção política dos trabalhadores no cotidiano da sociedade. A vitória mais efetiva foi a instituição de um salário para cargos eletivos como vereadores e deputados, o que possibilitou aos trabalhadores e pobres de maneira geral participar das instâncias de decisões políticas no poder legislativo, já que só quem participava era a burguesia, que tinha garantia de sobrevivência sem trabalhar.

 Durante o século XIX quando a indústria se transformou nos grandes conglomerados aliando capital industrial com capital financeiro, na medida em que a produção aumentava a situação dos trabalhadores ficava cada vez pior, vivendo em pequenas vilas próximas das indústrias em condições subhumanas, em total abandono, ficou claro a necessidade de se repensar a situação dos trabalhadores diante do avanço do modo de produção capitalista.

O primeiro grupo a propor uma alternativa ao capitalismo foi chamado de “Socialistas Utópicos”, indivíduos sensíveis as questões dos trabalhadores, como Robert Owen, Saint Simon, Charles Fourier, Louis Blanc, procuraram criar as condições necessárias para construir uma alternativa viável, que ao mesmo tempo garantisse o crescimento econômico, geração de riquezas aliado à qualidade de vida a classe trabalhadora.

Estes socialistas foram chamados de utópicos por que suas teorias não tinham a formulação científica e nem o conhecimento necessário do capitalismo para levar a construção de uma sociedade alternativa. Não mostrava os caminhos a serem seguidos pela classe trabalhadora com o objetivo de garantir o surgimento de um novo modelo de desenvolvimento.

A partir de meados do século XIX, Friedrich Engels e Karl Marx, desenvolveu um estudo sistematizado sobre o modo de produção capitalista, apontando a origem da pobreza e das desigualdades vivenciadas pela classe operária com o sistema, apontando também a origem da exploração e da acumulação de riquezas pela burguesia e daí derivando todas as mazelas do modelo de desenvolvimento capitalista, dando origem ao que se chamou de “Socialismo Científico”.

Marx e Engels desenvolveram uma proposta filosófica, econômica e política, apontando os caminhos para se chegar a uma sociedade alternativa ao capitalismo, fundamentando suas teorias com a dialética Hegeliana alemã, no materialismo dialético francês e a economia política inglesa, propondo em um primeiro momento que a classe operária consciente de que forma a classe social oprimida no capitalismo e consciente de seu papel revolucionário no mundo, deveria fazer uma revolução armada, derrotar definitivamente a burguesia, estabelecer a ditadura do proletariado, criar um novo modelo de estado dirigido democraticamente pela maioria da população, através dos conselhos deliberativos da classe trabalhadora, implantando o Socialismo em um primeiro momento, cujo princípio fundamental é “a cada segundo a sua capacidade e a cada segundo a sua necessidade”.

  Ainda segundo Marx e Engels, a partir de um processo de reeducação das massas a burguesia restante e toda a população mundial, chegaria ao ponto máximo do desenvolvimento humano, garantindo a igualdade fundamental entre os homens e aí superaria o socialismo, fase inferior do processo e chegaríamos ao Comunismo, cujo principio passaria a ser “a cada segundo a sua necessidade”, determinando uma sociedade sem classes sociais, sem exploração, sem opressão, um mundo em que todos fossem iguais. 

Paralelamente ao socialismo científico, nasceu também na Europa, outra corrente do pensamento de esquerda, que foi o Anarquismo. A exemplo do pensamento marxista, os anarquistas também propuseram a substituição do modelo capitalista por uma sociedade alternativa. O mundo deveria passar por uma revolução social e política conduzida pela classe trabalhadora, que assumiria o poder político, extinguiria toda forma de Estado, considerando que o ser humano não precisa de nenhum órgão para dirigi-lo e que toda forma de poder é repressora.

Apesar de grandes militantes os anarquistas não se firmaram como lideranças, pois, não deixaram uma produção literária ampla, capaz de garantir o crescimento do seu pensamento como fizeram os socialistas científicos. Ao mesmo tempo em que a proposta de não participar de nenhuma organização partidária, política, governos, acabou diminuindo a cresça em suas propostas de transformação por parte da classe operária. Os anarquistas acreditavam e acredita que só os sindicatos de trabalhadores e os movimentos sociais são capazes de promover a grande transformação social. 

No final do século XIX, é a vez da Igreja Católica Apostólica Romana, entrar no debate a cerca da condição dos trabalhadores no modo de produção capitalista. A Igreja faz à crítica a forma como o sistema tratava aqueles que produziam a riqueza, questionava a condição de miséria social e de abandono em que se encontravam os pobres no mundo, exige mudanças nas relações capital versus trabalho pedindo ações do Estado, para garantir dignidade e melhores condições de vida a toda a população pobre, mas discordava dos socialistas quanto a discussão sobre o fim da propriedade privada dos meios de produção, a Igreja defendia a sua permanência como sendo algo próprio do projeto divino.

O primeiro documento publicado pela Igreja Católica foi a “Rerum Novarum”, escrito em 1891 pelo Papa Leão XIII, a tradução para o português é “Sobre as Coisas Novas”. Em 1931, o Papa Pio XI, escreveu em comemoração ao 40º aniversário da Rerum Novarum, outra encíclica que foi chamada de Quadragésimo Anno. Esta surgiu exatamente em um momento de crise econômica do capitalismo, em que a classe operária voltava a pagar as contas das enumeras crises criadas pelo modelo de desenvolvimento vigente até os dias atuais. 

Estes dois documentos marcam o início do que, na segunda metade do século XX, foi chamado de Socialismo Cristão, ou doutrina social da Igreja, corrente de pensamento que na América Latina, serviu de base teórica para muitas lutas em defesa da vida, da fraternidade e da solidariedade entre os homens e ainda hoje permeia os grandes debates que se impõem a Igreja Católica no século XXI. 

A doutrina social da Igreja serviu também para alicerçar o pensamento de muitos teólogos e clérigos que desenvolveram a Teologia da Libertação, doutrina religiosa da Igreja Católica que também ganhou assento em setores avançados da Igreja Protestante a partir de 1950, que defendi Jesus Cristo como o libertador dos homens, motivando os Cristãos a militarem com afinco na construção do Reino Definitivo de Deus aqui na terra, superando toda forma de opressão social, política, econômica e cultural, e criando uma sociedade fraterna, justa e igualitária seguindo os ensinamentos do Cristo Ressuscitado.

 Este movimento foi responsável direto por uma série de lutas travadas pelos trabalhadores rurais e urbanos no Brasil e na América Latina. A grande expressão destes movimentos foi as CEBS, Comunidades Eclesiais de Bases, movimento de base dos trabalhadores rurais, que de origem a Comissão Pastoral da Terra, MST (Movimento dos Sem terras), MPA (Movimentos dos Pequenos Agricultores), entre outros que até os dias atuais lutam pela construção de uma nova sociedade.

No século XX, surge outra corrente de pensamento que defende a construção de um novo mundo, de uma nova sociabilidade, de um novo paradigma civilizacional, pautado pelo cuidado com o outro, com o mundo, percebendo que somos parte do ecossistema e que precisamos recriar a vida se pretendemos viver em um mundo mais humano, mais fraterno e mais justo. Estes movimentos constituem uma rede chamada de Complexidade, e tem assento nos meios acadêmicos, e no meio de grupos ainda pequenos no mundo, mas que discutem e tem iniciados ações de expansão destas idéias de transformação.

Essa corrente de pensamento defende como processo de mudança a revolução molecular, onde cada indivíduo a partir de um processo de transformação cultural e social se torna um ser humano novo pronto para viver harmonicamente com o mundo.

Durante esse curto percurso da luta dos trabalhadores por um mundo mais justo e mais humano, erros foram cometidos e também acertos.  As primeiras experiências de construção de uma sociedade socialista, o que foi chamado pela história de Socialismo Real, aconteceu na Rússia no início do século XX, mas precisamente em 1917, com a Revolução Russa, movimento que foi liderado pelo Partido Bolchevique, que tinha como presidente Lênin, que após a luta armada e vitória dos trabalhadores, foi eleito pelo partido com aceitação do povo, presidente da primeira nação a experimentar o socialismo como projeto político.

A experiência na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, até 1923, enquanto Lênin esteve no poder, estava buscando o caminho do Socialismo Científico de Marx e Engels. Com a morte de Lênin, inicia-se um processo de disputas pela direção do partido Bolchevique entre Leon Trotski e Joseph Stalin dois outros líderes da Revolução de 1917. 


O primeiro era aliado a Lênin, fazia as mesmas defesas do antecessor ampliando a concepção para o conceito de revolução permanente, onde defendia que a primeira nação socialista do planeta, deveria manter-se em estado revolucionário, expandir os ideais da revolução para outros países do mundo, garantir a democracia interna e o direito a tendências com linhas de pensamentos diferentes o que garantiria sempre o debate sobre os rumos da revolução e do país.

O segundo defendia que a URSS, deveria se fechar, garantir a solidez da revolução, a estabilidade do novo sistema, se organizar contra os países capitalistas do mundo,defendia o centralismo democrático, onde a idéia oficial do governo fosse o pensamento único da nação e não permitia opiniões divergentes no interior do partido.

No processo de disputas do partido prevaleceu à tese de Joseph Stalin, o que significou para o mundo um retrocesso político. Pois as idéias de Stalin se tornaram corrente de pensamento para todos os Partidos Comunistas que surgiram a partir da Revolução Russa. Por todo o mundo, as idéias de centralismo democrático, do monolitismo partidário da não aceitação das diferenças, de idéias e posturas conservadoras da ordem burguesa foram trazidas para o debate como novas e revolucionárias.

Do ponto de vista do modelo de desenvolvimento econômico, social e cultural, Stalin cometeu erros históricos, para garantir o sucesso da revolução e por ter compreendido equivocadamente o conceito de Revolução do Proletariado de Marx e Engels, passou a exercer o poder de forma autoritária, impondo as decisões, enfraquecendo os Sovietes, conselhos operários, o que determinou na superação do socialismo, criando um modelo de sociedade que a historiografia chamou de Modo de Produção Asiático, um governo que dominava todas as atividades econômicas, todos trabalhavam para o governo, que arrecadava o que era produzido e dividia a produção em partes iguais para a população, acumulando o excedente econômico. 

O resultado disto é que a experiência real do socialismo, inicialmente na URSS e depois em outros países do mundo que seguiram o modelo soviético, apesar de ter garantido avanços na qualidade de vida da população gerando mais igualdade e mais justiça social, fracassou no que diz respeito à democratização das relações humanas e no sonho de criar uma sociedade mais justa, mais fraterna.

Ainda hoje os pensadores e militantes socialistas em todo o planeta, estão tentando construir um novo paradigma civilizatório, seja pela via do Marxismo, sejam pela via do Cristianismo, ou pela ótica da Complexidade, aqueles que sonham em construir e viver em um mundo mais humano, mais fraterno, sem a exploração de classes e sem a luta de classes, todos os dias renovam suas forças, buscam estratégias e se levantam contra a dominação capitalista, na certeza de que todos os momentos da história, são momentos para está plantando a semente e trabalhando para que ela germine e garanta frutos capazes de fazer nascer o mundo sonhado onde todos sejam vistos como iguais.

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