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terça-feira, 8 de outubro de 2024

Tarcísio-Nunes-Marçal e o projeto fundamentalista

Imagem: Esquerda Diário

*por Herberson Sonkha 



Nos últimos anos, o Brasil tem testemunhado uma guinada dramática em sua estrutura política e social, conduzida por uma agenda ultraconservadora e fundamentalista que reúne diversos setores da sociedade sob a égide de um projeto de poder de extrema-direita. Sob a liderança de figuras como Tarcício de Freitas, Ricardo Nunes, Pablo Marçal e outros expoentes agressivos do bolsonarismo, esse movimento em São Paulo não é apenas uma corrente ideológica, mas uma reorganização profunda do poder, ancorada em matrizes nazifascistas, que visa consolidar a manutenção da reprodução do capital de forma ainda mais concentrada e centralizadora. 

Este processo tem se mostrado especialmente eficaz ao mobilizar grandes massas em torno de um discurso religioso e autoritário, que se legitima tanto pelas igrejas pentecostais como por outras frentes de ação, como milícias, paramilitares e o agronegócio.

Como afirmou Antonio Gramsci, as ideologias exercem um papel fundamental na construção e manutenção da hegemonia de classe. O avanço da extrema-direita que toma corpo em São Paulo e se expande para o Brasil atual deve ser compreendido como uma ofensiva ideológica que busca moldar a consciência das massas e reproduzir os interesses da classe dominante. Gramsci alerta que o fascismo “não pode ser reduzido à ação direta de grupos de pressão ou forças políticas isoladas, mas deve ser compreendido como um fenômeno que se apoia em uma ampla base social” (GRAMSCI, Cadernos do Cárcere, 1971, p. 95).

Imagem: Brasil 247

Esse projeto de poder, liderado por Tarcísio-Nunes-Marçal, é uma tentativa de implementação de um modelo econômico baseado no neoliberalismo radical, que concentra o capital nas mãos de uma minoria elitista e sacrifica a maioria da população. Como observou David Harvey, "o neoliberalismo tem sido um projeto para restaurar o poder de classe dos ricos" (HARVEY, O Neoliberalismo: História e Implicações, 2005, p. 16). A ofensiva contra os direitos trabalhistas, a privatização de estatais estratégicas e a destruição das políticas sociais são partes essenciais desse projeto, que não visa o bem-estar da população, mas o fortalecimento do capital financeiro internacional e das grandes corporações.

O processo de pauperização e desigualdade observado no Brasil, sobretudo em São Paulo, também se relaciona à teoria do Estado capitalista de Louis Althusser. Althusser destaca que os aparelhos ideológicos do Estado, incluindo as igrejas, a mídia e o sistema educacional, desempenham um papel fundamental na manutenção das relações de produção capitalistas ao “reproduzir as condições materiais necessárias à exploração” (ALTHUSSER, Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado, 1970, p. 30). Nesse sentido, o fundamentalismo religioso de caráter anticristo associado à extrema-direita não é apenas um fenômeno isolado, mas um importante mecanismo de alienação e controle social.

Historicamente, o Brasil sempre esteve marcado por profundas desigualdades sociais, econômicas e raciais, mas o que vemos hoje é um agravamento acelerado desse quadro, impulsionado por uma agenda política que fere de morte os princípios democráticos e os direitos fundamentais da classe trabalhadora. A divisão entre os eleitores pró-democracia e os simpatizantes da extrema-direita é o reflexo de um país em crise, que compromete não apenas a governabilidade, mas também o avanço do debate e implementação de projetos políticos de classe, raça e gênero.

Esses grupos, antes confinados aos espaços das igrejas neopentecostais, agora se articulam nas ruas e nas urnas, compondo um mosaico em torno de uma agenda comum de poder. Para entender essa ascensão, é fundamental recorrer à teoria da acumulação capitalista de Karl Marx, que argumenta que o capital tende a concentrar-se em poucas mãos, enquanto a miséria e exploração aumentam para a maioria (MARX, O Capital, 1867, p. 551). O projeto ultraliberal de Tarcísio-Nunes-Marçal reflete essa dinâmica de centralização do capital, que é exacerbada pela lógica ultraconservadora de repressão e destruição dos direitos sociais.

Além disso, é importante situar esse fenômeno dentro da teoria da reprodução ampliada do capital de Rosa Luxemburgo, que demonstrou que o capitalismo, ao expandir seus mercados e explorar novas esferas da vida social, intensifica a desigualdade e a exploração (LUXEMBURGO, A Acumulação do Capital, 1913, p. 364). No Brasil, essa reprodução ampliada do capital se manifesta não apenas na economia formal, mas também na articulação entre milícias, crime organizado e latifundiários, que assumem um papel cada vez mais central na política nacional.

O programa político-partidário de Tarcísio-Nunes-Marçal, portanto, é uma expressão do fascismo moderno, conforme discutido por Dimitrov, que vê o fascismo como "a ditadura terrorista aberta dos elementos mais reacionários, mais chauvinistas e mais imperialistas do capital financeiro" (DIMITROV, O Fascismo e a Classe Operária, 1935, p. 7). A militarização da política, o conservadorismo religioso e a aliança com o agronegócio são todos elementos que se encaixam nessa definição, evidenciando o caráter destrutivo desse projeto para a democracia e os direitos humanos.

A luta contra esse modelo ultradireitista deve, portanto, ser ampliada e radicalizada. Não se trata apenas de uma resistência contra o fascismo renascente, mas de uma luta pela sobrevivência dos direitos sociais, trabalhistas e democráticos que estão sendo destruídos em nome da reprodução do capital. A única saída possível é a construção de uma nova ordem social, que coloque o poder nas mãos da classe trabalhadora e do povo, como defendido por Lenin ao afirmar que "só a luta de classes pode salvar o proletariado da sua escravização pelas classes dominantes" (LENIN, O Estado e a Revolução, 1917, p. 61).



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Referências 

ALTHUSSER, Louis. Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado. Rio de Janeiro: Graal, 1970.

DIMITROV, Georgi. O Fascismo e a Classe Operária. São Paulo: Edições Sociais, 1935.

GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971.

HARVEY, David. O Neoliberalismo: História e Implicações. São Paulo: Loyola, 2005.

LENIN, Vladimir Ilyich. O Estado e a Revolução. São Paulo: Expressão Popular, 1917.

LUXEMBURGO, Rosa. A Acumulação do Capital. Rio de Janeiro: Zahar, 1913.

MARX, Karl. O Capital: Crítica da Economia Política. São Paulo: Boitempo, 1867.



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