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segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Aspectos Econômicos, Políticos e Ideológicos da Conjuntura Nacional / Internacional da Atualidade

*por Carlos Maia




1 – Aspectos econômicos e políticos: a volta da velha “Guerra Fria”

Ainda não chegamos ao segundo turno das eleições, mas algumas lições podem, desde já, serem adiantadas enquanto tendência geral até aqui esboçadas e/ou apresentadas aos olhos de todos, em especial àqueles setores em que a ignorância política e uma total falta de método de investigação científica, é deixado de lado em função de análises superficiais fenomênicas e de adjetivações sofísticas, tão ao gosto dos analistas políticos triunfalistas, que nada dizem e que nada ensinam e que, por conseguinte, não serve como material teórico mais expressivo, quanto ao que se refere a educação política e social dos trabalhadores e da juventude.

Nunca é demais lembrar que esta conjuntura é fruto de um desdobramento histórico de conjunturas passadas; de um forte entrelaçamento com a estrutura e a superestruturação econômica, política, ideológica e militar do modo de produção capitalista, bem como da sua formação social predominante, e, mais uma vez insistimos; esta conjuntura, este momento político deve ser visto pela ótica dos trabalhadores no seu enfrentamento e luta de classe contra a burguesia e o capital como um todo. 

Peguemos portanto, do ponto de vista metodológico, ponto por ponto do tripé em que se alicerça a nossa análise. Em primeiro lugar, estas eleições só corroborou com as tendências até aqui verificadas. Ou seja, um forte recuo do projeto reformista social-democrata, enquanto perspectivas de direção política do Estado e de afirmação de princípios e/ou projetos de governos para uma saída da crise de exaustão do capital. Isso se dá de uma maneira ampla e massiva, no descrédito das massas pelos candidatos da reforma (PT, PCdoB, PSB, PSOL, etc.) que de antemão vem se desgastando cada vez mais, frente aos sucessivos pleitos eleitorais que têm levado milhares de eleitores a votar em candidatos que compõem o bloco político conservador e até mesmo fascistóides, em contraposição ao que a eles se apresentam em relação direta com reforma e o populismo da era Lula. Este sim é que deve ser analisado de forma mais criteriosa, pois, ainda se mantém enquanto um dos principais quadros políticos da burguesia no seu amplo processo de domesticação das massas laboriosas, enfim, do processo de domesticação da luta de classes. É sempre bom lembrar que ao invés do que muitos analistas políticos burgueses e reformistas de uma maneira geral afirmam, o petismo lulista já cumpriu o seu papel enquanto instrumento alternativo às aspirações das massas, no processo presente de enfrentamento e de um consequente monitoramento da crise econômica, política e social em questão.

O fato é que, Lula foi eleito para governar o país por uma margem de votos ínfima, em se tratando de percentual que não foi capaz de se desdobrar em uma significativa base parlamentar. Isso ao contrário de épocas atrás, não vai favorecer uma “possível independência” do governo frente ao parlamento, que neste momento joga duro para manter-se numa ofensiva pela hegemonia e pela garantia da política do “toma lá dá cá”; jamais deixada de lado pelos defensores do erário e do arrivismo chauvinista também. Lula foi eleito, foi. Mas, nunca devemos esquecer que para isso ele teve que flexionar, no sentido, não da formação de um novo bloco de poder, apenas um expurgo de setores do capital que ele, por mais que não queira é obrigado a engolir de goela abaixo, sob pena de ser defenestrado pelo capital financeiro internacional e os seus demais representantes e aliados que compõe e determina toda a política monetário e financeira do país, via uma intervenção forte e seletiva do Banco Central e organismos outros de controle econômico da esfera do Estado. Podemos dizer numa linguagem popular que Lula ganhou mas não levou. Ou seja, ele foi eleito, mas na verdade é um refém ainda de um congresso que a todo momento põe uma pedra à frente dos seus pés, obrigando a se manter ocupado com a prática das negociatas e das divididas “fatias do bolo”. Lula é assim, fruto de uma realidade em que o poder do capital leva e define a composição de classe do seu governo. Nele, em primeiro lugar, está representado o capital financeiro internacional, seguido pelos capitais privados e estatais associados, integrados e subordinados à economia capitalista e ao mercado mundial transnacional do imperialismo, em suas mais diversas facetas e expressões dialéticas das contradições intrínsecas ao capital.

Na verdade, o que tem segurado até agora o retrocesso para o bolsonarismo e um levante golpista numa perspectiva neofascista, conservadora e oligárquica, é o poder judiciário, que por sua vez, tem aplicado uma política que inibe e coloca os setores mais reacionários da nação para um patamar de segunda classe. No entanto, a câmara de deputados federais do país não perde tempo em tencionar a relação de reprovação da Suprema Corte em função de uma resolução já testada pela Constituição de 1937, na qual o congresso colocava o judiciário como refém. Isso tudo vem no sentido de pressionar uma necessária e devida intercessão entre os poderes, para falar mais claro, para sentar e negociar, em fazer um conchavo na esfera dos três poderes (legislativo, judiciário e executivo), que possibilitem a todos uma devida recomposição dentro do jogo político da crise institucional decorrente dos acontecimentos ocorridos pelo movimento que ousou em pôr em cheque o “Estado Democrático de Direito”. Ou seja, o quebra-quebra de Brasília causou rachaduras profundas na institucionalidade que levou os guardiões das “tábuas da lei”, a Constituição Federal vigente desde 1988, há uma correlata sistematização e punição dos responsáveis, num processo de enquadramento de Jair Bolsonaro como responsável principal pelo levante de massa mais radical observado pela “Nova República”, pelo menos desde o fim da ditadura militar aos nossos dias. Este movimento, ao contrário do que muita gente pensa, não britou de forma totalmente espontânea e aleatória, ele foi muito bem preparado e devidamente organizado pelos bolsonaristas neofascistas, contando aí ainda com um leque de forças ultraconservadoras, que vão desde um empresário reacionário qualquer a um pregador pentecostal e/ou neopentecostal que abrem o verbo da defesa patriótica nacionalista, do patriarcalismo machista xenofóbico, misógino, etc. Enfim, estavam ali presentes naquele movimento ainda, o mais profundo ódio ressentido de uma classe e/ou demais segmentos dela derivados, que não aceitaram a derrota eleitoral e que achavam-se no direito de rasgar as “páginas democráticas” da Constituição, em detrimento de um novo golpe político-militar no Brasil. Este movimento, no entanto, não se apresentou aos olhos dos detentores do capital como algo palpável e necessário nessa conjuntura. Daí a discrepância e a resoluta ação dos setores majoritários do capital em favor da democracia burguesa no país, afinal, esta sim é que deve ser priorizada enquanto instrumento priorizado de controle da luta de classes. A saída neofascista só teria sentido, se necessário fosse um movimento de contenção à uma ação de massa pré-revolucionária de conteúdo socialista. Isso, entretanto, estava fora de cogitação.

A grande questão, e a burguesia sabe muito bem disso, é que as massas no Brasil têm uma tradição muito grande, quer nos enfrentamentos imediatos quanto históricos, de defesa da ordem democrática burguesa. Ou melhor, ela quase ou nunca, afora raríssimas exceções, bateu-se pelos caminhos da conciliação, do conchavo de cúpula dos revisionistas reformistas, da aristocracia operária, encantada pela social-democracia e pela pregação de religiosidade cristã-deística como um todo. Não é à toa que se convencionam a caracterização de nosso povo como “ordeiro”, “trabalhador” e “pacífico”. Por fim, o legislativo, o judiciário e o executivo, como sempre, devem sentar e proclamar uma saída “honrosa” para todos. 

Enquanto esse desiderato se desenrola, a burguesia internacional, em especial o imperialismo americano, apresenta-se de forma coesa na sua interferência no Oriente Médio, apoiando Israel política e militarmente, mas, no entanto, não deixando de posicionar-se de maneira cautelosa devido a uma expansão do conflito que poderá “cutucar o cão com a vara curta”. Ou seja, os EUA se veem numa posição bastante delicada e porque não dizer, por demais prenhe de contradições no que se refere à sua política externa. Pois, ao mesmo tempo em que interessa a parte considerável de parcela da sua burguesia, àquela em que, diga-se de passagem, é conhecida internacionalmente favorável ao desenvolvimento beligerante, “os senhores da guerra”, por outro lado não deixa de temer uma reação dos Estados Árabes, em especial o Iran. Por conta disso, é que se recomenda ao governo de Israel um cessar fogo na faixa de Gaza. Ou seja, é melhor ir “devagar com o andor que o santo é barro”, ou ainda, sobre o pretexto de se combater o Hamas e o Hezbollah, acaba se “jogando a água suja com a criança também” (leia-se a população civil palestina, e, agora também, a libanesa).

Por outro lado, as eleições americanas seguem com uma relativa e pequena vantagem dos democratas frente aos republicanos. Ao que tudo indica, a saída de Biden pela corrida presidencial foi bastante providencial, que devido ao seu frágil estado de saúde, e, sofrendo do adversário Trump, um combate acirrado, mesmo este respondendo por inúmeros processos, se constitui em um adversário forte na disputa eleitoral. 

Se por um lado a invasão do capitólio, pelos correligionários de Trump, ainda persiste na memória da população do país que se vangloria enquanto principal bastião da “democracia” do mundo, nunca devemos nos esquecer da forte dose política-ideológica que alimenta e alicerça-se aquele país, numa perspectiva sempre presente, tanto interna quanto externamente, de favorecimento de uma supremacia frente aos seus habitantes proletários, quanto aos demais povos do mundo. O reacionarismo chega aí a um estado abissal de segregação, exploração e dominação jamais visto pela humanidade.

Enquanto isso ocorre nos EUA, o seu arqui-inimigo – Rússia, bate-se há mais de (02) anos numa queda de braço com a Ucrânia e demais países da OTAN. Reproduzindo-se assim, a velha política de expansão e influência entre o ocidente e o oriente. Cada vez mais este conflito bélico, que já foi diagnosticado no passado como “Guerra Fria”, passa neste momento por um processo de aquecimento social, em que se redistribui as forças de acordo com os interesses táticos-estratégicos que acabam por mexer com todo o globo terrestre.


2 – Aspectos ideológicos: a reestrutura dos movimentos religiosos


 Não poderíamos concluir esta breve e sucinta análise, sem deixar de colocar algumas palavras, do “levante” cristão católico, diante do crescente movimento rumo às religiões pentecostais e neopentecostais que a despeito de um crescimento exponencial frente às demais religiões, não se colocam sob hipótese alguma, frente às penetrações mais que profundas no imaginário popular de massa dos Católicos Apostólicos Romanos que valendo-se de romarias à santos e reverência à mãe de Jesus de Nazaré, concebe um movimento monstruoso, místico e de representação teatral altamente alienante na comunhão de cânticos e louvores, sendo utilizados ao extremo por milhares de anos pelos sacerdotes e guardiões dos templos em todas as religiões, para uma exaltação ao Deus Criador de todas as coisas e de todo universo.

Os cristãos católicos, ao contrário do que muita gente pensa, são cada vez mais detentores de apresentações de mídia para à generalização de conteúdos reificantes e alienantes quanto às expressões de ideação objetivada de uma maneira massiva. Isso tudo, para além do mais, não só “vender o seu peixe”, mas também, para cumprir o papel de arrecadação financeira. “Vendedores de esperanças”; “vendedores de milagres”; “cobrem de esperança o mundo afora”.  A partir de decisões eclesiásticas para a afirmação dos livros evangélicos da Bíblia, no seio dos cristãos católicos. Desta feita, “esperança e paz” colocam-se como principal bandeira de luta para uma pretensa conciliação de classe.

A Igreja Católica Apostólica Romana em países como Argentina, Brasil e México, coloca todos os restantes dos demais cristãos de orientação protestante no bolso, em todos os países da América Latina. Há nestes conjuntos de países, um já avançado estágio de beatificação e de santificação de homens e mulheres, ditos detentores dos “poderes milagrosos” que na gestão deste atual pontífice, ocorreram, de forma cada vez mais, como um recurso ao enquadramento dos fiéis no modelo arcaico de uma instituição milenar que sobrevive da ignorância e da falta de rigor científico das consciências embrutecidas do nosso povo.

A Igreja Católica Apostólica Romana possui aqui no Brasil um forte movimento de peregrinação, que se conta aos milhares e milhares. Destes, destacam-se o Círio de Nazaré no Pará e o da padroeira do Brasil (Nossa Senhora Aparecida). Um forte pólo de peregrinação também ocorre na Bahia (Bom Jesus da Lapa) e em Goiás no Santuário do Pai Eterno, dentre outros.

Enquanto tudo isso ocorre numa relação de espiritualidade e misticismo idealista-teológico, o conjunto da juventude que tenta realizar uma ultrapassagem da alienação religiosa, não consegue transpor o vazio humano que se apresenta no cérebro de homens e mulheres, que acabam por se prostrar na mais plena idiotice, no que se refere aos costumes valorativos morais, éticos e estéticos, por onde se enquadram de forma objetiva e subjetiva o mais rebaixado possível senso comum; embrutecedor também daquelas “almas” que insistem na realização sem conteúdo cultural, optando-se muitas vezes por reproduzir o baixo astral da pieguice, muitas vezes de cunho machista, patriarcal e deformador do caráter e da fisionomia do ser, em toda a sua amplitude e performance, agora fantasmagórica reprodutora do fetiche e do liberalismo e individualismo burguês e/ou pequeno burguês.

Esta conduta, é infelizmente, um exemplo crucial das relações humanas posta em prática por toda uma geração que foi devidamente derrotada nos seus princípios de uma pseudo sociabilidade, sempre presente, mas dificilmente superada por aqueles em que habitam os muros da academia, e que estabeleceram o conforto como padrão político, ideológico, cultural, ético e de padrões estéticos questionáveis, quando se trata de uma obra teórica e/ou de um monumento artístico, literário e poético qualquer ou mesmo de uma tela ou desenho de pintores de talentos que processam em seus trabalhos toda uma grandiosidade e beleza.

Mas, felizmente, ainda circulam por aí, de fato, cada vez mais raros, elementos de uma conduta moral que se estabelece pelos princípios do bem comum, e que, de acordo com uma perspectiva de vida, pós trabalho acadêmico, já realizaram uma ultrapassagem à especialização na perspectiva de uma compreensão não fragmentária do todo, do mais que válido esforço de análise e conhecimento científico, como também de uma correlata moldura de erudição e comprovação do real concreto.

Portanto, mais vale uma relação de respeito e amadurecimento, quanto mais se preza pela liberdade de relação entre homens e mulheres de gênero e/ou de quaisquer espécie de discriminação de que se tanta afirmar, uma espécie de masculinidade e/ou potência, no caso dos homens tanto hétero quanto homo, ou mesmo, no de uma futilidade feminina, que não se mede por nenhum capricho analítico, mas pela essência do ser mulher que muitas vezes se apresenta no intelecto, no carinho e no amor profundo.

A decadência moral e a irracionalidade do pós-moderno, convive com o negativismo acéfalo, antidialético e metafísico positivista, no campo da gnosiologia, epistemologia ou simplesmente através da teoria do conhecimento, como se queira. A isto se soma, portanto, todas as espécies reducionistas do reboquismo, igualmente decadente, que vive e se reproduz à cada milésimo de segundo, nas relações amorosas, de amizade, de companheirismo e de camaradagem. Ou seja, na vida e no cotidiano das relações do ser humano que independentemente da sua cor, raça ou etnia, se configura na maravilhosa espécie do homo sapiens.


Conclusão


Assim, uma ameaça de guerra globalizante se coloca cada vez mais no cenário de disputas imperialistas pela “cabeça do império”. No entanto, isso tudo ocorre por dentro de um movimento de estabilização de uma nova “Guerra Fria”. Pois, até mesmo aí os vários segmentos do capital buscam se estruturar numa perspectiva de um novo desenho político, econômico e geográfico, estabelecendo novas fronteiras e áreas de influência. Nesse sentido, a tensão de interesses se faz necessário mesmo por dentro de um sistema do capital que jamais reclamará por uma autodestruição. Daí se faz presente um novo momento de uma “Guerra Fria” que na verdade, nunca deixou de existir por parte das superpotências imperialistas, apenas com reescalonamentos de dosagens pela corrida armamentista no globo, em função de tempos e graus de correlatas “quebras de braços” que insistimos, faz parte do jogo da “Guerra Fria” e do atual estágio da luta de classes e dos povos oprimidos do mundo.

          

*Carlos Maia


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