*por Carlos Maia

O espírito pede licença
Mas a matéria resoluta diz não

O espírito evoca a Deus
Mas a matéria compassadamente prepara a morte

O espírito julga-se eterno
Mas a matéria adverte: nada sois sem mim

O espírito pensa-se onipotente
Mas a matéria julga os seus atos

O espírito permanece inabalável
Mas a matéria recomenda: antes de ti eu já estou

O espírito quer ser mais que a matéria
Mas ela é que é responsável por ele

O espírito brinca com os encantos juvenis
Mas a matéria abre os olhos e diz: prepara a tua morte

O espírito não para de pensar na vida pós-morte
Mas a matéria retruca pensando no definhamento presente

O espírito tenta ser buliçoso
Mas a matéria é que se movimenta

O espírito sabe que não é nada sem os registros e as memórias
Mas a matéria encanta todos quando se diz: leia e estude o marxismo

O espírito tenta brilhar no escuro dos dias pandêmicos
Mas a matéria é que providencia a cura

O espírito diz apontar o indicador em direção de homens e mulheres
Mas a matéria só aceita luvas de látex de seringueiras nativas

O espírito vê descortinar frequente do pensamento a lhe cutucar a alma
Mas só transformações revolucionárias são capazes de erguer as cinzas

*Carlos Maia – Outubro/2021