Translate
Seguidores
Do Fim para o Começo
*por Carlos Maia
O ato de depositar às cinzas no rio de um ente querido, de um amigo de longas jornadas, de um camarada singular e inigualável, pode não parecer grande coisa aos defensores do idealismo teológico religioso, ou mesmo, do materialismo mecanicista, mas pode muito bem transpor para o imaginário e a memória social dos que ficam o desejo e às vontades daquele que se foi, projetadas no futuro a realizar-se. Assim aconteceu e assim acontece com grandes revolucionários: Engels teve suas cinzas jogadas ao mar e Edmilson depositadas no Paraguassu, para que estas pudessem misturar-se às águas mais tranquilas, e se encaminhasse ao espirito da razão humana, de uma natureza em movimento, podendo se chegar das águas mansas às tormentas do mar revolto.
Pode-se preservar a memória de
diversas formas. Não se tem uma receita pronta e acabada para isso. Vai desde
as lembranças de momentos registrados em uma fotografia, aos registros talhados
em esculturas e//ou pinturas e desenhos interpretativos artísticos, ou mesmo,
através de laudas e mais laudas de escritos de pensamentos e elaborações
teóricas mais profundas, ou ainda, pelas lembranças de pequenos versos
destacados de um poema.
Em Edmilson podemos encontra-lo
facilmente em fotografias de reuniões, nos seus quadros e desenhos de um estilo
próprio, mas que muitas vezes se aproxima do expressionismo; e, por fim, seus
inúmeros ensaios dedicados ao movimento dos trabalhadores e da reconstrução do
marxismo revolucionário, descaracterizado pela “Tradição de 22” (stalinismo),
pela socialdemocracia, pelo maoismo, pelo foquismo guevarista, pelo trotskismo,
pelo luxemburguismo, pelo gramscismo, pelo academicismo da Escola de Frankfurt,
enfim, por um conjunto de concepções que acabaram de uma maneira ou de outra
contribuindo com a descostura do projeto político, econômico, ideológico,
tático-estratégico, e, principalmente, teórico filosófico do marxismo
revolucionário.
Edmilson transitou nisso tudo com
larga intimidade pelo fazer da práxis revolucionária, que muito além da ação
prática, possibilitou em sua “Produção Dialética do Conhecimento”, um
desenvolvimento do sujeito e do objeto, sobre o prisma da ontologia e da
gnosiologia marxista. De forma objetiva, mas nem por isso superficial, sua obra
composta de inúmeros ensaios e análises de estrutura e conjuntura do
capitalismo e da luta de classes, combate às concepções reformistas,
frentistas, liberais e contrarrevolucionárias, foram capazes de marcar época e
inovar uma forma de ação a partir dos espaços próprios da classe operária.
Assim a vida não foi em vão e nem
passou em branco para às atuais e futuras gerações de trabalhadores que
porventura venham a conhece-lo, pois, apesar da morte, na maioria da das vezes
encerrar uma página de um capítulo escrito do livro da vida, ela pode ainda se
constituir, enquanto memória social a ser devidamente construída, nas mentes
dos que ficam e dos que virão, lembranças e preposições fortes e marcantes
pelos traços do método científico da teoria marxista do conhecimento. Neste
sentido, Edmilson vive, apesar de não habitar mais enquanto matéria altamente
organizada no mundo do homo sapiens e não deverá ser lembrado como
nenhuma espécie dogmática de saudosismo estéreo de cunho religioso.
Parafraseando o pensamento de Leon Trotsky, Edmilson morreu “revolucionário
convicto e ateu irredutível”. Seu nome já faz parte da história e da memória
das lutas do proletariado e da aplicação do marxismo, na busca do socialismo e
do futuro comunista para a humanidade, a ser transposta de forma revolucionária,
em alternativa ao barbarismo social imposto pelo capitalismo e pelo capital.
Carlos
Maia – Outubro/2021
0 comments :
Postar um comentário