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sábado, 9 de outubro de 2021

Do Fim para o Começo

 *por Carlos Maia




          
O ato de depositar às cinzas no rio de um ente querido, de um amigo de longas jornadas, de um camarada singular e inigualável, pode não parecer grande coisa aos defensores do idealismo teológico religioso, ou mesmo, do materialismo mecanicista, mas pode muito bem transpor para o imaginário e a memória social dos que ficam o desejo e às vontades daquele que se foi, projetadas no futuro a realizar-se. Assim aconteceu e assim acontece com grandes revolucionários: Engels teve suas cinzas jogadas ao mar e Edmilson depositadas no Paraguassu, para que estas pudessem misturar-se às águas mais tranquilas, e se encaminhasse ao espirito da razão humana, de uma natureza em movimento, podendo se chegar das águas mansas às tormentas do mar revolto.

          Pode-se preservar a memória de diversas formas. Não se tem uma receita pronta e acabada para isso. Vai desde as lembranças de momentos registrados em uma fotografia, aos registros talhados em esculturas e//ou pinturas e desenhos interpretativos artísticos, ou mesmo, através de laudas e mais laudas de escritos de pensamentos e elaborações teóricas mais profundas, ou ainda, pelas lembranças de pequenos versos destacados de um poema.

          Em Edmilson podemos encontra-lo facilmente em fotografias de reuniões, nos seus quadros e desenhos de um estilo próprio, mas que muitas vezes se aproxima do expressionismo; e, por fim, seus inúmeros ensaios dedicados ao movimento dos trabalhadores e da reconstrução do marxismo revolucionário, descaracterizado pela “Tradição de 22” (stalinismo), pela socialdemocracia, pelo maoismo, pelo foquismo guevarista, pelo trotskismo, pelo luxemburguismo, pelo gramscismo, pelo academicismo da Escola de Frankfurt, enfim, por um conjunto de concepções que acabaram de uma maneira ou de outra contribuindo com a descostura do projeto político, econômico, ideológico, tático-estratégico, e, principalmente, teórico filosófico do marxismo revolucionário.

          Edmilson transitou nisso tudo com larga intimidade pelo fazer da práxis revolucionária, que muito além da ação prática, possibilitou em sua “Produção Dialética do Conhecimento”, um desenvolvimento do sujeito e do objeto, sobre o prisma da ontologia e da gnosiologia marxista. De forma objetiva, mas nem por isso superficial, sua obra composta de inúmeros ensaios e análises de estrutura e conjuntura do capitalismo e da luta de classes, combate às concepções reformistas, frentistas, liberais e contrarrevolucionárias, foram capazes de marcar época e inovar uma forma de ação a partir dos espaços próprios da classe operária.

          Assim a vida não foi em vão e nem passou em branco para às atuais e futuras gerações de trabalhadores que porventura venham a conhece-lo, pois, apesar da morte, na maioria da das vezes encerrar uma página de um capítulo escrito do livro da vida, ela pode ainda se constituir, enquanto memória social a ser devidamente construída, nas mentes dos que ficam e dos que virão, lembranças e preposições fortes e marcantes pelos traços do método científico da teoria marxista do conhecimento. Neste sentido, Edmilson vive, apesar de não habitar mais enquanto matéria altamente organizada no mundo do homo sapiens e não deverá ser lembrado como nenhuma espécie dogmática de saudosismo estéreo de cunho religioso. Parafraseando o pensamento de Leon Trotsky, Edmilson morreu “revolucionário convicto e ateu irredutível”. Seu nome já faz parte da história e da memória das lutas do proletariado e da aplicação do marxismo, na busca do socialismo e do futuro comunista para a humanidade, a ser transposta de forma revolucionária, em alternativa ao barbarismo social imposto pelo capitalismo e pelo capital.

 

Carlos Maia – Outubro/2021

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