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domingo, 17 de outubro de 2021

E Aí Vem as Eleições

*por Expedito Simões

 

Cumprindo a obrigatoriedade de seu calendário eleitoral, a burguesia em sua totalidade, investe neste momento na defesa da democracia, em que se mascara os verdadeiros interesses de classes antagônicas em luta, a partir do processo da produção capitalista, que se estabelece na extorsão do mais valor e na acumulação do capital, concentrado cada vez mais nas mãos de poucos. Mas o que traz de novo o cenário político eleitoral, sempre antecipado, de mandato após mandato, pelo atropelo constante da conjuntura e da crise de exaustão do capital? Em primeiro lugar, uma tentativa da burguesia de esconder esta crise por que passa a economia do país e do mundo. Em segundo lugar, a rearrumação e rearticulação das forças de direita em torno de candidaturas conservadoras, reacionárias e fascistas, sendo isso um fenômeno global.

A direita sempre esteve forte neste país. Desde a organização dos partidos do período da ditadura militar (ARENA e MDB), posteriormente (PDS, PFL, PP, DEM E PMDB), aos partidos que foram criados após a reforma partidária, para à socialdemocracia e o reformismo tradicional, no momento da chamada redemocratização (PT, PCdoB, PDT, PTB, PSDB, PSB, PPS, etc.). É sempre bom lembrar à todos, que a socialdemocracia e o reformismo, são concepções de direita também, por mais que neguem ou que insistam em afirmar de maneira contrária, o conjunto de arrivistas que compõem esta camada de extrato social gelatinosa, conciliadora e contrarrevolucionária. A socialdemocracia nascida nos círculos intelectuais do movimento operário, ela se expandiu pelo mundo inteiro e adotando uma política claramente de conciliação de classes, vai cair assim, nas garras da burguesia.

No entanto, o que esforçaremos por analisar agora, são os movimentos da chamada “direita raivosa”, sempre presente em um ou outro partido, em uma ou outra agremiação religiosa anticomunista, ou da institucionalidade civil, etc., mas que agora mais do que nunca, marcha unida arrastando multidões, dirigidas por milicos, religiosos e políticos reacionários de toda espécie e de todo calibre. Estes setores da direita investem com coragem nas camadas médias da população do campo e da cidade, principalmente, daqueles setores ligados à pequena burguesia. Base de apoio para uma alavancagem de uma plataforma fascista num momento adiante.

Mas, espelhada ainda na teoria e na prática social do nazifascismo, que traçou e traça ainda nos dias de hoje a política da provocação, da repressão, da tortura e da eliminação física, através de seus núcleos e “grupinhos” paramilitares e/ou milicianos de diversas formas, tipos os que assassinaram Mariele Franco. Outra novidade que se apresenta na conjuntura é que neste momento há possibilidade real da “direita raivosa” manter uma posição de destaque ou mesmo de dar continuidade à sua passagem pelo governo, devido às forças que tentam se opor a ela, se encontrarem ainda se movimentando com dificuldades e, porque não dizer, desarticuladas pelos rincões do vasto território brasileiro. Isso tudo é muito bem apoiado e orquestrado ainda nas chamadas redes sociais, que a contragosto dos setores de esquerda, acabam por enviar diariamente milhares de mensagens que corroboram apoio incondicional ao governo e à sua política de combate à crise sanitária, que não obstante a responsabilidade direta do genocídio de mais de meio milhão de pessoas, tem conseguido, de maneira diferenciada de estado para estado, debelar pelo menos momentaneamente o contágio e proliferação do corona vírus através da vacinação em massa, que querendo ou não tem acontecido , devido até, a circulação deste não ser do agrado de vastos setores do capital em seu processo de crise de econômica, política e social de exaustão como um todo.

Assim é que as forças que compõem a dita “direita raivosa”, com ameaças, gritos e mobilização de vários setores em que ela tem penetração e sob o comando do seu boneco/fantoche de plantão, convocaram amplas movimentações de massas pelo país afora, e que, tiveram como resposta dos setores da chamada esquerda, uma contrapartida bem menor, e porque não dizer tímida, em relação ao número e a representatividade de um presidente, que até o momento segue sem partido, com um poder de articulação menor. Restando, portanto, a aposta nas manifestações de rua para, numa última cartada, dar demonstração de forças ao conjunto do capital, em especial, ao capital financeiro que bancou sua eleição. Agora a “direita raivosa” ameaça golpe, fechamento do congresso e do supremo tribunal federal e a volta dos militares ao poder, o que fez com que Bolsonaro tremesse nas bases e acabou por não levar às últimas consequências os desejos de seus correligionários, recuando taticamente para um momento de negociação com o supremo, que mantém a guarda, através de um de seus ministros, de processos contra ele e sua família.

Ademais, o capital financeiro, que é quem dita as normas e os movimentos mais essenciais do jogo político da burguesia, ao que parece, não está interessada em golpes e quarteladas, num momento em que o processo de domesticação da luta de classes está muito bem servido pelas instituições que lhes são apresentadas pelo Estado (dito democrático e de direito). e, principalmente, pela domesticação do proletariado em geral e da classe operária em particular, pelo exercício do sufrágio universal (o voto), nos processos eleitorais. O que, entretanto, não deve ser descartado em caso de derrota eleitoral nas urnas, tudo, portanto, deve ser relativizado e também deve ser visto enquanto tendências e traços conjunturais possíveis de realização, desde que sejam projetados desejos de classes e segmentos de classes em ritmo e combates mais ferrenhos. A “direita raivosa” botou a cara de fora, botou a cara a tapa. Ela vem neste momento, a dizer que veio para ficar e que vai disputar no vasto leque de forças, que vai da socialdemocracia à direita tradicional, que vai de um PSDB, um PSB, um PT, ou mesmo das pseudos esquerdas tipo PSOL, PSTU, PCO, PCdoB e PCB, que pelos seus delineamentos tático-estratégicos em defesa de frentes amplas, acabam por se diluírem na areia movediça do lamaçal em que foram atolados e engolidos o conjunto dos trabalhadores, desde basicamente os anos vinte do século passado até agora. Enfim, a “direita raivosa” está presente e com um discurso altamente conservador, retrogrado e reacionário e com apologia ao crime e ao assassinato.

O momento presente não nos parece nada fácil para o proletariado, tanto no cenário internacional (ameaças de guerras e carnificinas humanas), quanto internamente, com a proliferação e aumento de grupos de direita de tonalidade fascista. Após a derrota do PT, diga-se de passagem, devidamente apoiado pelas parcelas significativas do capital, em especial, do capital interno, associado e integrado à economia e ao capital financeiro internacional, e se estabelecido politicamente no bloco do poder, a burguesia viu-se mergulhada num processo de fragmentação e pulverização ideológica, no que se refere à condução do Estado, e ao controle das massas. Quanto às tarefas de reciclagem política na máquina do Estado, ao que parece, vêm-se empurrando, desde os governos petistas, por parcelas da burguesia, e igualmente de seus quadros (políticos e de toga) para vários acordos inescrupulosos. No entanto, a nível do controle de massa, tanto da força repressiva quanto da ideologia, têm-se preparado e dado saltos significativos. Ensaiou movimentação de tropas federais no Rio de Janeiro, com o pretexto de combater bandidos, mas, na verdade, visando também intimidar a população: uma verdadeira demonstração de força. São nos aspectos ideológicos, entretanto, em que a burguesia mais investe.

Os pratos aqui oferecidos são tal qual a culinária brasileira: os mais diversos possíveis. Vai desde um cantor sertanejo em cima de um tanque de guerra em megaevento, à pobreza musical de vários estilos que abarrotam os ouvidos e massageiam os tímpanos das massas na cadência bem pensada dos movimentos rítmicos alienantes de melodias intimistas. Isso tanto vale para a música popular, pop internacional, quanto para os louvores e adensamentos religiosos, das ladainhas da Santa Madre ao gospel dos evangélicos. Em todas elas a alienação se mede e se diferencia apenas pelo calibre. É neste ponto que a burguesia vem de algum tempo investindo através de seus porta-vozes culturais que vivem acesos e cada vez mais aptos a todos os tipos de modismos meramente musicais. Desta forma, ela vai preparando e transformando o universo dos trabalhadores, em especial da sua juventude, para o passo seguinte: o da ação maniqueísta de uma “nova” proposta política alternativa ao mar de lama em que se meteram os líderes da socialdemocracia

e da esquerda reformista como um todo. Esta proposta, ao contrário do que muita gente pensa, não é inviável dentro de uma democracia burguesa. A ideologia de direita, reacionária e fascista, é a que mais cresce. Vai desde um apelo direto a intervenção militar em um apoio massivo a Bolsonaro, através das redes sociais ou dos whatsapps de “grupinhos”, cada vez mais numerosos, que ganham agora manifestações massivas, e que, vivem a divulgar e propagandear este estereótipo humano.

Cresce, por outro lado, o conservadorismo religioso cristão das igrejas evangélicas, que aprendendo muito com as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), criadas pela Igreja Católica, lá pelos idos dos anos 80 dos século XX, e que serviram muito bem ao movimento sindical e popular e que teve como agente catalizador o Partido dos Trabalhadores (PT) , e no plano ideológico a chamada Teologia da Libertação, que foi diga-se de passagem, devidamente combatida e momentaneamente derrotada pelos setores mais conservadores da alta hierarquia do Vaticano; mas que, aprendendo e ensinando às jovens gerações de cristãos, há mais de trinta anos vêm se preparando para assumir o lugar do vazio político deixado pelos católicos e que são devidamente ocupados, desde uma garagem de uma congregação qualquer de pentecostais, neopentecostais, batistas, metodistas, presbiterianos, etc., aos templos gigantescos que estão sendo erguidos em pé de igualdade com os monumentos arquitetônicos da Igreja Católica Apostólica Romana. Cada vez mais pastores evangélicos protestantes, passando por cima do mandamento do Velho Testamento (NÃO MATARAS!), admitem em suas pregações o princípio do “olho por olho dente por dente”. Delegando, desta vez ao Estado e as suas polícias o trabalho sujo dos expurgos, daqueles que são devidamente combatidos enquanto consequências sempre do desequilíbrio social, nunca atingindo a miséria, do desemprego crônico, da falta de segurança, etc. Mascara-se sempre, com uma maquiagem “humana” o império do capital e ao “Deus Todo Poderoso”. Assim, além da profunda crise de exaustão do capital, a burguesia se vê envolta em grandes contradições no que se refere ao projeto de se preservar a democracia burguesa, ou do Estado democrático de direito como preferem alguns. Fazendo com que sejam gestadas mais uma vez, de dentro das entranhas do capitalismo, alternativas de direita de cunho fascista, colocando em risco a “normalidade” do capital para o capital.  

Mas passemos também os olhos na opção que nos é oferecida ao contraponto do fascismo: o projeto de frente ampla proposta por Lula, o petismo e o reformismo tradicional. Foi com um fim melancólico, que se estabeleceu um novo marco na conjuntura recente do país: a prisão de Lula no processo da Lava Jato, que representou mesmo, à retirada de cena de um quadro política do tipo diamante bruto, agora devidamente lapidado, para um momento de ilegibilidade eleitoral. Mesmo com a sua prisão não se mostrou, através da pena cumprida, em empecilho para se manter enquanto alternativa do capital, apesar de firmar-se, mesmo após sua soltura, como algo por assim dizer, provisório aos olhos do capital financeiro, devido este ter tido um  alinhamento incondicional e prioritário com aqueles setores do capital que se constituíram em sócios menores do capital e do imperialismo, e que, foram devidamente abatidos na chamada “guerra de cachorros grandes”, pelos detentores hegemônicos da ordem econômica capitalista mundial.

A queda de Lula, do PT e de seus aliados, tem origem na chamada crise da Petrobrás, o petrolão, que ainda não foi devidamente destrinchado, no que diz respeito aos reais interesses em questão. Apesar das inúmeras prisões efetuadas envolvendo empresários e políticos de vários escalões e matizes ideológicas, ainda não se completou o quadro do verdadeiro mosaico. Os fatos apurados ficaram na esfera da corrupção e do tráfico de influências, jamais pelos mecanismos intrínsecos de funcionamento da ordem do capital, muito por conta até, do processo que impossibilitou Lula de concorrer mais uma vez a cadeira da presidência da república.

Lula quando assumiu pela primeira vez o governo petista, ostentou aí uma fachada populista com ares da socialdemocracia. Ao pretender gerir os negócios do Estado burguês, ele se comprometeu com os setores ligados ao capital interno. Isso fez com que ele se colocasse de frente com os interesses do capital financeiro internacional. No entanto, o PT não se colocou em conflito com o capital associado e o grande capital financeiro internacional, pois eles faziam parte do “bloco no poder”, juntamente com o capital interno. As contradições foram ganhando corpo ao longo dos dois mandatos de Lula, inclusive com aparecimento de fatos novos como a descoberta do pré-sal; o índice de nacionalização instituído para o fornecimentos de navios e equipamentos à Petrobrás, para exploração de petróleo,; a instituição de fundos para a educação, saúde e pesquisa científica com os recursos advindos da venda de petróleo; a criação do BRINCS,; os financiamentos do BNDES com juros subsidiados que permitiram o crescimento astronômico de empresas como JB&F, Odebrecht, etc. ; e, por fim, a crise de 2008  (a crise de suprime, chamada por muitos de “bolha imobiliária americana”) , nos EUA. Assim,  basicamente aqueles setores que estavam e estão de olho nas reservas de petróleo do pré-sal e que se interessavam na compra das jazidas sob a tutela da Petrobrás, empresa que já detém de muito tempo tecnologia para extração de petróleo em águas profundas, é que, realmente, estavam interessados em  alimentar esse esquema diretamente ligado à  grandes empreiteiras do ramo da construção civil de capital nacional, mas que, com a chancela do Estado já competia em alguns setores, como era o caso Odebrecht, com reserva monopolística do grande capitas internacional, como foi o caso da construção naval. É a defesa disso que estava amparado Lula, o PT e consortes, para defender tão somente estes setores minoritários do capital e para isso eram muito bem remunerados, e, devidamente, corrompidos.

Com isso, não significa dizer que o grande capital não saiu fortalecido nos governos do PT. Não! Não se trata disso. Setores do grande capital, em especial, do capital financeiro, nunca lucraram tanto quanto na era petista. O que se trata é de mostrar os fios condutores de sustentação dos pilares onde estão a fonte de toda espécie de corrupção e tráfico de influência. A máquina do capital é toda em si bastante corrupta, podemos dizer ainda que a corrupção é inerente a toda ordem do capital e isso não importa o tipo de capital, nem o seu tamanho. Mas que os governos do PT favoreceram, em especial às grandes empresas do capital interno, isso é notório. Assim podemos dizer ainda, de forma conclusiva, que os governos do PT serviram e servem ao capital e o fato de descartar e mandar para a fogueira um monte quadros devidamente preparados, tanto políticos quanto técnicos, e, até empresários envolvidos, significa que através de recursos como delação premiada, este nome chique para se designar o velho, conhecido e traiçoeiro dedo duro, que acabam por entregar uns aos outros e com Lula não foi diferente, Mantido isolado, iniciou-se uma batalha judicial para tira-lo da cadeia, mas o fato é que ficou de molho por uns tempos, fora do cenário político, pelo menos até as eleições presidenciais passadas, onde pontuava em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de votos.

Lula ainda é uma liderança de expressão popular significativa, o que faz dele uma reserva do capital para a domesticação da luta de classes em um aprofundamento da crise de exaustão que hora vivenciamos. Fazendo assim, com que a desconfiança das reais possibilidades de êxito eleitoral, e, principalmente, de um momento pós-eleitoral de composição do governo e da máquina administrativa do Estado, possa se constituir mais um gargalo para a aplicação do projeto de cunho conservador neoliberal, que prefere neste momento Lula solto para concorrer em 2022 porque é a única forma de emplacar a “terceira via”, pois sem ele é provável Bolsonaro ganhe um segundo mandato. Ao invés da socialdemocracia reformista, por onde embarca o conjunto de forças da dita “esquerda” do capital nas suas composições despolitizadas das frentes amplas. A continuidade e o aprofundamento das políticas neoliberais, que devido ao aprofundamento da crise devem ser levadas à cabo por qualquer partido que venha a assumir a gestão do Estado, é o que é determinante no momento conjuntural presente e é assim que rege a batuta de qualquer maestro da orquestra do capital.

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