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domingo, 19 de novembro de 2017

O COESO: aposta no fim do injusto degredo do professor Iranildo Freire



"O interstício forçado na trajetória política bem estruturada de Freire exige dos verdadeiros responsáveis um pedido de desculpa à população."

*por Herberson Sonkha

Inevitavelmente estará de volta à liderança no ranque da playlist de notáveis lideranças na política institucional anageense, excepcionalmente no momento em que as principais lideranças saem de cena por excessos e/ou imoralidades, sua presença robusta incomoda às oligarquias municipais, principalmente aos seus desafetos internos e criar expectativas para a ala à esquerda.


Inegavelmente a população ficou apreensiva esperando mais do professor Iranildo desde que declinou de livre espontânea vontade de concorrer à reeleição para mais um mandato legislativo, explicando que deve existir alternância para evitar mandatos vitalícios. Razão pela qual se faz qualquer coisa, inclusive imoralidades, para reeleger mandatos muitas vezes sem qualquer consequência positiva para a população que o elegeu, apenas carreirismo.

O COESO sempre buscou orientar-se pelas grandes contribuições intelectuais do professor Iranildo Freire. Inspira-se em sua práxis política confirmada pela sua vasta experiência na defesa e construção incessantemente de condições objetivas que possibilitem mudanças estruturais na sociedade. Mesmo sendo forçado a um degredo inesperado, o professor Iranildo não deixou de contribuir nos bastidores da política municipal, mesmo vivendo os dissabores da injustiçada condição de berlinda da política municipal.

As páginas do capítulo de exceção não foram escritas por ele, por isso não cabe nota de rodapé explicativa e sim um termo de ajuste de conduta pelas práticas ardilosas cometidas pelos seus detratores. Não cabe um indulto porque ele não cometeu crime algum. O interstício forçado na trajetória política bem estruturada de Freire exige dos verdadeiros responsáveis um pedido de desculpa à população. Afinal, a cidade ainda desconhece os verdadeiros motivos dessa “morte-súbita”, um silêncio escarpado envolvendo uma das mentes mais brilhantes e prodigiosas do cenário político de Anagé.

Não se pode admitir que a mais respeitada e conceituada liderança política da cidade seja defenestrada, principalmente quando a cidade vive a sua pior crise política institucional. É preciso tomar providências quanto a isso, mesmo reconhecendo tardiamente a importância de classificar os erros e a conduta contra o professor Iranildo Freire como crimes políticos injustificáveis por atentarem contra a honra e a dignidade da pessoa humana.

Ao fazer uma entrevista com um dos mais notáveis pensadores crítico de Anagé, obtive o feedback esperado ao confirmar o interesse dos leitores pela entrevista, principalmente porque faz muito tempo que a população de Anagé não apreciava a rica análise do professor. Além do mais, havia uma expectativa de que em algum momento houvesse explicações plausível para o ocorrido com o professor que transformou a vida do pacato parlamento com seus ardentes debates visando defender os interesses da população e buscando sempre melhorar a vida da cidade.

O grande militante sindical Iranildo Freire compõe o topo da playlist dos grandes nomes de fundação do PT de Anagé. Testado pela institucionalidade, mais maduro, situado politicamente à esquerda e cônscio de seu papel na política, o professor dispara a verve política insurrecta para afirmar princípios norteadores da luta política revolucionária que não são tão comuns nos fluidos dias do século XXI. O degradado voltou para o cenário político das grandes lutas sociais e políticas anageense.

Afinado com a ética aristotélica, o professor Freire infirma o individualismo exacerbado, contrário à liberdade lastrada pela igualdade pensada pela revolução francesa. Dispara contra o banditismo hedonista neoliberal que hostiliza o povo brasileiro. Faz duras críticas a pauperização das classes trabalhadoras subjugada pela burguesia, apresentando um portfólio analítico contra o dueto crescimento e desenvolvimento socioeconômico capitalista.

Estreia uma afinadíssima maiêutica e destrói as bases antropológicas da liquidez contemporânea. Posiciona-se contra a alógica liberal do Estado mínimo e o fim das políticas públicas para as classes trabalhadoras e as populações em situação de vulnerabilidade socioeconômica e política. Reafirma a intervenção reguladora do Estado na economia e uma macroeconomia voltada para o desenvolvimento social. Propõe aprofundar a discussão sobre a naturezas das relações sociais-econômicas-políticas influenciadas pela ideologia burguesa e sua ruptura.

Ao considerar que existe uma tradição no Brasil, afirma o educador Freire, e que esta é a cultura da corrupção socioeconômica e política herdada da tradição burguesa desde o império português até os dias atuais. Para o professor de história esse comportamento está entranhado nas estruturas de poder engendradas pelas elites que perpassa tanto da iniciativa privada, quanto à pública. Acrescenta que só um comportamento firme e intransigente com quem comete delitos corruptos é capaz de destruir a complacência com a corrupção. Independentemente de quem quer que seja, devemos ser intolerantes com que rouba o dinheiro do povo.

Freire vai à raiz do problema social da corrupção brasileira ao tomar o homem como medida para todas as coisas, fazendo críticas acidas a ciladas do modelo antropocêntrico pensado pelos iluministas liberais desde o século XVI. Freire considera que o mal de todos os problemas crônicos no país reside na complacência generalizada (com aquiescência de parte da classe média esclarecida brasileira) com atos imorais doentios tidos como menores, que vai desde a tolerância com o chamado “jeitinho” brasileiro para tirar vantagens pessoais em tudo à promiscuidade nas relações de compra de produtos e serviços pelo poder público, contra os quais devem ser fortemente confrontados.

A vivacidade e a lucidez do professor Freire vêm contagiando a todos os seus pares, pois demonstra na prática desacordo ao comportamento geral dos homens que ao envelhecer caminha sem volta à esclerose política, com forte fascínio ao conservadorismo político. Contrariando essa regra geral, Freire nos convence de que o envelhecimento tem sido apenas uma desculpa esfarrapada para muitos intelectuais vendidos assumirem o que sempre foram e seu comportamento retrógrado: Da pauta fascista ao histérico pedido de intervenção militar.

Quando tudo parece fazer água no submundo da politicagem, eis que o COESO e os movimentos camponeses levantam a voz e se posicionam no tabuleiro do xadrez da política grande como uma luz no final do túnel, reacendendo a esperança e a vontade de recolocar o Partido dos Trabalhadores de Anagé nos trilhos. As inúmeras cobranças para a retomada urgente do debate teórico sério e da práxis política deverá reorientar os caminhos do PT para a política municipal de Anagé, interrompido pelo carcomido pragmatismo do campo hegemônico.

Essa verve à esquerda, surge como possibilidade concreta de ruptura com o clássico pragmatismo idiotizante da Realpolitik, fonte de alguns intelectuais liberais influentes dentro do PT que passaram a reproduzir a tática do chanceler Bismarck para controlar internamente o partido no final do século XX. Contudo, poder-se-ia confirmar que essa versão já foi piorada ao extremo pelas tradicionais oligarquias baianas, especialmente pelo ladino coronel ACM e incorporado cinicamente pelo campo hegemônico petista.

Para o COESO, a região sudoeste tem se colocado por mais de duas décadas de forma muito consistente contra esse modismo bizarro na política. Obviamente que aliado a esse horizonte de possibilidades, ainda subsiste os aprendizes de bruxos midiáticos a serviço do imperador transvertido de republicano que acreditam que uma boa maquiagem nos dados e uma excelente propaganda resolve qualquer mal-estar sociopolítico, causado por suas idiossincrasias autoritárias cuja postura desastrosa para as classes trabalhadoras, reflete apenas as reminiscências stalinistas.

Essa analise possui um lastro teórico sólido na filosofia política, pois visa aprofundar a compreensão conjuntural. Desde o surgimento do Partido dos Trabalhadores que se questiona o papel das forças marxistas como forças impeditivas do crescimento da ala liberal dentro do partido. Inclusive, rotulando-as como faceres ab origine classificando-as como grupos extremistas fechados ao diálogo com o único objetivo de perturbar a estratégia dos inimigos internos. Utilizando do conceito desenvolvido pelo filosofo Nicolau Maquiavel** que instituiu a distinção entre partido e facção, para explicar um regime em queda e pensando uma nova morfologia para a sociedade civil insurgente, a burguesia.

Então, plasmou-se uma cultura ideológica liberal de que aquelas pessoas que aceitassem as condições impostas na forma de “dialogo” (aceitar as regras de cooptação por meio da barganha material aos cargos) com a ordem e o progresso (física social) era classificada como legítimas e recebiam o clichê de homens e mulheres de partido, pois se aplicava o conceito desenvolvido por Maquiavel de republicanismo no sentido de partir e porque denotava o sentido de dividir. Um partido republicano pressupõe divisão inconteste do poder político entre seus membros filiados.

Esse conceito para a ciência política dialoga com a tese liberal pensada para um partido mais flexível e mais suavizado, portanto aberto ao diálogo em deferência ao bem comum. Contudo, mascara uma contradição que é a inversão (mistificação) dessa força que se constitui como bloco hegemônico envernizado com sendo supostamente “mais flexível e mais suavizado”.  Aqui passa a existir uma superorganização socioeconômica que opera com opulência no sentido de centralizar o poder de decisão nas mãos de um grupo que comporta efetivamente como facção.

Contudo, o que se define como verdade é uma ideologia de dominação que mistifica as tendências e coletivos à esquerda como sendo estas facções que prejudicam o crescimento do partido em função de seus extremismos e factoides. Essa inversão é mesma que explica a ascensão ao comando político do Estado e a reprodução em larga escala desse comportamento mistificador nas instancia institucionais para justificar o alijamento das tendências e coletivos de participarem politicamente da direção institucional, visando evitar que estas forças levem o Estado liberal à exaustão e ao esgarçamento, criando fissuras que possibilitem uma emancipação socioeconômica e política.

Esse constructo mental liberal operou inúmeras justificativas para expulsar e perseguir tendências e coletivos à esquerda, pois segundo a qual uma facção se utiliza de “calúnia” contra a liberdade existente na república, enquanto que um partido se utiliza legitimamente da “denuncia publica” adaptável ao arranjo republicano.

Segundo Freire, a experiência mais notável em âmbito regional foi a de Vitória da Conquista que se manteve 20 anos na condução do poder político municipal e fez grades mudanças na cidade, que até os anos 80 do século XX, era apenas uma cidade provinciana com orçamento público de aproximadamente 50 milhões. Essa cidade era controlada pelas forças oligárquicas conservadoras egressas da cafeicultura que se alternavam no poder eleitoralmente, sem promover as mudanças estruturais necessárias para melhorar a qualidade de vida de seus/suas munícipes.

Para o poeta e camponês João Aguiar, ex-vereador e ex-secretário de Agricultura e Expansão Econômica, infelizmente o governo de Anagé, eleito sob a bandeira do PT não fez nenhuma opção por quaisquer programas experimentados e mundialmente reconhecidos (a exemplo do orçamento participativo) que foram genuinamente desenvolvidos pelo PT. A gestão eleita nem sequer buscou construir relações políticas com a experiência do governo popular do PT de Vitória da Conquista. Além de criar dificuldade para quem trabalhou, ficaram insulado na prática comezinha das velhas oligarquias (Oliveira e Soares) conservadoras de Anagé.

Em nossa análise, muito próxima da compreensão do professor Freire, conta com uma exceção acerca da eleição do PT em Anagé, fortemente favorecida pela conjuntura nacional que apontava um crescente apoio popular a Lula e depois Wagner na Bahia e fortemente influenciado pelos avanços conseguidos pelos sucessivos governos do PT conquistenses. A segunda disputa vai acontecer com a presença das forças institucionais cuja presença fora pavimentada por uma articulação política da executiva municipal do PT de Anagé, sob a liderança do próprio professor Freire.

Segundo o professor João Paulo, após um alijamento inescrupuloso, com a anuência pusilânime das forças que controlavam o PT de Anagé, antigos companheiros que por anos andaram ombreados, permitiu defenestrar sem nenhuma explicação plausível o próprio mentor intelectual dessa vitória, aliás, Freire foi também o construtor dessa que foi a maior expressão eleitoral do partido desde a sua criação nos anos 80.

Sem contar das inúmeras vezes que teve que convencer a todos e todas companheiras, sem exceção, da viabilidade eleitoral da candidatura de uma professora politicamente apagada e hermeticamente confinada numa sala de alguns metros quadrados (poupando-a do convívio com o público em função dos seus rompantes) tratando apenas das finanças públicas do município.

Sem apoio e quaisquer enfrentamentos internos, emudecido pela vigarice daqueles que o traiu sordidamente como Judas traiu a Cristo, caminhou solitariamente para expiação como um carneiro que ao pressentir a morte lacrimeja os olhos, mas não exerce o jus sperniandis. Humanamente sentiu toda a dor daquele momento dorido em que Cristo reporta-se ao Pai e clama, “afasta de mim este cálice”, e apostando num futuro melhor para a cidade se recompõe e diz, “contudo, seja feita a tua vontade”.

A via-crúcis do professor Freire nos faz lembrar-se de que mesmo que tenha dado exemplarmente o máximo de si como professor e militante para consolidar a formação política daquelas pessoas que reivindicavam seus companheiros/as, jamais ele exigiria dos seus pares uma ética, tal condição pressupunha tácita, assim sendo pelo menos se esperava que fosse implícita porque sempre esteve presente nas suas relações mediadas pela verdade, tão bem constituídas por sua práxis política. Assim como o fez Sócrates, resignou-se e tomou seu veneno, refestelou-se nos braços da ética tão bem vivenciada por ele.

Sem exigir nada de ninguém caminhou para o seu degredo, retirando-se da cena política com honra, pois ninguém melhor do que ele sabia que nem mesmo Cristo houvera dado a Judas essa solidez ética. Não havia outra condição, porquanto tinha plena consciência de sua criação e a tibieza do golpe sub-reptício, pois somos responsáveis pelos nossos atos, mesmo que isso desperte os mais sórdidos sentimentos de inveja que exceda o que é justo e valha o tribunal da tirania pseudoesclarecida praticando impune o cerceamento ao direito da presunção da inocência e da ampla defesa.

Aqui existe um homem sábio e sensato que aceitou a sua sentença e resignadamente foi para o abate sem direito as honras que são conferidas aos extraordinários generais que tombam combatendo o bom combate. Na terra de ninguém não se garante ao menos o direito de poder se defender daquilo que nem mesmo seus pares sabiam exatamente as razões de sua exclusão, pois dare nemo potest quod non habet, neque plus quam habet.

O nutricionista Alan Calixto tem feito uma crítica contundente e atualíssima sobre a inviziblização feita pelo partido do melhor quadro do partido em Anagé. Considera que aqueles/as que outrora foram formados pelo professor Iranildo Freire, infelizmente a maioria fora tragados pela sanha do carguismo em nome de um pragmatismo despolitizante. O historiador Adriano Calixto considera que o professor Freire honestamente recolheu-se silente à sua caverna platônica para uma inflexão acerca da investigação teórica do ser, uma compreensão ontológica capaz de explicar essas defecções políticas. Contudo, jamais fez qualquer ilação e/ou crítica (pública ou privada) ao governo que tenha sido desferida por este resignado homem, em respeito à sua própria construção.

Aqui assistimos um novo comportamento de uma casta de emergentes conscientes, pois agiu com animus abandonandi, claro propósito de eliminação de quem pode ser a principal sucessão municipal. Uma reprodução do comportamento perseguidor do sanguinário Stalin a uma das mais importantes lideranças do processo revolucionário na Rússia, o Leon Trotsky, em grande medida cogita malfadada obra em que a criatura destrói o seu criador.

O grande pensador Freire mais uma vez se mostra intelectualmente preparado ao desconstruir o senso comum revanchista que procura explicar esse fenômeno que ocorreu em Anagé sem qualquer relação com a conjuntura nacional de defecções do campo hegemônico interno no partido para ganhar o poder político mais importante que é aquele exercido a partir da explanada. Esse fenômeno vai se reproduzir de forma escalonada, neste sentido aconteceu com o palácio de Ondina e com a prefeitura de Anagé. Contudo, em Anagé foi mais cruel porque foi literalmente desumano e despolitizado. As consequências desse equívoco grotesco é o naufrágio da única embarcação que conseguiu singrar o mar da corrupção e do clientelismo patrimonialista de Anagé, contudo ficou à deriva por falta de direcionamento e linha política avançada. Padeceu do mesmo mal da politicagem que levou a oligarquia anterior à lona por nocaute eleitoral desferido pela militância do PT.

Neste sentido, impõem-se uma perspectiva em que se vislumbre construir outra embarcação coletiva para as próximas disputas eleitorais. Um novo levante das catrupias atravessar-se-á num só folego a correnteza da corrupção e o turbilhão de imoralidades com a coisa pública que está assolando a vida do povo anageense e aniquilando a cidade. O COESO aposta sem titubear no mesmo professor Freire sonhador de ontem é o mesmo de hoje, com mais consistência, centralidade e maturidade para não cometer os mesmos erros. Com a derrota eleitoral desse campo hegemônico que controlavam o partido, automaticamente revogou-se o exilio do professor Freire que voltou do degredo avido por mudanças nas estruturas de poder e está politicamente pronto para assumir a condução da luta política.


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*Herberson Sonkha é professor de Filosofia e Sociologia no Zênite Vestibular e Cursos. Estudante de Ciências Econômicas na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Foi gestor administrativo lotado no Hospital de Base de Vitória da Conquista. Foi do Comitê Gestor da Secretaria Municipal de Educação de Anagé. Presidiu o Conselho Municipal de Educação de Anagé. Coordenou o Programa Municipal Mais Educação e a Promoção da Igualdade Racial do município de Anagé. Foi Vice-Bahia da União Brasileira de Estudante (UBES) e Coordenador de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de Vitória da Conquista (UMES). Militante e ex-dirigente nacional de Finanças e Relações Institucionais e Internacional dos Agentes de Pastorais Negros/Negras do Brasil. Membro dirigente do Coletivo Ética Socialista (COESO) organização radical de esquerda do Partido dos Trabalhadores.

**O filósofo Nicolau Maquiavel, que fez a distinção dos termos partido e facção em seus Discursos sobre a Primeira Década em Tito Lívio.

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