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quarta-feira, 25 de maio de 2016
SER DE ESQUERDA NO SÉCULO XXI: DA UTOPIA A CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA HISTÓRIA.
maio 25, 2016
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por
Vinícius...
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"O mundo passou a “conviver” com essas ideias de que Comunista era um ser cruel, capazes das maiores atrocidades humanas, pensamento que se mantém até os dias atuais em muitos cantos do mundo e em mentes menos esclarecidas."
* Por Prof. João Paulo Pereira
Chegamos ao século XXI e temas que, até então, já pareciam esgotados voltam à cena política da história por todo o mundo. Entre eles, destaca-se a condição na qual se encontra o movimento de esquerda no exato momento em que vem a tona uma ofensiva radical da direita mundial. Tal movimento busca a superação dos frágeis governos de centro-esquerda que se instalaram em vários países do globo, após o fracasso político e econômico do projeto neoliberal. Este, instaurando globalmente desde os anos 60 do século passado, inevitavelmente se fortaleceu logo após a queda do socialismo real no início dos anos 90 do mesmo século.
Este processo trouxe para a pauta dos debates mundial alguns questionamentos importantes, como: O que é ser de esquerda, já que grande parte dos governos de centro esquerda no mundo não promoveram mudanças de caráter revolucionário? E os governos que radicalizaram à esquerda, por que não conseguiram manter-se no poder? O socialismo real é realmente modelo para a construção do pensamento socialista? Ser de esquerda é simplesmente pregar quaisquer marxismos, ou o comunismo, ou o socialismo? Estas e outras perguntas estão para ser respondidas, não pretendo responder, mas levantar algumas questões fundamentais para ampliar esse debate e estimular a construção de uma consciência coletiva sobre o ser de esquerda.
Desde que pensadores europeus desenvolveram teorias sobre a construção de uma sociedade alternativa ao capitalismo, e aí, a direção do capital passou a desenvolver um combate ostensivo às propostas de superação da ordem burguesa. Inicialmente o combate era em função de equívocos cometidos pelo socialismo real na URSS, em função disto, foi criada a Indústria do Anticomunismo, que durante a Guerra Fria aterrorizou o imaginário coletivo. O mundo passou a “conviver” com essas ideias de que Comunista era um ser cruel, capazes das maiores atrocidades humanas, pensamento que se mantém até os dias atuais em muitos cantos do mundo e em mentes menos esclarecidas.
Com o fim da Guerra Fria e a abertura do regime russo, o término do chamado socialismo real, o combate do capital mudou de foco, passou-se a combater as forças políticas, que mantém viva a utopia do socialismo. Desde os anos 90 do século passado, que iniciou um processo de desconstrução do paradigma da esquerda no mundo. A ideia principal é o fracasso do “socialismo real”, mas a demonização de tudo que é ligado a perspectiva de esquerda, se tornou efetiva. De outro modo, foi gradativamente sendo trabalhado nas entrelinhas do processo político, o que se percebe claramente hoje, sobretudo, nas prerrogativas da juventude.
A ideia de que “ser de esquerda é um agravo contra a família celular”; “defende a homossexualidade”; “o casamento de gays”; “é contra o enriquecimento individual”; “é contra os princípios do Cristianismo”; “que a cor vermelha representa guerra, violência” e; outras máximas como estas, foram competentemente introduzidas no imaginário coletivo das sociedades, o que colocou “fora da moda”, à ideia de ser de esquerda.
Ao mesmo tempo assistimos a um crescimento vertiginoso dos ideais neofascistas e nazifascistas em todo o planeta. A partir de um projeto desenvolvido pelo capital globalizado e representado pelos países dominantes no jogo econômico do capitalismo. Processo esse que também contribuiu decisivamente para a negação do pensamento de esquerda neste início de século e, sobretudo, conspira contra princípios fundamentais da plenitude do amor, do cuidado com o meio ambiente, com o planeta, com os seres humanos e com a vida de forma geral.
A ideia fundante deste novo momento neofascista é que a partir de um Estado forte, centralizado e autoritário, o mercado possa exercer seu poder, impor a sociedade o projeto neoliberal, sem se preocupar com a oposição dos trabalhadores, que serão duramente reprimidos por este Estado. Na contramão da história, o movimento social, mesmo sendo atacado de todas as formas pelo capital, não abri mão da luta, se levanta, busca novas formas de atuação contra as forças do mercado, estabelece mecanismo e estratégias de lutas, de resistência a esse projeto político que é nocivo para a humanidade e para vida.
É diante desta encruzilhada da história que a esquerda mundial se encontra e as perguntas clássicas reaparecem como pauta para um debate importante: para onde vai à esquerda mundial? As teorias que tem como base os marxismos contemplam a necessidade da luta da classe mundialmente oprimida? Existem outras formas de luta, que darão conta de garantir à esquerda a possibilidade de ruptura com o modo de produção capitalista?
Essas e outras perguntas estão colocadas para o debate atual sobre o ser de esquerda no século XXI. O que está claro é que a noção historicamente defendida por ser de esquerda não contempla mais esse momento histórico. Não dá para ser de esquerda somente por defender a luta armada como projeto de transformação social, ou mesmo, por defender o materialismo histórico e/ou dialético como método para a compreensão das contradições do modo de produção capitalista e que só o Marx e os marxismos não vão da conta por si só, das necessidades da transformação neste novo século.
Ser de esquerda é fundamentalmente passar por um processo de transformação do SER, entender a vida, as relações humanas, sociais, culturais, políticas e econômicas a partir de uma perspectiva holística, compreender que não vai ser o “ódio” o princípio fundamental para garantir as transformações estruturais na sociedade, que possibilite o nascimento de uma nova ordem social, mais justa, mais fraterna, mais humanizada e mais humanizante.
Ser de esquerda no século XXI passa, sobretudo, por reaprender a amar. A “plenitude do amor” no contexto em que estamos atualmente é muito mais do que o que conhecemos ao longo da história. É “enxergar no outro a sua própria imagem”, é se doar as causas dos pobres, dos oprimidos, daqueles que historicamente pagaram as contas da acumulação de riquezas, que é preciso deixar claro que não aconteceu somente no capitalismo, todas as sociedades que surgiram na história, foram marcadas pelo processo de exploração do homem pelo homem, pelo abandono daqueles que a história negou as oportunidades da dignidade.
Entretanto, foi no modo de produção capitalista que as contradições históricas entre os ricos e pobres se exacerbaram pela primeira vez, ficou claro a origem das desigualdades, das injustiças sociais, da necessidade do individualismo, para manter a acumulação de riquezas nas mãos de tão poucos. Extrapola a privação e negação de direitos individuais e coletivos e, sobretudo, da negação do amor, já que o princípio estruturante deste modo de produção é a competição. Isto posto, admite-se que historicamente serviu para afastar, individualizar as relações humanas. Isto vem se agravando atualmente com o advento das tecnologias de comunicação de massas, este afastamento se consolida, determinando o processo mais cruel de solidão entre os indivíduos, responsável pelo aumento considerável de doenças psicossomáticas como depressão, psicoses, problemas provocados pelo stress, e várias formas de neuroses.
Ser de esquerda no século XXI é desenvolver uma consciência ecológica libertadora, compreendendo que o processo de degeneração e esgotamento do meio ambiente, é fruto de uma irracional e predatória política desenvolvimentista produzida pelo projeto de desenvolvimento hegemônico no planeta, que tem transformado tudo em lucro, que tem “coisificado” as relações humanas, em defesa do lucro e da acumulação das riquezas produzidas pelo grande capital para apenas 1% da população mundial, sem levar em consideração que a vida está sendo gradativamente ceifada, sem levar em consideração que o Planeta Terra é um ser vivo que pulsa e essa pulsação está a cada momento mais lenta que podemos estar condenando a própria existência da humanidade a médio e longo prazo.
Ser de esquerda hoje é, sobretudo, se sensibilizar com as lutas sociais, das categorias que ao longo da história tiveram seus direitos individuais negados por uma lógica preconceituosa, autoritária, sexista, machista, racista, homofóbica. Que impôs a uma grande parte da população mundial a condição de cidadão de segunda categoria, primeiro pela sua condição humana, por ter a cor da pele diferente, por ter uma opção sexual não convencional, por ser mulher, por ser pobre, depois por uma determinação do mercado, que descrimina tudo que não é gerador de lucro, situação que não se aplica ao mundo no século XXI, que generalizou a submissão de todos e tudo ao mundo do trabalho e a produção do lucro para esse mesmo mercado, mas que, na primeira metade do século XX, estabeleceu uma relação de preconceito social contra todos que não eram geradores de lucro, preconceitos que ainda hoje, estão intrínsecos à cultura política da sociedade.
Ser de esquerda no século XXI, é compreender que as relações políticas que estabelecem no mundo do capital, são responsáveis por todos os problemas enfrentados pela população global, que este modelo de desenvolvimento econômico esgotou suas potencialidades e que daqui para frente, a história da humanidade está fadada à “barbárie”, momento que já estamos entrando, já que vivemos uma crise civilizacional, que tem determinado o fim das relações humanas, sociais, culturais. Compreender, sobretudo, que o conflito entre as classes sociais não se esgotou, que continuamos vivendo o processo de exploração da força de trabalho da maioria “pobre” pela minoria “rica”, e que o caminho para a superação desta relação continua sendo a luta incansável, pelo socialismo.
Por fim, ser de esquerda no século XXI, é compreender que vivemos em um mundo, marcado pela opressão, que todos os problemas que vivenciamos neste início de século, é o resultado de um processo histórico, onde um pequeno grupo social no planeta, acumulou a riqueza, centralizou as decisões políticas, determinou através de sua ideologia os destinos da humanidade, instituiu a pobreza, a miséria, a solidão, o medo e o ódio como pilares da sociedade e se a raça humana sonhar com um outro mundo, com uma vida mais justa, mais igual e mais fraterna, terá que construir gradativamente na história, uma nova cultura, uma nova sociabilidade, novos padrões de produção, uma outra história capaz de valorizar a vida.
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