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segunda-feira, 23 de maio de 2016

A mágica do plin-plin deu o golpe em você!



"Todos os dias ela invade sua casa com o “show da vida”, sem nenhuma crise moral apresenta a mesmice de sempre, notícias requentadas, remakes com efeitos de alta tecnologia para causar impressão de que está levando informação, entretenimento e diversão de qualidade."

*Herberson Sonkha

A catequização sistemática da mídia plin-plinpara controlar o povo brasileiro surtiu efeito desigual: em parte anulou os efeitos das críticas mais radicais (à esquerda) ao viciado sistema político, econômico e social capitalista burguês e, em parte, conformou os incautos aos interesses econômicos das elites capitalistas imperialista no Brasil. Nesta perspectiva, o golpe das elites foi pedagogicamente trabalhado pela mídia, ou meio de comunicação que deveria ser social, ao invés de servir exclusivamente aos interesses da economia capitalista. Há uma lógica mercadológica por de trás da bem-intencionada informação dada pela telinha da rede globo. Pois, nunca houve qualquer coerência sociopolítica ou histórica que justifique o tópico frasal “Globo e você, tudo a ver”!

Todos os dias ela invade sua casa com o “show da vida”, sem nenhuma crise moral apresenta a mesmice de sempre, notícias requentadas, remakes com efeitos de alta tecnologia para causar impressão de que está levando informação, entretenimento e diversão de qualidade. Várias refilmagens (remakes) vão refazendo pontos desencontrados para tornar tudo perfeitamente “natural”, sem qualquer contradição possível. A ficção parece imitar a realidade, mistificando o real.

Uma mesma foto nublada e sombria vai repetidas vezes se sucedendo numa ordem à histórica muito bem articulada e quase imperceptível para os incautos para substituir a realidade. Como toda dinâmica de acontecimentos sociais impõe conjunturas transitórias diferenciadas, os remakes que fazem sucesso nas novelas ficcionais, não atendem a dinâmica da vida real e as coisas fantasiosas começaram a dissipar-se e o que antes era impossível entender, agora vai ficando mais explícito para a maioria da população brasileira que acorda da ressaca do pileque midiático.

Após o susto do sete de abril, agravado pelo retrocesso na adoção de medidas socioeconômicas e políticas pelo governo impostor de temer-aécio-renar-agripino, gradativamente procura-se refazer passo a passo o percurso do golpe para abrir-lhes os olhos e ver a cama de jornal, ou de gato, em que fora jogada. A tomada de consciência da população (lenta e gradual) de que fora roubada e este golpe começou inadvertidamente desde a primeira noite do pós-outubro de 2014. Isto deveria nos lembrar das persuasivas advertências feitas por Bertolt Brecht no poema “A caminho com Maiakóvski”:

“Na primeira noite, eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim: não dizemos nada.
Na segunda, já não se escondem. Pisam as flores, matam o nosso cão e não dizemos nada.
Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada”.


Assim, na primeira noite eles apareceram crédulos e roubam a atenção e o precioso tempo com um programa de televisão imbecilizante. Fazem discurso de denuncismo, profundamente marcado por um forte civilismo moralista para criar uma cortina de fumaça e incensar a decência, seriedade, consistência e compromisso com os supostos interesses do povo. Assim, cria-se a atmosfera favorável à trama vigarista, a despeito do infalível desenho de combate sistemático a corrupção e corruptores.

Apoiados pela falácia de que nenhum republicano está acima da lei, sem prejudicar o direito pétreo à presunção da inocência, “doa quem doer”, mas na prática fazem como os milicos exterminadores que matam para depois perguntar o nome, pois na regra do policia que atua à margem da lei, todo mundo é culpado. Os mais “esclarecidos”, arredios da atividade política com ‘p’ maiúsculo, apenas acenam cordatamente com o que está acontecendo, uma vez que prefere priorizar sua condição socioeconômica de classe média, em relação aos trabalhadores operários que são marginalizados. Aproveita em sua defesa o discurso fácil do que é politicamente correto e não fazem absolutamente nenhuma análise crítica sobre isso.

Na segunda noite, eles voltaram completamente petulantes exibindo um diagrama que aponta à raiz de todos os males das instituições públicas e privadas no Brasil. Ensimesmados, eles discorriam entusiasmadamente as diversas fases de operações fraudulentas. Todavia, condicionavam o êxito dessas averiguações ao recorte de pessoas, governos, partido e de tempo-espaço, escamoteando o caráter ideológico, pois alegavam que uma investigação cientifica judiciosa tornar-se-ia imprescindível circunscrever seu objeto.

Assim, definem-se os limites investigativos sob o discurso de que seria para evitar sair do domínio da perícia técnica. Desta forma, pessoas, partidos e governos não estariam (ainda não estão) sujeitos ao inexorável esquadrinhamento pericial. O método cientificista, muito utilizado na academia para conclusão de curso de graduação, legislava em causa própria posto que a estratagema dessas instituições jurídicas federais tem como único objetivo não cair na desmoralizada situação do STF, PF e MP de governos anteriores ao de Luiz Inácio Lula da Silva.

Aliás, tornou-se máxima no Brasil desde a Colônia até a era FHC, de que toda investigação de corrupção, quando ocorria, neste país termina em pizza. Essas instituições não eram autônomas e viviam sucateadas, sem a menor condição estrutural e material necessárias ao pleno exercício de suas tarefas. Mesmo ciente disso, vendo o círculo se fechando ninguém falou nada...

Na terceira noite eles já haviam tomado às consciências de grande parte da população, inclusive daqueles ditos “esclarecidos” do ensino superior. De tal modo, que transformaram o que era pra ser um belíssimo trabalho de investigação, julgamento justo e inexorável prisão dos culpados, decompôs numa trama ficcional de novela sem fim, repleto de capítulos orientados pela mídia (globo), deslanchando em tempo real (reality show) com a votação de paredão para decidir o que “é certo ou errado”.

Nestes ardis golpistas os meios sempre justificam os fins. Os mecanismos são modernas tecnologias, mas as ideias são conservadoras. Exatamente por isso empregaram-na antigos expedientes sórdidos de espionagem característicos de regimes ditatoriais contra a maior autoridade eleita neste país. O vale tudo, menos o que é legal, incorria em obter supostas “informações” que validassem todas as fases das operações. Desta forma, agiam abertamente contra aqueles que cometeram erros, mas jamais se comportaram como os tradicionais e ilesos corruptos e corruptores de outrora e nós continuamos em silêncio porque estávamos embrutecidos pelas “verdades” midiáticas a ponto de sermos convencidos dessa situação.

Exatamente como é para acontecer nas dramaturgias das telenovelas brasileiras fomos subsumidos e levados a crer em tudo, até naquela cilada em que o trocado desaparecido encima do criado mudo da madame fora indubitavelmente roubado pela doméstica negra, baseado no único fato de que ela passa a maior parte do tempo no seu local de trabalho (casa), conhece tudo na casa porque ao exercer sua atividade profissional, deve-se ter acesso a todos espaços da casa (exceto ao cofre). Este raciocínio inescrupuloso parte do princípio de que todo pobre, preto e empregado vive à espreita do seu empregador, aguardado uma oportunidade para lhe roubar. E tomados pela genialidade da ficção que sutilmente introjeta[1]no ego a sensação de “certeza” experimentada por outrem nas cenas cinematográficas. Lamentavelmente já não há mais voz para reagir e mantém o silêncio...

Na última noite eles jazem a mente resiliente, lançando a todos fora da realidade, conspurcada pela ficção, pois já não se preocupam mais com a opinião crítica de metade dos brasileiros e nem dos olhares mais atentos de outras partes do mundo, porque o silêncio daqueles levados a pensar assim valida todo processo de dominação. Neste sentido, o que conta é a concordância tácita do inconsciente e aí já não há mais tempo e nem disposição para reagir. Eles arrombaram a consciência, silenciaram a voz, colocaram em cárcere nossas liberdades, aniquilaram a dignidade humana e rasgaram os pressupostos da democracia.

O choque de realidade, forçosamente o conduz a retomada da consciência, leniente, descobre-se quê, quem realmente foi roubado na vida real fomos todos nós, principalmente aqueles que precisam de políticas públicas de proteção e promoção ofertadas pelo Estado, às populações em situação de risco socioeconômico e político. Agora, perdido e sem a perspectiva de antes, resta apenas soltar o grito preso na garganta, mobilizar e lutar incessantemente contra um golpe urdido há alguns metros dos olhares mais atentos, ali em sua frente e você sentado confortavelmente em sua poltrona aceita passivamente a cada clique do controle remoto.

Sob o efeito hipnótico, a obediência ao comando do plin-plin estende-se até aos “esclarecidos” intelectuais de nível superior, seguem-se as instruções que motiva agir deliberadamente, de livre e espontânea vontade, para abrir a porta de sua consciência e entregar tudo que tem aos bandidos, sem reagir e mantendo-os emudecidos. Diferentemente do crime de extorsão praticado por criminoso que mantem o controle de suas vítimas por meio de chantagens, neste caso, seu único limitador é a própria crime moral da consciência humana destruída em função de sua inércia em relação a conivência de ter permitido ser enganado. Assim se construiu o maior golpe contra pequenas mudanças em curso...

________________________
[1] INTROJETAR: Psicológico, processo por meio do qual uma pessoa absorve, como parte integrante do ego, objetos e qualidades inerentes a esses objetos; interiorização. Sociológico: processo por meio do qual uma pessoa incorpora a seu pensamento valores de outras pessoas ou grupos.

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