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quinta-feira, 10 de dezembro de 2015
Crítica da crítica: aparência e essência do mundo atual.
dezembro 10, 2015
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por
Vinícius...
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Historiador, compositor e especialista em Gestão Pública Professor João Paulo |
"Do outro lado do mundo, o inimigo a ser derrotado não podia ser outro senão o Brasil por questões obvias."
* Por Professor João Paulo Pereira.
Há uma máxima na historiografia de que a “história é cíclica em espiral, ela se repete deixando sempre uma saída para o futuro[1]”, este momento histórico que vivenciamos é a prova prática e literal desta afirmação. Estamos assistindo à repetição de fatos históricos que já ocorreram na America Latina e no mundo, a história se repete literalmente e, mais uma vez à esquerda, os movimentos populares, a população de forma geral, estão mesmo por viver o desconhecimento total. Lamentavelmente, não dão conta dos fatos históricos e a sociedade, mais uma vez, está sendo levada a acreditar de forma bestializada em mais uma construção das elites dominantes, na busca irracional pelo domínio econômico, político e cultural do planeta.
Assistimos constantemente a uma avalanche de notícias no Brasil, particularmente sobre a suposta rede de corrupção criada pelo Partido dos Trabalhadores, nos últimos 12 anos, período em que esse partido vence sucessivas disputas eleitorais, assumindo a direção política do Estado burguês no país. Da forma como a mídia, é preciso deixar claro que esta tem partido, está servindo a classe dominante brasileira ao mostrar as notícias, não temos dúvidas, o PT realmente é o culpado por toda a corrupção que se espalhou pelo Estado brasileiro.
Para o senso comum, seria fácil compreender assim, afinal nosso povo de senso comum compreende mais de ¾ da população, por isso não consegue fazer as leituras sociológicas, filosóficas e conjunturais do processo histórico. Entretanto, é incompreensível quando alguns setores da nossa esquerda, ofendida se for incluída neste senso comum, assumi de forma mais qualificada o discurso oficial da mídia burguesa sem se dá conta de que estamos vivenciando um processo histórico maior que a disputa ideológica entre PSDB E PT, ou direita e esquerda, (ou centro como teimosamente insistem em classificar o PT).
Se nos atentarmos aos fatos, especialmente nos últimos 25 anos, compreenderemos melhor o que está acontecendo no mundo. Na virada dos anos 80 do século passado, para os anos 90, percebemos uma mudança radical na geopolítica do planeta. A Perestróika e Glasnost decretaram definitivamente o fim do sonho do “socialismo real”, ou o stalinismo como projeto alternativo ao capitalismo. A queda do Muro de Berlim sepultou o “socialismo real” da Europa Oriental, essa mesma abertura chegou a China de Mao Tse Tung, deixando a Coreia do Norte e Cuba à sós no processo político. Desde então, o capitalismo com sua nova face, o neoliberalismo, passou a definir sem maiores resistências, ou oposição aparente, os rumos do planeta embalado pela globalização, tanto do ponto de vista econômico, quanto do ponto de vista cultural, ecológico, social e político.
Nasce uma nova ordem mundial, o mercado finalmente passa a controlar tudo que pode ser gerador de lucro para a acumulação de apensa 1% da população mundial, entretanto, na medida em que este pequeno grupo passou a acumular toda a riqueza, a maioria da população foi aprofundando o estado de pobreza, e isso certamente traria uma reação, mesmo que essa fosse despolitizada ou não tivesse um caráter de classe. E ela veio: na Europa, no início da primeira década do século XXI, vimos ascender uma série de movimentos espontâneistas, das juventudes periféricas das grandes cidades, como por exemplo, Paris, Berlim, Madrid e algumas cidades Inglesas, onde o aumento do desemprego colocou em linha de confronto essa juventude e o Estado Neoliberal. Aprofundamento da pobreza em país como, Itália, Grécia, Espanha, Portugal, França, se tornou algo “normal” neste início de século.
Seguindo a escrita, desde 2007, a economia do principal país do mundo capitalista, EUA, do ponto de vista do mercado, mergulhou numa crise profunda com nuances de recessão e desemprego e ainda não conseguiu sair da possibilidade docolapso,o que tem colocado em cheque a economia mundial. Ao mesmo tempo, em todo o planeta, há um despertar dos setores oprimidos da sociedade. Inicialmente com o nascimento de uma consciência ecológica, que percebendo o perigo do desenvolvimentismo irracional do neoliberalismo predatório da natureza, que lançou mão de tudo que estivesse ao seu alcance, como matéria prima e insumos para a geração de riquezas (lucro), agredindo violentamente o planeta, colocando em risco à vida na Terra.
Depois das sucessivas vitórias de setores de centro e de esquerda, por todo mundo, passou-se a questionar o projeto neoliberal. Esse movimento político propôs mudanças na condução macroeconômica da economia política mundial e um realinhamento sociopolítico, com respeito às questões regionais, à economia das nações em “desenvolvimento e subdesenvolvidas”. Surge uma contraofensiva planetária de caráter inclusiva e mais fraterna, confrontando-se a nova ordem mundial que a coloca na corda bamba e impõe limites as pretensões imperialistas do G7 e de seus organismos políticos de poder.
Nesse sentido, a vitória do Partido dos Trabalhadores no Brasil alterou as agendas governamentais internas e na América Latina por meio de políticas públicas universais e especificas e suas bem sucedidas políticas externas, desenvolvidas por este partido. Assim, o governo brasileiros passou a apoiar todos os setores de oposição ao projeto imperialista pelo mundo, fortalecendo os pequenos grupos de centro esquerda na América Latina. Esse revés político à esquerda, possibilitou formar um grupo de resistência ao agressivo imperialismo norte americano.
Este importante movimento contrário a nova ordem mundial, contribuiu para criar um sentimento de soberania dos povos no continente, construindo junto com os principais países emergentes do globo, um bloco econômico capaz de enfrentar o dragão do capitalismo e constituir a resistência e enfrentamento à nova ordem mundial. Certas áreas geopolíticas no mundo passaram a viver relações mais humanas e fraternas, trouxe uma nova perspectiva política, intimidando a hegemonia dos países capitalistas, principalmente aqueles de ponta do mercado e exigindo deles uma reação também em aldeia global.
E a classe dominante mundial partiu para o ataque, o primeiro passo era restabelecer o controle econômico do mundo, para tanto, o caminho usual é a disputa e controle das fontes energéticas. Durante os anos 60 e 70 do século XX, o domínio do petróleo do Oriente Médio deu aos Estados Unidos o controle da economia do planeta. Para garantir passagem livre na região, o imperialismo impôs governos fortes sobre sua influencia nos países centrais da região, que formaram ditaduras civis, com caráter teocrático, que determinou a manutenção da ordem a favor do imperialismo na região. No início deste século, estes governos passaram a questionar esse domínio, buscando a superação dessa relação de dependência econômica aos EUA. Aliás, o que provocou uma reação imediata do G7, já em crise econômica, culminando com a “Primavera Árabe”.
Seguindo a lógica da manutenção do poder imperialista no mundo e sua busca por soluções para a crise iniciada com a questão imobiliária nos Estados Unidos, que rapidamente se espalhou pelo capitalismo mundial, nota-se que se tornou condição sine qua non para o mercado derrotar definitivamente os países emergentes e reduzir a competitividade destes no mercado global, inicia aí a luta do G7 contra o BRICS. A reação capitalista considera necessária e fundamental, desarticular todas as ações deste novo bloco econômico.
Para manter o poder, os países centrais do capitalismo mundial, inicia uma guerra sem tréguas contra as lideranças dos países emergentes, buscando a aniquilação de alguns e o enfraquecimento dos outros. O primeiro alvo foi a Rússia, que desde 2007 está sob fogo direto dos Estados Unidos, depois assistimos a interferência ocidental nas eleições na Índia que culminou com a derrota da “Dinastia Gandhi”, que governou o país por 50 anos.
Do outro lado do mundo, o inimigo a ser derrotado não podia ser outro senão o Brasil por questões obvias. As razões deste empreendimento demolidor podem ser compreendidas se levarmos em conta certas questões materiais decisivas nas relações internacionais. Este país possui condições econômica favoráveis e posição geográfica estratégica para exerce forte influência na América Latina. A política internacional dos governos petistas de Lula e Dilma passou a liderar um grupo de países, como a Argentina, Venezuela, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Cuba, formando um bloco forte na defesa da soberania da América Latina, da mesma forma, essa influência chegou a países do continente africano.
As ações políticas do governo brasileiro em relação ao BRICS, também passou a incomodar ao mercado capitalista, sem falar das ações políticas na ONU, que em alguns momentos colocou o Brasil em linha de confronto com os interesses do grande capital. Tornou-se fundamental para o capitalismo mundial derrotar o Partido dos Trabalhadores, mas não é só derrotar eleitoralmente, é preciso ferir mortalmente esse partido, visando à extinção dele e, a partir dele, todas as organizações de esquerda na América Latina. Ao mesmo tempo em que, iniciou uma ofensiva contra todos os países que formaram junto com o Brasil esse bloco antagônico ao imperialismo norte-americano no continente.
Inicialmente conseguiu retomar o Paraguai, com a deposição de Fernando Lugo, um golpe contra a democracia Paraguaia. Aí o alvo se tornou a Argentina, iniciaram uma série de manifestações contra a Presidente Cristina Kirchner, onde a mídia e os partidos de oposição levaram a classe média para as ruas, sempre utilizando o argumento da corrupção. Assim, a burguesia argentina conseguiu derrotar o projeto de centro de Cristina, e trouxe de volta ao poder os velhos aliados do capital internacional.
Recentemente, mais um líder de esquerda caiu na America do Sul, foi à vez de o “Chavismo” perder força na Venezuela. Com uma intensa campanha organizada pela burguesia nacional e internacional, prejudicando diretamente o povo venezuelano, provocando a escassez de alimentos no mercado, com greves constantes da classe média e manifestações contrárias a manutenção do governo de esquerda iniciado por Hugo Chaves e continuado por Nicolás Maduro.
Ao mesmo tempo, os EUA buscam uma reaproximação com Cuba, ampliando o cerco e por fim chegou ao Brasil. Claro que aqui a oposição ao PT é histórica, desde que esse partido nasceu que as elites nacionais e internacionais trabalham através de sua mídia burguesa para construir uma imagem negativa do Partido, junto aos setores mais desinformados da sociedade brasileira, que se orienta de senso comum. Entretanto, com a chegada deste partido a direção do Estado no Brasil, se tornou necessário construir uma oposição, mas intensa.
Não era fácil derrotar o Lulismo, pois esse tinha apoio irrestrito da maior parte da população. O sucesso dos governos do ex-presidente Lula, criou um clima de confiança baseada na aceitação popular que não permitia uma ação direta contra o governo, fato que pode ser percebido no episódio do “Mensalão”, que apesar de ter abalado o Partido dos Trabalhadores e aniquilado quadros dirigentes importantes, não conseguiu enfraquecer o Presidente Lula. Mas veio a sucessão presidencial e a candidata eleita Dilma Rousseff, não tinha o mesmo carisma e liderança do presidente operário.
Era o momento ideal para minar as bases do partido e promover a queda deste no conceito popular. Mesmo fazendo um governo que garantiu mudanças substanciais e concretas na vida da população de baixa renda, a burguesia aliada à mídia burguesa e fortalecida pelo assessoramento dos organismos do mercado internacional, conseguiram minar o governo e a pessoa da presidente, junto à opinião pública.
A oposição utilizou de tudo que estava ao alcance para criar um imaginário coletivo de oposição ao governo da presidente Dilma Rousseff. As forças de oposição aliaram-se e lançaram uma campanha intensa contra esse governo, que culminou com as manifestações de 2013, que foi chamada pela mídia de “Jornadas de Junho, durante a Copa das Confederações”. A partir deste momento, essas elites começaram a tramar a queda definitiva do Partido dos Trabalhadores. O primeiro passo era a demonização do PT e de tudo que tivesse relação política com o partido.
Desta forma, foi-se gradativamente sendo construído o “Ódio ao PT”, o que se tornou uma ideologia de massa, consequentemente e, sobretudo, no meio da juventude, o “ódio ao PT” gradativamente se transformou em ódio ao comunismo, ao socialismo, a teologia da libertação, aos avanços sociais garantidos pelo governo do PT.De outro modo, ampliou-se a homofobia, o ódio às relações de gênero, ampliou-se o racismo, o preconceito social, o fundamentalismo religioso em setores conservadores da Igreja Católica e na maioria dos seguimentos protestantes, principalmente nos segmentos pentecostais e neopentecostais. Este ambiente hostil às populações em situação histórica de vulnerabilidade socioeconômica, cultural e política foi construído a partir do recrudescimento de velha ordem cultural e social burguesa, fundamentada uma prerrogativa fascista para a sociedade brasileira.
Nesse contexto, é que se levantam alguns questionamentos sobre o que é ser esquerda no Brasil. Diante deste quadro apresentado, como nosso movimento de esquerda tem se comportado diante de uma conjuntura tão adversa? Em algumas declarações dos setores tidos como esquerda revolucionaria brasileira, percebe-se um discurso muito próximo no conteúdo dos discursos de senso comum, apresentado pela população de forma geral. A falta de leitura, ou não leitura correta, do processo históricos e sociológico que estamos submetidos, a incapacidade desta esquerda em fazer analise de conjuntura, tem trazidos setores importantes para a vala comum. Assim, é apresentado de forma elaborada o discurso produzido pela mídia burguesa, atribuindo todas as culpas a incapacidade de gestão do PT.
Claro que não dá para fazer ouvido de mercador ou fazer vistas grossas aos erros cometidos pelos setores hegemônicos que dirigem o Partido dos Trabalhadores nestes 12 anos que o partido assumiu a direção do Estado burguês no Brasil. Não podemos esquecer-nos da desastrosa política de alianças defendida pelos setores hegemônicos do partido desde a chegada de José Dirceu a direção em 1995-2002 como expressão deste campo; não dá para esquecer-se das concessões feitas aos setores dominantes para manter uma famigerada governabilidade, abandonando a “luta de Classes”; não dá para esquecer a adequação a ordem burguesa e o jeito de governar a partir das prerrogativas da classe dominante nacional.
Contudo, não podemos nos esquecer que mesmo com o Partido dos Trabalhadores abrindo mão da luta de classes, a classe dominante nacional e internacional não o fez. E, hoje, temos vivido a radicalização desta luta no Brasil. O processo político atual, será discutido pela historiografia brasileira e aí perceberemos o que de fato está acontecendo, talvez seja tarde, pois estaremos imersos em um processo histórico de média e longa duração, de reconstrução da luta dos trabalhares, que está sendo destruída neste momento. Evidentemente, que parte disso em função dos erros cometidos por esse partido ao longo de sua pequena história política, mas sobretudo, em função deste excesso de ideologismo, que Lênin, chamou de “esquerdismo, doença infantil do comunismo”.
É um novo momento da história do país e precisamos entender esse processo para que possamos responder coerentemente à investida de retomada do poder mundial pela burguesia, entendendo que não se trata apenas de uma luta entre PT e PSDB, ou burguesia e trabalhadores dentro das fronteiras de um país. Estamos enfrentando uma readequação do capitalismo mundial com um mercado de capitais altamente lucrativo operando pelo mundo, com exceção de certas comunidades que guardam características tribais na África subsaariana e a Ásia.
O projeto neoliberal falhou em sua função de garantir o equilíbrio econômico do planeta e hoje vivemos uma reengenharia atroz das forças do capitalismo. E se os setores de esquerda no Brasil e no mundo não estiverem antenados com esse processo e pronto para fazer o enfrentamento, poderá ser a barbárie. Obviamente, que poderá não ser no mesmo formato apresentados pelas grandes revoluções dos séculos XVIII, XIX e particularmente a luta armada comunista do século XX nos moldes das ortodoxias marxistas, com características operárias urbanas/camponesas e estudantis. Mas, um enfrentamento político que passa pela emancipação de todos as dimensões da vida humana no planeta, envolvendo as classes trabalhadoras, as questões ecológicas, culturais, étnico raciais, mulheres e gênero, sociais, políticas, econômicas.
Nesta perspectiva desoladora, seremos realmente vencidos e aniquilados por um projeto ideológico que está gradativamente se consolidando no planeta, onde o pensamento fascista cresce arrebatadoramente em todos os cantos do planeta e no Brasil com uma população historicamente conservadora, de outro modo, é facilmente perceptível nas mais simples conversas populares a presença desta ideologia que está se tornando padrão mundial.
[1] Os primeiros a afirmarem a condição cíclica da história foram Heródoto na Grécia, 484-424 A.C. considerado o pai da história. E Tucídides 460-404 A.C.
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