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quarta-feira, 23 de dezembro de 2015
A quem o Chico incomoda?
dezembro 23, 2015
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por
Vinícius...
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* Por Herberson Sonkha
O Chico Buarque reencontra com a escória da “Fazenda Modelo” no Leblon, no Rio, em plena centúria 21, marcado por avanços e retrocessos políticos na América latina. Não poderia deixar de mencionar neste momento o livro-romance de Chico. Muito interessante para o momento atual porque discute o Brasil que caminhava para reabertura da pós-ditadura civil-militar, ali pelo mês de dezembro de 1974. O país que Chico vislumbra em seu romance, denominada de “novela pecuária”, é um lugar agrário paradisíaco de cenário e da beleza animal, presente à fazenda, mas que não passa de um lugar chafurdado no lamaçal da corrupção, estupros, assassinatos e torturas.
A “Fazenda Modelo” é, em certa medida, uma leitura obrigatória na latino-americana. em minha opinião, alusiva ao livro de A Revolução dos Bichos, de George Orwell. Um livro para driblar a censura atroz (nos remete ao reencontro no Leblon) escrito em sua curta temporada na Itália porque o Chico era o alvo número um dos milicos. O livro foi publicado pela editora Civilização Brasileira (uma espécie de compêndio da produção da esquerda brasileira) e é constituído por uma enorme fazenda de “bois e vacas”.

O Chico, um maestros clássico das palavras, oficina do mundo em plena ditadura que clamava por liberdade, justiça e revolução. A “Fazenda Modelo”, um dos seus três romances, buscar construir elementos críticos numa rica análise de dois períodos da vida brasileira, entre os anos 70 aos anos 90, o período da ditadura e a democratização, mostrando um Brasil marcado profundamente pela distancia que separa ricos de pobres. Sua escrita marca as desigualdades sociais de um Brasil que escreve seus desafios na Constituição de 1988.
Esta crítica às desigualdades sociais tão pertinentes, está presente nos outros dois romances, Estorvo e Benjamin Zambraia. Um nexo interliga e ativa a memória histórica destes tempos sombrios que as vezes parece tão distante da consciência brasileira, mas que ainda trás sinais de vida num país absolutamente diferente dos anos 70, mas que inicia-se nos anos 90 mantendo elementos tão iguais em suas dimensões socioeconômicas.
No Leblon, o Chico reencontra seus antigos adversários (personagens) e, o que é pior, restabelece naquela fatídica noite quente do Rio de Janeiro aquela memória que nos remete a enorme “Fazenda Modelo” em que os “animais” aproveita da oportunidade para o repreende-lo violentamente com palavras, porque o aparato militar ainda não está dado. Tudo isso, por continuar observando criticamente a história (quer seja com a poesia, quer seja com a musica, quer seja com a literatura) ao lado de quem sempre fora oprimido e explorado por estes processos “civilizatórios” da destruição dos sonhos e suas possibilidades de paz, solidariedade e fraternidade humana entre os povos, respeitando autodeterminação destes, e denunciando praticas nazifascistas e seus instrumentos ideológicos, principalmente pelo aperfeiçoamento agressivo das formas de poder opressor.
O Chico mais uma vez esta sendo condenado por posicionar-se politicamente contra aqueles históricos corruptos que enfrentara na ditadura militar, fazendo carga em favor de um determinado governo que, apesar das contradições internas, tem posição clara contra a onda nazifascista e as diversas formas de fobias, violências e extorsão das populações ainda em situação de vulnerabilidades socioeconômicas. É contra esta turma, plaboiyzada coxinha que o pensamento e a postura política de Chico incomoda.....
O Chico enfrenta o discurso viral da modernização nos anos 90 que tomou os quatro cantos do país, resquício da farsa característica da ditadura, “ame-o ou deixe-o” que busca consolidar uma ideologização autoritária conservadora de sociedade, fundamentada numa ideologia cientificista, como mito que se contrapõe a razão. Mas, o arguto Chico traz à baila um debate antigo, não menos presente, que me remete a obra “Admirável Mundo Novo”, um romance distópico, escrito por Aldous Huxley e publicado em 1932 ao tentar abafar a resistência da boiada como no livro “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell.
Como sua genialidade política, o Chico apresenta alguns personagens (bois) que se opõem ao sistema a partir de questionamentos para compreender as engrenagens opressoras. Assim como nas referidas obras (Aldous Huxley e George Orwell) o romance de Chico vislumbra uma tensão que aponta para desarticulação da força opressora, não obstante apresentar novas perspectivas políticas, culminando no fim da experiência pecuária remetendo a todos a outro manejo de plantio (Soja) denunciando os seus algozes e sua compreensão de trato com o povo por considerar ser “mais barato e mais tratável”.
Sua ironia refinada e perspicaz mostra a sedimentação de uma ideologia e o horror do país autoritário que dissimula sua realidade escamoteando suas verdadeiras motivações por trás de discursos modernizantes. Há uma aproximação com as investidas ideológicas da direita que esconde sua pratica perniciosa, nazifascista e capitalista ao apresentar de forma prometeica e inquestionável uma face aprazível, democrática e competente para o Brasil. O Chico é agressivamente atacado por nazifascistas (coxinhas) por posicionar contrário a esta perspectiva política...
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