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quinta-feira, 20 de novembro de 2014
Conquista, uma urbe castigada pelas elites e não pelas chuvas.
novembro 20, 2014
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por
Vinícius...
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" Após as transformações predatórias ao meio ambiente causando mudanças climáticas, estudos admite que foram provocadas pelo modelo de desenvolvimento adotado desde os anos 70. Por isso, o meio ambiente começa a responder a estas transformações de forma desequilibrada."
* Herberson Sonkha
Originalmente Vitória da Conquista em 1783 era apenas uma pequena porção de terras, com um pequeno concentrado de povoamento, com outro nome, Arraial da Conquista. Povoação geograficamente localizada no alto do platô, cravado no centro do imenso Sertão da Ressaca, circunscrita por três importantes rios, ao sul o Rio Pardo, ao norte no médio Rio de Contas, ao oeste o Rio Gavião ao leste no começo da Mata de Cipó. Esta imensa área já era habitada há séculos pelas civilizações Mongoiós e seus subgrupos Camacãs, Ymborés e Pataxós vitimados pela pilhagem e genocídios do El´Rei. Eles constituíam os diversos povos originários (“índio” é uma expressão pejorativa do colonizador) varridos destas paragens pelo Rei de Portugal por Mãos Elmana do Senhor Capitão-Mor João Gonçalves da Costa, que por ordem da Corte Real Portuguesa apropriou-se destas terras como galardão pela “valentia” de ter dizimado criminosamente os povos originários e catequizar os poucos que restaram.
Nos anos 1840 é elevada a categoria de Vila e Freguesia com o nome de Imperial Vila da Conquista, desmembrando-se do território de Caetité. Em 1891 passa a categoria de cidade com o nome de Conquista. Em 1943 é modificado para Vitória da Conquista. A cidade manteve ligações jurídico-administrativas a Minas do Rio Pardo, em 1842 a comarca de Nazaré, em 1854 foi anexada a comarca de Maracás e por ultimo a Condeúba (Comarca de Santos Antonio da Barra) e finalmente em 1882 transforma-se em Comarca. Vitória da Conquista se mantêm conservada até os anos 70 do século XX, pois possuía ciclo hidrológico aceitáveis sem maiores problemas com as chuvas regulares porque os ecossistemas terrestres (florestas, savanas, estepes(pradarias) e deserto) e aquáticos ainda estavam preservadas.


Paralelo ao crescimento econômico que possibilitou o aumento da riqueza de algumas classes sociais da cidade, concentradas e centralizadas nas mãos dos detentores de bens (Terra e Capital), surgem também as contradições clássicas da sociedade moderna que é a pauperização dos trabalhadores e o confinamento em espaços geopolíticos pobres, desassistidos dos serviços públicos essenciais, evidenciando as contradições existente entre capital e Trabalho por detrás do surto crescimento do capitalismo em âmbito municipal nos anos 70, 80 e 90. Nesta perspectiva, pode-se considerar também o passivo ambiental deixado por este modelo que impõe a destruição do meio ambiente para atender a matriz de “desenvolvimento” capitalista que transforma a natureza, principal fonte de manutenção da qualidade de vida na terra, em insumo para alimentar a locomotiva da moderna vida urbana.
Assim, as águas das chuvas que deveriam ser esperadas com alegria, dançando e festejando como faziam nossos ancestrais originários desta terra, porque são necessárias a manutenção da vida na urbe, se transforma num caos. Fato é que o ciclo hidrológico fora desregulado pelas alterações no ecossistema, passando a provocar longas estiagens ou volumes pluviológicos exagerados. A água que é o maior bem que o camponês possui, porque possibilita produzir, beber e matar a sede seus pequenos rebanhos oscila entre o indesejado extremo, ou não tem ou causa enchentes. Deste modo, o liquido precioso que alimenta os famintos e “inverdesse” o sertão tão sofrido e castigado pelas longas estiagens por causa da intervenção desregrada da sociabilidades “modernas”, é o seu principal temor.
As três ultimas décadas do século XX, nos trouxe serias consequências ambientais das quais padece a urbe moderna Conquistense. Vitória da Conquista só vai acompanhar o ciclo de modernização urbana e o surgimento de grandes contingentes populacionais nas periferias das grandes cidades brasileiras, encetada no Brasil no inicio século XX, a partir dos anos 70. Essa urbanização, contrastada pelo adensamento populacional periférico decorrente das migrações em massa na direção das povoações prósperas, como a que conhecemos hoje, é um fenômeno geográfico no Brasil recente, inicio do século XX, mais precisamente a partir dos anos 20 e 30, que o país entra timidamente para o rol dos países em crescente industrialização, articulada pelo frenesi da urbe francesa moderna.
Vitória da Conquista, assim como a maioria das grandes cidades, não foi planejada para suportar a sociabilidade moderna predatória com seu descontrolado consumismo, alimentado por uma maquinaria infernal que transforma a natureza em insumo e arrasta grandes áreas verdes, bancos biogenéticos, biotas que possuem o papel de equilibrar o ecossistema, em parte integrante porque passa a ser fator de produção essencial ao produtivismo capitalista exacerbado.
Assim, a onda modernizadora que causou glamour e arrancou aplausos e discursos inflamados dos seus representantes vem destruindo tudo que encontra pela frente, principalmente a vida animal, vegetal e mineral, para alimentar a locomotiva desgovernada do mercado a serviço da matriz capitalista de produção que enriquece alguns poucos e lança milhões na miséria, pobreza e sofrimento. Basta relembrar que a riqueza dos latifundiários da família Brito, detentora de grandes jazidas de areia em Vitória da Conquista, é a destruição criminosa nas encostas da serra que deixou marcas indeléveis na natureza.

Através de estudos já existentes da UESB que subsidiaram no diagnostico das voçorocas, perda de material fértil de proteção do solo nas encostas da serra arenosa que facilitava a lavagem destes materiais pela enxurrada acarretando grandes quantidades de areias e pedras no centro e nos bairros no entorno, cuja características geomorfológica, a geografia acidentada e a formato de côncavo dos bairros centrais e adjacências favorece tais inundações. Essa situação crítica, impôs-se a necessidade de políticas públicas de proteção e preservação ambiental, assim, criou-se o Parque de Preservação Ambiental Serra do Peri-Peri. Assim, o município passou a recuperar áreas degradas e proibir extração de qualquer material mineral, vegetal e animal da serra, construir bacias de decantação artificiais para conter volumes de águas e reflorestamento de matas ciliares, desassoreamento de nascentes visando evitar os transtornos das enxurradas e inundações.
Além destas ações, o município adotou também outras medidas sanitárias importantes em áreas que compreende o entorno da serra ou regiões para onde as águas eram carreadas pelas chuvas, por exemplo, a construção de dutos, caneletas e galerias subterrâneas que comportam grandes volumes e a força da enxurrada. Também faz parte desta intervenção a recuperação do ecossistema aquático e estruturação da Lagoa das Bateias para receber a água das chuvas do lado oeste. No lado sul retirou o desconfortável "Pinicão" que recebia todos os dejetos da cidade para um novo complexo sanitário maior planejada para atender cinco vezes o tamanho da cidade e da população de Vitória da Conquista. Outro aspecto importante da ação governamental foi aquisição imediata de grandes extensões de áreas na zona sul para adoção de política de assentamento e criação e fortalecimento crescente do Programas Municipal de Habitação Popular para evitar especulação imobiliária e sucessivas ocupações de áreas verdes e praças.
A ultima ação política considerada essencial para resolver os problemas causados pelo crescimento desordenado da cidade foi a elaboração do Plano de Mobilidade Urbana que prevê o crescimento planejado da cidade, o deslocamento de equipamentos públicos para áreas adequadas, definir política imobiliária para criação de novos loteamentos, adoção de ciclo vias, rotas alternativas para evitar congestionamentos, instituir e monitorar a emissão de gases poluentes prejudiciais ao meio ambiente, estimular a prática do ciclismo que além de ser saudável reduz a presença excessiva de veículos nas rotas e vias publicas.
Portanto, a existência de enxurradas e inundações na áreas centrais da cidade ainda reflete os crimes cometidos contra o meio ambiente, que se transformou em patrimônio coletivo do município, por meio de lei municipal sancionada pelo atual governo, e não mais propriedade a serviço da especulação latifundiária ou de mercado. São sinais históricos, alguns indeléveis como a urbanização, da destruição da natureza pelo avanço predatória do comércio de areia, aterramento de bacias naturais de decantação, assoreamento de nascentes e desmatamento de áreas nativas para loteamento e desenvolvimento da urbanização. Apesar das chuvas torrenciais que ainda inundam a cidade, hoje causa menos danos do que antes, podemos considerar que a matriz de desenvolvimento adotada há mais de 17 anos produzirá aos poucos, assim como a destruição foi aos poucos, uma outra Vitória da Conquista, mais verde, mais humana e mais feliz porque nossos descendentes poderão ver florir uma outra sociabilidade ecologicamente correta.
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