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terça-feira, 15 de outubro de 2013

O “Ser Professor”


 * Por Fátima Inês Tatto De Pellegrin


Neste estudo, parece-nos promissor elaborarmos uma síntese sobre a diferença que há entre ser professor e ser educador. Nos reportamos à pessoa do professor que vai para a escola e sai dela, às vezes com alegria, outras vezes com pesar e tristezas; com esperanças ou desesperanças, às vezes com fé, outras vezes incrédulo, falante ou calado, fragmentando na sua profissão. E ele se diz professor. Os outros chamam-no de professor. Professor é quem dá aulas, quem ensina os conteúdos escolares, porque ensina aos que não sabem aquilo que ele sabe, ou que pensa saber. Por isso vão à escola. Por isso chamam-no de professor e ele passa a acreditar que é mesmo professor e todos acreditam que ele é professor. O professor é aquele que vai à escola e sai da escola e volta à escola repetindo sempre o mesmo discurso aos mesmos ouvintes. É o comediante que apresenta sempre a mesma comédia aos mesmos assistentes, no mesmo palco. Quando, no palco, não existem mais comediantes e comédias, os assistentes gritam de alegria e se debandam em disparada. É chamado ainda de professor, porque estudou muitos anos, se preparou para ser professor num ensino de Curso Médio ou superior, ou até mesmo realizou estudos de mestrado ou de “doutoramento”, cujo título o torna “primus inter pares” na ação de ensinar nas pequenas e grandes cátedras. Para este professor o título é mais importante do que o saber. Ser, ter fazer. Parece-nos que tudo isso não passa de uma palavreação pobre, já desmistificada, a fim de que se possa caracterizar o que é um professor.


Definir ou explicar o que é “ser professor”, nesta perspectiva, torna-se complexo, quase impossível. Para muitos é aquele que precisa demonstrar um ativismo constante, explicitando seu compromisso em ensinar e avaliar, como se tudo se resumisse apenas nessas questões. 

Desta forma se manifesta Alves, quando diz que: 

Professores são habitantes de um mundo diferente, onde o “educador” pouco importa, pois o que interessa é um “crédito” cultural que o aluno adquire numa disciplina identificada por uma sigla, sendo que, para fins institucionais, nenhuma diferença faz aquele que o ministra. Por isso mesmo professores são entidades “descartáveis”, da mesma forma como há canetas descartáveis, coadores de café descartáveis, copinhos de plástico para café descartável. De educadores para professores realizamos o salto de pessoa para função (ALVES, 2000, p.19). 

Nesta perspectiva nos questionamos: Por que o professor não viveu dignamente do seu ato de ensinar? Por que se tornou um esmoleiro oficializado? Qual o sentido que ainda lhe que resta em ser um profissional da educação? Sem dúvida, o poder de viver bem a vida deve 
nascer do seu ato de educar. 

O educador, antes de tudo, é um ser especial. Precisa pensar o que lhe cabe pensar, ser aquilo que deve ser, agir naquilo que deve agir, porque ele é o educador, é o pensador, é o filósofo, é aquele que pensa sobre o homem e sua existência. E isso tudo por uma imposição da vocação para o ensino. 

Desta forma, nos questionamos: 
Educadores, onde estarão? Em que covas terão se escondido? Professores há aos milhares. Mas o professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor,. Educador, ao contrário, não é profissão; é vocação. E toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança (ALVES, 2000, p.16). 

Nesta perspectiva, entendemos que um educador, possuído da “mística” e da missão, pode e deve ser um profissional competente. Um educador “místico” se deixa guiar pela força interior que se sustenta de sua própria experiência quotidiana. Neste sentido, a mística quer acordar na missão de educador a sua dimensão de “amar”, de desejo de ensinar e aprender a paixão pela missão de educar e de transmitir conhecimento, formar novas gerações com novos valores, construir com os educandos a riqueza da vida humana e da experiência já construída por eles. 

Um dos traços marcantes da vida e obra de Freire era a paixão pelo ato de ensinar. Paixão que se expressa de várias formas e se concretiza no seu encantamento com a vida, com a liberdade, com o prazer da aprendizagem, com a descoberta, a prática de pensar a prática. 
Essa paixão, que através da indignação tornou-se móvel da denúncia e do anúncio. 

Denunciava situações de injustiça e marginalização de milhares de seres humanos. Enquanto anúncio transmitida esperança, sinalizando a construção de uma sociedade democrática, na qual houvesse condições de trabalho, de saúde, educação e vida digna para todos. 

Nesta perspectiva, afirmamos que freire foi um educador apaixonado pela educação. 
Amava um sonho futuro a favor da libertação e contra as desigualdades de qualquer espécie. 
Que esse sonho de Paulo Freire seja o sonho de todo o educador que se fundamenta e se concretiza ao longo de sua missão, humanizando os seres humanos que são desprovidos de sua dignidade. 

Desta forma, cabe ao educador, entre muitos, o compromisso de trabalhar o “amor paixão” junto com seus educandos. É pela mística da paixão que o educador consegue chegar até a consciência dos educandos e trabalhar com amorosidade, para a mudança da mentalidade. Cabe a nós, educador, concretizar este amor serviço, caminhando paralelamente com o “saber paixão” de Paulo Freire.

Gadoti nos diz que: “amar é uma arte, que requer aprendizagem, maturidade, humildade, coragem, fé, razão, disciplina, interesse e preocupação com o outro. Requer solidariedade” (GADOTTI, 1996, p.564). 

Nesta perspectiva reflitamos sobre a nossa prática pedagógica. Será que estamos fundamentando-a na pessoa do educador? Estaremos amando a educação e tendo por ela a devida razão, coragem e interesse? Sem dúvida jamais gerenciar o professor para torna-lo um educador, precisamos sim, acordá-lo e fazê-lo viver a experiência do amor pela educação. 
___________
Fonte: Revista Eletrônica “Fórum Paulo Freire” Ano 1 – Nº 1 – Julho 2005 (1 O EDUCADOR: ALÉM DE PROFESSOR, FILÓSOFO DA EDUCAÇÃO E LÍDER DA TRANSFORMAÇÃO SOCIAL)
* Fátima Inês Tatto De Pellegrin fez Especialização em Psicopedagogia e em Pedagogia Social, Licenciatura Plena em Pedagogia e História Professora do Curso Normal: Ensino Médio – Colégio Nossa Senhora Auxiliadora – Frederico Westphalen/RS Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Mária- Frederico Westphalen/RS Área de Atuação: Sociologia da Educação, História da Educação, História, Didática de Estudos Sociais. Atividades Curriculares: Supervisão de Estágio. Equipe do Ser.

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