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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Por que João Paulo Pereira?


Negro, Intelectual, Professor, compositor, esportista e militante de esquerda.


* Por Herberson Sonkha


A história oficial, escrita pelos homens de pensamento liberal positivista, narra em seus livros didáticos estórias contadas por personagens universais minimamente idealizados. Tornam-se bastiões em suas odisseias repletas de ações heroicas exuberantes do europeu branco, para conformar a dominação intelectual e material na sociedade burguesa.

Assim se constituiu a História Universal e consequentemente o berço da história do Brasil. Só a partir do século XVIII, com a revolução francesa é que se começa mudar esta realidade com o surgimento do pensamento crítico na historiografia, filosofia e economia. Surgem no cenário mundial os trabalhadores como atores sociais protagonistas de sua própria história e suas primeiras organizações autônomas propondo transformações radicais na sociedade.

Infelizmente estas estórias estrangeiras que chegaram ao Brasil no século XVI, só viria reagir no século XX, particularmente na segunda década, a partir da semana de Arte Moderna é que estes conceitos começam ser questionados, sendo proposta a substituição pela cultura indígena e africana como elemento estruturante da cultura brasileira.

As criações destes iluminados destronados do mundo real forja no imaginário coletivo dos brasileiros um tipo especifico de dirigente branco infalível, irrepreensível em sua individualidade, cuja “essência” fundante de super-homem foi denunciada por Macunaíma, de Mário de Andrade.
Essa alegoria vai procurar justificar na sociedade a hegemonia da ideologia dominante através da qual os burgueses “irrepreensíveis” plasmam seu próprio conceito de sociedade e de representantes, portanto, não há espaço para negros na estrutura de poder. São os homens brancos bem sucedidos, aliás, os únicos capazes para exercer funções nas instituições públicas e privadas.
Impõem-se sutilmente no inconsciente coletivo da população brasileira a ideologia de dominação econômica e política por duas vias: a de classe que reprime as lutas sindicais e estudantis e impede à organização política da classe trabalhadora e a racialização ideológica como forma de conter o crescimento de representação dos negros nos espaços de poder, descaracterizando-nos intelectualmente e etnicamente. 

O Século XX tornou-se palco das lutas sociais entre a burguesia industrial e os trabalhadores. A “cegueira”, até então inexplicável, que decorria desta alienação causada pelo mito do ser social liberal positivista, propiciou tensões entre as forças antípodas existente no movimento real da sociedade. Estas mudanças históricas vem permitindo ao povo brasileiro enxergar um país totalmente diferente dos relatos oficiais, dando a conhecer sua verdadeira história.

Se na Europa estas mudanças só vão começar ocorrer a partir do século XVIII, no Brasil na segunda década do século XX, em Vitória da Conquista isso só vai ocorrer em meados da década de 90 do século XX com a importante vitória do campo democrático e popular, após algumas tentativas. O PT é protagonista destas mudanças e a juventude e os movimentos sociais contribuíram para estas significativas mudanças.

É neste vasto contexto que surge um dos mais brilhantes intelectuais negros do Sudoeste da Bahia. Licenciado em História pela UESB com espacialização em Gestão Educacional, Professor João Paulo Pereira integra um circulo de grandes intelectuais de esquerda de Vitória da Conquista, egresso dos diversos movimentos sociais em um período considerado fluído para uma juventude sedenta de intensos debates e leituras. Acredita-se que tenha sido a última grande geração [anos 80 e 90] do século XX, que sucede a geração que marcou época com as ações clandestinas contra o terror aplicado pelo DOI-CODE em plena ditadura militar.

O Professor e Historiador João Paulo dirigiu uma das escolas mais importantes de Vitória da Conquista, O Colégio Estadual Dr. Orlando Leite, na Urbis-II, localizado entre os bairros Urbis II e III. O raio de abrangência do colégio vai do bairro Brasil, Ibirapuera, Urbis IV e V à Santa Cruz e Santa Helena. Sua importância se deve as características geoespaciais, socioeconômicos e históricos de bairros com índices altíssimos de violência e comercialização de drogas, com histórico de homicídios de egressos do crime.

Com formação católica de atuação sólida no campo da teologia da libertação, na historiografia francesa, sociologia, filosofia e política o professor e intelectual João Paulo desenvolveu um trabalho bastante significativo à frente do colégio. Sua postura irrepreensível de educador que privilegia uma pedagogia dos oprimidos, conectada com aspectos multidimensionais da realidade social dos estudantes.

Compreender esta dinâmica dialética possibilitou ao professor inserir-se no universo dos estudantes na perspectiva de persuadi-los a enxergarem o colégio como espaço lúdico, esportivo, de formação crítica e inserção no mundo das artes e de leituras intelectuais que propõe mudanças sociais.

Desalojado do senso comum caraterístico da moral e ética burguesa, fundada no positivismo que norteia muitas das ações de educadores liberais, o Professor João Paulo assumiu o desafio de ser gestor de um modelo de escola pública falida e condenada ao fracasso por falta de política de educação transformadora. Como historiador o Professor tem contribuído para desconstruir mitos e alienações que impedem os trabalhadores de avançar nas lutas pelas transformações sociais.
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Herberson Sonkha dirigente do Partido dos Trabalhadores em Vitória da Conquista e um dos  Coordenadores da Campanha do Professor João Paulo

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