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quarta-feira, 31 de julho de 2024

Massacre Verborrágico


*por Carlos Maia


O movimento cultural artístico e literário emergente, não é uma coisa criada de um determinado cérebro pensante e/ou mais brilhante que se possa observar. Ele é um movimento vivo, com o estabelecimento de vetores os mais diversos possíveis, que se orientam a partir de determinados interesses políticos ideológicos não no sentido do que os "cientistas políticos" poderiam igualmente definir, enquanto conceitos vazios de conteúdos. Mas sim, ao que tudo indica, ao que a prática e a dinâmica social em questão colocam, flui, em direção a um embate de choques que acabam, por extrapolar às malhas dos instrumentos até aqui criados e desenvolvidos pelos organismos de poder público municipal, estadual e nacional.

Isso não significa dizer, que esse movimento em que atrás citamos, é isento de interesses e jogadas políticas de parte de partidos e/ou personalidades públicas, tão somente interessados em capitanear ganhos eleitorais. Não. Não somos ingênuos a ponto de não vermos como esses senhores e senhoras da retumbante e podre camada do parasitismo social, da burocracia e da classe a qual ela se identifica, a burguesia, em todas as suas esferas de influência e dominação, exploração, opressão e alienação cultural possíveis. O fato é que devemos colocar as nossas lentes em direção  a movimentação da juventude que ora habita esses aparelhos criados, há muito tempo, e com enormes sacrifícios pelos amantes das artes, em momentos históricos outros, onde se falar em organização, conscientização e em despertar de um sono e pesadelo profundo, custou muito mais que um carguinho nas estruturas e superestruturas dos aparelhos de Estado, quer seja ele municipal, estadual ou nacional.

As botas da burguesia não só amassaram às mãos do poeta, escritor, dramaturgo e militante das artes e da cultura, idealizador da Casa da Cultura e da Academia Conquistense de Letras, mas calou fundo nos porões da Ditadura e do fascismo, muitos dos que hoje não mais se encontram entre nós, quer sejam desaparecidos, torturados e mortos. Carlos Jehovah foi um destes heróis protagonistas da juventude daqueles dias de perseguição macabra, em que o sentimento humano foi estraçalhado pela burguesia e o seu Estado político ideológico e militar, onde a perseguição ao momento criativo artístico também sofreu interpelações da censura e da repressão institucionalizada.

Contudo, após um longo período de hibernação e alienação de parâmetros da práxis social questionadora e revolucionária, e, principalmente, devido a crise de exaustão do sistema capitalista, que já esgotou, do ponto de vista do capital, todas às possibilidades de retomada dos índices das taxas de lucro global do capitalismo anterior aos anos 70 do século passado, estando, portanto, empurrando com a barriga, a burguesia vai mantendo o seu reinado, pois, ela por se só não cairá de podre, e sim, necessitará de que o conjunto dos trabalhadores e da juventude a empurre para  o abismo infernal do fogo eterno das barricadas da luta de classes. Devido a influências e acomodações políticas de projetos e propostas reformistas/social-democráticas/populistas/neofascistas, a burguesia experimentando de tudo um pouco e um pouco de tudo, no que se refere a sua dominação de classe vai assim passando os dias. Contando ainda com a colaboração de eminentes figuras da sua aristocracia operária, das mídias e demais instrumentos culturais, literários e artísticos, a burguesia, ora desconhece e elimina todo e qualquer incentivo a cultura e às artes de uma maneira geral, ou simplesmente, manipula de forma mais descarada e eleitoreira possível, todos os aparelhos proliferadores de quaisquer tipos de humanismo social.

É nesse sentido, que a classe dominante local, de posse do poder político, através dos seus representantes institucionalizados pela mistificadora dita e propagada "democracia", apostam todas as suas fichas na ignorância e na falta de senso crítico por parte da população trabalhadora e dos seus filhos. Aparelhos culturais como, por exemplo, o Teatro Carlos Jehovah e o Cine Madrigal, são devidamente deixados a guarda dos ratos e das baratas, em detrimento de uma política pseudo cultural, baseada em mega eventos catalisadores do imaginário populares de massa, para o desenvolvimento entorpecente há mais das consciências embrutecidas do nosso povo. Nem mesmo às políticas compensatórias como a lei Rouanet e a lei Paulo Gustavo, é sequer levada em consideração, no que se refere à articulação de projetos de incentivo à produção artística local. O que prolifera, enquanto proposta "cultural" e "artística" é a velha e gasta política de "espetáculos circenses" inaugurada na história humana da formação social escravista da Roma Antiga. Essa é, assim, a dura realidade, que afinal, soube compensar muito bem os senhores e senhoras do entretenimento fácil e de gastos monstruosas para uma propensa política de populismo, sem muitas vezes levar em consideração o trabalho de artistas e de militantes da cultura local, em detrimento de milionários contratos de personalidades, que de muito tempo, quer pela fama, como pelo talento questionável, já se encontram como um bando de vendilhões do capital e da cultura decadente.

Mas não apenas aí se localiza os gargalos em que está inserido um projeto cultural emergente e libertário, em toda a sua dimensão humana. Vozes começam a se levantar contra as nossas queridas "irmãs siamesas": a Casa da Cultura e a Academia Conquistense de Letras. Por ignorância, má fé ou oportunismo político mesmo, querem neste momento, sem quaisquer discussões preliminares, capazes de apontar direitos e deveres legais em questão, tomar à força as salas e/ou espaços pertencentes a Casa da Cultura e a Academia Conquistense de Letras. Sobre isso,  este verdadeiro abuso de cunho autoritário, que não deixa nada a desejar às práticas corriqueiras das perseguições políticas de outrora, acabam por selar um pacto com aqueles que dizem combater. A prática aqui demonstra, de maneira explícita, uma falta de compostura, de decência e desrespeito para com aqueles, que de uma maneira amistosa e solidária, para com os promotores de arte que adentraram às dependências desses referidos espaços. Com uma punhalada pelas costas, vai se tentando exaurir as forças destes bastiões da cultura das artes e das letras. Mas com todas as nossas forças, podemos afirmar, NÃO PASSARAM POR CIMA DA MEMÓRIA E DA HISTÓRIA.


Carlos Maia


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