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A produção artístico-cultural conquistense “fora do eixo”
Foto: Ítalo Silva |
"(...) na canção “Boi de ciranda”, de Geslaney Brito e Iara Assessú, se desconstrói essa pedagogia do medo e a racialização do "boi da cara preta" ao resinificar o boi como sendo um animal alegre e de diversas cores festivas que se assemelha as celebrações populares do “Bumba Meu Boi”."
*por Herberson Sonkha
Já faz algum tempo que tive uma conversa casual interessante com um modesto intelectual, dedicado educador de arte e um notável musicista conquistense Geslaney Brito sobre os rumos da política cultural do país com base no conceito de cultura de massa e massificação. Relembramos de algumas relevantes contribuições dos principais expoentes teóricos da primeira geração da Escola de Frankfurt, a exemplo dos filósofos e sociólogos Theodor Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse, Erich Fromm, Otto Kirchheimer, Friedrich Pollock e Leo Löwenthal.
Uma conversa que ocorreu no interregno do golpe de 2016, marcado pela ascensão golpista de frações da extrema-direita ao governo municipal, cujo prefeito se tornara uma espécie de führer baiano e seu governo um comitê fascista de apoio a ascensão não menos golpista ao governo federal pelo movimento pró-Bolsonaro. Nesse meio termo, a realização do Festival de Inferno e de algumas atividades do “Circuito Fora do Eixo” em nossa cidade. Foi exatamente a partir daquele momento que passei a observar esse movimento emergente com alguma expectativa, pois não passava de observação vagas de quem desconhecia (ainda considero desconhecer) a origem e a produção sociocultural do “Circuito Fora do Eixo”.
No que pese o acordo com os frankfurtianos, no sentido de que a cultura popular é uma expressão autêntica de fazimento de arte e cultura vinculadas às culturas tradicionais dos povos (africanos e originários), considerando nossa produção artístico cultural de caráter regional faço apenas uma ressalva à Escola de Frankfurt em relação ao “menor refinamento técnico e intelectual” que desde a década 80 já não fazia nenhum sentido para Vitória da Conquista e norte de Minas Gerais. E o faço em decorrência de se afirmar que essa produção é mais intuitiva como se a intuição fosse um “espírito” despojado da capacidade cognitiva de ler o mundo para além da aparência e absolutamente alheia ao discernimento.
Conheço relativamente bem a produção artístico-cultural de Vitória da Conquista, localizada na região sudoeste e norte de Minas Gerais, para considerá-la de “menor refinamento técnico e intelectual”. Basta analisar a produção regional, citando como exemplo o álbum “De tambores e sementes” de Geslaney Brito e Iara Assessú ou as obras regionalistas dos artistas plásticos Silvio Jesse e o itapetinguense radicado em Vitória da Conquista Romeu Ferreira.
Sobre o “Circuito Fora do Eixo”, sabe-se que é uma rede brasileira de coletivos culturais fora do eixo industrial Rio-São Paulo que emerge com muita força social em meados da primeira década do século XXI, precisamente em 2005. Meteoricamente, ascende a cena cultural brasileira em 2012 com fortes críticas aos padrões culturais industrializados brasileiros ou estrangeiros com mais duas centenas de espaços culturais distribuídos em todo o país. O saldo positivo é de 2.000 agentes culturais com parcerias indiretas com 2.800 pessoas espalhadas pelos 27 estados brasileiros e 15 países latino-americanos.
No bojo desse movimento, surgem comunidades com modus vivendi e vivências alternativas de organização social, formando agentes que realizam intervenções na realidade social por meio de oferta de produção de cultura, rodas de conversas com debates abertos que vem contribuindo para alterações efetivas que constroem novas políticas públicas que vão da cobrança do acesso à educação de qualidade, pública, laica, gratuita, inclusiva e socialmente referenciada à democratização da mídia.
É inevitável que se discuta a indústria e a circulação dessa produção cultural sem perder de vista a crítica frankfurtiana ao padrão de valor embutido no conceito de cultura musical denominado de “ecletismo” musical na sociedade contemporânea que menoscaba qualquer estrutura clássica ou popular na cultura para alavancar os indicadores de consumo apontado pelo mercado musical industrial. Mas, também altera a forma física tradicional do produto da indústria do disco, modificado radicalmente para adequar as plataformas digitais impulsionadas pela internet.
O disco tradicional se manteve por mais de um século desde a invenção do primeiro disco musical por Emil Berliner em 1888 ao criar o gramofone, uma experiência inovadora com um disco de zinco coberto por uma fina camada de cera denominado de 78 rotações (78 rpm, ou de disco de goma-laca). A substituição do mesmo ocorreria meio século depois com o aparecimento do novo disco de vinil em 21 de junho de 1948, mantendo as características físicas e alterando só o tipo de material utilizado.
A era do LP, do inglês Long Playing Record, idealizado pelo engenheiro Peter Carl Goldmark, então empregado da Columbia Records responsável pela aposentadoria dos glamorosos discos de 78 rpm, caracteriza a geração dos premiados álbuns, coletâneas memoráveis da indústria fonográfica que movimentou bilhões de dólares com a venda de discos de vinil (Long Play). Enquanto circulava entre as franjas da sociedade mais empobrecidas a fita cassete e o cartucho ou estéreo 8.
Veio a geração da tecnologia óptica com o laserdisc (LD) comercializado como MCA DiscoVision nos Estados Unidos a partir de 1978, seguido do disco óptico digital de multimídia o "Digital Video Disc" (DVD) em 1995. 2008, a era DVD aposentou totalmente o padrão Video Home System (VHS) destinado aos consumidores de gravações analógica em fitas de videotape pela Japan Victor Company (JVC), rapidamente sai de circulação por causa da obsolescência do mercado de mídia física (DVDs e Blu-rays).
O mundo no final dos anos 90 começou a se desfazer de suas estruturas mercadológicas básicas, transformando o planeta cada vez mais em uma única aldeia mundial com a globalização, toda interconectada pela internet. Esse é o mundo desigual erguido pelo capitalismo, totalmente fluido. Isso tornou possível viralizar os serviços de streaming e download digital que fizeram despencar toda a ações de capitais de empresas capitalistas que comercializavam DVDs e Blu-rays controlado pelo imperialismo dos EUA e no Reino Unido.
Como diria Karl Marx e Frederick Engels no Manifesto do Partido Comunista em 1848, "tudo que é sólido se desmancha no ar" e o capitalismo subordinou todas as relações socioculturais a essas novas formas de produção e de mercado, cumprindo essa predição ao substituir as formas físicas sólidas de armazenamento de áudios e vídeos em um gigantesco banco de dados virtuais, trafegando em tempo real de canto a canto do planeta. Esse é o serviço de streaming que transmite dados de áudio e vídeo pelo protocolo de dados em uma rede IP denominado de “Hypertext Transfer Protocol” - HTTP.
No final do século XX, a indústria musical clássica colapsara e uma reengenharia liberal alterou as empresas capitalistas e seus produtos, levando-os a sublimação dessas formas físicas, convertendo as suas mercadorias físicas em produtos digitais. Uma nova onda de consumo vem impulsionando a produção e a venda desses produtos com base na liquidez cultural, no qual se imputa um novo modelo de controle social mundial que omite singularidades culturais de caráter local/regional e universaliza aspectos imperialistas como sendo cultural local e regional.
Contudo, esse molde não acolhe valores socioculturais históricos de caráter popular e dimensão geopolítica latino-americana com recortes de classe, raça e gênero. Essa música universal, causa estranhamento a essas populações porque não lhes representam e, por isso, o modelo de controle social serve para anular o estranhamento e reprimir a resistência local, impondo a maioria dessas populações a aceitação via conformação.
Muitas pessoas buscam de qualquer jeito se encaixar nesse padrão sociocultural universal com a intenção de ser aceito, mesmo que essa produção artístico-cultural não diga absolutamente nada sobre a história do seu grupo social, sua trajetória de vida, sobre os preconceitos que atinge em cheio a sua condição de classe social, sua ancestralidade, sua religiosidade e sua orientação sexual, especialmente as suas expectativas afetivas e suas realizações sociais.
O que não significa que parcelas conscientes dessas populações aceitaram tranquilamente, sem refutar. Entre essas reações de resistência, cito movimento regional articulado por artistas que defendem essa produção local mesmo sendo uma produção underground. Essa produção foge dos padrões preestabelecidos considerados “normais” e aceitos pela sociedade.
Essa é a produção sociocultural que me interessa nessa discussão sobre música “fora do eixo”. Outro dia estava ouvindo minha playlist de Geslaney Brito e Iara Assessú pela plataforma de streaming musical Spotify e fiquei encasquetado com a beleza e a força da canção “Boi de Ciranda”. Passei a refletir criticamente sobre a relevância do papel da música regional na desconstrução de surpreendentes composições de cantigas populares politicamente incorretas da infância, a exemplo de “Atirei o pau no gato”, “Marcha soldado cabeça de papel”, “Samba Lelê tá doente”, “Pai Francisco entrou na roda”, “Cuca vai pegar” e, especialmente, a cantiga “Boi da Cara Preta”.
Nascido num bairro pobre de Vitória da Conquista, vivi cercado de cantigas, folguedos e de “algemas” de “bicho papão”, ainda cuido de alguns desses gatilhos que trago de criança. Engatilhado, os traumas imediatamente me arremessaram à cantiga popular “Boi da cara preta” porque era uma das que aprendi a cantar na infância. A canção “Boi de Ciranda” me trouxe alegria e não deixei de analisar que esse trauma se tratava de uma tentativa conflitante de estimular o aprendizado de encorajamento da criança, usando de hostilidade com a pretensão de acabar com o medo de careta. Essa é a pedagogia do medo, baseado no método violento de intimidação de criança como mecanismo de ensino-aprendizagem que impõe a vontade de alguém por meio da aversão.
Não é tão somente uma tentativa errônea de transferir o medo da criança de careta para o “boi de cara preta”, mas de racialização ao transformar a cor preta do boi, associando a cor preta a algo terrivelmente ruim, no tipo específico de animal que se deve temer. Observe que na canção “Boi de ciranda”, de Geslaney Brito e Iara Assessú, se desconstrói essa pedagogia do medo e a racialização do "boi da cara preta" ao ressignificar se desconstrói essa pedagogia do medo e a racialização ao ressignificar o boi como sendo um animal alegre e de diversas cores festivas que se assemelha às celebrações populares do “Bumba Meu Boi”.
“Boi de ciranda”, de Geslaney Brito e Iara Assessú, se desconstrói essa pedagogia do medo e a racialização do "boi da cara preta" ao ressignificar
Segundo a jornalista Lorraine Vilela¹, em artigo publicado no site UOL (denominado de “Brasil Escola”) é um conto popular surgido na região Nordeste no século XVIII, no ciclo do gado que era de suma importância na economia local. Inspirado no conto “Auto do Boi” tornou-se uma tradição popular que se mantém por várias gerações.
O enredo relata o acontecimento de um casal de africano escravizados que vivia num casebre próximo a uma fazenda no sertão nordestino: “Mãe Catirina e Pai Francisco é um casal de escravizados que vive em uma fazenda no sertão. Grávida, Catirina sente o desejo de comer a língua do boi mais bonito do dono da fazenda. Para satisfazer o desejo de sua mulher, Pai Francisco rouba o boi preferido do dono da fazenda, mata o animal e retira a língua para que sua esposa possa comê-la”.
O vaqueiro toma conhecimento do roubo e da morte do boi e leva ao conhecimento do seu patrão que fica enfurecido e promete vingança e sai em busca do casal. Busca-se ajuda de orixás do panteão africano que ressuscita o boi e devolve ao dono da fazenda que decide dar uma grande festa.
Geslaney Brito e Iara Assessú transformam o boi em um animal alegre e não violento com várias cores, brinca de ciranda com a criança e ensina como girar na dança. Na estrofe seguinte, o boi dá lugar ao Sol que acaricia todo tipo de flor que transforma a caatinga no adorno de fita para mostrar quem não é daqui como se traceja a cor do sol. Depois a mão que toca o tambor, conecta o zelador e os filhos ao sagrado que dançam no ritmo da pulsação, tambor comunicador do terreiro com os orixás, caboclos e preto velhos.
Essas leituras subjetivas não são possíveis sem uma boa educação escolástica porque a arte é uma expressão cultural que educa. A pessoa que se entende como artística, no sentido mais estrito da palavra, possui um vasto conhecimento intuitivo e a imaginação fecunda que determina a qualidade da produção artística com base não apenas em sua sensibilidade.
Existe um intelecto por detrás dessa pessoa forjado com leituras, isso inclui também as várias dimensões do conhecimento racional e objetivo que torna a intuição e a subjetividade dessa pessoa artista muito mais robusta e enriquecida. Portanto, o artista é uma pessoa que está no mundo e sente os fenômenos, inclusive aquele que ainda não se mostrou, com tamanha intensidade e violência e decodifica o que está à sua volta com muito mais rapidez que algumas racionalidades.
Como isso aparece na composição poética e a força como tocará as pessoas vai depender da interação dessas pessoas no processo de formação cognitiva. Tanto para a pessoa que escreve/canta, quanto para a pessoa que ler/escuta. Esse processo educativo deve ser oferecido coletivamente pela educação formal escolástica tanto as pessoas como os artistas, sobretudo os artistas que captam determinados padrões sociais com rapidez e antecedência.
Essa poética de Geslaney brito e Iara Assessú deve e pode ser apresentada e discutida amplamente na rede municipal de educação por duas razões: primeiro porque são trabalhadores da arte e segundo porque sua produção artística contribui para desconstrução de alienações ou violências verbais presentes no senso-comum. Assim como qualquer trabalhador vivente de sua profissão (ou pelo menos deveria), o artista não é diferente e não vive apenas de luz porque não realiza fotossíntese.
Por isso, a sua produção artística precisa garantir o seu bem-estar e a sua prole. Enfim, qualquer vivente neste mundo precisa de alimento, beber, vestir, moradia, educação, saúde, transporte, livros, teatro, cinema, museu e o lazer. Afinal, como disse Arnaldo Antunes da Banda oitentista Titãs, "A gente não quer só comida. A gente quer saída para qualquer parte...".
Uma cidade sem políticas públicas efetivas e emancipacionistas criam o abissal da ignorância humana e, como consequência, inexiste política pública de cultura que promova o resgate, a proteção e o fomento cultural. O que existe mesmo é a cultura de massa e movimento de massificação de cultura comercial sob a égide do império da mediocridade governado por outro tipo de “artista” de espantalho e fantoche.
É a própria imagem do arquétipo do artista pedinte com matulão com características de um sujeito cognitivamente malversado, que amarra a calça com imbira, segurando com a mão direita para cair e decapitou a mão esquerda com a lata de doce de banana, prostrado na porta de uma prefeitura esperando pela benevolência de um governo do escárnio ou da figura da prefeita que ao passar joga umas moedas como se fosse um conto de réis para aplacar o moral abatido e em estado periclitante. Isso não condiz com o papel vanguardista do artista.
Geslaney Brito e Iara Assessú estão em quase todas as plataformas de streaming musical mais populares do país. Óbvio que nem sempre se utiliza qualquer tipo de filtro com a finalidade de compreender a trajetória do artista porque ainda não tem essa opção nas plataformas. Por isso é questionável o critério adotado por esses canais tecnológicos musicais para propagar a música sem jogar todas as pessoas do mundo musical na mesma vala comum que muda a identidade cultural individual e coletiva de todas as pessoas que compõem, arranjam, colocam melodia e cantam numa imensa geleia geral.
Tive o cuidado de verificar não intencionalmente o ranking desses artistas baseando em quantidades de acessos ou like feitos nesses aplicativos, mas observei que a Spotify, Apple Music, Amazon Music, YouTube Music e Deezer são as principais plataformas digitais de streaming musical mais acessadas em todo o planeta com 7,8 bilhões de pessoas. Apesar de ser um mercado digital relativamente novo no Brasil, é indispensável observar que todas elas são empresas de capital internacional com ampla difusão musical em escala global.
Tudo isso a um preço, óbvio para o capitalismo, pois, essas empresas cobram para hospedar em seus aplicativos toda (ou parcial) a obra musical e vende o acesso ao App para acessar toda essa produção que é oferecida 24 horas diárias por todos os dias para a superpopulação da comunidade global.
Estou integrante digital do grupo family no Spotify que tem quase tudo que ouço, sobretudo naquelas canções que me proporcionam pertencimento regional com o que é disponibilizado na playlist de músicos conquistenses de amplitude nacional e internacional. Especialmente a antologia musical das duas pessoas de Vitória da Conquista compilada na obra memorável do musicista Geslaney Brito e da musicista Iara Assessú. Mas, pode-se encontrá-los também nas outras plataformas digitais da Apple Music, YouTube Music e Deezer, exceto a Amazon Music.
No que pese a importância da amplitude dessas difusões musicais que ajudam a pagar as contas desses artistas ao propagar a produção dessas genialidades artístico-culturais, não se pode negar aquilo que o sociólogo polonês Zygmunt Bauman vem dizendo sobre a fluidez da modernidade líquida.
Bauman é categórico ao fazer a crítica a “geleia geral” da qual compartilho, como sendo particularidade inevitável de liquidez e a volatilidade como característica predominante que desorganiza todas as dimensões da vida social, sobretudo o amor, a cultura, o trabalho e outras esfera da vida social não menos importantes que referencia a gente como sujeito daquela localidade.
Como disse no início do texto, recorro sempre a rica produção musical organizada numa playlist desse dueto conquistense, mas diz muito pouco ou quase nada sobre a vida desses artistas, nomeadamente do compositor, violonista e arte-educador conquistense graduado em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), especialista em Direitos Humanos e Contemporaneidade pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) com pós-graduação em Educação Musical pela Faculdade Venda Nova do Imigrante (FAVENI) e Ensino de Artes pela mesma faculdade.
Recentemente recebi em meu WhatsApp (um privilégio que muito me honra) uma mensagem do poeta Geslaney Brito com um link de sua entrevista concedido ao site “Ritmo Melodia”, uma revista eletrônica que se propõe promover bons musicistas mundialmente. Li a entrevista e a considero muito forte de modo que a torna interessante, pois a entrevista não fala apenas sobre repertório musical, canções autorais e parcerias, mas da panorâmica artístico-cultural colorida de construções poéticas sólidas e musicalidades atravessadas de imagens coloridas, repletas de significado regional e do país.
Não se espera outra coisa de um intelecto de artista genial que debruça sobre as categorias geográficas senão colher algumas pétalas coloridas no florejar da poesia, calcadas em elementos conceituais gerais que comparecem para demonstrar as diferentes relações que podemos ser estabelecidas entre ideias ou fatos sociais que constroem a poética do espaço-tempo desse poeta de seu povo conquistense, baiano, brasileiro.
As canções de Geslaney Brito e Iara Assessú compõem a perspectiva crítica do espaço-tempo geográfico que traduz a relação entre o humano e a natureza com abordagens históricas das andanças dessas pessoas sobre as paisagens, território, região e o seu lugar. Isso reflete essas andanças por festivais cantando a boa música que embala o Brasil, impelido pela genialidade do instrumentista que tece o mais perfeito arranjo para a poética que transforma seu dueto no canto considerado por críticos a melhor música não apenas no Nordeste, mas também para o sudestino.
Um bom artista, não menos importante que o geógrafo, jamais negligenciaria o berço de nascimento, habitat de sua ancestralidade africana e de povos originários que bebe da fonte de uma boa ciranda e do folguedo, pois a tradição ancestral aguça a percepção desses artistas. Aliás, não amealham as percepções de culturas afrodescendentes e de povos originários nas relações musicais (urbana e camponesa) porque heranças pulsam nas veias poéticas desses conquistenses.
Esse período durante o qual algo se elabora, antes de assumir existência musical efetiva, tem como fonte movimento musicais estruturantes da cultura (Tropicália, Clube da Esquina, Bossa Nova), a escuta afinada recebe influência também da produção alternativa de caráter regionalista, uma espécie de underground. Como dizia o filósofo grego Aristóteles, “Nós somos aquilo que fazemos repetidamente. Por isso, a excelência não é um ato, mas sim um habito”, Geslaney Brito vocaliza saberes científicos e populares e aperfeiçoa movimentos e o hábito da pesquisa não o tornou apenas um educador musical, mas o levou a perfeição musical.
Sem bairrismo musical acerca do regionalismo, o artista conhece a música brasileira e latino-americana que brota do berço ancestral de matriz africana e de povos originários. Por isso, sempre esteve atento às múltiplas produções musicais intrínsecas de cada regionalismo desse país, além da vivência com a produção do Sudoeste da Bahia e do Norte de Minas Gerais.
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¹CAMPOS, Lorraine Vilela. "Bumba meu boi"; Brasil Escola
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