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Dialogando com Edwaldo Alves sobre “deixar tudo como está”?
*por Herberson Sonkha
Em artigo de opinião publicado no Blog de Paulo Nunes recentemente (03), o ex-secretário municipal designado para várias pastas ao longo de duas décadas do governo petista (1997-2017), militante fundador do Partido dos Trabalhadores (PT), o sociólogo Edwaldo Alves, faz observações pontuais consideráveis, não menos questionáveis, sobre as eleições de 2024.
Sobre Edwaldo
Alves pode-se dizer que é um histórico, inegavelmente um desses importantes
intelectuais paulistas que se radicou em Vitória da Conquista no final do
século passado e com larga militância no país organizando o Partido dos
Trabalhadores (PT) nos anos 1980. Experienciou os primeiros passos das
primeiras prefeituras do partido, a exemplo do Governo Participativo de Santos
(SP) em 1989 da prefeita Telma Santos. Não se iludam, pois Edwaldo Alves vem
respeitosamente do "Partidão", foi formado pela “escola clássica” de
lutas memoráveis da esquerda nesse país, forjado nos duros tempos de
resistência à ditadura militar no Brasil (1964-1985).
Quando a
direção do PCB se viu forçada a exilar-se por causa do endurecimento do regime
autoritário pelo do AI-5 e as perseguições de generais de linha dura no final
da década de 60, Edwaldo Alves se exilou na União Soviética. De volta ao Brasil
para atuar no processo de redemocratização do país participou da fundação do
Partido dos Trabalhadores (PT) no final da década de 1970. A convite do
recém-eleito prefeito de Vitória da Conquista, o médico Guilherme Menezes
eleito em 1996, Edwaldo Alves coordena a formulação, organização e execução do
Orçamento Participativo (OP) implantado em Vitória da Conquista.
A seriedade, o
conhecimento e domínio empírico das relações sociais na dinâmica brasileira
(isso inclui Vitória da Conquista) que orienta e qualifica a escrita de Edwaldo
Alves, ao mesmo tempo em que o localiza no campo de esquerda, pois ainda
preserva a cultura da escrita com base na análise de conjuntura: quadro
Internacional, nacional, estadual e municipal.
Provavelmente
não tenha sido essa a finalidade do petista nesse exato momento de produzir uma
minuciosa análise de conjuntura (no sentido lato da expressão), embora Edwaldo
Alves possua todas as condições intelectuais e o conhecimento empírico
necessário para tal. Contudo, insisto, pois, todas essas observações
pertinentes feitas por Edwaldo Alves vão muito além de apenas explicar e
correlacionar os fatos, diz mais sobre a exiguidade de romper o óbice da
alienação e bestialidades bolsonaristas para instar a consciência crítica
dos(as) munícipes conquistenses.
Por razões
óbvias, não existe outro caminho senão discutir criticamente os dois campos
colidentes para abordar ideologicamente os interesses sociais, econômicos,
culturais e políticos em disputa no processo eleitoral que se avizinha. Essa "escolha" é que atribui
singularidade partidária (esquerda radical, centro-esquerda, direita ou
extrema-direita) ao Programa de Governo e, consequentemente, ao papel político
(conservador ou progressista) a ser desempenhado pelo governo que pode promover
avanços ou causação do desmontes e retrocessos nas políticas públicas e
diminuem o "fluxo circular da renda" do município.
A meu ver,
Edwaldo Alves pertence ao campo de esquerda, mesmo com toda a elasticidade de
nosso tempo (por isso inclui-se os liberais progressistas) e essa escolha
histórica fez desse observador atento aos movimentos históricos dialéticos da
sociedade de nosso tempo um crítico incorrigível, cuja escrita possui
considerável e intrigante discernimento.
Esse é o
convite de sua escrita para aprofundar reflexivamente o debate sobre os efeitos
contraproducentes no município, causados pela depressão socioeconômica
vivenciada na última gestão pela política macroeconômica ultraliberal adotada
pelo governo federal de Jair Messias Bolsonaro. Em Vitória da Conquista é
intensificada pela desastrosa política do governo municipal da outsider Sheila
Melo. Na contramão da escrita de Edwaldo Alves, segue a empresária e
politicamente partidária que se reivindica representante do capital (rentista,
industrial e agronegócio) na cidade de viés bolsonarista.
Essas escolhas
no âmbito federal e municipal vêm demonstrando rebaixamento em todos os
indicadores multidimensionais que impactam negativamente na vida das pessoas e
do município. Aliás, Edwaldo Alves não deixa de apresentar um “preambulo” que
enriquece qualquer debate sobre Programa de Governo. Pois, essa modalidade de
escrita ajuda muito na formulação da tática eleitoral da maioria dos partidos
tradicionalmente de esquerda.
No geral,
Edwaldo Alves destoa pontualmente da linha hegemônica central (segundo conceito
teórico de hegemonia do marxista italiano Antônio Gramsci) da direção do
Partido dos Trabalhadores (PT). Essa talvez seja a importância da contribuição
textual de Edwaldo Alves para o debate crítico (fora da caixa de ressonância
programática) de quem pretende disputar os espaços de poder sabendo qual é a
correlação de forças antagônicas constituídas que vão operar a Política
Partidária no processo eleitoral de 2024. Essa esfinge me trouxe para esse diálogo
crítico sobre os limites e os desafios, tanto para esquerda radical, quanto a
esquerda social liberal no município em 2024.
Assim sendo,
portanto, adotarei a mesma linha de observações de Edwaldo Alves, não
produzindo uma análise de conjuntura propriamente dita. Apenas algumas poucas
ponderações (críticas e contribuições) acerca dos pontos que considero centrais
no artigo de opinião do camarada Edwaldo Alves. Dessa maneira, nos interessa
analisar qual a direção da “visão do momento”, de onde se observa (da bolha ou
das ruas) o cenário internacional/nacional e quais são as ponderações feitas
pelo mesmo.
A primeira é a
de que ele olha de encontro ao “momento” pretérito, marcado pelos últimos
acontecimentos (ataques nazifascistas a Praça dos Três Poderes no 08 de janeiro
de 2023), imediatamente depois do encerramento da gestão federal que finda com
a posse da versão III do governo Lula sob fortes ameaças terroristas. Embora
tenha sido um curto período de tempo em que o Brasil fora governado por forças
de extrema-direita de verve fascista, a sensação era de termos saído de décadas
de retrocessos, uma espécie de déjà-vu do final dos anos de chumbo da ditadura
militar no país.
A segunda é a
de que o lócus de onde ele observa não é o da bolha. Pelo contrário, é do chão
das ruas mesmo porque se tornara lócus de rearticulação e resistência do campo
de forças democráticas de esquerda e liberal progressista contra a derrocada
literal da 8ª República, instituir uma versão “tupiniquim” de Terceiro Reich. Esse
entrincheiramento de resistência, capitaneado pelo capital político e as
experiências acumuladas ao longo de duas décadas de gestão do PT no município,
vai posicionar as forças ligadas ao governo do Estado contra todas as formas
golpistas da extrema-direita e todo o protagonismo fascista que dele decorre
desde 2016.
A terceira é a
de que ele apresenta um conjunto de observações pretéritas voltadas para o
futuro próximo, mas que estão inextrincavelmente relacionadas aos últimos
acontecimentos no âmbito mundial que podem (dentro da correlação de forças em
disputa) motivar a causação do enfraquecimento gradativo do hegemonismo
internacional dos EUA (não necessariamente do capitalismo), comprometendo o
protagonismo imperialista beligerante estadunidense.
Esses três
aspectos observados estão inextrincavelmente relacionados entre si, de modo
que, serão abordados conjuntamente, não como coisas estaques. Entretanto, parto
do cenário mundial como sugere Edwaldo Alves para ampliar o debate à esquerda.
Antecipo-me para incluir os recentes espasmos financeiros na economia doméstica
dos EUA, se tomado no conjunto de outras crises cíclicas sinalizam uma
tendência de colapso no médio-longo prazo. Sobre isso, a entrevista do
ex-analista de investimento no Unibanco e atual Ministro da Fazenda, o advogado
Fernando Haddad (PT), disse recentemente à Agência Brasil que a ação imediata
do banco central norte-americano (FED) para evitar corrida bancária fez o
mercado estadunidense reagi positivamente, de modo que vem garantindo todos os
depósitos realizados nesses bancos que quebraram (Silicon Valley Bank e
o Signature Bank).
Esse
enfraquecimento em curso da liderança dos EUA no comando do capitalismo
imperialista a que se refere Edwaldo Alves decorre da mudança (não é objeto das
observações precisar o grau de intensidade) na correlação de forças
internacionais tradicionais, com base no aprofundamento das contradições e
crises cíclicas na economia doméstica norte-americana. Se confirmado (caminha
pra isso), poderá levar ao movimento de deslocamento de bastão da liderança do
capitalismo em sua fase atual imperialista, esperamos que não seja da mesma
forma como ocorreu com Inglaterra na segunda parte da década 40 do século
XX.
Esse movimento
com algum grau de intensificação (em outro debate poderá ser analisado) pode
ser a principal causa da derrocada dos EUA enquanto país intrinsecamente
imperialista, provocando “as mudanças no plano internacional”, segundo o qual
promoverá alteração geopolítica do lócus donde se exerce a gerência do
movimento de reprodução do capital e seu sociometabolismo capitalista imperialista.
Sobre isso,
cabe um outro imprescindível debate sobre "sistema de sociometabólico do
capital", concebida embrionária e estruturalmente por Karl Marx em "O
capital: Crítica da Economia Política" (1867) e atualizado pelo filósofo
húngaro István Mészáros, em sua obra "Para além do capital: Rumo a uma
teoria da transição" (2002) tradução de Paulo Cezar Castanheira e Sérgio
Lessa pela Boitempo em 2011.
Contudo,
Edwaldo Alves corretamente admite (em minha opinião) que na conjuntura atual,
mesmo com todos os sinais de crise eminente do capitalismo, o leme ainda está
sob égide da “hegemonia” absoluta dos EUA. No entanto, nada impede que império
seja abalado pelo crescimento exponencial da economia chinesa mundializada:
demanda por consumo mundial, pesquisa científica, ampliação da capacidade
instalada do parque industrial, educação, tecnologia e capital da China.
Segundo o site
do Instituto Humanitas Unisinos (IUH)1 “quase 40% do orçamento militar mundial,
os Estados Unidos ultrapassam o que os próximos onze países juntos gastam nessa
rubrica”. Isso se traduz em um “orçamento militar para 2022 foi de 778 bilhões
de dólares, e para 2023 sobe para 813 bilhões”. No entanto, o instituto chama a
atenção para a tendência de queda na participação dos norte-americanos na renda
(de 1975 a 2018), pois 90% da população norte-americana despencou de 67% para
50%, ao mesmo tempo em que apenas 1% dos mais ricos aumentou de 9% para
22%.
Ao que parece é
que a guerra faz a roda da economia doméstica girar nas costas desnudas da
humanidade, sobretudo da América Latina. Pois, só na segunda metade do século
XX os EUA declararam e fizeram a guerra contra a Coreia (1950-1953); Vietnã (1965-1973);
Golfo Pérsico (1990-1991); Afeganistão (2001-2016) e o Iraque (2003-2011) e
mais recentemente se envolveu indiretamente na guerra entre a Rússia e a
Ucrania.
Embora os
números não sejam tão “robustos” do crescimento da economia interna dos EUA
(com crescimento para apenas 1% dos mais ricos), é inegável o encolhimento da
renda dos 90% não ricos. Esse é o modelo de economia de guerra praticado pelos
EUA desde os anos 50 do século XX, ao que parece, é que vem dando sinais de
fadiga. As observações de Edwaldo Alves vão ao encontro, em certa medida, do
estudo publicado em 2013 de um importante observador de nosso tempo, o
historiador marxista Eric Hobsbawm.
Segundo
Hobsbawm, em sua obra intitulada “Globalização, democracia e terrorismo”, a
corrida armamentista do EUA desde a Segunda Guerra Mundial ignorou (e continua)
acordos internacionais de paz (2013, p. 156), não obstante levar à exaustão de
maneira inédita porque não existia precedentes registrados pela historiografia
moderna, bem observado também em outra obra do Hobsbawm chamada “Era dos
Extremos” (1994, p. 233).
Outra questão
apontada positivamente por Edwaldo Alves (a meu ver) é a ameaça da China ao
imperialismo ianque, se preferir norte-americano, em função do poderio bélico.
Sobre isso, vale a pena considerar também as observações feitas por outro
historiador inglês marxista, o Francis Rory Peregrine Anderson, se preferir
Perry Anderson, numa obra intitulada “Força e Consentimento: aspectos da
hegemonia americana”.
As observações
de Perry Anderson dizem respeito as mudanças de plano estratégico
norte-americano no entre guerras e ao longo da Segunda Guerra Mundial, quando
Washington se limitava apenas a conter o comunismo. No entanto, os EUA mudam de
finalidade passando a planejar a remoção da União Soviética do globo terrestre,
iniciando um novo ciclo chamado guerra fria.
Pierre Anderson
vai observar que o Estado Maior dos EUA planejou lançar bomba atômica sobre as
20 principais cidades da União Soviética, dois meses e meio depois do fim da
Segunda Guerra Mundial. Obviamente, que os EUA tinham superioridade bélica, mas
não tinha aviões que comportassem o translado das 12 bombas atômicas e nem militares
dotados de capacidade para montá-las em tempo hábil (dezembro de 1947),
saliente-se que a União Soviética não tinha armas nucleares (2003, p. 8).
Esse modelo
norte-americano beligerante foi levado a exaustão porque é o principal vetor de
desenvolvimento econômico dos EUA, em torno do qual se alavanca recurso público
e privado para pesquisa científica de ponta para alimentar o avanço da
indústria bélica pesada, da construção civil, do transporte, de vestuário, de
acessório, de alimentação (fastfood), de produção da cultura imperialista
cinematográfica e outros bens e serviços de consumo de massa.
A fatura chegou
e vem se tornando um problema interno inadministrável que nenhum governo
(Republicano e Democrata) de economia liberal ou social consegue resolver. Fato
é que a economia norte-americana não é apenas deficitária, mas uma bomba
relógio celerada pela extrema-direita do Donald Trump pronta a explodir a
qualquer momento todos os mercados financeiros capitalistas mundiais.
Como diria RPM
(Revolução Por Minuto) em 1985, “Nos chegam gritos da Ilha do Norte”,
certamente esses gritos estrepitantes vêm dos 90% da população com poder
aquisitivo em queda livre por causa do encolhimento da renda. Aliás, são sinais
de sucessivas crises, sobretudo a crise financeira de 2008 em que o governo
teve que ameaçar tirar dinheiro do orçamento militar (sobretudo destinado ao
Pentágono exercer a beligerante “arte da guerra”), para salvar bancos falidos,
a famigerada bolha imobiliária que abalou o mercado financeiro mundial.
Sobretudo os EUA e a Europa, abalando as estruturas do capitalismo.
Um movimento
extremamente racionalizado na economia estadunidense levou ao colapso do
sistema financeiro, desencadeando alta de preço (inflação) bem acima do
esperado pelo mercado, supervalorização não lastreada na capacidade financeira
das pessoas norte-americanas de bancar esses aumentos nos custos. Portanto,
despencou a liquidez das hipotecas, quebrando a economia por causa de juros e
da inflação. Enquanto os gritos pipocam nos EUA, “Agora a China bebe
Coca-Cola" no dizer assertivo da banda pop-rock oitentista do vocalista
Paulo Ricardo.
Décadas depois,
as observações irônicas de Paulo Ricardo fazem todo sentido, pois terá sido uma
troca tática (não necessariamente justa) vantajosa, pois beber Coca-Cola num
país de tradição milenar só se explica se houver uma relação comparativa de
custo-benefício, uma razão tática. Isso significa obter permissão para entrar
no “livre mercado” (não é livre?) norte-americano para investir no setor
público de seu principal adversário (na perspectiva sócio-histórica, sim) de
projeto de sociabilidade.
Internacionalmente
falando, a China se estabeleceu taticamente como maior credor dos EUA,
realizando investimentos públicos robustos na economia doméstica
norte-americana da ordem de U$$ 739,6 bilhões2 em títulos do tesouro americano
em janeiro de 2018. Ressalte-se que no olho da crise da bolha imobiliária de
2008, a China possuía algo em torno de U$$ 492,6 bilhões em bônus do Tesouro.
Investimento seguro? Os ares daquela conjuntura economicamente árida que
asfixiava a economia norte-americana sedenta por consumismos se avizinhavam,
pois, como diria Paulinho da Viola “dinheiro na mão é vendaval”.
Contudo,
dificilmente afetariam os chineses precavidos, posto que estavam vacinados
contra o “Pecado Capital” denunciado por Paulinho da Viola em 1975. Pois, se
tem alguém na conjuntura internacional que sabe exatamente o real significado
do papel-moeda são os chineses e basta observar como o Estado trata sua
política fiscal, bancos, bens de capital e bens de consumo.
A economia
mundial observa como a China vem se mostrando superavitária com taxa de
crescimento 3% ao ano em 2022, com taxas de juros básicas de 3,65% ao ano e a
principal credora dos EUA (menor taxa de crescimento de 2,1% em 2022) com a
economia mundial na percepção da Chine o rolê é outro. No Brasil não poderia
ser diferente.
Edwaldo Alves
observa isso com olhar cuidadoso e aponta a possibilidade de retorno do
protagonismo mundial do governo brasileiro (sem definir o nível) e cogita um
papel diferenciado para o Brasil. Sobre isso, pode-se dizer que a derrota das
forças de extrema-direita nos EUA primeiro e depois no Brasil não significa a
retomada imediata do papel exercido (em condições iguais) pelos dois países no
cenário mundial.
Especialmente
no Brasil, o legislativo tem força (lê-se votos) para inviabilizar o governo
Lula, a exemplo do Trader presidente do banco Central, o economista
ultraliberal Roberto Campos Neto colocado estrategicamente BACEM para garantir
que o Copom mantenha a Selic em 13,75%, uma taxa básica de juros altíssima,
quando nos EUA o Federal Reserve mantém em torno de 5%. ao ano. Aqui é um bom
exemplo de travamento de governo progressista como aponta Edwaldo Alves quando
diz “Lula que tenta superar o caos deixado pelo governo Bolsonaro”.
A conclusão a
que Edwaldo Alves sugere é a de alerta ao leitor porque as forças
ultraconservadoras estão vivas, articuladas e se movimentam no cenário
brasileiro para manter o fosso que separa a classe trabalhadora e as populações
subalternizadas dos históricos privilégios das elites brasileiras.
Nesse sentido,
esse quadro só poderá se reverter a medida em que houver a “ação consciente dos
movimentos sociais e a unidade política das correntes democráticas e
progressistas podem frear as tentativas de paralisar o governo Lula”. Sobre
isso, os dirigentes de linha hegemônica do PT precisam rever o auto
esvaziamento do próprio partido nos movimentos sociais, a retomada do debate de
luta de classes e a ideologia anti-burguesa e contra hegemônica.
No que pese
concordar com essas observações de Edwaldo Alves, acrescentaria apenas que, a
despeito de a unidade tática emergencial das forças democráticas de esquerda e centro-esquerda
para vencer (ainda não derrotamos) essas forças de ultradireita no comando do
poder central do país, não podemos prescindir da luta contra a histórica
direita brasileira, responsável pelo golpe de 2016 e ampliação das históricas
mazelas existentes (sociais, econômicas, culturais e políticas) do Brasil.
Desse avanço do
governo federal para atender as pautas socioeconômicas inclusivas, depende do
êxito da política macroeconômica contracíclica, com rebatimento positivo na
economia que poderá proporcionar o sucesso de toda as políticas públicas do
Governo da Bahia.
Em relação a
Bahia cabe manter e ampliar as observações feitas por Edwaldo Aves e
acrescentar algumas outras. O governo da Bahia entra para o quinto mandato
estadual do Partido dos Trabalhadores, sem apontar nenhuma mudança na concepção
política da linha de governo dos antecessores - pelo menos até momento em que
estou escrevendo.
As observações
de Edwaldo Alves não são questões menores, são divergentes da linha central do
partido porque existe uma questão do hegemonismo ideopolítico que subordina o
petismo à mesma inércia dos antropólogos liberais do olhar que tudo vê com
descrição fenomênica com rigor e riqueza descritiva, mas não passa disso.
Porque não se pretende intervir para alterar as estruturas da sociedade, apenas
reformar a faixada para tornar aprazível.
Obviamente que
a observação de Edwaldo Alves é mais contundente e aponta possibilidades e
consequências ao abordar as urgências dessa quadra da história, na qual ele diz
que “urge um olhar mais crítico sobre a violência policial, as questões ambientais
e a relação com o funcionalismo público estadual”.
Contudo, a
linha central hegemônica do partido não se propõe ultrapassar os limites do
apenas “olhar”, se capacitando intelectualmente em caracterizar e discursar
sobre o fenômeno. Ainda que alguns não gostem (mesmo sem ter lido) minimamente
alguma dessas matrizes marxistas ou diretamente a tradição marxiana, é oportuno
aprofundar um pouco mais essa questão filosófica que separa a contemplação da
transformação.
Nesse sentido,
ressalto o entendimento do próprio Karl Marx sobre a manutenção sistêmica do
capital e sua ordem civil burguesa em sua obra “Teses Sobre Feuerbach”,
publicado em 1845, ao se contrapor peremptoriamente a tese do olhar
contemplativo e da descrição fenomênica apenas por considerar que não é o
bastante, pois “Até agora os filósofos se preocuparam em interpretar o mundo de
várias formas. O que importa é transformá-lo”.
A saber, a
abordagem das múltiplas violências vistas apenas pelo campo da moral burguesa,
além de não explicar, mistifica a essencialidade do papel do Estado que comanda
a polícia unilateralmente como aparelho ideológico repressor, com níveis de
letalidade praticados pelo braço militar armado agindo à revelia da lei. Essa é
a polícia que age com excessiva violência e letalidade, caracterizado como atos
de inconstitucionalidade enquanto instituição pública subordinada a
Constituição, sob as ordens do Governador.
Não obstante a
caracterização da ação militar como violenta e letal, mesmo com a transferência
de julgamentos de crimes cometidos por militares para o jure popular, é preciso
desmilitarizar urgentemente a polícia, instituir o controle social externo e
disciplinar a tropa dentro dos limites da constitucionalidade. Do contrário, O
Estado jamais erradicará o comportamento ultraconservador de viés fascista que
pratica o extermínio da juventude negra como eugenia social.
O hegemonismo
do PT não parece ter estofo intelectual revolucionário para tanto, muito menos
disposição política ou qualquer compromisso com a pauta do Movimento Negro
Brasileiro (MNB) pela erradicação de homicídios de corpos negros jovens,
feminicídio e homicídios de membros das populações LGBTQIAP+ na Bahia. Não se
trata de coragem (até acho que correntes internas minoritárias mais à esquerda
dentro do PT têm), mas de projeto de partido que defenda efetivamente uma
sociedade alternativa ao capitalismo e que seja capaz de bancar o debate da
desmilitarização da PM e instituir controle social externo dessa força
policial.
Durante as eleições
de 2022 o candidato ao governo da Bahia pelo PT, o professor Jerônimo Rodrigues
se esquivou desse debate sem hesitar, inclusive fazendo o mesmo discurso
fascista do candidato Jair Messias Bolsonaro na Bahia do aumento do efetivo e
do armamento beligerante da PM como saída para os crimes domésticos contra bens
e a vida das pessoas da comunidade.
A despeito das
pautas históricas dos movimentos sindicais e sociais oriundas de movimentos de
esquerda no Estado da Bahia, saliente-se que o campo hegemônico que dirige o PT
passa ao largo de quaisquer debates críticos dessa natureza. Aliás, permite-se
que o pragmatismo político criado pela lógica neoliberal de Estado-Mínimo
eficiente (lê-se austeridade fiscal oriunda da teoria economia conservadora do
equilíbrio dos dispêndios sociais) opere livremente a máquina estatal baiana
que serve apenas para impedir grandes mudanças estruturais.
Dessa forma,
aprofunda-se a política institucional herdada do carlismo com pouca ou quase
nenhuma modificação (embora muito bem envernizada) mantendo o feijão com arroz
básico de sempre para as populações periféricas e camponesas nos 417 municípios
baianos. Esse cenário de cortes (se
preferir, contingenciamento orçamentário) é propício para:
a) à prática neoliberal do aumento escorchante da alíquota de 12% (já
era a maior entre os Estados federados) para 14%;
b) a reforma administrativa neoliberal que afeta financeiramente os
servidores públicos do Estado; que mantem a terceira maior taxa de homicídios
entre pessoas negras jovens, mulheres e LGBTQIAP+ no Estado;
c) frear reforma agrária com estagnação do processo de desapropriação
de áreas improdutivas para fins de reforma agrária, a titulação de terras
quilombolas e a demarcação de áreas históricas como reservas de povos
originários;
d) fazer vistas grossas à polícia para que continue seguindo incólume
no extermínio de jovens negros sob a alegação de tráfico ou troca de tiros sem
qualquer explicação com base em perícia forense que possa elucidar todos esses
homicídios;
e) instrumentalizar o IDEB para escamotear a educação com baixa
qualidade, múltiplas violências no âmbito escolar e a militarização compulsória
de escolas estaduais como “saída” da violência (ressalte-se que são aspectos
aparentes, pois a natureza dessas violências tem causas estruturais históricas,
demandas socioeconômicas reprimidas e não de ordem moral e disciplinar como
sugerem os ultraconservadores do seletivo CPM que engendra a cultura
nazifascista no ambiente escolar.
Contudo, os
indicadores apontam que esses números são pífios e acabam aumentado a
concentração-centralização de riquezas entre as classes dominantes (com alguma
concessão mínima à classe média), enquanto na base da pirâmide alarga-se a fome
e as desigualdades que geram ainda mais lesões no tecido social extenuado pelas
múltiplas violências. O companheiro Edwaldo Alves conhece bem essa realidade,
deve ficar angustiado porque além de compor a primeira gestão do PT no
município de Vitória da Conquista, contribuiu diretamente com a primeira
experiência de governo participativo em 1997 que mudou o aspecto politicamente
atrasado e socioeconomicamente de extrema-pobreza da cidade.
Sabe-se que
duas décadas depois entregou-se outra cidade à extrema-direita com mudanças
estruturais contestáveis - mas não inegáveis. Talvez não seja (certamente não
é) reconhecido pela histórica classe dominante formada pelas elites econômicas
oriundas dos três setores (agronegócio, indústria e comércio) da economia e
seus representantes na política partidária da cidade. É perfeitamente
compreensível para um observador crítico com base na luta de classes.
Antes de
olharmos criticamente para os adversários (alguns são inimigos de classe, raça
e gênero) da população conquistense como bem definiu o companheiro Edwaldo
Alves, certamente, qualquer análise minimamente crítica concorda com essa
afirmação de Alves, convém que se faça uma observação cirúrgica nesses
“aliados”. A que se recomendar a exclusão literal dessa parte politicamente
degenerada dos federalizados, tecnicamente considerada como “aliada” do
PT.
Peço vênia a
histórica militância ideopolítica do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) de
Vitória da Conquista, mas essa contrafação parasitando na franja do partido
integra conscientemente o "grupo” de extrema-direita que governa a cidade
nesse momento. São exatamente àquelas pessoas que defendem que tudo “continue
como está” instalada em todos os partidos da ordem, são os parasitas que fazem
de tudo para manter seus mandatos. Enfim, esse parasitismo vê no mandato a
expectativa de ter algo para barganhar para si próprios.
A cidade
conhece esse tipo de verme chamado de parasitose política, iguais as larvas de
tênia de porco que ao chegar no cérebro comem toda massa cinzenta deixando as
pessoas desmemoriadas e totalmente dependente de migalhas dos gabinetes. Talvez
seja isso que vem impedindo que parte das pessoas se lembre de como era Vitória
da Conquista no final da década de 90, do século XX. A parasitose política é um
comportamento degenerado e mal resolvido (sobretudo de vereadores
pseudoesquerda), sobretudo aqueles que vem minando alianças desde as eleições
de 2016, muito antes da “Federação Esperança”. Para esses parasitas, pouco
interessa a coerência ideológica e a consciência política histórica. Aliás, a
construção coletiva e os ganhos coletivos alcançados coletivamente pela classe
trabalhadora e as populações subalternizadas, com a participação popular
efetiva não dar votos. Muito menos a participação da população em todas as
instancias de decisões que visam transformar para melhor a vida das pessoas e a
cidade.
Embora Edwaldo
Alves não trate especificamente dessa questão, por razões óbvias que são até
certo ponto compreensíveis, o lema da construção da unidade em 2024 não passa
necessariamente pela mesma perspectiva de 2022 em que todos os “partidos
aliados anti-bolsonaristas e que prezam a democracia e o Estado de Direito” estavam
na mesma trincheira. Isso seria o mesmo que criar uma geleia-geral blindar o
mau-caratismo político de vereadores comezinhos e vendidos.
Além de criar
uma condição confortável para manter intocável o comportamento camaleônico
dessa parasitose política amalgamado dentro do campo de forças de esquerda e
progressista contra esse mini feudo bolsonarista incrustrado na prefeitura de
Vitória da Conquista. Seria cômico senão fosse trágico ver todas essas omissões
que retroalimentam todas essas defecções políticas praticadas por mandatos do
legislativo. Embora deva destacar que a federalização funciona muito bem a
nível nacional e estadual, mas localmente isso tem problemas de éthos
como mencionei.
Sobre essa
parte prófuga, pesa a dura crítica ao comportamento imoral (se observado os
termos da federalização) de alguns filiados e de mandatos eletivos do
legislativo (com exceção do vereador Andreson Ribeiro) do PCdoB que compõe,
vota e defende aberta e publicizadamente o atual governo municipal (mesmo sendo
eleitos numa aliança petista). Não obstante, aquela outra pequena parte flertar
com a extrema-direita de olhos nos cargos que podem surgir dessa relação
promiscua.
Feita essa
observação inadiável, tenho acordo com Edwaldo Alves sobre a inabilidade desse atual
governo municipal que, ao invés de colocar máquina municipal à serviço da
mudança da cidade e da melhoria da qualidade de vida da sua população, prefere
se aventurar irresponsavelmente em “usar a máquina administrativa e dela sabem
tirar proveito pessoal e eleitoral”. Sendo a único instrumento ainda disponível
no restrito e derrotado horizonte da política institucional da extrema-direita
na cidade e no país.
Para além desse
suposto “trunfo”, se admitirmos que será (será?) usado imoralmente com o máximo
possível de utilização eficiente da máquina, pesa sobre a prefeita outsider
duas situações contraproducentes: a ausência estofo intelectual para formular
politicamente e a inabilidade excessiva para conduzir seus próprios aliados que
se devoram esganiçadamente por dentro do governo. Agem feito o conto mágico do
lobisomem que traça no dente seres humanos durante a noite e ao longo do dia
agem como seres humanos aparentemente normais. Ou seja, a gestão age como lobo
nos quatro anos de governo sob apenumbra da noite, devorando esganiçadamente as
pessoas periféricas e campesinas, ao raiar do sol democrático que ilumina o
período eleitoral, se transformam em seres humanos bons, dóceis e gentis.
Enfim, durante
os quase oito anos de governo municipal, o império temporão esteve em pé de
guerra, sempre dividido: de um lado o staff incapaz que se estapeava entre si,
e do outro a rudeza do baixo clero que se engalfinhava por mais privilégios
esgarçando a já extenuada população conquistense. Ao largo dessa matilha de
lobos esganiçada, a prefeitura felizmente não parou porque os funcionários de
carreira não permitiram o estrangulamento, fazendo funcionar minimamente dentro
do que lhe eram permitidos para não estrangular a maquinaria pública e tornar a
vida das pessoas infinitamente mais empobrecidas e difíceis.
Ainda sobre a
gestora, recai a nódoa indelével da péssima escolha do ex-prefeito bolsonarista
de apoio ao golpe (2016), eleição de 2018 e a adoção incondicional da política
institucional de extrema-direita bolsonarista de viés negacionista,
anti-ciência, anti-vacina e seu
comportamento perdulário (mau gastador). Mantendo a tradução politicamente
perdulária, a prefeita outsider manteve o programa eleitoral neoliberal, mesmo
com todos os retrocessos sociais explícitos, apoiou a reeleição do nazifascista
corrupto - após derrotado fugiu do país para tramar e incitar de longe a sua
segunda tentativa de golpe de Estado por meio da violenta invasão 8 de janeiro
de 2023.
O PT tem
responsabilidade na reeleição do negacionista Herzem Gusmão, pois foi garantida
com aquele fatídico empréstimo que contou com o voto da banca de “oposição”,
sobretudo com a anuência dos mandatos petistas e a total omissão do PT no
último trimestre de 2019. Apenas um voto contrário do inominável vereador do
PTC de extrema-direita, não por crítica ao comportamento perdulário do prefeito
Herzem Gusmão, mas por pura conivência tática de usar seu voto como trampolim
para alavancar a candidatura a prefeito de Vitória da Conquista com slogan de
“legitimo” representante do fascista na Câmara Municipal.
Contudo, o PT
ainda possui o capital político necessário para derrotar nas urnas sua
principal opositora, a atual prefeita outsider Bolsonarista. Mas, não o
fará sozinho, pois precisará manter alianças eticamente sustentáveis com outras
forças partidárias históricas, ampliando para novas alianças da base do governo
do Estado para compor a chapa. Isso passa também pela definição de uma tática
para impor uma redução significativa ao plantel de candidaturas fascistas ao
legislativo municipal.
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