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Odisseia Humana
*por Carlos Maia
I
Ainda estava escuro
Quando eles resolveram
Descer das árvores
II
Eram poucos descendentes
De primitivos símios
Que haviam na evolução perdido a cauda
III
Não se tratava
De espécie
De macacos comuns
IV
Eram simplesmente
Exemplares singulares
De uma nova extensão
V
De um novo momento
Em que frutos e alimentos vegetais comestíveis
Entraram em escassez
VI
Em que os bandos de colhedores
Não mais se contentaram
Com pouca quantidade
VII
Desbravadores do tempo
Em pequenos grupos
Começaram a comandar longas jornadas
VIII
São os primeiros exploradores
Primeiros a se baterem com feras
Primeiros a provarem carne e desbravarem a Terra
IX
Neste processo os pequenos bandos
Se erguem em cima dos pés
E liberam as mãos para a longa trajetória
X
Trajetória de combate
Trajetória de lutas
Trajetória para um novo ser
XI
Assim se fez
Na escala evolutiva
O homo sapiens
XII
Assim foram
Aqueles quem primeiro
Percorreram as savanas africanas
XIII
Há disputar com feras
Alimentos ricos em proteínas
Desenvolveram hábito de comer caça
XIV
Mas tal qual
“Sete Samurais”
Em milhares de anos prepara-se saltos
XV
Salto no mecanismo cego da história
Do ato teleológico das finalidades
Das progressões dialéticas dos símios ao homo
XVI
Do ato de observar
De pensar
E transformar
XVII
Homens feitos
Descobrem o calor protetor do fogo
Para o aquecimento de infindáveis noites
XVIII
No princípio carregavam a chama
Acolhedora e divinamente adorada
Pelos caminhos da Terra
XIX
Com o passar dos tempos
Vão se descobrir
Novas qualidades às belas labaredas
XX
Experimenta-se toques culinários
A defumação dos alimentos
A conservação carnívora
XXI
O deslocamento agora
Se faz possível
Com o transporte de manjar animal abatido
XXII
Fogo! Fogo eterno
Paixão humana
Que com o tempo começou-se a produzir
XXIII
Começou-se a manipular
Tão bela fonte de energia
Que convidam homens e mulheres ao ato do trabalho
XXIV
Quer seja no fole ou na bigorna
Quer seja no feitio dos utensílios cozidos de barro
Quer seja para se armazenar água ou alimentos
XXV
Lá vai ele em fortes labaredas
Dos braseiros e dos traços do carbono 14
Capazes de dar vida e medir a extensão do tempo
XXVI
Oh! Noites furiosas
Em que as vestes e o embolar dos corpos
Não se fizeram suficientes
XXVII
O frio era demais
E as feras de hábitos noturnos
Estavam próximos a saciar a fome
XXVIII
Só madeira e fogo
Eram capazes de afugentá-las
Só assim se poderia cochilar e dormir em paz
XXIX
Ao embrenhar-se nas profundezas das cavernas
Em abrigos naturais
Manipulou ossos, madeira e pedras
XXX
Agora na idade dos metais
Do bronze e ferro derretidos
Realizou-se outro belíssimo salto
XXXI
No rumo da civilização
Dos atos visionários
Da mente humanística
XXXII
Nos ritos místicos
Na interpretação
Da universalidade cósmica
XXXIII
Das religiosidades terrenas
Das crenças do absoluto
Das ideias da metafísica
XXXIV
Em verbetes enciclopédicos
Deslizam signos da razão
De uma dialética materialista
XXXV
De um pensar lógico
Que avança em ritmo alucinante
Redimindo palavras do sujeito manso
XXXVI
Eis que surge a linguagem
Da necessidade do desenvolvimento ereto
Despontando a nova criação da natureza
XXXVII
Gira mais uma vez a história dos hominídeos
Ao ato salutar dos escritos
E dos registros da memória
XXXVIII
Preservando a lógica produtiva do trabalho
Da matéria cerebral
Colhida por todos órgãos sensitivos
XXXIX
São produtos da mente humana
Observação natural
Reflexos do real
XL
Não são cópias idênticas da realidade
Mas, imagens distorcidas
Que se processam de maneira aproximativa
XLI
Num deslocamento de idas e vindas
O real é construído
Por novos homens e mulheres
XLII
Todo conhecimento aqui conquistado
Todo levante da humanidade
Despertou novas forças de produção
XLIII
Mas, nem tudo se cobre com as pétalas de rosas
Muitos espinhos se fizeram presentes
Na gigantesca árvore do conhecimento
XLIV
Do maquinismo milenar rudimentar
Aos mais desenvolvidos computadores
E robôs microchipianos
XLV
Banhos de sangue se abateram
Por todo motor da história
Da escravidão de homens e mulheres
XLVI
Que se projetaram
E se projetam
Pelos caminhos da luta de classes
XLVII
Escravos e senhores
Servos e feudais
Proletários e burgueses
XLVIII
Assim caminhou
Assim caminha
A humanidade
XLIX
Numa explosão firme
De exploração e opressão
De dominação farta do homem pelo homem
L
No esbanjar das elites
No sofrer operário
Das doenças crônicas da miséria e da fome
LI
Só resta aos habitantes produtores
Levantarem-se da Terra
No apoio de corações e mentes
LII
De proletários e proletárias puros
Da beleza singular
De uma infinitude intergaláctica
LIII
Numa sangria de sacrifícios
Pela concepção do mundo novo
Pela derrota do capital
LIV
Vão se pagando os dias e as madrugadas
Na certeza igualitária
Da força social libertadora
LV
Em espaço do bem comum
Do fim proprietário
Da abolição da herança privada
LVI
Para se preparar o derradeiro salto
Da pré-histórica civilização humana
Tomando-se partido pela revolução do trabalho
LVII
Realizando assim um parto seguro
Ao futuro onde se projetam
Últimas construções de moradas humanas
LVIII
No balançar de guerras
Avalanches, terremotos e erupções vulcânicas
Só a transição comunista para aplacar a ira
LIX
Que ainda bate-se
Pela discriminação
De pele, gênero e sexo
LX
Que do transformar da melanina
Ainda conserva traços humanoides
Na beleza do “feio” de pretos, brancos e amarelos
*Carlos Maia – Março/2023
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