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segunda-feira, 17 de abril de 2023

Odisseia Humana

*por Carlos Maia


I

Ainda estava escuro

Quando eles resolveram

Descer das árvores

II

Eram poucos descendentes

De primitivos símios

Que haviam na evolução perdido a cauda

III

Não se tratava

De espécie

De macacos comuns

IV

Eram simplesmente

Exemplares singulares

De uma nova extensão

V

De um novo momento

Em que frutos e alimentos vegetais comestíveis

Entraram em escassez

VI

Em que os bandos de colhedores

Não mais se contentaram

Com pouca quantidade

VII

Desbravadores do tempo

Em pequenos grupos

Começaram a comandar longas jornadas

VIII

São os primeiros exploradores

Primeiros a se baterem com feras

Primeiros a provarem carne e desbravarem a Terra

IX

Neste processo os pequenos bandos

Se erguem em cima dos pés

E liberam as mãos para a longa trajetória

X

Trajetória de combate

Trajetória de lutas

Trajetória para um novo ser

XI

Assim se fez

Na escala evolutiva

O homo sapiens

XII

Assim foram

Aqueles quem primeiro

Percorreram as savanas africanas

XIII

Há disputar com feras

Alimentos ricos em proteínas

Desenvolveram hábito de comer caça

XIV

Mas tal qual

“Sete Samurais”

Em milhares de anos prepara-se saltos

XV

Salto no mecanismo cego da história

Do ato teleológico das finalidades

Das progressões dialéticas dos símios ao homo

XVI

Do ato de observar

De pensar

E transformar

XVII

Homens feitos

Descobrem o calor protetor do fogo

Para o aquecimento de infindáveis noites

XVIII

No princípio carregavam a chama

Acolhedora e divinamente adorada

Pelos caminhos da Terra

XIX

Com o passar dos tempos

Vão se descobrir

Novas qualidades às belas labaredas

XX

Experimenta-se toques culinários

A defumação dos alimentos

A conservação carnívora

XXI

O deslocamento agora

Se faz possível

Com o transporte de manjar animal abatido

XXII

Fogo! Fogo eterno

Paixão humana

Que com o tempo começou-se a produzir

XXIII

Começou-se a manipular

Tão bela fonte de energia

Que convidam homens e mulheres ao ato do trabalho

XXIV

Quer seja no fole ou na bigorna

Quer seja no feitio dos utensílios cozidos de barro

Quer seja para se armazenar água ou alimentos

XXV

Lá vai ele em fortes labaredas

Dos braseiros e dos traços do carbono 14

Capazes de dar vida e medir a extensão do tempo

XXVI

Oh! Noites furiosas

Em que as vestes e o embolar dos corpos

Não se fizeram suficientes

XXVII

O frio era demais

E as feras de hábitos noturnos

Estavam próximos a saciar a fome

XXVIII

Só madeira e fogo

Eram capazes de afugentá-las

Só assim se poderia cochilar e dormir em paz

XXIX

Ao embrenhar-se nas profundezas das cavernas

Em abrigos naturais

Manipulou ossos, madeira e pedras

XXX

Agora na idade dos metais

Do bronze e ferro derretidos

Realizou-se outro belíssimo salto

XXXI

No rumo da civilização

Dos atos visionários

Da mente humanística

XXXII

Nos ritos místicos

Na interpretação

Da universalidade cósmica

XXXIII

Das religiosidades terrenas

Das crenças do absoluto

Das ideias da metafísica

XXXIV

Em verbetes enciclopédicos

Deslizam signos da razão

De uma dialética materialista

XXXV

De um pensar lógico

Que avança em ritmo alucinante

Redimindo palavras do sujeito manso

XXXVI

Eis que surge a linguagem

Da necessidade do desenvolvimento ereto

Despontando a nova criação da natureza

XXXVII

Gira mais uma vez a história dos hominídeos

Ao ato salutar dos escritos

E dos registros da memória

XXXVIII

Preservando a lógica produtiva do trabalho

Da matéria cerebral

Colhida por todos órgãos sensitivos

XXXIX

São produtos da mente humana

Observação natural

Reflexos do real

XL

Não são cópias idênticas da realidade

Mas, imagens distorcidas

Que se processam de maneira aproximativa

XLI

Num deslocamento de idas e vindas

O real é construído

Por novos homens e mulheres

XLII

Todo conhecimento aqui conquistado

Todo levante da humanidade

Despertou novas forças de produção

XLIII

Mas, nem tudo se cobre com as pétalas de rosas

Muitos espinhos se fizeram presentes

Na gigantesca árvore do conhecimento

XLIV

Do maquinismo milenar rudimentar

Aos mais desenvolvidos computadores

E robôs microchipianos

XLV

Banhos de sangue se abateram

Por todo motor da história

Da escravidão de homens e mulheres

XLVI

Que se projetaram

E se projetam

Pelos caminhos da luta de classes

XLVII

Escravos e senhores

Servos e feudais

Proletários e burgueses

XLVIII

Assim caminhou

Assim caminha

A humanidade

XLIX

Numa explosão firme

De exploração e opressão

De dominação farta do homem pelo homem

L

No esbanjar das elites

No sofrer operário

Das doenças crônicas da miséria e da fome

LI

Só resta aos habitantes produtores

Levantarem-se da Terra

No apoio de corações e mentes

LII

De proletários e proletárias puros

Da beleza singular

De uma infinitude intergaláctica

LIII

Numa sangria de sacrifícios

Pela concepção do mundo novo

Pela derrota do capital

LIV

Vão se pagando os dias e as madrugadas

Na certeza igualitária

Da força social libertadora

LV

Em espaço do bem comum

Do fim proprietário

Da abolição da herança privada

LVI

Para se preparar o derradeiro salto

Da pré-histórica civilização humana

Tomando-se partido pela revolução do trabalho

LVII

Realizando assim um parto seguro

Ao futuro onde se projetam

Últimas construções de moradas humanas

LVIII

No balançar de guerras

Avalanches, terremotos e erupções vulcânicas

Só a transição comunista para aplacar a ira

LIX

Que ainda bate-se

Pela discriminação

De pele, gênero e sexo

LX

Que do transformar da melanina

Ainda conserva traços humanoides

Na beleza do “feio” de pretos, brancos e amarelos



*Carlos Maia – Março/2023


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