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KIRIMURÊ: O Lago dos Tupinambás
"Capitalismo
este que para se sustentar contou na sua maior parte com o trabalho escravo dos
negros que foram retirados do continente africano, em um dos maiores processos
de diáspora já visto no mundo, negros e negras, adultos e crianças, simples e
detentores de títulos de nobreza, que arrancados de sua terra eram trazidos nos
Tumbeiros (navios negreiros)."
*por Professor M.Sc. Ademar Cirne
No começo de tudo era apenas, KIRIMURÊ, uma grande Bacia que media cerca de 12 léguas de extensão e 6 em Sua maior largura, com um grande ancoradouro que podia receber todas as embarcações do mundo, sua profundidade variava de 200 até mil braças.
No
primeiro dia do mês de novembro do ano de 1501, o primeiro grande navio cruzou
a Baía para rebatizá-la de Baía de Todos os Santos, tudo leva crer que eram
três navios que compunham a esquadra do português Gonçalo Coelho e do
florentino Américo Vespúcio.
A
viagem tinha como objetivo o reconhecimento das terras ocidentais do Atlântico
Sul que se tinha notícias através de relatos de Cabral, para a surpresa de
todos a terra se mostrou muito agradável, um Porto, boa área para
reabastecimento de víveres e água uma população de fácil convivência. Por aqui
ficaram 27 dias e quando saíram levaram dois indígenas, para serem usados na
Europa, ensinando aos Tupinambás o sentido da escravidão.
Em
seguida a Grande Baía é entregue como Capitania Hereditária ao Senhor Francisco
Pereira Coutinho (Rusticao), que tinha esta alcunha pela forma rústica e
violenta que tratava os índios tupinambás da grande baía, este ocupa as terras
da região em 1534, e faz a fundação da Vila do Pereira, as margens da praia do
Porto da Barra.
Mas
os maus tratos infligidos pelos colonos aos índios, com a permissão do
donatário, além de alguns desentendimentos com um antigo morador da Baía de
Todos os Santos, o náufrago, Diogo Alvares Correia (Caramuru), (lá ele),
provocou levantes frequentes. No mais violento deles, em 1545, a vila foi
arruinada e Coutinho, obrigado a fugir para a capitania de São Jorge dos
Ilhéus.
Um
ano depois, ao voltar, naufragou próximo à ilha de Itaparica, onde foi preso e
devorado pelos tupinambás. Com a morte do donatário Rusticao, a capitania da
Bahia reverteu à coroa portuguesa e quatorze anos depois, 1548, a Bahia de
Todos os Santos seria escolhida pelo Rei de Portugal para ser a capital do
Império português na América.
Coube
ao então primeiro Governador Geral do Brasil o Senhor Tomé de Souza, encontrar
juntamente com Caramuru o local mais seguro e mais alto da Baía para erguer a
fortaleza que se tornaria a mais importante cidade abaixo da Linha do Equador
por mais de três séculos.
Aos
46 anos, o militar português, filho ilegítimo de um padre, vinha com imensa
responsabilidade: construir uma fortaleza em um povoado destruído por índios e
saqueado por franceses e transformar o território coberto por todas as
capitanias, então caótico, numa estrutura organizada e lucrativa, a serviço de
Portugal. Quando a frota atracou, começava a nascer a primeira cidade do Brasil
A história de Tomé de Souza se mistura com a da própria Salvador. Por isso, a
data oficial de fundação da capital baiana ficou sendo a mesma da chegada do
governador-geral, ou 29 de março de 1549. Ele veio com triplo mandato: capitão
da povoação e terras da baía de Todos os Santos, governador-geral da capitania
da Bahia e primeiro governador-geral de todas as capitanias e terras do Brasil.
(Fonte: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-brasil-biografia-tome-de-souza.phtml)
Para
realizar sua importante tarefa, o senhor Tomé de Souza veio para o Brasil bem
preparado. Sua armada reunia três naus
(Salvador, Conceição e Ajuda), duas caravelas (Leoa e Rainha), um bergantim
(São Roque) e duas outras naus de comércio, para voltarem cheia de Pau Brasil
para Portugal.
Acredita-se
que o futuro governador geral do Brasil tenha trazido com ele cerca de 500 a
mil pessoas, 130 soldados, 90 marinheiros, 70 profissionais (carpinteiros,
ferreiros, serradores etc.), funcionários públicos, jesuítas comandados por
Manuel da Nóbrega, 500 degredados (Homens que tinham cometido algum tipo de
delito em Portugal), e outros peões para o trabalho pesado, além do arquiteto
Luís Dias, que trazia em suas mãos a planta da futura capital do império
português no Brasil
Tome
de Souza trazia também três auxiliares de governo, Provedor Mor que seria
responsável pelas finanças o Ouvidor Mor para cuidar da justiça e o Capitão
responsável pela defesa e segurança da fortaleza.
O
rei dom João III, redigiu em 17 de dezembro de 1548. Com 48 artigos, o regimento
de governo, documento que nortearia as ações do primeiro governador do Brasil,
deixando claro que a ideia fundamental do novo sistema era acabar com o modelo
descentralizador das capitanias hereditárias, centralizando todo poder nas mãos
do governador geral, este regimento
determina a fundação da cidade-fortaleza e trata da defesa militar da
costa, das relações com os índios, de doações de sesmarias, cobrança dos
proventos devidos à corte. "Foi o que alguns chamam de a primeira
Constituição do Brasil", segundo o historiador Cid Teixeira.
A
partir deste momento tornou-se a Baía um grande Porto de troca de mercadorias,
compra e venda de produtos que atravessavam o Atlântico, introduzindo a Baía de
Todos os Santos no contexto do capitalismo nascente.
Capitalismo
este que para se sustentar contou na sua maior parte com o trabalho escravo dos
negros que foram retirados do continente africano, em um dos maiores processos
de diáspora já visto no mundo, negros e negras, adultos e crianças, simples e
detentores de títulos de nobreza, que arrancados de sua terra eram trazidos nos
Tumbeiros (navios negreiros).
Negros e negras que tiveram exatamente esta
cidade, que hoje comemora seus 474 anos de fundada como um dos maiores portos
de desembarque de nossos ancestrais, que eram vendidos como peças e levados
para os pesados trabalhos nos Engenhos de Cana de Açúcar, nas Minas de Ouro e
nas Atividades domésticas, nas cidades do Brasil.
Portanto
cabe neste dia fazer uma breve reflexão sobre os fatos e perceber que apesar de
todo sofrimento do nossos povo nunca desistimos e foi ao longo desta
cidade , que iniciamos a nossa
resistência e garantimos através da luta e da organização nas Senzalas, nos
quilombos, nas revoltas urbanas, no Jogo da Capoeira, na Adoração dos nosso
Orixás que chegamos até aqui, fortes e com muita disposição para continuar
lutando por mais conquista e rompimento das barreiras do Racismo e da
intolerância.
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*Ademar Cirne é
Graduado em História pela Universidade Federal da Bahia – UFBA; Especialista em
História do Brasil pela UFBA - PUC/MG; Mestre em Ensino das Relações
Étnico-Raciais pela Universidade Federal do Sul da Bahia - UFSB; Coordenador do
CEN - Coletivo de Entidade Negras e Ogã dd Iemanjá da Casa de Oxumarê.
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