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Morre Haroldo Lima: um dos mais notáveis e admiráveis comunistas do Brasil
"(...)
camarada Haroldo Lima cumpriu seu papel irretocável no mundo, sua história
permanecerá viva na memória e na práxis política de uma geração que se
acostumou a ler, debater e construir as lutas sociais por um mundo novo."
*por
Herberson Sonkha
O genocida por detrás do caos que assegura a propagação desmedida da pandemia do coronavírus calou mais uma admirável voz comunista à serviço das transformações socioeconômicas, das liberdades democráticas e da emancipação do povo brasileiro. Um fato inexprimível, por isso gostaria de me solidarizar aos familiares e amigos do combativo camarada Haroldo Lima, excepcionalmente ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) neste momento de profundo lamento e consternação pelo trágico falecimento deste notável Ser Humano.
Os
sanguinários milicos da ditadura civil-militar não deram cabo de ceifar sua
vida no campo de batalha em uma das formas de se fazer as lutas de classe, mas
a serpente chocou o seu ovo no calor das entranhas covardes da burguesia e seu
filhote o fez.
O
camarada Haroldo Lima é mais uma vítima das atrocidades desse desgoverno fascista
no país. É a mais absoluta irresponsabilidade de um decrépito presidente, por
isso se torna mais um crime hediondo aditado nas costas desse sabujo atarracado
no planalto central. Esse genocida, um deplorável contemporâneo contumaz da
geração de golpistas de 2016, comprados com dinheiro público a preço de ouro
para chocar o ovo da serpente no seio da república, segue incólume assassinando
pessoas.
Esse
energúmeno continua contrariando todas as expectativas cientificas e
recomendações de organismos internacionais de saúde (OMS), nos arrastando
desonestamente para essa destrutível e irrefutável pandemia.
Para
um comunista, não existe céu e nem inferno, muito menos o arquétipo de diabo e
outras personagens feudais malignas presente no imaginário coletivo colonizado
pelas narrativas conservadoras cristãs. O que existe mesmo é o capitalismo e
seus lacaios na política matando, ludibriando, roubando, explorando,
expropriando e oprimido a população brasileira.
Conheci
o camarada Haroldo Lima ainda em Jequié nos anos de 1986, apresentado por
Domingos Ailton presidente do Grêmio Livre Dinaelza Coqueiro. Em Vitória da
Conquista retomei minha relação orgânica com o PCdoB. No final dos anos 90
passei uma temporada em Manoel Vitorino, terra de nascimento de mamãe e conheci
uma prima da parte de vovô, uma entusiasta do comunismo que dizia ser muito
amiga de Haroldo Lima, a professora Adelza Coqueiro Lima. Adelza atribui ao
camarada Haroldo Lima não só o esforço para a construção do reservatório de
água do município, mas os fundamentos que a convenceu ingressar no PCdoB logo
após o partido voltar a legalidade.
Num
encontro com Haroldo Lima em 1995 em São Paulo, conversamos sobre a professora
Adelza Conqueiro Lima e o mesmo afirmou ser amigo dela e a considerou como sendo
primeira mulher manoelvitorinense comunista, a época era um município
politicamente atrasado e controlado pela velha política do coronelismo
carlista.
Tenho
me dado ao direito de não concordar e me posicionar implacavelmente contra
quaisquer manobras e artimanhas institucionais e religiosas que visem
transformar perseguidores algozes da população em “mocinhos do bem” para
sacralizar a vida pública, desviando o olhar crítico da população para à nodoa
amoral indelével atada na história de homens e mulheres com mandato na vida
pública.
Nenhum
comunista descorda que essas pessoas fizeram de livre e espontânea vontade suas
escolhas ao lado de quem defende o sistema, a sua ideologia, os seus políticos
e as suas políticas ultraconservadoras que promovem a fome, a miséria, o
desemprego, o extermínio, os racismos, o ódio contra a classe trabalhadora, a
misoginia, o feminicídio e o extermínio de jovens negros e populações LGBTQIA+.
Haroldo
Lima era um comunista indefectível no sentido mais estrito da palavra, resistiu
e combateu seus adversários políticos sem pestanejar. Jamais mistificou ou
logrou o papel nefasto e sanguinário dos milicos fascistas nos anos de chumbo
da truculenta ditadura civil-militar (1964-1985) no Brasil. Lima lutou
incansavelmente contra a truculência, tortura, o desaparecimento por homicídio
de militantes praticado pelos agentes da polícia política do DOI-CODI durante o
período da ditadura militar. Haroldo Lima foi uma das principais figuras no
combate sistemático ao regime torturador criado pelo estado de exceção.
As
forças armadas aniquilaram brutalmente vários militantes comunistas na história
recente do Brasil, como por exemplo o atentado conhecido como “Chacina da
Lapa”, uma ordem das forças armadas para executar sumaria comunistas. Haroldo
Lima participou na condição de vítima dos torturadores sanguinolentos do mais
trágico episódio que ceifou a vida de vários camaradas, a exemplo do camarada
Valter Pomar, Haroldo Lima conseguiu sobreviver. A ditadura exterminou
militantes comunistas jogados na ilegalidade, foi torturado e preso na capital
da Bahia, mas se manteve em várias frentes de lutas nacionais e internacionais
na América Latina pelas liberdades sociais e democráticas.
Haroldo
Lima construiu sua trajetória irretocável nos seus cinco mandatos qualificados
na Câmara Federal, sendo que o seu primeiro mandato foi exercido entre 1983 a
1987, no curto período de tempo entre a reabertura política gradual do país e a
formação da Assembleia Nacional Constituinte de 1987 que promulgaria a nova
Constituição brasileira em outubro de 1985.
Haroldo
Lima combateu durante as duas longas décadas de extermínio de opositores pela
ditadura militar, adoção de prática de tortura, corrupção nas entranhas da
autocracia fascista, enquanto o país mergulhava no profundo e desesperador
desemprego, hiperinflação, fome, miséria e múltiplas violências urbanas e
camponesas promovido por milicos sanguinários que operavam com a autorização
das forças armadas, sob o comando de generais sanguinários.
Haroldo
Lima disputou todas as eleições das duas últimas décadas do século XX, sendo
reeleito várias vezes. A segunda foi de
1987 e 1991 para constituinte, cumprindo papel destacado nos debates acalorados
contra os representantes da burguesia e seu decrépito regime ditatorial em
favor da classe trabalhadora, da população brasileira e das liberdades sociais
e democráticas.
Haroldo
Lima foi intrépido em suas denúncias contra crimes de lesa pátria cometidos por
políticos representantes de empresários capitalistas industriais, ruralistas,
banqueiros, rentistas e viúvas da ditadura civil-militar extinguida pelas
forças democráticas brasileiras de centro e de esquerda. Lima foi um combativo
comunista que se manteve ideologicamente entrincheirado no parlamento lutando
contra a burguesia e seus beneplácitos golpes e manobras contra a classe
trabalhadora e a população brasileira, sendo eleito mais três vezes (1991-1995,
1995-1999 e 1999-2003).
No
governo do presidente Luiz Inácio, o Lula metalúrgico, a partir de 2002 Haroldo
Lima integrou a Agencia Nacional do Petróleo como diretor-geral, contribuindo
para a construção da política de exploração do pré-sal, na formulação, mediação
e promoção da cooperação entre a China e o Brasil consolidando avanços no
desenvolvimento das relações bilaterais extremante necessárias e vantajosas
para o Brasil.
Haroldo
Lima começou sua militância na Juventude Universitária Católica (JUC), vindo
militar na Ação Popular, uma organização de esquerda criada em 1962, depois da
ruptura interna entre militantes ligados aos movimentos de leigos e a
institucionalidade hierárquica da Igreja Católica, contrários a participação de
seus membros nas atividades políticas.
Haroldo
Lima militava na JUC, mas haviam várias frentes de juventudes – Juventude
Estudantil Católica (JEC), Juventude Agrária Católica (JAC), Juventude Operária
Católica (JOC) e da Juventude Independente Católica (JIC) - que possibilitaram
uma conscientização mais à esquerda que levou a ruptura com as práticas
assistencialistas, assumindo o caráter de massa, se integrando gradativamente
ao dia-a-dia e as lutas da população periférica pauperizada do país.
Haroldo
Lima participou da efervescência dos movimentos leigos, numa conjuntura de
fortalecimento políticos, sobretudo a partir da nomeação de João XXII,
considerado progressista. O ambiente político dentro da igreja católica era
propício a uma publicação de encíclica mais à esquerda, pois desde 1958 com a
nomeação do Papa João XXII a ebulição promovida pelos movimentos de leigos,
exigia da igreja uma nova postura política diante do mundo e a promulgação da
encíclica de “Mater et magistra” (1961) reconhecendo o papel da igreja
de agente central para as mudanças sociais.
Dois
anos depois publica a encíclica “Pacem in Terris” (1963), reafirmando
diretrizes da encíclica anterior, destacando a indispensável posição dos
movimentos leigos diante da nova posição social critica abraçada pela igreja.
Os leigos abriram o leque de suas análises socioeconômicas e políticas,
passando a dialogar com outros processos revolucionários no mundo, sobretudo
aqui na América Latina que estava em polvorosa no início dos anos 60 com a
exitosa revolução Cubana (1959).
Esse
encontro criou um caldo cultural propicio ao ambiente político do que viria a
ser o “cristianismo de libertação”, marcado pelo começo de um ciclo de “lutas
sociais, guerrilhas e insurreições” que se alastrou em toda região do país, com
desdobramentos que alcançam a década de 90, do século XX.
O
mundo que forja a militância comunista de Haroldo Lima no primeiro momento é a
efervescente América Latina, um lugar sob a égide do Concilio Vaticano II,
entre 1962 e 1965. Isso para o Brasil foi algo incendiário das consciências
críticas nos movimentos de leigos, toda essa carga intelectual e práxis
política revolucionária em contato com atributos e práticas políticas dos
leigos no Brasil, proporcionou algo que os diferenciavam no contexto
geopolítico da América Latina.
Enquanto
os movimentos de leigos latino-americanos se articulavam à Ação Católica
Espanhola, no Brasil esses movimentos se vincularam à Ação Católica Francesa
recebendo densos referenciais teóricos. A exemplo do filósofo Jacques Maritain,
que revisou todas as ideias de Thomás de Aquino fundando uma escola de
pensamento chamada de “neotomismo”.
Esse
pensamento filosófico advogava a tese de que cristão deveria se apropriar
criticamente da literatura produzida pelo socialismo e se tornar socialista,
numa perspectiva diferente, personalista no sentido de desenvolver o indivíduo
para o exercício da autonomia crítica por meio da qual se atinge a liberdade do
ser humano aprisionado pelos grilhões ideopolíticos de uma sociedade
eminentemente conservadora de verve burguesa que influenciavam a ala
conservadora da igreja católica.
Maritain
(1965) enfrenta o debate com os liberais acerca da liberdade, discordando da
concepção liberal que se limita garantir a liberdade simples, àquela que se
resume a escola do indivíduo, segundo ele não é o começo e nem a raiz da
liberdade. É notório que Maritain contrapôs a concepção imperialista ou
ditatorial da liberdade de grandeza e de poder do Estado.
Ele
considera que a liberdade é antes de qualquer coisa a liberdade de autonomia
das pessoas, frequentemente confundida com perfeição espiritual. Tornando acessível ao Ser Humano a
centralidade para unificar a ordem temporal e política, colocando-a acima da
ordem (institucional e política) a dignidade e a liberdade espiritual da
pessoa. Essa construção correu as bases
conservadoras dos movimentos de leigos e arrebatando-a para o campo de batalha
temporal, entrincheirando a militância contra o sistema capitalista
imperialista, a ordem civil burguesa conservadora e setores ultraconservadores
da igreja católica que coibia os leigos de participarem de atividades
políticas.
Despeço-me
desse nosso valoroso e combativo camarada Haroldo Lima com a certeza de quem
foi testemunha ocular de parte de sua militância comunista, cumpriu seu papel
irretocável no mundo, sua história permanecerá viva na memória e na práxis
política de uma geração que se acostumou a ler, debater e construir as lutas
sociais por um mundo novo, uma outra sociabilidade em que é perfeitamente
possível a existência de Seres humanos desalienados, distribuir igualmente o
papel da produção, da circulação e da distribuição coletiva do resultado do
trabalho.
Que a
história do camarada Haroldo Lima continue fertilizando nossa caminhada e
frutifique nossas esperanças no por vir, pois nós comunistas de todas as
organizações partidárias almejamos uma sociedade em que todas as pessoas
indistintamente possam desfrutar de “Caçar de manhã, pescar a tarde, pastorear
à noite e fazer crítica depois da refeição”.
Descanse
em paz Camarada!
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