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terça-feira, 26 de novembro de 2019

Evangélicos da arminha: picaretas da palavra a serviço dos vendilhões do templo e da riqueza do Estado!



"Sem armas, sem acumulo de riquezas, sem opressão e sem tortura, pois o novo homem dessa escritura primitiva se dará pela construção diária efetiva do amar incondicional à vida simples, mas com abundancia coletiva."

*por Herberson Sonkha


Ao escrever sobre esse tema polêmico, não menos necessário, antes gostaria de assegurar aos meus caros leitores que não se trata de atacar levianamente a fé, a crença ou a liberdade de exercício confessional de quem historicamente sempre teve o lugar de fala do privilegio na sociedade ocidental capitalista, contra os marginalizados pelo sistema socioeconômico e político liberal montado na exploração da fé dos mais fragilizados.


Esse sistema é perversamente cruel com que diverge do partido da ordem. Não é à toa que o Papa Gregório XIII (1502-1585) determina o início da era cristã com o nascimento de Jesus, lá no século VI pelo monge armênio Denis (o Pequeno) que reteve o ano de 754 da era romana como o ano 1, escolhendo o dia primeiro do ano no dia 25 de março como sendo o dia em que Jesus é concebido pela Virgem Maria.

Em 1565 d.C Carlos XI redefine esse dia anunciando que o anuário iniciaria em primeiro de janeiro, aliás, isso vai servir de definição para a reforma do calendário Juliano dezessete anos depois feita pelo Papa Gregório XIII, que passará a ser chamado de calendário Gregoriano, que orienta nosso anuário até os dias de hoje. Nossa agenda temporal passou a ser orientada pelos interesses socioculturais e religiosos do império romano, que passa a ter o credo confessional cristão.

Portanto, consolidando o desejo de definir o marco zero no calendário na linha histórica desde o advento da institucionalização da cristandade, assegurada pelo Imperador Romano Constantino I, entre as décadas de 20 e 30 do terceiro século calendário Juliano ainda em vigor para os cristãos ortodoxos - herdeiros da cristandade do Império Bizantino.

Tendo feito essa rápida explicação de como a ocidentalização, de algum modo, passou a reproduzir coercitivamente o interesse sócio, econômico, político e religioso do Vaticano vamos o cerne da questão que discernir os vilões da arminha da proposta apresentada pela reforma protestante (1517), no que pese todas as minhas profundas divergências. O primado de uma filosofia eurocentrista baseada em valores determinado por uma etnia branca imperialista, virulentamente beligerante com quem se opunha aos domínios “sagrados” do sacrossanto ofício da Igreja Católica Apostólica Romana e isso só seria revisado pelos ventos insurrectos do renascimento cultural e cientifico entre os séculos XV e XVI.

Portanto, proponho um diálogo crítico que visa contribuir para desmontar a couraça falso-moralista que protege os faustos da religiosidade “cristã”, picaretas que legislam em causa própria. Esses falastrões demagogos atuam cinicamente dentro de igrejas, na política e nas empresas da iniciativa privada.

Sobretudo aquela armadura envolta aos algozes do povo (essa gente hipócrita), com a qual se metralha discursos e práticas agressivamente criminosas contra gente humilde, fragilizada e em situação de risco pela violência simbólica e física por causa do sistema econômico capitalista e sua sociedade burguesa gestada pelos ventos do liberalismo que sopram desde o século XVI.

A humanidade precisa somar esforços para superar a superfície falaciosa desses “arautos da verdade”, hipócritas que ousam apresentar a sociedade brasileira os seus próprios interesses financeiros mesquinhos como se fossem legítimos de sua deidade (Jesus?) como se fosse legitimamente constituída pelo processo histórico da coletividade.

Uma abordagem do espectro truculento (vingativo, punitivo, perseguidor e torturador) que ronda o imaginário coletivo e vem influenciando os processos democráticos de escolha de representantes para o executivo e legislativo. Contudo, não poderia deixar de reforçar de “en passant” os aspectos centrais da crítica do bureau político, acerca desse fenômeno contemporâneo na sociedade burguesa que tende ao fascismo, instrumentalizado pela extrema-direita para dar golpes nas democracias latino-americanas.

Tendo feita essa ressalva, gostaria de começar relembrando ao meu leitor que isso tudo começa lá no século I, quando o Império Romano se encontrava em ruínas econômicas, crise sociais eclodindo entre facções religiosas e a política institucional de Roma estava vivenciando um total descrédito por parte dos seus concidadãos. Refiro-me ao inexorável Concilio de Niceia e suas deliberações canônicas que passaram a ter força de lei e inevitavelmente mudaria (e mudou) o curso civilizatório da humanidade.

Antes da primeira grande reunião de bispos cristãos no século I, convocada e presidida por uma autoridade romana pagã, exceto a Torah, não existia de forma escriturada no formato de bíblia e nem possuía o caráter normativo de cânone a presença de Maria Mãe de Jesus, a tríade de deidades cristã (Pai, Filho e Espirito Santo), as manifestações sobrenaturais e a questão da vida após a morte, para católicos e protestantes se limita apenas a ressurreição de Jesus Cristo.

Esse grande evento na história da humanidade marca o surgimento da Bíblia constituída pelo Antigo e Novo Testamento, que vai estabelecer o marco regulatório legal da Igreja Católica Apostólica Romana e quinze séculos depois a primeira cisma denominada de Protestantismo em 1517 com o advento das 95 teses levantadas pelo professor de teologia moral, o doutor Martinho Lutero na Universidade de Wittenberg, Alemanha. A cátedra do monge suscitou inúmeros debates que circunscrevem a questão do poder e da eficácia das indulgencias, feitos pelo mestre de Artes e de Santa Teologia.

O fato ocorreu na cidade de Niceia da Bitínia, em Roma no ano de 325, denominado de Concilio de Niceia, chamado pelo Imperador Romano Constantino I, organizando a assembleia com a mesma dinâmica do senado romano, embora seja comum afirmar que Constantino não votou.

Para a maioria absoluta dos Judeus contemporâneos de Jesus, o nazareno da periferia que não era branco e nem rico, aliás, nascido em Belém no reinado de Herodes Magno e do implacável imperador César Augusto, esse moço de pele mais escura, olhos de jabuticaba e cabelos pretos era apenas um blasfemador dos sagrados mandamentos deixadas por Moisés que viveu entre 1550 e 1510 a.C.

Esse Jesus periférico que não é branco nasceu em Nazaré, uma região imensa ao norte de Israel que pertencia ao terreno rochoso de Hagalil, em latim escreve-se Galileia, possivelmente na região ocidental, território de predominância semipagã, portanto desprezada pelos israelitas considerados puros (FORTE, 1985, p. 207).

Esses mesmos religiosos ortodoxos continuam afirmando dois mil anos depois da morte de Jesus Cristo, que ele é apenas um profeta entre vários outros da linhagem de Davi, segundo o que fora anunciado pelo seu primo, o pregador do deserto João Batista. Para a maioria dos grupos que se reivindicavam judeus daquela época, todos diziam que o messias ainda não tinha vindo e o esperava ansiosamente pelo clarão de fogo no céu que se abria para dar passagem ao seu cavalo alazão branco, olhos de fogo e arreios de ouro e cravejados de pedras precisas.

Eis que o messias era um homem alto, braço, olhos azuis, cabelos loios e corpo atlético e, certamente viria impávido por entre as nuvens do céu, vestindo uma túnica branca resplandecente, portando espada flamejante, cabelos de algodão e olhos de fogo. Portanto, esse Messias derivava do Deus punitivo, duro e vingativo desde Noé, de Moisés, de Abraão, de Salomão e por último de Davi, a quem escolhera para ser o segundo rei de Israel, mesmo sendo um frágil pastor e tocador de arpa. E não um pobretão que ousava desafiar o establishmentda tradicional religião judaica.

Os judeus esbravejavam ardilosamente contra aquele pobretão que semeava a paz, o respeito, a concórdia e o amor incondicional aos necessitados, vindo dos confins da pobre Galileia, sentado num jumento que significava paz e não um cavalo imponente de guerra, simbolizando o “príncipe da paz” e não um rei da guerra.

A entrada triunfal simbolizava seu papel de “bode expiatório” para libertar a todos, sobretudo aqueles que o recebeu como o messias prometido. A cidade passaria por inúmeros sofrimentos e antevendo sua morte, pois uma semana depois daquele fatídico Domingo de Ramos, antes da pascoa ele seria crucificado com a anuência dos judeus. E, na medida em que se aproximava de Jerusalém, ele chorava copiosamente pela cidade, num evento conhecido em latim por flevit super illam.

Portanto, não existe qualquer traço de afinidade ou ligação política da figura histórica do Jesus de Nazaré com qualquer forma ou mecanismo de opressão usado pelo Estado por meio de governos políticos. Para esse Jesus toda e qualquer arma é uma violência simbólica, razão pela qual abomina o uso individual ou coletivo de arma contra quem quer que seja. Uso de armas é impensável, principalmente se for usada contra a classe empobrecida.

Vide a parábola exemplar da tapa no rosto, em que o Jesus de Nazaré orienta oferecer a outra face. Aqui está a base teórica da pacificação, quando visa não justificar a violência, interrompendo o ciclo vicioso da ação/reação, ficando a violência limitada apenas a quem deu a tapa, sendo esse o único agressor.

Não existe o viés insurrecto contra o Estado, o sistema capitalista, mas também não existe conformação a ordem temporal estabelecida, pois em sua narrativa sempre esteve presente à ideia de que seus seguidores não deveriam conformar com o mundo. Que mundo é esse senão o mundo engendrado pela sociedade civil e pelo Estado em vigência.

O reino dos céus não se estabelecerá pela violência da revolução armada, mas supõe-se Jesus que poderia revolucionar esse mundo (egóico, mesquinho, opressor, explorador, perseguido) com amor e não com a influência da Lei do Talião, lá em Levítico, no antigo testamento. A vinda do Jesus como o messias, ocorre para romper o véu da tenda do sacerdote antigo e o código de Hamurábi.

Jesus veio reformar as leis antigas e inexoravelmente vingativa, a sua missão é mostrar ao mundo que o reino dos céus pertence aos pobres, manso de espírito e humildes de natureza porque dele serão o reino dos céus. Quanto ao os ricos, certamente não passaram no fundo da agulha e por isso não herdaram o reino. Jesus veio dizer que não é justo juntar tesouros na terra, pois a lei desse mundo (capitalismo) tem por premissa a usura (acumulação de riqueza baseado na exploração de outrem) que enferruja e corrói toda e qualquer riqueza material.

Esse Jesus destruiu o comércio enfrente (agora está dentro) ao templo, mostrando que a palavra não é uma mercadoria e o templo não é um mercado. Por fim, veio acabar com a lei da “reciprocidade direta” legada do império babilônico, pois o cordeiro santo veio para colocar fim à tradição judaica do Lex Talionis.

Sem armas, sem acumulo de riquezas, sem opressão e sem tortura, pois o novo homem dessa escritura primitiva se dará pela construção diária efetiva do amar incondicional à vida simples, mas com abundancia coletiva. Qualquer coisa fora disso é charlatanismo e picaretagem de quem insiste em levar Jesus novamente ao calvário.

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