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domingo, 28 de julho de 2019
A classe média vendida e a elite do atraso usurpando descaradamente o Brasil
julho 28, 2019
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por
Vinícius...
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"A classe média tem a ideologia de quem possibilita a ascensão socioeconômica. Ela tem a conveniência estrepitosa da oportunidade para fazer um bom discurso, escrever um excelente texto panfletário ou um artigo bem fundamentado teórico-metodologicamente para uma tese pseudocientífica momentânea, que afirme seus interesses financeiros estritamente pessoais."
*por Herberson Sonkha
A elite do atraso é a burguesia enquanto classe social historicamente constituída ao longo dos cinco séculos de opressões, corrupções, explorações, torturas, estupros e extermínios das populações subalternizadas pela perversa burguesia do Brasil. Por isso, a concepção burguesa de sociedade não é apenas um modus vivendi fortuito que deve ser aceito porque já está dado pelo processo histórico no país, que alguns equivocadamente a querem de modo ad infinitum.
Esse processo histórico engendrou a moderna sociedade brasileira, impulsionada em certa medida pelas ideias da revolução burguesa ocorrida na Franca entre 1789 e 1799, percursora do século “das luzes”, em contraposição a “escuridão” do ancien régime.
Embora essa revolução burguesa tenha sido incapaz de acabar com o sistema escravista em seu nascimento, antes se utilizou largamente por longos séculos do tráfico humano (africanos) e do sistema escravista altamente lucrativo para consolidar a fase da monocultura do agronegócio nas fazendas capitalistas, com trabalho escravo de africanos e povos originários.
Essa concepção na contemporaneidade é mistificadora porque no plano teórico se apresenta com a aparência de uma sociedade moderna, como sinônimo de bem-estar coletivo, avanço tecnológico, relações pacíficas e benévola e com “soberania popular”.
Isso só é possível se for visto pelas lentes binocular invertidas de alguém vivendo esse processo convulsionante de transição da idade média para a alvissareira modernidade. Contudo, na modernidade isso é literalmente impossível, dado a manutenção das desigualdades matérias e intelectuais.
Essa ilusão tem confundido muita gente douta, pois a liberdade de mercado é vista como uma liberdade universal e coletiva. Igualdade e liberdade são apresentadas como se fossem algo minimamente possível de serem vivenciadas na sociedade moderna, sobretudo pela a “ralé”. Essa estereotipia existe em função do arquétipo de sociedade livre pensada pelo liberalismo baseado no conceito de liberdade, igualdade e fraternidade que constituem o fundamento do sistema democrático (formal) moderno na contemporaneidade.
As pessoas comuns desconhecem o conceito do que venha a ser liberalismo por não saberem conceituar teoricamente o que é liberdade na prática com efetiva igualdade socioeconômica para todas as pessoas, independentemente de sua classe social. Pois, não conseguem enxergar que a democracia liberal é na sua essência a liberdade de consumo, sendo esta determinada pelo poder aquisitivo ligado a sua posição na relações de trabalho.
O desejo de comprar (roupa, carro, casa, eletrodomésticos de marca caríssima por que são de grife) e a sua realização tem a ver com o poder aquisitivo (salário ou lucro) da classe social a que pertence. É necessário que os mecanismos do sistema criem essa ilusão para que seja ignorado as “diferenças” para parecer algo efetivamente livre e democrático. Isso faz parte da lógica de mercado mantido pela civilização burguesa, contudo não faz de quem consome esses bens um burguês.
Aliás, tudo que existe na natureza e que pode ser é transformado pela força de trabalho em mercadoria é riqueza e, em tese, deveria ser distribuído e consumido coletivamente. Na verdade, isso é mistificado para escamotear a real função do capitalismo que é apropriação privada da riqueza (capital, terra, mercadorias, matéria-prima, insumos) e a compra da força de trabalho.
A única coisa que o capitalismo realmente socializa é a miséria, pauperização, violência e fome para quem efetivamente produz riqueza que é a classe trabalhadora. Portanto, o consumo não transforma ninguém em burguês, apenas em tipos diferentes de consumidores de produtos caros para ricos e baratos para pobres. Nesse sentido, a forma como se adquire esses bens é que determina o seu lugar de fala e a sua posição econômica de classe social.
Por isso, a classe trabalhadora é o tempo todo iludida no jogo político eleitoral entre as classes em disputas pelo poder institucional, sobretudo aquela ínfima parte (classe média) vacilante, que ascende socioeconomicamente por meio da venda de força de trabalho intelectualizada (graduação superior) ou pequeno acúmulo (poupança) de dinheiro transformados em investimentos feitos por pequeno-médio empreendimentos que sobressaem com a exploração de outros trabalhadores do exército de reserva em condições piores, passando a perceber (pró-labore) remuneração acima do salário mínimo.
Contudo, sua classe social continua sendo a trabalhadora porque não detém dinheiro excedente para converter em capital para comprar matéria-prima insumo, maquinaria, galpão e força de trabalho. Nesse sentido, não atua como força de produção capaz de alterar a dinâmica da cadeia produtiva com suas mercadorias como empresário capitalista negociando com suas próprias regras para remunerar o capital (mais-valia mais a taxa de lucro) no mercado.
Nesse movimento contraditório de reprodução do capital, a classe média é o acessório predileto da burguesia para levar a exaustão a divisão social do trabalho em favor da classe dominante porque é a classe mais mercenária, volátil e fugidia no mundo do trabalho e da política institucional porque ela visa sempre o seu status quo.
Ela não se apega a valores, princípios e nem a ideologia de classe e sim a oportunidade de manutenção de sua ascensão socioeconômica e política. Ela negocia a qualquer preço a manutenção de suas benesses sempre que o capitalismo entre em crise econômica para reajustar a sua margem de lucro.
Politicamente ela abandona a luta cotidiana para servir aos interesses de classe do patronato, contudo quando esse lhe açoite a chibatada nas costas e pelas costas, a classe média cinicamente se volta para a luta sindical ou social radicalmente sem nenhum puder para dar a linha política novamente nos movimentos sociais para reaver sua posição de comando.
Portanto, pensa como burguês, mas vive como a classe trabalhadora de sua força de trabalho. Salientamos ainda que a qualquer momento de oscilação nas estruturas de mercado para ajustar a reprodução de capital, perde imediatamente o seu poder aquisitivo. Essa é a principal contradição e volatilidade da classe média que faz com que ela não seja confiável.
Ela acompanha feliz da vida a quem oferecer a melhor oportunidade de estabilidade de seu status quo. A classe média tem a ideologia de quem possibilita a ascensão socioeconômica. Ela tem a conveniência estrepitosa da oportunidade para fazer um bom discurso, escrever um excelente texto panfletário ou um artigo bem fundamentado teórico-metodologicamente para uma tese pseudocientífica momentânea, que afirme seus interesses financeiros estritamente pessoais.
Em qualquer situação, essa turma conceitualmente da classe média opta por aquele dito popular antigo no Brasil do “farinha pouca meu pirão primeiro” e isso inclui beirar-se à mesa da classe dominante (burguesa) brasileira (embora o capitalismo não tenha nacionalidade), inclinando-se despudoramente para catar as migalhas de pão caídas da mesa da indigesta elite do atraso.
Entenderam agora porque só a classe média teria condições teórica e moral para fazer um discurso moralista contra a corrupção e ser ouvida amplamente pela a classe trabalhadora e as populações em situação de risco social. Como disse acima, a classe média se prestou a esse desserviço ao povo brasileiro porque a classe dominante, aquela que o sociólogo Jessé de Souza denominou de elite do atraso, não tem estofo e nem é respeitada por ninguém.
Havida por fama, grana e conforto a classe média curvou-se para realizar a vontade da elite do atraso. Escreveu as páginas recentes da história de destruição de todo um processo de construção contínua da frágil democracia brasileira. Caiu no conto da serei da burguesia e se prestou ao desserviço de acabar com direitos sociais conquistados pela classe trabalhadora, inclusive beneficiava a própria classe média.
Uma das ciências que estuda a relação entre os seres humanos, seu movimento tempo-espaço e suas instituições políticas brasileiras, síncrono as respectivas análises meticulosas desses processos e acontecimentos transcorridos no passado, é a sociologia. Sem ela dificilmente se poderia afirmar ou negar qualquer fenômeno de natureza sócio-histórica recente no Brasil que possa explicar minimamente e do modo crítico a atual conjuntura de retrocessos no país.
O notável teórico e pesquisador da sociologia contemporânea, o professor Jessé José Freire de Souza, um referencial na pesquisa sobre Teoria Social, Pensamento social brasileiro com relevantes estudos sobre a desigualdade e classes sociais no Brasil contemporâneo vem tratando dessa questão com várias publicações inéditas e criticamente desmistificadoras.
Jessé de Souza afirma em sua penúltima obra (A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato -2017) que vivemos sob a égide de “velhas ideias” que condenam o Brasil ao mais abjeto estado de degenerescência moral por ser este um país corrupto por excelência, portanto sendo esse o maior problema nacional. Contudo, ele refuta esse constructo mental, por assim dizer, que toda mentira ou fraude tenha um quê de realidade, mesmo que seja um “pequeno grão de verdade”.
Vai mais além e diz que a “corrupção real” é a “grande fraude” que nos impede de tirar o país “esquecido e humilhado” das mãos das classes dominantes [elite do atraso] que “exercem o poder real” porque são forças hegemônicas constituídas e, se são, isso ocorre porque são invisibilizadas por intelectuais (parte da esquerda, centro e a direita).
A leitura de Jessé de Souza é obrigatória para quem pretende compreender criticamente as nossas matrizes teóricas permeadas por esse constructomental. Portanto, "É assim, afinal, que as ideias dominantes passam a determinar a vida das pessoas comuns e seu comportamento cotidiano sem que elas tenham qualquer consciência refletida disso." (SOUZA, 2017, p. 17).
Nesse sentido, Souza nos conta que essas “velhas ideias” no Brasil servem para justificar a existência de um país com larga tradição dessas instituições corrompidas e da existência atemporal de ethos que forja um tipo de sujeito dirigente peremptoriamente trapaceiro, sem exceções.
O “grão de verdade” reside no fato de que esses facínoras poderiam ser a exceção pelo seu modo particular de mau-caratismo, contudo se tornam a regra e se constituem numa espécie de espectro a-histórico que calcifica na mente da população sem consciência refletida, a ideia de que o Brasil e suas instituições políticas são poderes inexoravelmente corruptos.
Aqui observamos um aspecto relevante que é a volta sub-reptícia dos militares a cena política institucional após a retirada estratégica e articulada da cadeira de Chefe de Estado em 1985. Assim, por essas razões é que eles não entraram para história como sendo os torturadores, assassinos e assaltantes da riqueza do país.
Portanto, não consta no imaginário coletivo do povo brasileiro que os militares tenham sido as pessoas mais horrendas e bizarras da história recente do país, sobretudo porque engendraram instituições políticas opressoras e sanguinárias em todos os quadrantes do território brasileiro.
No que pese as atrocidades e crimes hediondos cometidos por esses bilontras, nenhum representantes do alto comando das Foças Armadas do Brasil (aterrorizantes Generais, Brigadeiros e Contra-Almirantes e seus subordinados coronéis peremptoriamente truculentos e inclementes, a exemplo do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra) foi condenando por apoiar e/ou quebrar a ordem jurídica que institui a legalidade constitucional do país.
Em qualquer outro país que se respeite a ordem constitucional, tal comportamento jamais seria tolerado, antes seria tratado com a mais rigorosa hostilidade e condenados a reclusão na forma da lei. As “velhas ideias” fizeram com que esses acontecimentos bárbaros voltassem à tona no Brasil para garantir que representantes da elite do atraso (protegidos militares de alta patente, juízes, parlamentares e empresários capitalistas), via golpe, pudessem sentar novamente na cadeira de Chefe de Estado.
O objetivo era simples, bastava ver a insatisfação da elite do atraso com as políticas públicas de proteção e promoção da classe trabalhadoras e as populações que ensaiava romper com a relação de subalternidade estabelecida pelas elites burguesas. A elite do atraso queria apenas restabelecer a manutenção da ordem social burguesa repressora e o progresso da exploração econômica do sistema capitalista.
E o fazem conscientes porque sabem que esse constructo mental os protege, aliás, exercem discricionariamente o poder de maneira implacável contra o povo e a favor de impérios socioeconômicos capitalistas europeus e/ou anglo-saxões.
Ao invés de se criar um constructo mental emancipacionista, ou até mesmo dentro dos limites da possibilidade social-liberal, paira sobre as cabeças mais “lucidas” o ideal de sociedade liberal burguesa baseada na democracia formal-quantitativa, fetichizada pela “mão invisível” que baseada na ilusória ideia de auto-organização da sanha e do egoísmo ganancioso dos livres mercados, como instancia ideal de liberdade e igualdade entre os homens.
Quanto ao povo, destituído de qualquer condição intelectual para fazer uma reflexão crítica e sem acesso as barbaridades e atrocidades e retrocessos e corrupção praticada pela cúpula das forças armadas, prevalece tão somente à crença doentia de que essa parte dos militares que comandam as casernas são pessoas honestas, justas, guardiãs da lei e por isso estão a serviço da paz e do desenvolvimento harmônico da nação.
Voltando a classe média, refiro-me aos pretensos “esclarecidos” que passaram de en passant pela graduação na universidade pública ou faculdade privada (embora nunca estivessem como estudiosos e formuladores preocupados com o povo na universidade) que acredita piamente que eles (cúpula militar e a burguesia) são nacionalistas preocupados com a riqueza da nação e a cidadania das populações em situação social de risco.
De modo geral, parte da intelectualidade do campo de esquerda também sucumbiu a essas “velhas ideias” e legitimaram esse constructo mental perverso com os oprimidos do campo e da cidade.
Ao negarem peremptoriamente as contradições presentes nas relações estruturais da sociedade burguesa moderna alicerçada nas lutas entre classes antagônicas, alinhando-se com quem “exerce o poder real”, alhures ao lugar de fala da classe social do trabalho e das populações oprimidas e fragilizadas pelas desigualdades socioeconômicas e política.
Não se faz essa luta despolitizando o debate ou sem o devido estofo teórico para tal análise de conjuntura que permita enxergar com nitidez as contradições estruturais da sociedade burguesa capitalista e se posicionar do lado correto da história.
Essa esquerda transvertida se comporta com ubiquidade porque quer ganhar a partida como isso fosse apenas um jogo numa partida de final de campeonato do time preferido, pois é que importa mesmo é o contrato com Estado que assegura o contracheque gordo no final do mês.
Partidos de esquerda não são condomínios de poder que observa apenas a aparência fenomênica negligenciando o conteúdo, pois as classes em disputa não são iguais. O comportamento político na arena das disputas institucionais é ideológico e não uma disputa numérica de eleitor ou como se fosse agente econômico que analisa investimento de mercado para disputar a preferência e conquistar a fidelização do consumidor.
Observe quem e onde estão aquelas pessoas que recentemente eram os aliados de primeira hora do governo federal do PT ou os seguidores da seita sociológica denominada de carlismos nos sucessivos governos de Antônio Carlos Magalhães na Bahia. Onde eles estarão amanhã caso o PT perca o governo do Estado da Bahia? Não precisa muito, pois basta saber que todos os aliados do PT na Bahia acompanharam as votações do atual presidente serviçal da elite do atraso.
Esse sequaz do fascismo, o presidente Jair Bolsonaro, pode até ser canalhamente demente (digo que é sem nenhum receio), mas ele sabe exatamente a quem ele serve por isso ainda está no poder e o será infalivelmente até quando for da conveniência dos seus financiadores (a burguesia universal), não o subestimem. Antes, combata-o vorazmente com todas as forças sociais possíveis e impossíveis.
Alinhar-se com o algoz ou faz o jogo binário de quem pretender ganhar de qualquer jeito é exatamente o método histórico desenvolvido pelas classes dominantes para manutenção da elite do atraso.
É preciso romper esse constructo mental dominante e avançar politicamente na perspectiva de radicalizar à luta estratégica de acumulo de forças de esquerda (estrategicamente de centro), com vistas à radicalização da democracia (curto prazo) e a superação (médio e longo prazo) da ordem social, econômica e política burguesa.
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