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quarta-feira, 24 de outubro de 2018
O PT ainda está em dívida com o professor Iranildo Freire
outubro 24, 2018
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por
Vinícius...
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"[...] faz-se necessário que o Partido dos Trabalhadores de Anagé convide o Professor Iranildo Freire e peça-o desculpa formalmente por todos esses infortúnios causados ao professor filiado"
por Herberson Sonkha[1]
Escrevi noutra edição sobre a dívida irreparável do Partido dos Trabalhadores de Anagé com a irretocável trajetória intelectual do Prof. Iranildo Freire, reconhecida pela sua reputação impecável na docência. Notável historiador analítico com profundo domínio no campo da historiografia crítica. Militante experimentado por seu equilíbrio, suas ponderações reflexivas e admirado tanto pela clareza quanto pela firmeza com que expõe suas ideias dentro e fora da política partidária.
Como disse anteriormente, além de excelente gestor municipal respeitado até pelos adversários, Iranildo Freire mantem sua conduta inalterada em relação a sua marca indelével de exímio legislador registrado pelos anais da história da política partidária da cidade, particularmente sobre a institucionalidade municipal de Anagé.
Nessa edição busco analisar com mais detalhes a natureza da cultura política geral dialogando com o que aconteceu no município de Anagé, perpassada pelas lentes analíticas do professor Iranildo Freire. É razoável admitir que as contribuições críticas desse pensador anageense contemporâneo nos oferecem um rico e vasto material que serve também para explicar processos complexos localmente e na política brasileira.
Sua analise historiográfica contem elementos de natureza sociopolítica mais geral, sem prescindir das especificidades da localidade. O que faz com que suas ponderações possam ser perfeitamente aplicadas ao contexto de qualquer cidade, independente da geografia humana e politica, para entender a gene da politica local sem quaisquer problemas de equívocos e ou distorções cometidos na maioria das vezes por certas generalizações descontextualizadas.
O prof. Iranildo Freire jamais negligenciou a correta analise crítica que responsabiliza as elites brasileiras pelo golpe legislativo-jurídico-midiático-empresarial que causou um retrocesso socioeconômico e político ao país. Ele observa que o golpe de 2014 foi perpetrado pelos “representantes” conservadores contra o povo brasileiro que vem sofrendo com a crise criada em consequência dessa patifaria, praticada escancaradamente pelas representações nessas instituições politicas (executiva, legislativa e judiciária).
Dificilmente alguém com consciência crítica hoje em dia ainda negue que as grandes empresas de comunicação e publicidade desse país, sem qualquer relação honesta com o jornalismo enquanto ciências não tenham promovido a mentira e participado diretamente da trama golpista que condenou o PT. Que não tenha disseminado conteúdos xenófobos que serviu para alimentar o ódio contra militantes nordestinos, especialmente populações negras, mulheres e LGBTI. A destruição por meio do linchamento moral ao partido e de suas principais lideranças nas redes sociais.
Criou-se um culto ao irracional, uma espécie de esquizofrenia paranoide, alimentada por uma cultura de ódio contra a cor vermelha, o lilás ou o arco-iris, a estrela ou a foice e o martelo. Nem precisa pronunciar publicamente as palavras relacionadas ao socialismo, comunismo ou anarquismo que logo são trucidados por fanáticos conservadores. O professor Iranildo Freire conhece bem como funcionam as estruturas de poder na sociedade burguesa e suas engrenagens violentamente esmagadoras contra as classes trabalhadoras.
Obvio que por detrás disso tudo sempre houve muito dinheiro de stakeholders, capitalistas para financiar bancadas. Antes eram apenas os ruralistas, industriais e intelectuais orgânicos de direita. Atualmente deu uma guinada para extrema-direita que passou a existir as bancadas (BBB) no parlamento brasileiro para atender aos interesses do capital internacional.
As bancadas da bíblia, da bala e do boi (BBB) foram eleitas esmagadoramente por populações empobrecidas e, contraditoriamente no parlamento eles foram os principais atores do golpe contras às mesmas populações carentes que os elegeram. Embora não constasse em suas propagandas eleitorais que os elegeram, esses políticos carreiristas de linha conservadora sempre enganaram o povo brasileiro, omitindo seus verdadeiros objetivos. Eles votam contra as classes trabalhadoras e as populações de maneira geral.
É publico e notório que esses demagogos sempre estiveram a serviço do andar de cima, pois desde sempre receberam dinheiro não declarado (propina no caixa 2?!) de empresas interessadas nesse nicho rentável. Capitalistas não colocariam muito dinheiro nas candidaturas desses demagogos senão tivesse a certeza que aprovariam projetos de interesses exclusivamente de mercado.
Em troca dessa propina escondida pelo submundo da politicagem, a bancada BBB votaram na reforma trabalhista e da previdência e autorizaram o governo a transferir via privatização serviços públicos essências ao povo brasileiro para o mercado, visando alimentar a ganancia desenfreada dos capitalistas que, além de financiar essas candidaturas financiaram também o golpe que gerou a crise pós 2014 que quebrou o país.
Além dessa conjuntura de debacle para as forças de esquerda no país, poder-se-ia aplicar ao município essa analise do Professor Iranildo Freire para compreender certos fenômenos sociohistórico e político que potencializaram a destruição injusta dos valores, fundamentos morais e dos princípios ideológicos socialistas do Partido dos Trabalhadores de Anagé causada pelas defecções politicas de quadros históricos do partido antes e durante a gestão do PT na cidade.
Obviamente que existe uma disputa nesse espaço infestado pelo comportamento conservador, crivado pela imoralidade que fere interesses coletivos. Essa espacialidade tornou-se território comandando pela politicagem na condução da coisa pública e processos eleitorais, criado pela ágora virtual[2].
Assim sendo, avalio negativamente o papel da ágora virtua para o funcionamento saudável da municipalidade. A politica grande precisa garantir espaços coletivos autônomos capazes de fazer avaliações críticas que melhore o regime democrático[3] contemporâneo, evitando o jogo perverso da famigerada governabilidade, baseada no tradicional balcão de negócios espúrios, criado pelas oligarquias soares e oliveira.
A participação do professor Iranildo na luta sociopolítica em Anagé, está ininterruptamente vinculada à defesa orgânica das classes trabalhadoras e a luta por direitos sociais das populações em situação de risco socioeconômico e politico. Esse vínculo ideológico sempre foi perpassado incondicionalmente pela ampla participação popular, organizada pelos mais variados movimentos sociais em todas as instancias de poder institucional, tanto do legislativo quanto do executivo municipal.
Sua intensa militância partidária de esquerda em defesas das causas sociais foge ao lugar tradicional do comportamento doméstico que trata a “coisa” pública como negócio de família. Deste modo, se mantem assente nos sólidos princípios de interesses coletivos desde 1989 ao filiar-se ao PT. Essa práxis política vocalizada ao longo de toda a sua trajetória confere ao militante legitimidade como interlocutor da sociedade, reconhecido como sendo o mais respeitável intelectual anageense numa cidade interiorana de mentalidade aristocrática.
A tese do professor Iranildo Freire sobre frágil democracia brasileira apresentada em 2016 permanece atualíssima. Segundo ele, nem mesmo os importantes avanços das políticas públicas no campo centro-esquerda voltados para as populações em situação de risco despertaram o interesse das oligarquias anageense que insistiram em manter uma política rasteira, negocial e atrasada.
As longínquas políticas de direitos humanos e as liberdades civis asseguradas pela constituição de 1988, fundamentada teoricamente na doutrina social liberal da sociologia estadunidense não chegaram efetivamente ao município. Mesmo confiante na eleição triunfante de uma coalização de partidos liderados pelo PT para mudar o modus operandi da política local.
Lamentavelmente a gestão “petista” em Anagé não passou de um discurso eleitoral bem articulado para ganhar as eleições. Na prática o comando político institucional não quis promover as reformas estruturais necessárias à adoção efetiva dessas políticas sociais criadas pelo governo de Lula e Dilma. Algumas até foram parcialmente implementadas muito mais pela persistência de quem estava responsável pela pasta do que por decisão política da gestora.
A resistência conservadora à democratização do poder político municipal foi aplacada pelo constructo mental conservador de seus dirigentes anageenses por medo de perder o balcão de negócios que mantinha um seleto naipe de privilégios das aristocracias e suas negociatas econômicas escusas.
A contribuição pífia do governo municipal não foi suficiente para o imprescindível amadurecimento das instituições públicas municipais, quicar alcançar essas construções intelectuais formuladas pelo senso crítico mais refinado do Professor Iranildo Freire. Nadou e morreu na praia, sendo derrotada por outra força que também é mais um braço da oligarquia oliveira, igualmente conservadora.
Se lá em 2012 a narrativa do intelectual Iranildo Freire continha elementos que apontava fortes indícios que evidenciava essas fragilidades, a não reeleição em 2016 nos obrigou a voltarmos à mesma análise para constatar suas evidencias. Na compreensão do histórico militante petista, para extenuação da tradição política conservadora anterior, só se daria caso fosse instituído um programa governo municipal que contemple o projeto de governo popular participativo.
Esse programa se (e somente si) implementado, certamente teria dado inicio as mudanças gradativas na mentalidade da população de modo que transformasse compulsoriamente o jeito de ver e de participar da população nas disputas eleitorais e no governo. Aliás, a práxis política do governo municipal foi perpassada pelo constructo mental profundamente arreigado de senso comum conservador de manutenção do status quo de pequenos grupos familiares na prefeitura e na cidade dos interesses socioeconômicos concorrenciais predatórios de empresas que apoiaram a prefeita contra os que perderam, típicos do capitalismo.
Sua análise da política partidária e institucional local continua sendo válida porque o voto em Anagé permanece censitário e a democracia enquanto sistema oficial, resguardando a dinâmica socioeconômica e politica das três civilizações (antiga, medieval e moderna) em suas devidas proporções, continua mantendo a mesma prática demagógica duramente criticada por Platão e Aristóteles (508 a 336 a. C), opositores ao regime democrático naquele momento por considera-lo uma farsa.
Mais próximo da gente, alguns filósofos iluministas do século XVIII que antecede a revolução política promovida pelos liberais no século XIX, notadamente o francês Jean Jacques Rousseau e o inglês Thomas Paine apresentaram argumentos sólidos sobre a igualdade ativa na defesa da democracia substantivada na ampla participação popular direta, contrapondo-se a democracia representativa.
Eles criticavam o diagnostico equivocado por compreende que não se tratava da natureza do sistema democrático, sendo essa uma tese moral da monarquia esclarecida oferecida pelos filósofos Voltaire e Montesquieu, contrários ao regime democrático porque alegava em seus diagnósticos a natureza essencialmente mentirosa desse regime e por isso só os homens letrados de origem aristocrática poderiam reconhecer e combater essa mentira.
Esses filósofos afirmaram peremptoriamente que a solução para os problemas estruturais da sociedade estaria na superação do regime econômico feudal e seu sistema sociopolítico baseado na imobilidade dos estamentos criado por Deus. Reivindicavam o sistema antropocêntrico, no qual se opunha a ideia inalterável da natureza perversa e corrompida dos homens como responsável pelos males ao regime humano que subverte a doutrina reta da conduta moral de Deus que deve ser alcançado num mundo de farsas.
Essa sociedade essencialmente teocêntrica só subsiste num mundo formado e mantido por uma maioria esmagadora de bárbaros brutalizados, analfabetos que vivem na infância do conhecimento, regidos pela ausência da ciência instrumental enquanto luz capaz de pavimentar o conhecimento na direção de um mundo universalmente esclarecido, humanizado e guiado pela igualdade material e intelectual que tornaria o mundo mais próspero.
A tese de uma sociedade esclarecida por meio da educação universal também se coloca como alternativa, pois eles ponderavam ao admitir que só por meio do esclarecimento das massas se resolveria a degeneração do regime que o subverte em demagogia. Contudo, a Revolução Francesa não avança com esses ideais de universalização e opta pela manutenção da aristocracia deixando o povo na arquibancada observado o jogo da dança das cadeiras como meros espectadores.
A proposta de igualdade material e intelectual defendida no contrato social por Rousseau é abandonada na Revolução Francesa. O que prevalecer é a ideia de participação censitária profundamente influenciada pelo liberalismo econômico de Benjamin Constant e Stuart Mill. Esses alegavam ser necessário limitar o voto aos homens de renda ou aristocratas intelectuais porque se todo homem pudesse votar ou ser votado a propriedade privada seria extinta porque as massas fariam opção pela igualdade.
O prof. Iranildo Freire argumenta com a coerência que lhe é peculiar sobre a necessidade da igualdade social, econômica e política universal para todos e todas as pessoas pertencente à municipalidade, sem distinção. Sua defesa está calcada no entendimento de que sem a qual não se constrói efetivamente um sistema democrático substancialmente igualitário e justo.
Aqui ele retoma o debate conceitual no nível mais profundo proposto por Jean Jacques Rousseau e Thomas Paine no século XVIII como linha divisória dos interesses de classes antípodas (entre o capital e trabalho) para contrapor ao senso comum que calcifica a ideia de politica apenas como um jogo retorico de exímios sofistas por isso demagógico.
Sua principal tese contrapõe-se à política-gem que trata essa ciência grande apenas como um mero brinquedo (coisificação?!) sofisticado praticado pela classe dominante, jogado apenas pelos ícones do patriarcado, constituídos por homens brancos economicamente bem sucedidos e moralmente machistas de bons costumes fóbicos, laureados pelo titulo honorifico de padrinho na “política”.
A democracia contemporânea formal garante que todos participam, no entanto a definição de quem (ou qual projeto de sociedade) poderá ser eleito isso se dará substancialmente pelos valores ideológicos das classes aristocráticas. Isso é fato inconteste e os resultados confirmam essa percepção da realidade na municipalidade anageense. Basta olhar a alternância de oligarquias e nenhuma proposta de alteração estrutural profunda se estabelece mantendo-se do mesmo jeito que antes.
Como em toda sociedade existe uma unidade formal e a luta de contrários substancial, algumas surpresas poderão ocorrer sob duas condições extemporâneas: ou a candidatura escamoteia seu papel de mordomo na defesa ideológica dos interesses da classe dominante e o assume cinicamente após ser eleito; ou quando existem categorias com níveis de consciência de classe trabalhadora e organização politica amadurecida que garante a votação necessária para assumir o mandato, garantindo a participação politica durante o mandato enquanto houver dialogo à esquerda.
Fora a segunda opção apresentada nas condições extemporâneas acima, as disputas vão acontecer fraticidamente despolitizadas. Nesse contexto as disputas vão se dá entre clãs, cuja sucessão histórica vai se naturalizando como herança por meio dessa transmissão. Realmente Napoleão tinha razão ao admitir que não havia nada de novo, “Está tudo como dantes no quartel d'Abrantes[4]”.
Tal movimento geralmente ocorre de pai para filho (no limite de parentes de segunda geração que se sujeitam ao controle ideológico) que constitui um rito de passagem para controle e manutenção da linhagem dinástica reservada apenas aos filhos dessa fidalguia.
Esse fenômeno social infelizmente afetou o Partido dos Trabalhadores por conta da opção política conciliatória consciente do campo hegemônico. Quando o campo hegemônico na Bahia elege Isidorio pai para deputado federal e Isidorio filho a deputado estadual com estrondosa votação, ambos religiosos, a politica não se difere da aristocracia esclarecida questionada no século XVIII por Rousseau e Paine mesmo estando no século XXI, ainda sob a égide da democracia apenas formal.
Os resultados eleitorais em Anagé nessas eleições de 2018 refletem a análise crítica do professor Iranildo Freire. Se partirmos da reflexão acima advertiremos que as observações apresentadas pelo professor explicam o porquê da presença espectadora das classes trabalhadoras e das populações subalternizadas como se esta fosse à única condição de participação. O lugar de espectador destinado ao povo se resume a sentar arquibancada tomando lado na disputa fraticida entre clãs, cuja guerra de nervos limita a democracia apenas ao tempo estipulado pelo jogo entre os inspires patriarcais, que incita o vale tudo nas companhas eleitorais e se encerra com o voto propriamente dito na urna.
Como historiador Freire pondera sobre a linhagem das tradicionais oligarquias advindas do coronelismo brasileiro, sustentado pela politicagem como disciplina a ser ministradas para alguns incautos desinformados.
Diferente de muitos que se esforçam exacerbadamente para se tornar um intelectual reconhecidamente influenciador de gerações, o Professor Iranildo Freire o é naturalmente e consolidou com estrategista responsável por uma mega engenharia política que levou o Partido dos Trabalhadores a prefeitura municipal em 2012.
Quase sempre a vida nos espreita com um ato bizarro de uma dramaturgia de tele novela medíocre, no estilo de uma épica tragédia grega, como se o pensamento aviltante da dignidade humana fosse ad infinitoe triunfasse impunemente sempre sobre a decência humana. Suas vitimas são arremetida para as masmorras do esquecimento, habitando a vala comum daquelas áridas criaturas assombrosas que teme o pensamento crítico e nega o seu criador.
Fez escola em sua caminhada como professor e como intelectual formou vários militantes. Seus mais próximos companheiros foram tombando gradativamente a cada descoberta de omissão e sucessivas traições. Primeiro a perfídia da própria liderança forjada a ferro e fogo por ele contra tudo e contra todos os militantes e confirmando sua engenharia política ao elegê-la prefeita pelo PT; depois os Pires que se calaram vergonhosamente para permanecerem no poder e hoje se reivindicam liderados por ela e segue o baile na mesma toada de aliciamento e subserviência.
Dessa escola orgânica de primeira hora criada por Iranildo, restam apenas o poeta pequeno agricultor e ex-vereador João Aguiar, o professor Rivaldo Vicente e a professora Cléria Santos Oliveira. Inclui-se nessa honrosa lista Alan e Adriano Calixto que são da excelente cepa do professor João Paulo, mas ambos também vivenciaram essa importante conjuntura formação politica lá nos anos 80, do século XX. Eles seguem intrépido na construção de coletivo ideológico à esquerda, combatentes das defecções internas do PT que não se vendem.
Esses mantem acento nos movimentos sociais e permanecem respeitando um projeto de governo popular participativo. João Aguiar é aquele a quem todos o desqualificavam por ser pequeno camponês que se identifica com a causa operaria camponesa e construiu sua identidade politica na militância social e institucional com a coragem de tomar posição. Matem-se firme no mesmo proposito em que fora formado para militância pelo professor Iranildo Freire.
O Prof. Iranildo é um dos que criaram o PT em Anagé e a estratégia que levou o PT ao poder em 2012. Atraiçoado pela cumplicidade de seus próprios companheiros de primeira hora aos seus algozes, mesmo cambaleante porque fora apunhalado pelas costas, jamais vacilou entre os holofotes e a eminencia de um governo democrático de participação popular. Antes, negou sim mesmo para pavimentar a caminhada a prefeitura daquela que se tornou a sua principal inimiga mortal, sem nenhuma razão aparente. Como disse certa vez o filosofo católico francês Blaise Pascal, “O coração tem razões que a própria razão desconhece[5]”.
Ninguém sabe ao certo, mas existem mais especulações entre o céu e a terra do que supõe a traiçoeira política municipal. Por isso, sabiamente o indefectível professor Iranildo Freire preferiu caminhar calado e desabitado em direção ao seu degredo, refugiando-se na sua própria “insignificância”.
Nesse sentido, Anagé é um ponto fora da curva na história da administração pública municipal de viés ideologicamente petista. Na segunda tentativa, o PT obtém uma larga votação e alcança o poder público municipal elegendo uma mulher para prefeita, algo no mínimo inusitado para uma cidade pequena e de costumes conservadores, controlada há décadas por homens machistas.
Também é de Pascal a seguinte frase, “A justiça sem a força é impotente, a força sem justiça é tirana”. Eis que se fez justiça ao professor Iranildo Freire com a vitória eleitoral da primeira mulher a chegar ao posto mais alto do comando político da administração pública municipal, sem nenhum envolvimento em corrupção ou comportamento criminoso de compra de voto.
Contudo, perdeu-se a virtú da força que está no princípio ideológico do partido que a tornou fraca na reeleição, levando-a a queda. A virtú discutida por Pascal diverge da de Maquiavel[6], pois a força da votação expressiva que garantiu a prefeitura da cidade ao PT estava na fala que a diferenciava dos demais candidatos da tradição conservadora, sem qualquer tipo de altruísmo que pudesse nos convencer do cuidado desinteressado com o outro.
Além do mais faltou com a verdade, pela falta de justiça dela enquanto prefeita para com o seu mentor intelectual e articulador político professor Iranildo Freire, revelando um traço comportamental impensável (até então) somente praticado pelos tiranos. Blaise vai nos alertar para o fato de que toda tirania é instaurada por iniquidades, na mesma medida em que afirma que toda justiça baseada na inércia (princípios ideológicos) também o é iniquidade, pois para ser justiça deve ser exercida com força para não ser outra coisa senão fraqueza.
A ausência da força da virtú nesse governo frustrou um projeto coletivo de governo popular participativo. Apesar das tímidas inovações e dos pífios investimentos pontuais para as populações em situação de múltiplas vulnerabilidades, a herança institucional recebida da gestão anterior manteve-se estruturalmente inalterada.
As áreas estratégicas nunca antes priorizadas também se mantiveram inalteradas. Os discursos de campanha perdeu espaço para interesses espúrios, na medida em que foi se consolidando como mais um empreendimento da família Oliveira.
Sem projeto de governo que orientasse uma urgente reforma administrativa que garantisse a aplicação eficiente de recursos dentro dos parâmetros legais exigidos pelos sistemas (saúde, educação, assistência social e meio ambiente) nacionais de gestão de políticas públicas, o governo municipal após andar a deriva por quatro anos naufragou eleitoralmente.
É obvio que faltou interesse para criar mecanismos legais que assegurasse a transparência na atividade pública por meio do controle social para garantir a eficiência na execução de recursos públicos para uma cidade pobre e carente recurso. Sem os quais jamais conseguiria a eficácia em seus resultados mais necessários para melhorar a qualidade de vida das populações mais necessitadas.
A administração da cidade seguia nos dois primeiros anos dando sinais de que adotaria o modo petista de governar, a exemplo de Vitória da Conquista, apesar disso abandonou essa linha para atender aos interesses familiares inviabilizando a municipalidade, mantendo intacta a tradicional política conservadora e termina sua gestão sem conseguir se reeleger.
Além dessa descaracterização ideológica do projeto de governo do Partido dos Trabalhadores a administração municipal virou alvo de investigação da Polícia Federal. Aliás, investigar não significa dizer que é ou não culpado, apenas se examina judiciosamente indícios de crimes contra interesses das populações, da administração ou bens públicos. Ilude-se quem achar que a população não sabe quem evoluiu seu patrimônio indevidamente, apenas evita comentar para não sofrer nenhum tipo represália ou perseguições.
Em tese, na democracia a investigação precede a condenação ou absolvição de qualquer agente público concursado, livre nomeado ou eleito para cargos da administração pública, inclusive garantindo a ampla defesa a todo e qualquer homem ou mulher em situação de investigação.
Voltamos ao crime ideológico da gestão municipal que está sendo imputado equivocadamente ao PT. O que houve foi uma apropriação clássica dos interesses particularmente familiar (Oliveira) em detrimento dos interesses públicos. As brigas pelo poder no interior do clã Oliveira e dessa fração com o clã dos Soares.
A história mostra um revezamento entre essas duas oligarquias conservadoras no comando da prefeitura. Se até 2016 a oligarquia oliveira era inimiga mortal (mesmo havendo uma fusão parental entre pessoas desses dois clãs) dos Soares, a fração dos oliveiras derrotada eleitoralmente se alia aos Soares para derrotar a fração vencedora nas eleições 2016.
A cidade precisa respirar para além dessas oligarquias tradicionalmente de direita conservadora. A fração dos Oliveiras que derrotou o PT nas urnas participou das manifestações do “tchau querida” dos coxinhas golpistas de 2014 pedindo impeachment da presidente Dilma Rousseff e depois a prisão do ex-presidente Lula condenado por convicção na primeira e segunda instancia sem nenhuma prova material substancial.
Foram às ruas de verde-amarelo para combater a corrupção, apoiaram o golpe e após ser eleita prefeita de Anagé, ela e seu governo manteve-se na defesa do governo golpista Michel Temer e fizeram campanha para o atual candidato de extrema-direita fascista a presidência do Brasil. A campanha fascista vem difundindo ódio (racismo, xenofobia, LGBTfóbia, intolerância religiosa e machismo/misoginia), defendendo interesses capitalistas da indústria armamentista e pedindo intervenção militar.
Por isso, faz-se necessário que o Partido dos Trabalhadores de Anagé convide o Professor Iranildo Freire e peça-o desculpa formalmente por todos esses infortúnios causados ao professor filiado. Faça mais, convide-o a emprestar seu respeitado nome para às próximas eleições. Pois, na cidade o Partido dos Trabalhadores teve sua dignidade liquidada e seus princípios negligenciados.
O Partido dos Trabalhadores terá que depurar parte de seus filiados que entraram apenas para ser cargo ou tirar proveito do governo municipal. Não cabe mais qualquer tipo de candidatura que desrespeita a historia, os símbolos e os princípios de esquerda do partido. Do contrário, o se transformará numa legenda de aluguel dessa ou daquela oligarquia para manter os mesmos privilégios que mantem confortavelmente o status quode classe dominante e uma classe dominada numerosamente empobrecia, explorada, oprimida e dependente.
[1]Herberson Sonkha é professor de cursinhos em Vitória da Conquista. Estudante de Ciências Econômicas na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Foi gestor administrativo lotado no Hospital de Base de Vitória da Conquista. Foi do Comitê Gestor da Secretaria Municipal de Educação de Anagé. Presidiu o Conselho Municipal de Educação de Anagé. Coordenou o Programa Municipal Mais Educação e a Promoção da Igualdade Racial do município de Anagé. Foi Vice-Bahia da União Brasileira de Estudante (UBES) e Coordenador de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de Vitória da Conquista (UMES). Militante e ex-dirigente nacional de Finanças e Relações Institucionais e Internacional dos Agentes de Pastorais Negros/Negras do Brasil. Membro dirigente do Coletivo Ética Socialista (COESO) organização radical de esquerda do Partido dos Trabalhadores.
[2]Ágora Virtual é um conceito que visa dar conta das transformações econômica, política e sociais provocadas pela "emergência do ciberespaço", do qual Pierre Lévy é um dos mais importantes pensadores.
[3]Na Grécia antiga, o regime democrático foi implantado pela primeira vez na história por Clístenes, em Atenas, em 508 a.C., e entrou em decadência a partir das conquistas de Alexandre, o Grande, iniciadas em 336 a.C.
[4]Em 1807, uma das primeiras cidades a serem invadidas pelo general Jean Androche Junot, braço-direito de Napoleão, foi Abrantes, a 152 quilômetros de Lisboa, na margem do rio Tejo.
[5] Blaise Pascal foi um matemático, físico, inventor, filósofo e teólogo católico francês. Prodígio
[6] Para Maquiavel, a virtú é a destreza do governante em obter o sucesso pelos favores da fortuna, alcançando com isso a glória e a manutenção do poder, sem que este conceito seja relacionado à virtude religiosa que estabelecia a bondade como âncora.
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