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domingo, 18 de março de 2018

"A DEMOCRACIA GOLPEADA: narrativa hematopoética pós-golpe"




ÀS SEIS HORAS DA MANHÃ[1]

(Ao recordar a resistência de Luiz Inácio Lula da Silva)


*por Luís Rogério Cosme[2]

Ouço e vejo, longe e perto, um certo agito,
Às seis horas da manhã...

Os ladinos espreitam nas esquinas soturnas e farejam a própria fama,
Às seis horas da manhã...

A justiça é farisaica e ronca indiferente à devastação dos monstros sobre a terra,
Às seis horas da manhã...

A mídia brasileira, virulenta, socializa no amanhecer a sua gosma e cospe,
Às seis horas da manhã...

O pacto social enfermou e a purulência política é visível,
Às seis horas da manhã...

A carne aliada é podre e não cabe na poesia asséptica,
Às seis horas da manhã...

O sol anoiteceu mais cedo e os chacais declaram guerra à poesia dos pobres,
Às seis horas da manhã...

E o galo, nesse dia, cantou mais tarde para uma fração de déspotas embevecidos,
Às seis horas da manhã...

Assim, a covardia e o veneno assustaram o sono e a paz do pensamento familiar,
Às seis horas da manhã...

Hora perfeita para as hienas arranharem as portas e lamberem as carnes com cobiça,
Às seis horas da manhã...

Na ânsia de vasculharem os colchões, ergueram inverdades maiores,
Às seis horas da manhã...

As sombras ocuparam o lugar das lágrimas nos olhos tácitos dos estupefatos,
Às seis horas da manhã...

O animal político vê a pistola de Vargas nas mãos dos invasores e respira fundo,
Às seis horas da manhã...

Porque os demônios loucos e nus, sob a luz da lua, querem matar a estrela
Às seis horas da manhã...

Mas erraram o alvo, ante o brilho do sol no espelho nordestino,
Às seis horas da manhã...

Então tudo é trauma, medo, hipertensão, abuso e nojo,
Às seis horas da manhã...

Vai aos páramos alvejada a única primeira-dama da plebe em toda a nossa história,
Às seis horas da manhã...

Um operário, um presidente, um homem do povo, no velório chora e declama,
Às seis horas da manhã...

Tudo enoitece, o “paz-e-amor” se transforma em sal e evapora - em preces,
Às seis horas da manhã...

E o povo afortunado aplaudia a tudo comendo café com pão e manteiga,
Às seis horas da manhã...

No outro dia bem cedo faltaram o pão, o café, a manteiga e sobrou a razão que vem das fomes,
Às seis horas da manhã...

Se arrependimento matasse faltariam caixões e vagas no umbral para os traidores que marcharam contra a estrela vermelha brasileira,
Às seis horas da manhã...

Todavia essa estrela é uma vela! Cai de um céu de horrores da favela,
Afunda e sai acesa do mar, ainda vela,
Também, às seis horas da manhã...

[Janeiro de 2018, Rio de Janeiro-RJ]
____________
[1] “Às seis horas da manhã”. Poema do Livro de poesia política "A DEMOCRACIA GOLPEADA: narrativa hematopoética pós-golpe" - no prelo.
[2] Prof. Dr. Luís Rogério Cosme Silva Santos é docente da UFBA, Campus Anísio Teixeira (CAT) - Vitória da Conquista - BA, escritor, poeta e militante do Coletivo Ética Socialista (COESO/PT).

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