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quarta-feira, 23 de setembro de 2015
Carta de um brasileiro petista negro caminhando para meia idade.
setembro 23, 2015
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por
Vinícius...
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Herberson Sonkha Militante Estudantil nos anos 90 Presidente do Grêmio Livre Raimundo Viana Colégio Estadual Polivalente. |
"O partido surge da disposição política de uma militância aguerrida, combativa, intelectualizada e uma práxis à esquerda que combate o espontaneísmo e pragmatismo despolitizado. Essa força petista impôs derrotas pontuais aos conservadores, impediu os avanços neoliberais agressivos dos anos 90."
À Militância Petista.
Nestes últimos anos e, principalmente nos dois anos que sucederam as eleições gerais no país, tenho visto uma ruidosa movimentação antipolítica de pessoas quê, de acordo com a história, sempre foram favorecidas economicamente pelas benesses oportunizadas pelas ‘facilidades’ deste modelo de Estado e sua forma de governar, contra o Partido dos Trabalhadores por todo o país. Portanto, o partido deve rever a sua história e fazer autocrítica para encontrar a saída deste labirinto suicida que vem grassando a vitalidade e força revolucionária da militância.
Esta imperiosa tarefa do diretório, implicará em dois movimentos “antipáticos”: o primeiro de retomar o projeto coletivo de empoderamento das forças sociopolíticas que compõe o campo democrático e popular, abrindo mão do projeto de capitulação à direita e o segundo nos remete a perspectiva da caminhada rumo à emancipação humana. Este deve ser o antídoto amargo contra esta ‘crise’ urdida contra o partido.
As duas possibilidades exigem da militância à esquerda algo que lhe é intrínseco: práxis política e coerência com as diversas literaturas emancipacionistas existentes dentro do partido. Mas, só pra recordar estes textos não orientam o comportamento dirigente partidário. O berço das lutas de classes desde o século XIX tem sido a teoria marxiana, da qual deriva os vários marxismos, no que pese suas implicações, existe uma atualização destas elaborações realizadas pelas várias correntes internas ao partido e importantes contribuições de teóricos heterodoxos (esquerda não partidária), visando superar alguns anacronismos e desvios à direita.
Neste sentido, por exemplo, poder-se-ia apropriar-se da farta e contundente elaboração teórica e das práxis das feministas petistas que lutam para libertar os homens do machismo milenar, ao defender a igualdade de gênero por meio do empoderamento das mulheres e a emancipação destas dos grilhões do machismo existente dentro e fora do partido. Outra militância importante que deve ser imediatamente apropriada e incorporada ao partido são as elaborações teóricas emancipacionista das populações negras, o combate sistemático contra o racismo, a igualdade étnica racial e o empoderamento destas populações negras. De igual maneira as elaborações teóricas que dão conta da liberdade para orientação sexual que orienta o debate LGBT e o empoderamento destas populações articuladas à emancipação humana.
Saúdo a violência revolucionária e a força da militância petista das populações negras urbanas e quilombolas, contra o racismo e pela igualdade étnica racial. Pela coragem política de enfrentar com sua militância um dos pilares de sustentação do capitalismo (Terra, Capital e Trabalho) disputando cada palmo de terra deixado pelas suas ancestralidades Africanas neste país.
Saúdo a jovialidade e violência revolucionária da militância petista presente nas feministas que de pronto rasgam despudoradamente o véu da inocência criado pela alienação desumanizante do machismo e disputam com a mesma capacidade intelectual e disposição para as grandes transformações política contra a violência dos homens, pela sua própria libertação.
Saúdo a militância petista LGBT pela vitalidade, coragem, força e pujança revolucionária petista que ousa construir uma ordem em que homens e mulheres possam ser felizes independe de suas orientações sexuais. Pela coragem de desnudar o senso comum do fanatismo dos conservadores, religioso ou não, na defesa intransigente da liberdade para o pleno exercício de sua sentimentalidade.
Saúdo os militantes petistas egressos das classes trabalhadoras pelo caráter revolucionário engendrado à suas organizações políticas ao expor as contradições de um sistema de exploração que promove a depauperamento e violência contra quem efetivamente produz a riqueza e dela não usufrui.
Saúdo os valentes e combativos dirigentes petistas nos movimentos sociais pela compreensão política de quem é necessário tencionar os governos visando superar os limites do Estado liberal burguês com objetivo de melhorar as condições das massas privadas do exercício de seus direitos.
Importante ressaltar o viés de luta de classes destes combates específicos, evitando a despolitização e por consequência a mistificação por deslocamento ideológico comunista, porquanto mesmo promovendo o empoderamento destas populações, não implica na emancipação humana, antípoda a quaisquer sistemas baseada na exploração de mulheres e negros, independente de sua orientação sexual.
O partido surge da disposição política de uma militância aguerrida, combativa, intelectualizada e uma práxis à esquerda que combate o espontaneísmo e pragmatismo despolitizado. Essa força petista impôs derrotas pontuais aos conservadores, impediu os avanços neoliberais agressivos dos anos 90, mas sucumbiu a mistificação da ideologia burguesa, “descuidando-se” de se certificar de que eleições por si só não resolveriam as contradições capitalistas e nem as ciladas da ordem burguesa criada e consolidada na metade de um milênio de domínio, exploração e consolidação de instituições políticas e econômicas voltadas a manutenção dos seus criadores: a burguesia brasileira e internacional.
Neste sentido, mesmo com a exitosa trajetória política do Partido dos Trabalhadores, nestas três últimas décadas no Brasil, que criou vínculos fortes e uma reciprocidade política cada vez mais crescente com a população e isto foi constatada várias vezes nas urnas, o que não significa que jamais poderia ser abalada. Dos discursos operários revolucionários à gestão democrática popular, o petismo foi se firmando aos poucos em uma força colossal, transformando-se em farol para as classes trabalhadoras e movimentos sociais da América Latina, mas não conseguiu converter esta força em transformações mais profundas, capaz de banir das relações sociais comportamentos que refletem o modus operandi de dirigentes internos do partido e, muito menos, de dirigentes históricos das elites nacionais e internacionais que continuaram operando a política, inclusive, em nome do próprio partido.
O PT nasce em berço operário e socialista. Afirma seus clamores e movimentações políticas a partir de uma militância petista de contestações e resistências ideológicas extremamente politizadas. Estas são algumas das principais marcas das duas primeiras décadas de existência do partido (anos 80 e 90), absolutamente diferente das experiências vivenciadas pela esquerda brasileira apta a realizar grandes manifestações por liberdade e participação política ou contra lideranças populistas, que surgem impávidas no limiar deste século sob o signo das transformações socioeconômicas, que criou um DNA político diferenciado, mas nunca fora reformista.
Inequivocamente não há qualquer associação da militância petista ao reformismo caudilhista, nem de en passant. Uma diminuta massa crítica, extremamente intelectualizada formada por trabalhadoras(es) articulados em sindicatos, estudantes, artistas, cientistas e religiosos ligados ideologicamente a um verdadeiro exército de explorados, de reserva e invisibilizados construíram uma força social sem precedentes na história deste país. Um feito inédito, pois tal força foi capaz de levantar-se uníssona contra as elites cristalizadas no poder por mais de 500 anos e impunha bandeiras históricas derivadas das contradições de um sistema perverso, cônscios de suas mazelas, com clareza política de seus antagonismos socioeconômicos e sua programática partidária contrária aos interesses das populações sofridas.
Não eram bandeiras envelhecidas pelas ferrugens do reformismo insolente e estéril dos populistas de plantão. Eram indignações resultantes do sofrimento popular, egressas das populações vítimas de todas as situações de vulnerabilidades. Manifestações de apoio eclodem como expressão do povo brasileiro que até então nunca existiu, numa correlação de forças favoráveis às grandes transformações que se articulavam entorno de vários projetos de esquerda revolucionária no mundo. Pela primeira vez o povo optava por outro projeto de cunho ideológico claramente popular, desde a criação da primeira unidade político administrativa no Brasil.
O campo popular ergueu-se destemido do lodaçal criado das agendas das elites fossilizadas que controlavam o Estado desde sempre, vitoriosa. A burguesia nacionalista, todavia se manteve inalterada por séculos no poder, desde o controle da casa grande à senzala, do cortiço à mansão, da viela ao paço, baseado no domínio socioeconômico e político da coroa portuguesa até os primórdios do século XXI. Características culturais, físicas, psicológicas e emocionais indelevelmente marcantes entalharam no corpo, na alma e no coração da população empobrecida brasileira um ânimo e aplacou o medo, que diferenciava a condição do voto nas candidaturas do campo popular a cada eleição em todos os quadrantes deste país, desde a primeira eleição em 1824, durante o Império.
O medo voltou a rondar o país, anunciando a liquidação de um partido que ganhou a preferência do povo brasileiro e até marcam data para missa de sétimo dia com direito a passeatas, fogos e frases de efeito para comemorar o “fim” desta organização partidária que alterou o curso da população brasileira em um pouco mais de uma década, contra séculos de atraso e sofrimento. Mas, precisamos voltar ao partido para rever a nossa história e fazer as críticas que precisam ser feitas, doa a quem doer porque precisamos de um partido forte e uma militância organizada, pois nunca se sabe o que poderá acontecer... Afinal, em tempos de anuncio de golpe é sempre bom relembrar trechos da canção de Zé Ramalho, “Ele (Getúlio Vargas) disse muito bem: "O povo de quem fui escravo Não será mais escravo de ninguém."
Não é verdade que somos corruptos por definição, mas é absolutamente correta a crítica de setores à esquerda que nos condena (lê-se dirigentes) por abandonar as lutas populares, as organizações políticas sindicais, estudantis e dos movimentos populares e, principalmente o projeto de emancipação humana em nome de uma suposta racionalidade burguesa, denominada de reformismo, que infirma o caráter revolucionário da luta pela emancipação humana. Não somos reformistas, mas a direita petista tenta imputar ao partido esta tarefa ideologicamente degenerativa.
Ao caminhar a meia idade observo que o caminho nunca foi flertar com o conservadorismo e apetecer o triunfo do capitalismo e suas instituições políticas. Ao completar um pouco mais que quarenta anos e ao voltar-se para trás para enxergar meu ponto de partida, (1986 a 1998 no PCdoB e partir do final de 1999 no PT) e a partir daí refazer criticamente toda minha trajetória de militância chego em 2015, certo de que o caminho à esquerda está corretíssimo, provavelmente para os dirigentes do partido nem tanto, e a nossa luta é organizar politicamente as populações exploradas, invisibilizadas, oprimidas e juntos acumular forças e estruturar as condições objetivas e subjetivas visando à emancipação humana.
Um forte abraço a quem tem coragem de construir o novo, na contramão da história. Contra tudo e contra todos os percalços da ordem burguesa!
Herberson Sonkha
Militante Petista
Coletivo Ética Socialista!
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