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sexta-feira, 11 de setembro de 2015
“A juventude é uma banda numa propaganda de refrigerante”?
setembro 11, 2015
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por
Vinícius...
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* Por Herberson Sonkha
"Ao contrário dos nossos ancestrais africanos que descendem de uma cultura milenar baseada na tradição da oralidade e que foram proibidos de reconstruir sua cultura, religiões, valores e sonhos aqui no Brasil."
A Banda Engenheiro do Hawaii, do Rio Grande do Sul, cantava 1987 uma das canções mais ‘provocativas’ para a juventude naquele período, no seu segundo álbum de estúdio chamado “A revolta dos Dândis”. Para conhecimento público, o nome do álbum tem a ver com o significado narcisista da palavra “dandy”, um janota, que quer dizer: um burguês, ou seja, um ser humano fútil, um 'homem que tem preocupação exagerada com a aparência pessoal'.
Esta expressão possui origem inglesa e faz referencia aos “bons modos” de alguns homens com senso estético aguçado, mas que não descende da linhagem nobre. Diz-se também que o “dandy” é um cavalheiro lapidar, impecável que escolhe viver de forma hedonista: leviana e superficial. É um pensador, embora diletante, que se ocupa do lazer, atividades lúdicas e aprecia a ociosidade. Obsessivo pelos requintes das classes burguesas, mas é um dissidente vulgar.
O Humberto Gessinge canta para a juventude que acabara de sair de uma ditadura civil-militar perversa, traumática e criminosa sem quaisquer liberdades de expressão, política, cuja maioria empobrecida morria jogados nos rincões deste imenso país desgovernado. Para este bom moçinho de olhos azuis, pele branca e protegido pela culta intelligentsia das ciências positivistas, insigne representantes da cultura universal europeia liberal realmente não poderia haver diferença entre Fidel e Pinochet, entre americanos e soviéticos, entre o sul e o norte, entre rapadura e caviar, entre farinha e cocaína, entre cachaça e whisky, Dom Bosco e Vosne-Romanée, entre gregos e troianos, entre stalinista e trotskista, entre Marx e Hayek; e o mais importante é revoltar-se contra a opção ideológica que infirma o narcisismo da estética e afirmar a futilidade do bom burguês e sua ordem socioeconômica “Das kapital”. Ou seja, para este garoto lindo e benquisto ser diletante, cultivar a ociosidade e ser hedonista era algo acessível aos brasileiros e principalmente à juventude. Não importa quem vai pagar a conta, pois as costas não são as suas.
Este moço não conheceu a pobreza porque é filho de imigrantes europeus, radicalmente diferente dos renegados prisioneiros de África, que contra a sua vontade e de suas comunidades e suas culturas foram trazidos ao Brasil, a América latina, as Antilhas, a Espanha, aos EUA, a Europa ou qualquer outro lugar deste planeta para serem escravizados, violentados, amordaçados, vendidos como mercadoria, suas mulheres estupradas, seus filhos explorados pelo trabalho forçado e sua força de trabalho expropriada, sem quaisquer condições de dignidade, uma desumanidade.
Esta música ganhou os quatros cantos do Brasil, na voz de Humberto Gessinger, um descendente de alemão por parte de pai e Italiano por parte materna. Estudou na faculdade de arquitetura da federal do Rio Grande do Sul, mas não concluiu. O porta-voz da juventude produziu seu pensamento através de longas listas de “grandes feitos intelectuais”, egressos da tradição europeia da escrita, tais como produção artístico-cultural, livros e participações em entrevistas e artigos à banda foi alvo de duras criticas pelos críticos literários por considerá-los de elitistas e os mais enfáticos de fascista pela fluidez de citações que iam de Sartre a Albert Camus.
Ao contrário dos nossos ancestrais africanos que descendem de uma cultura milenar baseada na tradição da oralidade e que foram proibidos de reconstruir sua cultura, religiões, valores e sonhos aqui no Brasil. Eram Reis e Rainhas de África que foram subjugados pela escrita, que sempre serviu de instrumento ideopolítico de dominação cultural dos povos africanos e originários da terra brasilis. Mas, sempre existiu o controle cultural e ideológico da juventude, basta observar o papel da educação institucional no Brasil e seus crescentes indicadores de analfabetismo funcional e principalmente a quem atinge.
Não há tempo e nem disposição para propor ociosidade às classes trabalhadoras e principalmente à população negra que compõem mais de 60% desta formação populacional. Não há tempo para defender diletantismo quando os índices de homicídios ocorrem entre jovens negros e pobres. Não há tempo nem condições materiais para defender o hedonismo quando nossa juventude não possui infância muito menos juventude decente em nosso país. Não há tempo nem paciência para defender uma escola cuja educação continua sustentando posições racistas, filosoficamente positivista, xenófoba, machista, misógina, lesbo-homofóbica.
Portanto, as juventudes brasileiras em sua imensa maioria não são jovens que pertencem a “uma banda numa propaganda de refrigerante” como dizem os sicofantas nazifascistas de plantão, chamados de cochinha, alguns possui nomes pomposos com Engenheiros do Hawaii, muitas vezes com a função de convencer estas tribos de forma subliminar de que é tudo igual, todo político é ladrão, o Estado é pra oprimir e garantir a mais-valia, a juventude negra é pra ser assassinada, as mulheres negras estupradas, as religiões de matriz africana devem ser demonizadas, crianças e adolescentes alienados, o meio ambiente destruído para reprodução do capital, as classes trabalhadoras para explorar e LGBT é pra ser exterminados assim como fizeram com nossos povos originários (Não uso indígena porque é uma expressão do colonizador) em suas musicas que são só dançantes.
Numa manhã de janeiro 93, ao participar de uma atividade da UBES em São Paulo, fui tomado por uma força maior que os grilhões que nos aprisionava, pois estava estampado em uma camisa da juventude marxista:
"Que as classes dominantes tremam à ideia de uma revolução Comunista! Os proletários nada tem a perder nela a não ser as correntes que o aprisionam. Tem um mundo a ganhar”. (Karl Marx)
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Parabens companheiro Sonkha, mais uma vez a sobriedade do seu texto nos faz pensar na manipulação cultural que nos é imposta dia-a-dia. Mas não vamos nos dispersar e sim permanecer na luta engossando as fileiras do socialismo.
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