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sexta-feira, 26 de julho de 2013
O HOMEM COMO SER COLETIVO: HISTÓRIA DO SURGIMENTO DO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA.
julho 26, 2013
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por
Vinícius...
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"No século XXI, é visível até para o senso comum, o quanto o capitalismo se tornou nocivo para a sociedade." |
"É preciso repensar o mundo em que vivemos, é preciso compreender que somos parte do ecossistema e que temos a obrigação de lutar para que ele tenha vida em plenitude, é preciso superar esse modelo de desenvolvimento e propor outro, onde a vida prevalece sobre o desejo de lucro e da acumulação de riquezas, (...)"
* Por João Paulo Pereira
Chegamos ao século XXI, a sociedade capitalista mais uma vez vivendo uma crise profunda dos valores que estruturam esse modelo de desenvolvimento, que ao longo da história tem demonstrado a partir de vários acontecimentos que fracassou no objetivo de garantir o bem estar da sociedade de forma geral.

Vivenciamos atualmente, um mundo marcado pela violência, pela fome, pelo desemprego estrutural, pelos conflitos étnicos, religiosos, pelo imperialismo dos países desenvolvidos sobre os países em desenvolvimento e subdesenvolvidos, pelo abandono de regiões e de seres humanos por não seres produtores de lucro para a grande empresa capitalista, pela deteorização das culturas em função da dominação ideológica capitalista, da transformação das relações sociais em mercadoria e das transformações nas relações humanas que deixaram de serem pautadas pelo sentimento de fraternidade e solidariedade e respeito às diferenças, para se pautar pelo sentimento de ódio.
Do ponto de vista histórico, é preciso compreender o desenvolvimento deste modelo de desenvolvimento. No século XIII, a Europa Ocidental passava por grandes transformações, o modelo de desenvolvimento feudal aprofundava-se numa crise terminal, esgotamento das terras produtivas, crescimento da fome, doenças que dizimava grande parte dos trabalhadores rurais, empobrecimento das nobrezas tradicionais, novas invasões estrangeiras, conflitos constantes entre Cristãos e Mulçumanos.
Por outro lado começava a se desenvolver por toda a Europa Ocidental uma nova modalidade produtiva, a figura do mercador que desde o século IV, comercializava produtos através do escambo com o Oriente, começa a ganhar corpo na decadente sociedade feudal e aparecia como alternativa econômica para uma Europa mergulhada na pobreza.
O crescimento econômico desta casta social promoveu profundas mudanças na sociedade européia, surgiu o renascimento comercial, o reaparecimento da moeda, passou a prosperar pequenas cidades, que surgiram a partir das feiras onde estes mercadores promoviam o comércio, essas cidades eram chamadas de “Burgos”, e logo estes mercadores ou comerciantes passaram a serem chamados de “burgueses”. Era um novo mundo nascendo, onde as relações humanas ganhariam outros contornos, onde as relações sociais perderiam o caráter humano e ganharia um caráter comercial, onde às relações políticas se transformariam, surgindo à figura do Estado regulador da sociedade e das vidas. E um novo ambiente cultural nasceria em substituição a tudo que foi construído pela Idade Média e pelo Feudalismo.
Este novo momento da história da humanidade nasceu das “práxis” de homens que fizeram a diferença política em seu tempo, entretanto, essa práxis ganhou um contorno teórico a partir do século XIV, com o surgimento de grandes pensadores que passaram a estruturar teoricamente o novo mundo nascente. Figuras como Thomas Hobbes, Nicolau Maquiavel, Jean Jacques Bossuet, Jean Bodin entre outros, construíram a teoria que serviria de base para alicerçar o novo modelo de produção que surgia em substituição ao Feudalismo, que a historiografia chamou de Mercantilismo, ou Capitalismo Comercial, que teve como características principais, a centralização do poder político, a acumulação de riquezas pelo Estado nascente, através da acumulação de metais e minerais preciosos, manutenção da balança comercial favorável, proteção das fronteiras contra a entrada de produtos estrangeiros, e a busca incansável pelo lucro.
Com tantas mudanças na estrutura social e política da Europa Ocidental, os antigos agentes do feudalismo reagiram e passaram a questionar as mudanças, sobretudo, a Igreja Católica Apostólica Romana, que era a grande força política, cultural e social do Feudalismo, nesse momento a burguesia percebe que para garantir o sucesso de seu empreendimento político, econômico e social, precisaria derrotar a Igreja Católica. Para isso, essa nova classe social, agora forte em função da acumulação de riquezas, passou a construir movimentos que foram fundamentais para a consolidação do capitalismo enquanto poder hegemônico.
Inicialmente foi a instituição dos chamados Estados Absolutistas Nacionais, com a unificação de vários reinos, sob a direção de um rei absolutista, que detinha todo o poder em suas mãos, submetendo ao seu poder todos os outros senhores feudais, através da formação de um exército patrocinado por essa burguesia. Outro movimento fundamental para instituição do novo mundo a partir da ótica burguesa foi o Renascimento Cultural, este que teve como base a Itália, tratou de trazer de volta os princípios da cultura clássica Greco-Romana, em substituição dos princípios culturais implantados pela Igreja Católica durante a Idade Média.
Os princípios da Renascença, gradativamente foram substituindo os princípios do Idealismo Católico que nortearam a vida cultural e social da Idade Média, e do modo de produção Feudal, criando um novo mundo, uma nova sociabilidade fundamentada nos princípios do Racionalismo, Individualismo, Humanismo, Otimismo, e Centralismo Político, garantindo a base filosófica e teórica para o surgimento do modo de produção capitalista.
Um novo mundo passa a nascer a partir da Europa Ocidental. Mesmo sofrendo a crítica direta e a oposição da Igreja Católica Apostólica Romana, que por ser detentora do poder na sociedade feudal, se levantava contra os novos ventos da sociedade burguesa. Para a burguesia, restava vencer definitivamente a Igreja Católica, enfraquecendo seu poder e garantindo a hegemonia do seu modo de vida. Para isso, iniciou o processo de construção de um novo pensamento religioso que atestasse os anseios da nova classe social emergente.
Se aproveitando dos diversos erros cometidos pelo Alto Clero Católico, que buscava adaptar-se ao novo mundo burguês, ao mesmo tempo em que procurava garantir a manutenção dos seus privilégios e de sua riqueza, criando as vendas de Indulgências, vendas de Relíquias Sagradas, essa burguesia se apropriou do discurso de clérigos como Martinho Lutero, João Calvino, John Wycliffe, John Huss entre outros, que divergiam da ação e do pensamento da Igreja Moderna e promoveu a chamada Reforma Religiosa, criando as Igrejas Protestantes.
Uma ação política que, enfraqueceu o poder religioso e político da Igreja Católica e em alguns países foi completamente substituída por novas religiões, que também tinha o Cristianismo como fundamentação teológica, mas o discurso se aproximava do pensamento burguês no que tange o modelo de sociedade em que deveria a humanidade viver. Passaram a defender o lucro, a acumulação de riquezas, o trabalho como forma de dignificação do homem, justificando o processo de exploração do homem pelo homem, tudo que a burguesia precisava para garantir o poder sociocultural sobre a sociedade.
Durante toda a Idade Moderna, que compreende os séculos XV ao século XVIII, prevaleceu essa lógica da acumulação capitalista burguesa, era a primazia da Revolução Comercial, do mercantilismo sobre o feudalismo, o momento em que a classe burguesa se apodera do poder político e passa a questionar toda a ordem feudal, mesmo fazendo parte de Monarquias absolutistas, que ainda mantinham resquícios da antiga sociedade medieval.
A partir do final do século XVII e durante os séculos XVIII e XIX, a burguesia inicia um novo período de lutas, em busca da consolidação definitiva da sua visão de mundo sobre a sociedade, o que Eric Hobsbawm chamou de “Era das Revoluções”.
No século XVII, a nova burguesia que agora se tornava proprietária dos meios de produção, e que havia se enriquecido com o comércio, passou a perceber que somente a atividade comercial não rendia o lucro que esta nova classe almejava. Depois te ter acumulado muitas riquezas com o processo de colonização da América e de algumas regiões da África, a burguesia européia, compreendeu que se produzisse ela mesma o produto para ser comercializado, teria maior rentabilidade, o capitalismo comercial começa a ser substituído pelo capitalismo industrial, sobretudo na Inglaterra de onde surge a primeira Revolução Industrial.
O mundo muda mais uma vez a favor do crescimento desta nova classe social, que se torna a mais forte do ponto de vista econômico, e que precisa objetivamente dominar o poder político que ainda estava nas mãos do Reis Absolutistas. É nesse momento que a burguesia inicia sua jornada, objetivando a conquista definitiva do poder político na Europa e no Mundo.
Inicialmente com a Revolução Gloriosa na Inglaterra, onde a burguesia pela primeira vez assume de fato o poder político ainda no final do século XVII, já no século XVIII, aconteceu a Independência dos Estados Unidos da América, logo depois veio a Revolução Francesa que se estendeu até o século XIX e se tornou uma referência importante para a eclosão de movimentos de independência por toda a América de Língua Espanhola e para movimentos que iniciaram as lutas pela independência do Brasil.
Era a história em movimento, grandes mudanças acontecendo no planeta em função da ação da burguesia e do nascimento do capitalismo. É preciso ressaltar que para a burguesia, eles estavam criando o mais belo dos mundos, uma visão que pode ser percebida com facilidade nos trabalhos de Thomas Moore, John Locke, Adam Smith, David Ricardo entre outros pensadores do modo de produção capitalista.
Com o desenvolvimento do modo de produção capitalista, a história começa a dar conta de que a prática deste novo modelo, não correspondia a utopia de sua teoria, o mais belo dos mundos não veio, na verdade logo nos primeiros momentos da chegada da burguesia ao poder e da eclosão da segunda Revolução Industrial, o cenário era desolador. A classe trabalhadora, o trabalhador assalariado que passa ser a mão de obra utilizada para produzir riquezas, percebeu que seu destino estava traçado. A riqueza produzida por eles era apropriada pelo dono do meio de produção que não distribuía essa riqueza, ao contrario, passou a acumular mais e mais, enquanto aqueles que a produzia eram relegados a condição de pobreza, de abandono dos direitos fundamentais da vida, uma grande maioria jogada a miséria.
Os capitalistas perceberam que precisariam manter um grande exército de desempregados como ferramentas reguladoras na relação conflituosa entre capital x trabalho, ou seja, o empregado que não aceitasse a relação de dominação e de exploração de sua mão de obra, seria tranquilamente substituído por um desempregado, membro deste exército de reservas de mão de obra para as indústrias cada vez maiores e mais produtivas.
Esse modelo de desenvolvimento ainda em atividade por todo o planeta mantém toda a estrutura de exploração e todos os mecanismos de dominação da classe que vive do trabalho. O capitalismo, mesmo sofrendo alterações em sua aplicabilidade prática ao longo da história do século XX, não superou o mecanismo de exploração dos trabalhadores, a “mais valia” (diferença entre o valor do produto, produzido pelo trabalhador, para o salário que ele recebe pela produção). Na verdade ampliou o processo de exploração, compreendeu que todo o planeta é um ente gerador de lucro para acumulação dos capitalistas, compreendeu que tudo que se refere à vida humana pode gerar lucro e acumulação de riquezas e em função disto, continua a explorar o homem, a vida e o planeta de forma predatória.
No século XXI, é visível até para o senso comum, o quanto o capitalismo se tornou nocivo para a sociedade, a perca dos valores que humanizam os indivíduos, a substituição do sentimento de amor pela vida, pelo ódio generalizado no conjunto das sociedades, que tem causado tanto mal a vida humana e a vida do planeta de forma geral, as sucessivas guerras que eclode em todos os cantos, com objetivos de garantir a manutenção do lucro e da acumulação de riquezas, o descaso com os pobres do planeta, por parte dos países desenvolvidos, a exemplo dos países africanos, que devido à exploração capitalista do final do século XIX e meados do século XX foram empobrecidos e hoje completamente abandonados por não terem mais a capacidade de produção de lucro para acumulação de capital para os países desenvolvidos, o baixo índice do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, o crescimento do crime organizado por todo o mundo e que hoje divide poder com o Estado de Direito. Tudo isso demonstra claramente que o sistema capitalista mostrou sua incompetência na geração da vida plena e no desejo de seus pensadores em está construindo o mais belo dos mundos.
Como se não bastasse todas essas situações apontadas acima, o modelo de desenvolvimento capitalista, ainda apresenta outros problemas. Mesmo nos países desenvolvidos, onde as condições objetivas da vida humana, não se diferenciam tanto, se percebe um grave problema social, como por exemplo, o individualismo das pessoas, a necessidade extrema de trabalhar para acumulação de riquezas como garantia de vida digna, leva ao isolamento das relações interpessoais, o que tem acarretado no crescimento de problemas psicossomáticos, como a depressão, esquizofrenia, síndrome de pânico entre outros problemas desta ordem, que culminam com um alto índice de suicídio entre a juventude, para comprovar isso é só observar os altos índices em países desenvolvidos, com alto IDH, como a Suécia, Suíça e Japão.
Desta forma é fácil perceber que o capitalismo não deu conta da construção do mundo onde a vida plena seja efetiva, não conseguiu responder as necessidades de felicidade da humanidade, não garantiu o bem estar financeiro da população mundial, não garantiu a sobrevivência das espécies e trabalha arduamente para a extinção da vida no planeta.
É preciso repensar o mundo em que vivemos, é preciso compreender que somos parte do ecossistema e que temos a obrigação de lutar para que ele tenha vida em plenitude, é preciso superar esse modelo de desenvolvimento e propor outro, onde a vida prevalece sobre o desejo de lucro e da acumulação de riquezas, um mundo onde o amor vença o ódio, onde os seres humanos reaprendam a respeitar o diferente e as diferenças, onde a paz definitivamente seja o caminho buscado por toda a espécie humana.
_______________
* João Paulo Pereira é graduado em História pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Especialista em Gestão Educacional pela Universidade de Ciências, Filosofia e Letras de Candeias; Professor da Rede Pública Estadual e Coordenador Municipal de Modalidade de Ensino Educação Jovens e Adulto de Anagé e militante dos Agentes de Pastorais Negros do Brasil. (APNS)
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Texto preciso e bastante esclarecedor sobre a construção de nossa sociedade atual...este demonstra bem o valor do ócio construtivo para o pensamento e seus reflexos mas...numa sociedade demandante de uma produção em escala e velocidade cada vez maior...o uso deste parece-se próximo do impossível para a massa...resta-nos buscar em cada um de nós os meios para o uso adequado de nossos conhecimentos e redirecionamento de perspectivas para...quem sabe um dia...nos vermos livres dos “ismos” que sedimentaram essa sociedade nas correntes de Das Kapital...
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