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quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Desembestados Ideológicos


*por Carlos Maia


I

 

Eis que finalmente

Chega o dia

Do enlace matrimonial

Mais esperado do ano.

 

II

 

De um lado ele

Um palhaço democrata

Do outro lado ela

Carcomida mas insistente: democracia burguesa.

 

III

 

Um par quase perfeito

Não fosse os contratempos

Da realidade de barbárie

E da crise de exaustão

 

IV

 

Ambos pretendem,

Completar-se também

Na mais antiga elucubração política

Demagogia de união para todos.

 

V

 

Mas este recurso do oráculo

Não resiste mais aos balanços e tremores

Da natureza e das acidezes

Que queimam às úlceras e os ventres vazios.

 

VI

 

Que são frutos

Quanto muito

De alimentos azedos

Da carniça que lhes põem pratos.

 

VII

 

Oh! Deuses. Oh! Santos

Porque permitem

Que papeletas e discursos

Enfeitem a “festa”.

 

VIII

 

Mais que a representação do povo

Mais que a sociedade civil

Estava em espreita participativa

A cadela adotiva.

 

IX

 

Atende-se hoje pela alcunha de resistência

Amanhã correrá desgarrada e sem coleira

Por todos cantos do palácio

Na certeza de uma eminência parda.

 

X

 

É pagar para vê

Ou alguém menos desavisado

Ou algum cabo eleitoral

Que não se envergonha.

 

XI

 

Insistem em repetir a história

Não mais como uma tragédia mas como uma farsa

Num processo em que as faces não se ruborizam

Devido ao óleo de peroba que parece lhes cair bem.

 

XII

 

Uma camada de verniz copal sintético

Também deve ser importante

Para cobrir as imperfeições naturais

Da cara de pau dos defensores da amplitude reformista.

 

XIII

 

Tudo isso em nome de uma frente única ampla antifascista

Como se o fascismo não tivesse nascido de partido socialista

Como se não soubesse dos alfinetes da luta de classes

E das rosas espinhentas da revolução.

 

XIV

 

Oh! Bundas. Oh! Céus

Por onde andam os caminheiros do mundo?

Disputando palmo a palmo

Os temperos da “ordem constitucional cidadã”.

 

XV

 

Serão eles amantes da social-democracia

Ou do pragmatismo alienante

Do populismo conservador

Da aristocracia operária.

 

XVI

 

Combate-se o reacionismo

Com outra reação aos olhos do povo

Onde debate-se projetos e crenças

Na mais odiável das alienações estruturais.

 

XVII

 

No espaço das ideologias

Impõem-se os elos

Das correntes que seguram homens e mulheres

Na superestrutura da máquina estatal.

 

XVIII

 

Passando por cima

Dos espíritos aventureiros

Das elegantes sementeiras

De serpentes venenosas.

  

XIX

 

Vai-se cascavel

Vai-se jararaca

Vai-se patronas

Vai-se cobra-coral.

 

XX

 

Onde pensa-se na neutralidade

Do soro antiofídico

Que faltará nas emergências

Por onde filtram-se a cura.

 

XXI

 

Há muito tempo a sociedade

Encontra-se doente

Em estado de putrefação

Nem por isso deve-se acreditar no fim do mundo.

 

XXII

 

As lutas de classes permanecem

Como motor da história

E o proletariado deve arrebatar as vanguardas

Para continuar o movimento ao infinito.

 

XXIII

 

E o levante fascista

Não mais suportará

Reclames de golpismo

Da intolerância e do reboquismo.

 

XXIV

 

Querem hoje algo mais

Que as vidraças dos palácios

Que as cadeiras de ministros

Querem assento no poder de Estado.

 

 

 *Carlos Maia – Janeiro/2023

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