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quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Um Ano Sem o Baixo



*por Carlos Maia


Já se passou um ano desde que deixou de pensar um fabuloso cérebro de profundo conhecimento do materialismo histórico e dialético. O Baixo, como costumávamos chamar Edmilson Carvalho de Almeida ou Edmilson Carvalho, ou ainda, simplesmente, Baixinho para os mais chegados, esta “pequena águia nordestina”, este “velho carcará sanguinolento”, que não se contentava em caçar filhotes da burguesia, mas sim, em sangrar com suas garras afiadas, o pescoço e as cabeças das serpentes do capital. Vivia cheio de estímulos políticos ideológicos, que não eram capazes de obscurecer sua mente, nem deixar que ela fosse supurada pelos embalos do senso comum, mas que, pelos esforços de conhecimento da totalidade, separando os fenômenos para os devidos tratamentos e estudos das suas correlatas mediações, ganhou corpo no conjunto e nos fragmentos de sua obra.

Assim era o Baixo, nu e cru, como se diz no populacho, que tanto gostava de apreciar com profundidade nos escritos de Graciliano Ramos, ou de José Guilherme da Cunha, seu amigo particular, ou ainda os poemas de nossa lavra, aos quais cada versos eram devidamente comentados. Portanto, dentro das suas limitações e aprendendo mais com seus erros do que com os acertos, foram poucas as esferas do conhecimento em que não beliscou, muito porque, as águias como aves de rapina, escolhem o alimento a saborear e os apanha ainda vivos, ao contrário dos abutres e os urubus que se contentam com qualquer tipo de carniça, como é mesmo o mundo fetichizado das mercadorias.

O Baixo contribuiu enormemente com a geração de comunistas surgida, principalmente, nos anos 80 do século XX, realizando com eles, um balanço e uma negação dialética do que foi e representou o revisionismo e o reformismo da “Tradição de 22” (PCs), o stalinismo, o maoismo, o foquismo guevarista, a social-democracia, o trotskismo, o luxemburguismo, o gramscismo, o autonomismo, o basismo, o liberalismo anarquista,, o pós-modernismo, dentre outras concepções que compõem o universo da fragmentação e descostura do marxismo, tanto em seus aspectos políticos ideológicos, quanto da superestrutura, bem como em vários aspectos da estratégia, da tática e da concepção de organização para a classe operária, na perspectiva da superação do sistema do capital.

 Um coração cheio de amor pela vida e, por demais generoso para com seus mais próximos seguidores e familiares, não bate mais. Também, um cérebro denso e profundo paralisou e, por conseguinte, deixou de pensar. Foi assim, aos poucos, a contragosto, e, numa resistência enorme pela vida, definhando o “Velho Baixo”, aquele a quem só lembranças boas se guarda de um dedicado, belo e brilhante, educador e teórico de formação marxista revolucionária.

Apesar de boa parte de sua vida ter habitado os muros da academia, nenhum momento se considerou um acadêmico. Foi um homem da militância política e social. Um teórico e crítico marxista das concepções revisionistas e reformistas. Ele deixou para as novas gerações de militantes, que como ele se esforçava em dedicar-se, ao estudo não dogmático, e sim, na mais expressiva tradição metodológica categorial sistemática dos conceitos e leis da dialética, bem como do funcionamento da história, com seus avanços e recuos, movimentos, rupturas e saltos, tanto no que se refere às ações das classes, e/ou castas e segmentos de classes, conjunturais quanto estruturais, assim como, no que se refere aos movimentos da superestruturas, jurídicas, políticas e ideológicas. Em tudo isso o Baixo deixou pistas e contribuições importantes. Esboços geniais ainda podem ser observados em suas contribuições e análise da arte e da cultura, que coroou de êxito a sua erudição intelectual, não só na política, na economia, na filosofia, na história. Conheceu, ainda, muito bem, grandes nomes da literatura brasileira e mundial, principalmente, os clássicos universais, e, ainda, um bom número de poetas clássicos revolucionários e contemporâneos.

A sua erudição em matéria de política, economia, história, filosofia, literatura, cultura e arte, não foi qualquer coisa e, certamente, sem medo de errar e sem nenhum culto à personalidade, tão comum nas esquerdas, ele se ombreou com os grandes e principais marxistas da atualidade, um dos melhores, mais preparados e qualificados revolucionários comunistas do Brasil e da América Latina.

O Baixo, com toda certeza, figurará na galeria e no panteão da história dos melhores, mais qualificados e preparados marxistas brasileiros e da América latina. Sua obra, composta na maioria por ensaios diversos, dentro da temática do marxismo, não deverá passar em branco, pois, será devidamente catalogada e entregue para uma revisão, e, posteriormente, publicação.

 

 

Carlos Maia - Setembro/2022

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