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quarta-feira, 14 de abril de 2021

Reaja ou Será Morta! Reaja ou Será Morto!

 

Reaja ou Será Morta! Reaja ou Será Morto!

MANIFESTO VIII MARCHA INTERNACIONAL CONTRA O GENOCÍDIO DO POVO NEGRO

 

"Dessa forma, não restam dúvidas sobre a ineficiência das ações governamentais e programas políticos capitaneados pelo poder branco, que, a despeito de se alterarem a cada período eleitoral buscando cooptar e controlar nossas demandas, vem se apresentando como placebo para o povo negro."

 

15 anos de Luta: Seguimos em Marcha!

 

Não fazemos marcha virtual, atuamos na realidade em que vivemos. No ano onde intensas crises e desajustes estão sendo desveladas em meio a profecias que trafegam entre o renascimento da humanidade e o seu fim, a Reaja ou Será Morta, Organização Política completa quinze anos de luta política radical.

Neste momento de crise humanitária em que assistimos os governos planejarem, executarem e assistirem a morte de mais de 100mil pessoas; do silêncio daqueles que antes se furtavam a reconhecer o genocídio do povo negro, mas que hoje se aperfeiçoaram em calar, ainda que continuem falando tanto sobre nós; diante da morte de crianças , jovens e adultos negros vítimas de tiros de fuzil que partem das polícias de todas as partes do país e do mundo;  diante de toda situação de brutalidade, violência, humilhação e encarceramento desproporcional em que vive nosso povo desde que chegamos nesse território, nós, da Reaja,  seguimos os princípios cunhados em 2005,  com cada vez mais certeza de que o caminho para nossa libertação será produto de nossa luta coletiva, autônoma e radical.

Nós compreendemos que de George Floyd em Mineápolis, Estados Unidos a Micael Silva no Nordeste de Amaralina, em Salvador, Bahia, da menina Agatha, no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro ao Sr. Almir Paiva, na Saramandaia, em Salvador, Bahia e o menino Miguel, em Recife, Pernambuco, de Messias Bolsonaro a Rui Costa, que a supremacia branca tem nos demonstrado que, independentemente da conjuntura, nós estamos em condição de não-existência, de não humanos.

Dessa forma, não restam dúvidas sobre a ineficiência das ações governamentais e programas políticos capitaneados pelo poder branco, que, a despeito de se alterarem a cada período eleitoral buscando cooptar e controlar nossas demandas, vem se apresentando como placebo para o povo negro. Somam-se a este quadro mobilizações gigantescas que tem sido impulsionadas por organizações perenes, sem compromisso com as vidas de das pessoas negras e que não possuem a capacidade de alterar nossa condição enquanto povo.

Sendo assim, seguimos acreditando que nossa luta está para além da conjuntura, orientando nossa prática para ser um fio condutor que permita a nossa libertação e reorganização enquanto povo, pois não podemos entregar o nosso legado de luta aos acadêmicos bem-intencionados, aos partidos e as ONG’s, como um caminho possível.

Em 15 anos da Organização Reaja ou Será Morta, temos estremecido esse clima de acordo e consenso, essa diversidade cosmética e estética que quer limitar a nossa trajetória política, social, cultural, religiosa de luta e que se faz cada vez mais presente na cidade de Salvador. Do lado de cá da ponte, temos assistido toda histeria coletiva diante do que se chama de avanço do conservadorismo e o medo de parcela de pretas e pretos de perder seus privilégios - que buscam se igualar a uma classe média branca - enquanto a maioria de nós não temos sido agraciados com os benefícios garantidos pelos subornos e migalhas raciais dos últimos anos, e repetimos em coro: ou é todos nós, ou é nenhum de nós.

Ao longo desses anos, viemos nos preparando para este momento no qual a guerra racial se acirra e o genocídio do povo negro atinge um patamar mais sofisticado de letalidade. Avisamos que dias piores chegariam e hoje sabemos que estamos vivendo apenas os primeiros momentos, pois a fome, o desemprego e a falta de possibilidades nos aproximam cada vez mais do caos. É preciso que estejamos organizados em nossos territórios, articulados e unidos a partir da prática.

Semeamos um novo horizonte de solidariedade e luta autônoma preta através da prática cotidiana como uma verdadeira estratégia de guerra travada digna e conjuntamente por todos os nossos aliados do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra da Bahia (MST-Ba) e da Articulação de movimentos e organizações Teia dos Povos. Enquanto muitas pessoas e organizações, se reservaram a tentativa de preservar seu bem estar individual, nós andamos de mãos dadas com a solidariedade preta e proporcionamos alimentação saudável para todos os familiares que compõem a nossa Escola Quilombista Comunitária Winnie Mandela, além de nossas irmãs e irmãos privados de liberdade.

O estado, em mais uma tática de genocídio, se negou a prestar os cuidados adequados aos presos custodiados pelo governo da Bahia. Desta forma, como sempre fizemos ao longo da nossa trajetória, proporcionamos ao nosso povo aquilo que o ódio racial direcionado aos nossos corpos e vidas sempre impediu e entregamos cerca de 12 mil itens de produtos de limpeza geral e higiene pessoal para prisioneiros e prisioneiras do complexo penitenciário da Mata Escura e Colônia Agrícola Penal Lafayete Coutinho.

Depositamos este ano, como todos os outros de existência da Organização Reaja, nossos esforços para os irmãos e irmãs encarcerados e aos pretos espalhados pelas comunidades da cidade de Salvador. Destacamos que estamos em Marcha. Seguimos marchando para garantir nossa existência, nosso direito a vida e o combate permanente ao Genocídio do Povo Negro. Estamos na VIII Marcha Internacional contra o Genocídio do povo negro.

Este ano, decidimos que não sairíamos as ruas como fazemos anualmente. Isso por sabermos dos riscos que enfrentamos nesta pandemia e da situação de vulnerabilidade agravada na qual nos encontramos. Estamos cada vez mais nos preparando para o que a realidade nos exige, de olhos abertos e punhos cerrados.

Apontamos o caminho para o futuro que virá com a preocupação de uma organização que vem amadurecendo, compreendendo que palavras sem prática e prática sem fundamento levam ao definhamento político e a impossibilidade da real e efetiva libertação do povo preto.

Sendo assim, orientamos nossa prática para a nossa gente: construímos escola, fundamos editora, lançamos discos, livros, jornais e investimos todo nosso amor e compromisso na construção de estruturas que garantam nossa libertação. A marcha nas ruas é parte de nossa luta e representa o resultado e a demarcação de tudo que acreditamos e construímos durante nossa permanente marcha silenciosa nas cadeias, vielas, bairros pretos e territórios sócio racialmente apartados. Afinal, nossas ações convergem a uma perspectiva de unidade preta independente das circunstâncias em que ela se apresente.

Continuamos afinados com os nossos princípios de autonomia, solidariedade, compromisso e amor aos pretos e pretas. Neste ano, assumimos a missão de politizar a morte do menino Micael Silva, assassinado aos 11 anos de idade na comunidade do Nordeste de Amaralina, acolhendo a demanda da família para provar que Micael foi mais uma vítima da brutalidade policial do estado da Bahia, sendo morto e criminalizado, assim como tantos outros casos em que somos abatidos e que nós acompanhamos nessa trajetória de luta contra o genocídio do povo negro. Neste caminho, tomamos a linha de frente em uma campanha internacional de apoio aos indivíduos encarcerados na cidade de Salvador, Bahia, que se iniciou no dia 19 de março de 2020 e com a qual seguiremos até que se faça necessário.

Estamos reafirmando nossa ancestralidade. Seguimos lutando em diversas frentes. Estamos reafirmando nosso compromisso e nossa solidariedade negra. Estamos construindo e escrevendo nossa própria história, cunhada por mãos pretas. 

Estamos em Marcha.

Seguimos em Marcha.

Contra o Genocídio do Povo Negro, Nenhum Passo Atrás!

Salvador, 22 de agosto de 2020.

Organização política Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto.

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