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terça-feira, 13 de outubro de 2020

MAZINHO: Um militante de esquerda comprometido com a classe trabalhadora.

 

"Mazinho é um crítico contumaz da reforma previdenciária do governo do PT na Bahia por ter consciência de que isso promoveria perdas irreparáveis de garantias de direitos conquistados com lutas incessantes da categoria (não foram concessões governamentais), inclusive o próprio PT fez parte dessa trajetória." 


*por Herberson Sonkha

 

Posso afirmar sem nenhum medo de cometer equivoco que Mazinho não é um candidato dele mesmo. Diferente dos carreiristas de plantão ou situacionistas à procura de privilégios, oportunidades fáceis ou em busca de vantagens financeiras pessoais. Mazinho vem de longe, participou na construção da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT).

Mazinho foi forjado no calor das lutas sociais, sindicais e das Comunidades Eclesiais de Base (CEB) no Brasil, experimentado com louvor nas grandes manifestações políticas por mudanças estruturais do país, sobretudo aquelas em favor da classe trabalhadora e das populações periféricas.

O conheci na cidade de Anagé aonde passei parte de minha infância em meados dos anos 70, do século XX. Painho era amigo da família e o chamava carinhosamente de Mazinho de compadre Lalaô. Desse tempo, carrego apenas as lembranças agradáveis das brincadeiras da infância correndo pelas ruas de uma Anagé das festas juninas e dos banhos no rio Gavião. Uma delas era a de uma rural branca com detalhes verde-água estacionada em frente à casa que funcionava um comércio, parece-me um tipo de consultório de dentista que ficava no mesmo alinhamento da Escola Estadual Rosel Soares.

Interrompida em 1979 quando painho foi embora para Jequié e só o reencontraria no início de 1990 quando conheci Iranildo Freire estudando história na UESB e reaproximei das atividades políticas do PT de Anagé. E em 1998 já como servidor público municipal lotado no gabinete do prefeito Guilherme Menezes. Mais tarde foi transferido para a Secretaria de Expansão Econômica para trabalhar com o professor e economista Darci, o camarada Branco de Anagé e com outro economista Antônio Leal. Ambos se tornariam mais tarde meus professores na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, nas disciplinas de Economia Política I e de Contabilidade Pública.

De lá, Mazinho seguiu para a Secretaria de Desenvolvimento Social para trabalhar na Coordenação de Habitação Popular, coordenado por Almir Pereira. É neste momento que retomamos a relação de amizade, ampliada pela militância de modo que avançamos para um nível teórico mais elevado, eu diria que politizado no sentido primeiro dado pelas ciências políticas. Participamos simultaneamente da campanha de Almir Pereira em Conquista e de Iranildo Freire em Anagé para vereador do PT.

Ajudamos a construir o debate nas periferias de Vitória da Conquista sobre o Conselho Municipal de Habitação instituído ainda no governo de José Pedral Sampaio, mas inoperante. E aos poucos o governo ia estruturando o Programa Municipal de Habitação Popular com a finalidade de intervir com políticas pública, ofertando unidades habitacionais e lotes para reduzir o déficit habitacional que beirava 30 mil unidades.

Além dessas questões mais burocráticas que tocávamos na coordenação, tínhamos uma militância em função da compreensão crítica acerca dos movimentos de ocupações urbanas no município, surgidos nos idos dos anos 80. Contudo, esse movimento ainda não teria suas pautas atendidas até o final da década de 1990. Por isso, ocorriam várias ocupações de áreas urbanas destinadas à construção de praças, áreas verdes ou no entorno do platô da serra ainda em processo de tombamento como área de preservação ambiental.

Inúmeras vezes íamos as ocupações para discutir as políticas do PMHP e organizar as famílias com a finalidade de transferi-las para áreas de habitação popular destinadas ao assentamento urbano recém-criadas e estruturadas pelo governo do PT. Chegamos a enfrentar determinadas situações de revolta da população em função do processo burocrático, mas nunca fomos atacados física ou moralmente por nenhum dirigente ou integrante desses movimentos de ocupação. Éramos de um tipo de governo participativo de esquerda que auscultava as demandas populares e, na medida do possível, as convertia em políticas públicas, a exemplo de escola, creche e posto de saúde e terrenos e/ou casas populares para moradia.

A cidade convivia com grupos que se instalavam às margens das vias públicas por falta de moradia. Muitos deles eram de outros municípios, e, por isso tinha-se um certo pavor a essas populações alegando serem perigosas, mas cadastrávamos todas elas sem qualquer restrição ou comportamento que as colocassem em suspeição.

Ainda na primeira década do século XXI sair da prefeitura e Mazinho continuou porque havia feito concurso e depois de uma via-crúcis conseguiu atravessar o período probatório. Nunca foi fácil para quem milita à esquerda mesmo dentro do PT, pois a militância ideológica jamais admitiu quaisquer desvios de natureza ideológica e programática.

Muitos filiados à partidos ditos de esquerda dizem que lutam pelos interesses da classe trabalhadora. Alguns dirigentes até se arvoram a falar em nome dessa classe porque em algum momento de sua trajetória política foram dirigentes sindicais ou de entidades de movimentos sociais. Mazinho faz parte de uma minúscula lista de intelectuais que jamais abriram mão da coerência ideopolítica de esquerda, fazendo uma militância sistemática na defesa de interesses da classe trabalhadora e de populações em situação de riscos socioeconômicos e políticos.

Mas, a verdade é que se formos razoáveis com a história de partidos surgidos no seio da classe trabalhadora teríamos que admitir que nem mesmo o próprio Partido dos Trabalhadores (PT) nas últimas décadas, que deveria velar e lutar por esses interesses, há muito deixou de defender essa causa e nem se reivindica mais como legítimo representante ideológico da classe trabalhadora. A tão sonhada revolução socialista deixou de ser uma pauta factível para a direção do partido, se transformando em mais um partido que defende a fluida burguesia e sua sociedade brasileira.

Apesar disso, militantes como Mazinho ainda possibilitam ao partido usufruir da condição de ser uma organização “Dos Trabalhadores”, sobretudo em função da presença de algumas forças internas de esquerda que mantem a coerência. Contudo, os “donos” do PT se beneficiam ao preservar a simbologia na perspectiva de manter cativos os votos dessas populações.

Isso não significa que Mazinho concorda e ou mentem-se em silêncio diante de tudo isso, aliás, continua tecendo críticas acidas e se opondo a este tipo de manobra estratégica do campo hegemônico para iludir quem vive de sua força de trabalho e ainda não adquiriu o nível desejado pela esquerda de consciência de classe e, por isso, não alcança a importante dimensão de se fazer a luta de classe.

Como o pensamento crítico e a razoabilidade não é uma característica marcante na tradicional política brasileira, obviamente que essa tarefa sempre coube a esquerda orgânica de mostrar que a direção do PT se divorciou da aliança com a classe trabalhadora há alguns anos, desvencilhando-se simultaneamente de quaisquer abordagens marxistas ou marxianas como principal orientação política partidária no quadro da teoria social emancipacionista, muito antes do lançamento da Carta ao Povo Brasileiro.

Militantes do tipo de Mazinho não abandonam a concepção de partido de quadros por compreender os estágios distintos da consciência de classe formulada pelo teórico alemão Karl Marx. Compreende a necessidade de aplicação desse conceito para organizar homens e mulheres trabalhadoras para exercício da luta de classes, por ser este conceito fundamental para abarcar a conformação dos grupos sociais.

Mazinho desde os idos tempos de criação do Partido dos Trabalhadores de Anagé no começo dos anos 80, soube que existe essa categoria de pessoas que se relacionam usualmente com os meios de produção, como algo em si (em si) sem qualquer compreensão crítica das contradições desse processo e de sua condição no mundo moderno do trabalho. Por isso, sempre buscou noutra consciência (para si) o caminho inequívoco para o diálogo avançado com os vários extratos organizados dentro da sociedade para fortalecer a luta da classe trabalhadora.

Nessa perspectiva, Mazinho se compreende como trabalhador e examina criticamente sua condição material e intelectual para intervir politicamente na defesa de seus interesses socioeconômico e político de classe. Combatendo desvios e defecções políticas à direita, principalmente da direção do partido que passou a reproduzir o pensamento da maioria que hegemoniza as relações internas de partido com base nos interesses de numa cúpula que decide como agir e o que defender dentro da sociedade.

Algumas pessoas não compreendem por limitações porque Mazinho combate ideologicamente quem conduz o PT a direita, exatamente porque esses grupos dirigentes embarcaram em duas perspectivas: a primeira na narrativa perigosa da pós-verdade que prega o fim da classe operária, de suas organizações políticas e suas aspirações socialistas, apostando na solvência de princípios e adesão a “geleia geral” controlada pelo senso comum que valida o carreirismo oportunista, o pragmatismo político com base no pensamento liberal.

E a segunda, na promessa ideológica neoliberal de riqueza com base no estado mínimo que o torna a matemática dura como mecanismo que transforma investimentos em gastos, seguindo os passos da suposta eficiência do livre mercado. Uma versão mais poderosa e atualizada de "The End of History and the Last Man" do filosofo neoliberal estadunidense Francis Fukuyama publicado 1992.

Mazinho tem feito discussões profundas de princípios, de critérios ideológicos e de lutas de classe que impõe a necessidade de uma teoria social revolucionária para o PT. Ao negligenciar tudo isso, a direção do partido passou a dançar conforme o hit imposto pelo modismo neoliberal. Isso inclui fazer acordos espúrios com quem destrói as organizações políticas, a história, seus pressupostos teóricos, as bandeiras, as conquistas, as lutas da classe trabalhadora e de movimentos populares.

Mazinho está comprometido com qualquer possibilidade de superação coletiva dessa sociedade de reprodução do capital, por vislumbrar o socialismo. Sempre se colocou dentro do partido contra esse hibridismo na política, com ascendência teórica da concepção e práxis política neoliberal. Considerando que talvez fosse mais honesto para esses hegemônicos assumirem o trabalhismo e o populismo liberal como suas principais experiências na política brasileira para evitar o astigmatismo correto e recorrente da esquerda orgânica.

O que de certo modo, evitaria o benefício da dúvida e daria aos seus filiados a oportunidade de decidir se querem carregar esse fardo penoso da capitulação ideopolítica ao neoliberalismo sugerido diariamente pela burguesia. Como um dos fundadores do PT, Mazinho nunca ignorou o fato histórico de que a direção do PT se escondeu na sobra da militância esquerda enquanto perdia cada eleição, irrigando-se das energias coletivas da militância para crescer e se consolidar como um partido de massas grande e forte.

Compreende que o partido venceu sucessivas eleições e que poderia ter caminhado à esquerda, já que radicalizar é algo impensável, para mudar as estruturas arcaicas do país, do estado e dos municípios. Ao menos deveria ter governado com base na cartilha do “Modo Petista de Governar” e certamente teria melhorado efetivamente a vida da população brasileiras, sobretudo dos servidores públicos.

Por conhecer a máquina municipal por dentro, Mazinho sabe que além de não fazer, optou por defender estrategicamente bandeiras mais amplas e difusas com base em propostas e projetos que causam estranhamento aos setores organizados da classe trabalhadora e das populações em situação de subalternidade. Posicionou-se contra a criação de um imenso guarda-chuva político eleitoral para acolher o espólio, a exemplo do carlismo capilarizado por toda a Bahia e seus interesses mesquinhos de manutenção de poder (corrupção, perseguição, exploração, vaidades e mimos).

Não é por acaso que Mazinho ficou contra aqueles políticos tradicionalmente corruptos combatidos pelo PT até o final dos anos 90 (Fora Collor), sobretudo aqueles párias contrários a classe trabalhadora até a medula.  Participou e votou contra eles se tornarem aliados de primeira hora do partido, a exemplo de Eduardo Cunha, Michel Temer, Geddel Vieira Lima, Fernando Collor de Mello, José Sarney, Ronaldo Caiado, Paulo Maluff, Mário Covas e etc.

A lista cabe até quem faz a defesa teórica apaixonada pelo neoliberalismo e suas (ante) reformas que promovem o assalariamento dos servidores públicos. Mazinho é um crítico contumaz da reforma previdenciária do governo do PT na Bahia por ter consciência de que isso promoveria perdas irreparáveis de garantias de direitos conquistados com lutas incessantes da categoria (não foram concessões governamentais), inclusive o próprio PT fez parte dessa trajetória.

A candidatura do camarada Mazinho tem lastro ideológico e legitimidade política suficiente para se colocar como interlocutora dos anseios da cidade. Poucas candidaturas nessas eleições gozam do prestígio e respeito junto a classe trabalhadora e populações das periferias do município.

E isso se deve em grande medida porque o camarada Mazinho não se perdeu no meio do caminho, não caiu no conto do liberalismo e, portanto, questionou o partido ao chegar no governo do estado, inclusive por abdicar de sua história. Esse PT fez uma escolha consciente (em si) pela precarização das condições de vida que começou com os servidores públicos do estado da Bahia e vai ser replicado no município de Vitória da Conquista, mas encontrará na militância de Mazinho (ou quem sabe no legislativo municipal) o contraponto e a resistência!

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