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MAZINHO: Um militante de esquerda comprometido com a classe trabalhadora.
"Mazinho é um crítico contumaz da reforma previdenciária do governo do PT na Bahia por ter consciência de que isso promoveria perdas irreparáveis de garantias de direitos conquistados com lutas incessantes da categoria (não foram concessões governamentais), inclusive o próprio PT fez parte dessa trajetória."
*por
Herberson Sonkha
Posso afirmar sem nenhum medo de cometer equivoco que Mazinho não é um candidato dele mesmo. Diferente dos carreiristas de plantão ou situacionistas à procura de privilégios, oportunidades fáceis ou em busca de vantagens financeiras pessoais. Mazinho vem de longe, participou na construção da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT).
Mazinho
foi forjado no calor das lutas sociais, sindicais e das Comunidades Eclesiais
de Base (CEB) no Brasil, experimentado com louvor nas grandes manifestações
políticas por mudanças estruturais do país, sobretudo aquelas em favor da
classe trabalhadora e das populações periféricas.
O
conheci na cidade de Anagé aonde passei parte de minha infância em meados dos
anos 70, do século XX. Painho era amigo da família e o chamava carinhosamente
de Mazinho de compadre Lalaô. Desse tempo, carrego apenas as lembranças
agradáveis das brincadeiras da infância correndo pelas ruas de uma Anagé das
festas juninas e dos banhos no rio Gavião. Uma delas era a de uma rural branca
com detalhes verde-água estacionada em frente à casa que funcionava um
comércio, parece-me um tipo de consultório de dentista que ficava no mesmo
alinhamento da Escola Estadual Rosel Soares.
Interrompida
em 1979 quando painho foi embora para Jequié e só o reencontraria no início de
1990 quando conheci Iranildo Freire estudando história na UESB e reaproximei
das atividades políticas do PT de Anagé. E em 1998 já como servidor público
municipal lotado no gabinete do prefeito Guilherme Menezes. Mais tarde foi
transferido para a Secretaria de Expansão Econômica para trabalhar com o
professor e economista Darci, o camarada Branco de Anagé e com outro economista
Antônio Leal. Ambos se tornariam mais tarde meus professores na Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, nas disciplinas de Economia Política I e
de Contabilidade Pública.
De lá,
Mazinho seguiu para a Secretaria de Desenvolvimento Social para trabalhar na
Coordenação de Habitação Popular, coordenado por Almir Pereira. É neste momento
que retomamos a relação de amizade, ampliada pela militância de modo que
avançamos para um nível teórico mais elevado, eu diria que politizado no
sentido primeiro dado pelas ciências políticas. Participamos simultaneamente da
campanha de Almir Pereira em Conquista e de Iranildo Freire em Anagé para
vereador do PT.
Ajudamos
a construir o debate nas periferias de Vitória da Conquista sobre o Conselho
Municipal de Habitação instituído ainda no governo de José Pedral Sampaio, mas
inoperante. E aos poucos o governo ia estruturando o Programa Municipal de
Habitação Popular com a finalidade de intervir com políticas pública, ofertando
unidades habitacionais e lotes para reduzir o déficit habitacional que beirava
30 mil unidades.
Além
dessas questões mais burocráticas que tocávamos na coordenação, tínhamos uma
militância em função da compreensão crítica acerca dos movimentos de ocupações
urbanas no município, surgidos nos idos dos anos 80. Contudo, esse movimento
ainda não teria suas pautas atendidas até o final da década de 1990. Por isso,
ocorriam várias ocupações de áreas urbanas destinadas à construção de praças,
áreas verdes ou no entorno do platô da serra ainda em processo de tombamento
como área de preservação ambiental.
Inúmeras
vezes íamos as ocupações para discutir as políticas do PMHP e organizar as
famílias com a finalidade de transferi-las para áreas de habitação popular
destinadas ao assentamento urbano recém-criadas e estruturadas pelo governo do
PT. Chegamos a enfrentar determinadas situações de revolta da população em função
do processo burocrático, mas nunca fomos atacados física ou moralmente por
nenhum dirigente ou integrante desses movimentos de ocupação. Éramos de um tipo
de governo participativo de esquerda que auscultava as demandas populares e, na
medida do possível, as convertia em políticas públicas, a exemplo de escola,
creche e posto de saúde e terrenos e/ou casas populares para moradia.
A
cidade convivia com grupos que se instalavam às margens das vias públicas por
falta de moradia. Muitos deles eram de outros municípios, e, por isso tinha-se
um certo pavor a essas populações alegando serem perigosas, mas cadastrávamos
todas elas sem qualquer restrição ou comportamento que as colocassem em
suspeição.
Ainda
na primeira década do século XXI sair da prefeitura e Mazinho continuou porque
havia feito concurso e depois de uma via-crúcis conseguiu atravessar o período
probatório. Nunca foi fácil para quem milita à esquerda mesmo dentro do PT,
pois a militância ideológica jamais admitiu quaisquer desvios de natureza ideológica
e programática.
Muitos
filiados à partidos ditos de esquerda dizem que lutam pelos interesses da
classe trabalhadora. Alguns dirigentes até se arvoram a falar em nome dessa
classe porque em algum momento de sua trajetória política foram dirigentes sindicais
ou de entidades de movimentos sociais. Mazinho faz parte de uma minúscula lista
de intelectuais que jamais abriram mão da coerência ideopolítica de esquerda,
fazendo uma militância sistemática na defesa de interesses da classe
trabalhadora e de populações em situação de riscos socioeconômicos e políticos.
Mas, a
verdade é que se formos razoáveis com a história de partidos surgidos no seio
da classe trabalhadora teríamos que admitir que nem mesmo o próprio Partido dos
Trabalhadores (PT) nas últimas décadas, que deveria velar e lutar por esses
interesses, há muito deixou de defender essa causa e nem se reivindica mais
como legítimo representante ideológico da classe trabalhadora. A tão sonhada
revolução socialista deixou de ser uma pauta factível para a direção do
partido, se transformando em mais um partido que defende a fluida burguesia e
sua sociedade brasileira.
Apesar
disso, militantes como Mazinho ainda possibilitam ao partido usufruir da
condição de ser uma organização “Dos Trabalhadores”, sobretudo em função da
presença de algumas forças internas de esquerda que mantem a coerência.
Contudo, os “donos” do PT se beneficiam ao preservar a simbologia na
perspectiva de manter cativos os votos dessas populações.
Isso
não significa que Mazinho concorda e ou mentem-se em silêncio diante de tudo
isso, aliás, continua tecendo críticas acidas e se opondo a este tipo de manobra
estratégica do campo hegemônico para iludir quem vive de sua força de trabalho
e ainda não adquiriu o nível desejado pela esquerda de consciência de classe e,
por isso, não alcança a importante dimensão de se fazer a luta de classe.
Como o
pensamento crítico e a razoabilidade não é uma característica marcante na
tradicional política brasileira, obviamente que essa tarefa sempre coube a
esquerda orgânica de mostrar que a direção do PT se divorciou da aliança com a
classe trabalhadora há alguns anos, desvencilhando-se simultaneamente de
quaisquer abordagens marxistas ou marxianas como principal orientação política
partidária no quadro da teoria social emancipacionista, muito antes do
lançamento da Carta ao Povo Brasileiro.
Militantes
do tipo de Mazinho não abandonam a concepção de partido de quadros por
compreender os estágios distintos da consciência de classe formulada pelo
teórico alemão Karl Marx. Compreende a necessidade de aplicação desse conceito
para organizar homens e mulheres trabalhadoras para exercício da luta de
classes, por ser este conceito fundamental para abarcar a conformação dos
grupos sociais.
Mazinho
desde os idos tempos de criação do Partido dos Trabalhadores de Anagé no começo
dos anos 80, soube que existe essa categoria de pessoas que se relacionam
usualmente com os meios de produção, como algo em si (em si) sem qualquer
compreensão crítica das contradições desse processo e de sua condição no mundo
moderno do trabalho. Por isso, sempre buscou noutra consciência (para si) o
caminho inequívoco para o diálogo avançado com os vários extratos organizados
dentro da sociedade para fortalecer a luta da classe trabalhadora.
Nessa
perspectiva, Mazinho se compreende como trabalhador e examina criticamente sua
condição material e intelectual para intervir politicamente na defesa de seus
interesses socioeconômico e político de classe. Combatendo desvios e defecções
políticas à direita, principalmente da direção do partido que passou a
reproduzir o pensamento da maioria que hegemoniza as relações internas de
partido com base nos interesses de numa cúpula que decide como agir e o que
defender dentro da sociedade.
Algumas
pessoas não compreendem por limitações porque Mazinho combate ideologicamente
quem conduz o PT a direita, exatamente porque esses grupos dirigentes
embarcaram em duas perspectivas: a primeira na narrativa perigosa da
pós-verdade que prega o fim da classe operária, de suas organizações políticas
e suas aspirações socialistas, apostando na solvência de princípios e adesão a
“geleia geral” controlada pelo senso comum que valida o carreirismo
oportunista, o pragmatismo político com base no pensamento liberal.
E a
segunda, na promessa ideológica neoliberal de riqueza com base no estado mínimo
que o torna a matemática dura como mecanismo que transforma investimentos em
gastos, seguindo os passos da suposta eficiência do livre mercado. Uma versão
mais poderosa e atualizada de "The End of History and the Last
Man" do filosofo neoliberal estadunidense Francis Fukuyama publicado
1992.
Mazinho
tem feito discussões profundas de princípios, de critérios ideológicos e de
lutas de classe que impõe a necessidade de uma teoria social revolucionária
para o PT. Ao negligenciar tudo isso, a direção do partido passou a dançar
conforme o hit imposto pelo modismo neoliberal. Isso inclui fazer
acordos espúrios com quem destrói as organizações políticas, a história, seus
pressupostos teóricos, as bandeiras, as conquistas, as lutas da classe
trabalhadora e de movimentos populares.
Mazinho
está comprometido com qualquer possibilidade de superação coletiva dessa
sociedade de reprodução do capital, por vislumbrar o socialismo. Sempre se
colocou dentro do partido contra esse hibridismo na política, com ascendência
teórica da concepção e práxis política neoliberal. Considerando que talvez
fosse mais honesto para esses hegemônicos assumirem o trabalhismo e o populismo
liberal como suas principais experiências na política brasileira para evitar o
astigmatismo correto e recorrente da esquerda orgânica.
O que
de certo modo, evitaria o benefício da dúvida e daria aos seus filiados a
oportunidade de decidir se querem carregar esse fardo penoso da capitulação
ideopolítica ao neoliberalismo sugerido diariamente pela burguesia. Como um dos
fundadores do PT, Mazinho nunca ignorou o fato histórico de que a direção do PT
se escondeu na sobra da militância esquerda enquanto perdia cada eleição,
irrigando-se das energias coletivas da militância para crescer e se consolidar
como um partido de massas grande e forte.
Compreende
que o partido venceu sucessivas eleições e que poderia ter caminhado à
esquerda, já que radicalizar é algo impensável, para mudar as estruturas
arcaicas do país, do estado e dos municípios. Ao menos deveria ter governado
com base na cartilha do “Modo Petista de Governar” e certamente teria melhorado
efetivamente a vida da população brasileiras, sobretudo dos servidores
públicos.
Por
conhecer a máquina municipal por dentro, Mazinho sabe que além de não fazer,
optou por defender estrategicamente bandeiras mais amplas e difusas com base em
propostas e projetos que causam estranhamento aos setores organizados da classe
trabalhadora e das populações em situação de subalternidade. Posicionou-se
contra a criação de um imenso guarda-chuva político eleitoral para acolher o
espólio, a exemplo do carlismo capilarizado por toda a Bahia e seus interesses
mesquinhos de manutenção de poder (corrupção, perseguição, exploração, vaidades
e mimos).
Não é
por acaso que Mazinho ficou contra aqueles políticos tradicionalmente corruptos
combatidos pelo PT até o final dos anos 90 (Fora Collor), sobretudo aqueles
párias contrários a classe trabalhadora até a medula. Participou e votou contra eles se tornarem
aliados de primeira hora do partido, a exemplo de Eduardo Cunha, Michel Temer,
Geddel Vieira Lima, Fernando Collor de Mello, José Sarney, Ronaldo Caiado,
Paulo Maluff, Mário Covas e etc.
A
lista cabe até quem faz a defesa teórica apaixonada pelo neoliberalismo e suas
(ante) reformas que promovem o assalariamento dos servidores públicos. Mazinho
é um crítico contumaz da reforma previdenciária do governo do PT na Bahia por
ter consciência de que isso promoveria perdas irreparáveis de garantias de
direitos conquistados com lutas incessantes da categoria (não foram concessões
governamentais), inclusive o próprio PT fez parte dessa trajetória.
A
candidatura do camarada Mazinho tem lastro ideológico e legitimidade política
suficiente para se colocar como interlocutora dos anseios da cidade. Poucas
candidaturas nessas eleições gozam do prestígio e respeito junto a classe
trabalhadora e populações das periferias do município.
E isso
se deve em grande medida porque o camarada Mazinho não se perdeu no meio do
caminho, não caiu no conto do liberalismo e, portanto, questionou o partido ao
chegar no governo do estado, inclusive por abdicar de sua história. Esse PT fez
uma escolha consciente (em si) pela precarização das condições de vida que
começou com os servidores públicos do estado da Bahia e vai ser replicado no
município de Vitória da Conquista, mas encontrará na militância de Mazinho (ou
quem sabe no legislativo municipal) o contraponto e a resistência!
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