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Alexandre Carioca, um perfeito baiano de passagem pelo Sertão da Ressaca
"Vivenciar
essas experiencias maravilhosa nos ajudou a matar a saudade de nossa amizade e
relembrar a importante participação política desse sujeito social crítico no
movimento estudantil conquistense."
*por Herberson Sonkha
Na noite de ontem (10) reencontrei um amigo de mais de três décadas. Um jurássico oitentista de hábitos literário nostálgicos e um ar lupicíniano de um escorpiano incorrigível. Cenho suave, gestos afetuosos, semblante sereno e a voz calmamente trabalhada numa oitava abaixo, as vezes essa oitava é arrastada pra cima pelo chiado do carioquês do “s” e outras vogais abertas. Não menos duro em suas observações sobre o atual retrocesso na cidade promovido por forças políticas ultraconservadoras que coadunam com o desbunde imoral de um clã presidencial miliciano fascista.
As
vezes espraia olhares entusiasmados, noutras um olhar contido de quem se comove
com os dramas alheios impostos por essa selva de pedra que a sociedade burguesa
injusta, mas sem perder de vista a silabação de minha narrativa sobre a sanha
da vida de um trabalhador que escolheu ser um militante orgânico de esquerda
desde sempre, especialmente porque não abriu mão dos sonhos de grandes
transformações estruturais na ordem socioeconômica e política em favor das
camadas mais baixas.
Vivenciar
essas experiencias maravilhosa nos ajudou a matar a saudade de nossa amizade e
relembrar a importante participação política desse sujeito social crítico no
movimento estudantil conquistense. Embora tenha feito um caminho no mundo do
trabalho, afastando circunstancialmente das atividades de militância, não fez
dele um ser humano decrépito politicamente ou um cético empedernido em relação
aos princípios éticos-morais de esquerda.
Foi
com esse espirito monumentalmente generoso que Alexandre Carioca me recebeu na
residência de sua agradabilíssima sogra, Dona Elzi, no Ibirapuera, acompanhado
de sua esposa conquistense a valorosa companheira Cristiane e familiares para
um excelso café das sete. Em seguida fomos deambular pela principal artéria do
bairro Brasil, aliás, encoramos no Celeiro na Frei Benjamim, um lugar aprazível
e antenado com as medidas de prevenção contra a pandemia (Covid-19), organizado
para manter o distanciamento recomendado pela OMS.
Por lá
ficamos até quase a vigésima quarta hora papeando, etilicamente regados pela
velha estrela vermelha alemã estupidamente gelada, a Heineken, petiscando uma
iguaria saborosa. Não havia vitrola debulhando músicas do naipe de Fito Paez,
Joan Baez, Silvio Rodrigues, Pablo Milanés ou Chico Buarque cantando “Roda
viva”, mas estávamos divagando pela literatura social, política, econômica e
filosófica dos nãos 90 e como a cidade havia crescido e se transformado numa
metrópole. Mas, também conversamos sobre o projeto de publicação de um livro,
pois Alexandre Carioca além de funcionário da editora carioca Sextante é amigo
dos editores.
Aproveitando
o ensejo, esse velho comunista não poderia deixar de registrar o belíssimo mimo
intelectual feito a minha pessoa, pois Alexandre Carioca me presenteou com três
obras de relevante importância sociológica para o Brasil, eu diria que o
sociólogo Jessé Souza é imprescindíveis para uma boa e consistente formação
teórica de qualquer intelectual de esquerda, um estudo profundo sobre a complexa
formação do pensamento social, das instituições sociais e das classes sociais
no Brasil nos últimos cinco séculos.
O
dialogo narra a trajetória de mais de 30 anos de amizade construída em solidas
bases de solidariedade e fraterna relação com Alexandre Carioca nos idos da
década de 90. No meado dessa década Alexandre Carioca deixou a cidade de
Vitória da Conquista por motivos de força maior, rumou de volta a sua terra
natal, Rio de Janeiro. E o fez após uma longa estada em Vitória da Conquista,
numa época de intensas atividades sociais na cidade. Acredito que sua passagem
pelo Vocacionário teria deixado profundas marcas na consciência social que
influenciou profundamente a sua práxis política.
Me
parece ser uma tradição do Vocacionário Nossa Senhora Aparecida, um seminário
para religiosos vocacionistas na Província do Brasil, produzir religiosos
intelectuais que se transformam em bons quadros para os movimentos sociais,
sobretudo para instituições políticas ligadas a teologia da libertação e a doutrina
social da igreja Católica.
Uma
cidade com um déficit habitacional de quase um quarto da população geral não
poderia evitar movimentos de ocupações em áreas públicas ou de especulação
imobiliária para forçar o governo municipal de José Pedral Sampaio implementar
um programa social de habitação popular, até porque já havia naquele período
algumas diretrizes legais para ações nesse sentido. Aliás, nunca havia sido
colocado em pratica e por isso estourou vários movimentos de luta pela moradia
no entorno da cidade.
Quase
todas as ocupações de áreas públicas abandonadas ou de especulação imobiliária
do lado noroeste e nordeste de Vitória da Conquista nos anos 90 em Vitória da
Conquista tiveram a presença da igreja católica para evitar torturas,
homicídios e garantir a integridade física, moral e psicológica de militantes
dos movimentos de luta pela moradia, articulado a ação social católica.
A
ocupação do Leblon no final dos anos 90, no Jurema, nas imediações do Colégio
Estadual Artur Seixas (Sapo) teve como mediador com o poder público o Pároco
Rafael. O padre pertencia a Paroquia Nossa Senhora Aparecida, naquela época era
administrada pelo pároco Rafael que atualmente passou a ocupar uma função na
alta hierarquia administrativa no Palácio Apostólico no Vaticano.
Havia um seminarista em particular, o noviço
Alexandre Carioca que era vinculado a paroquia de Aparecida, era um ativo
estudante de teologia que vislumbrava ordenar-se a padre. Paralelo aos estudos
teológicos, Alexandre fazia magistério a tarde no Centro Integrado de Educação
Navarro Brito, o CIENB que fica movimentada Avenida Frei Benjamim.
Senão
concluiu os estudos no seminário, Alexandre Carioca disciplinadamente concluiu
com louvor o curso de magistério mais ou menos em 1995. Eram anos de grandes manifestações estudantis
e CIENB tinha papel relevante na construção política do movimento estudantil do
lado leste da cidade. Havíamos articulado as principais lideranças e organizado
todos os grêmios do lado leste – CIENB, Polivalente, Eraldo Tinoco, Vilas Boas,
Kleber Pacheco, Orlando Leite e o colégio particular Paulo VI na Avenida
Brumado. Almejávamos reestruturar a União Municipal de Estudantes Secundaristas
(UMES) é a estratégia era mobilizar tiragem de delegados para participar com
uma grande delegação do 33º congresso nacional da UBES em Goiânia.
A
amizade foi se estabelecendo na medida em que participávamos de manifestações
na cidade, a exemplo gigantesca passeata contra a corrupção da mesa diretora da
Câmara Municipal, o fora Collor e uma audiência da Comissão de Educação da
Assembleia Legislativa realizada no Salão do Júri do Fórum Municipal João
Mangabeira.
Destaco
em especial a audiência do Fórum porque articulamos duas frentes, uma saindo do
lado leste tendo os grêmios do CIENB e do Polivalente como mobilizadores e
referência para a concentração e outra saindo do lado oeste tendo como
mobilizadores os grêmios do Adélia Teixeira, do Abdias Menezes e da Escola
Normal, tendo como ponto de aglutinação
a Praça Guadalajara.
Mobilizou-se
razoavelmente uma quantidade de estudantes que desceram a Av. Cuiabá,
atravessando a Rio Bahia e seguindo pela Avenida Santos Dumont, cruzando o
bairro São Vicente. Naquela época a Santos Dumont tinhas fluxo nas duas mãos,
no final da avenida, próximo à Praça Hercílio Lima, Alexandre Carioca teve uma
inusitada ideia de pedirmos a um dono de funerária um caixão para caracterizar
a situação da educação de ensino médio na Bahia.
Após
um longo processo de convencimento do proprietário, que se mostrava sensível a
causa estudantil, mas temia alguma represália. Haviam vários cartazes escritos
a mão com pincel atômico, estávamos todos de preto, rostos pintados de preto, e
o próprio Alexandre Carioca assumiu a tarefa de ser a representação da
educação, num esquife simples e vestido de preto. Havia uma palavra de ordem
que começamos a cantar estrepitosamente quando os dois grupos se encontraram na
porta do fórum superlotado de gente.
Invadimos
a audiência pública gritado a seguinte palavra de ordem, “Seu deputado quê caô
de ser doutor, a educação sucateada assim não dá, desse jeito o pobre nunca vai
se formar”. Erguemos o caixão e
marchamos na direção da mesa pressionando para chegar antes do estudante do DCE
da UESB falar, o estudante de história Danilo Moreira (UJS/PCdoB) usaria a tribuna.
A polícia tentou impedir, mas recuaram por se tratar do Fórum, o prefeita na
época era o José Pedral e colocamos o caixão encima da mesa e aranhamos e
Alexandre Carioca saiu do caixão parecendo uma assombração e o discurso de
Danilo Moreira foi no mesmo momento e, ao término do discurso não foi possível
mais ninguém falar. O próximo inscrito era o ex-prefeito José Pedral Sampaio,
que havia capitulado e se tornando um porta voz da ACM em Vitória da Conquista,
foi efusivamente vaiado efusivamente pelo público que se levantaram e aderiram
as palavras de ordem.
Fomos
contemporâneos de movimento estudantil secundarista numa quadra da história de
retomada de crescimento dos movimentos sociais no Brasil sob a égide de um
político tradicional, falsário da burguesia que se reivindicava calçado de marajá,
um combatente de corrupção. Assim como o atual falsário fascista, Fernando
Collor de Mello esteve a serviço do grande capital internacional privatista,
como corolário teve um governo chafurdado em corrupção, membro da oligarquia
alagoana entreguista e larapio da poupança da população.
Às
ruas deram conta de pressionar, forçando uma renúncia nos últimos momento para
aprovação do impeachment, num ato de covardia renunciou para não ser julgado. E
em Vitória da Conquista tinha sua representação maior, a temida Margarida
Oliveira, correligionária do anão do orçamento com anel de doutro, o deputado
corrupto do João Alves que disse ter ganhando 221 prêmios da loteria federal.
O
professor Alexandre Carioca conhecia bem o comportamento mercenário do
radialista Herzem Gusmão, pois havíamos ocupado a antiga DIREC 20º, quando o
professor Durval Menezes era o titular da pasta. O radialista tentou
desmoralizar as manifestações estudantis, suas instituições políticas (grêmios)
e suas principais lideranças. Essa “defesa” estava longe de ser resultado de
uma postura crítica de um intelectual ou militante, mais parecia um jabá que
recebia para blindar o carlismo, a exemplo do dirigente carlista da DIREC 20º.
A
vinda do amigo e irmão Alexandre Carioca a cidade de Vitória da Conquista abre
novas perspectivas editoriais para a militância intelectual publicar o
resultado de pesquisas, estudos e análises em todas as áreas do conhecimento
cientifico e popular. A Sextante encontrará nessas cercanias muita gente boa
produzido conhecimento e disposta a levar seu saber para o mundo globalizado.
Isso
nos alenta em relação a urgente necessidade de atravessar essa maré
ultraconservadora de idiotização do ser humano, despolitização da vida social e
do negacionismo fascista das ciências sociais como um todo para prosperar o
falseamento do real concreto soba égide da guerra de narrativas obtusas que se
recente de ser uma pós-verdade.
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