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DIREITOS HUMANOS: UMA LUTA DOS TRABALHADORES E DE TODOS
"Mais
do que em qualquer outro período histórico a defesa, garantia e ampliação dos
direitos inalienáveis da pessoa humana e da preservação do meio ambiente e da
natureza somam-se às bandeiras históricas das lutas libertárias dos trabalhadores
e do povo por um mundo melhor, contra o capitalismo, pela democracia e o
socialismo."
*por
Edvaldo Alves
A defesa, respeito e ampliação dos direitos humanos de todos os seres em nosso planeta têm cada vez mais ocupados as mentes, consciências e corações de todos aqueles que entendem que é possível construir um mundo melhor e que todos merecem uma vida mais digna.
Esta
aspiração esbarra na sociedade de classes, capitalista, cuja ideologia prega e
difunde valores incompatíveis com a justiça, fraternidade, igualdade e
oportunidades para todos. A dominação/exploração de uma classe sobre a outra é
a forma de existência da busca desenfreada pelo lucro, pela apropriação das
riquezas criadas pelo trabalho humano e a sua reprodução que garante a manutenção
desse tipo de sociedade. Dessa relação de produção, de classes, se erige todo o
arcabouço jurídico, de poder, de dominação, moral, de cultura e costumes que
não questionam a natureza da sociedade que acumulam tanta riqueza em um extremo
e tanta miséria em outro.
O
resumo acima apresentado, nos instiga a aventurar-se na análise das principais
mutações ocorridas no desenvolvimento das forças produtivas que podem influir
no comportamento dos principais atores que atuam no cenário social. Tal estudo
deve ter o objetivo básico de organizar os trabalhadores, as classes
subalternas, os segmentos e agrupamentos sociais que têm a sua vida e desejos
reprimidos pelo atual regime político e social, agrupando-os pela consciência
necessidade e vontade, para lutar por uma sociedade diferente da atual.
Desde
a segunda metade da década de sessenta do século passado, o mundo passou a
viver com uma intensa e complexa revolução técnico-cientifica. Como é próprio
desses fenômenos ocorre inicialmente nos países mais avançados economicamente e
vai se estendendo aos países periféricos, sendo que esses precisam enfrentar a
forte resistência daqueles que possuem a ciência e a tecnologia, uma vez que as
transformam em arma de mando e poder, sem jamais admitir tratar-se de bens de toda
a humanidade.
A
revolução tecno-científica é fruto dos avanços acumulados do conhecimento
humano universal, mas foi impulsionada pela enorme influência da competição na
conquista espacial e pela infame corrida armamentista nos marcos da guerra
fria.
O
salto qualitativo desses novos tempos aconteceu quando a ciência foi largamente
associada e utilizada no processo produtivo. Novas descobertas influenciaram o
papel da força de trabalho humano, o mesmo observou-se na divisão social do
trabalho provocando diferentes formas de exploração das classes. As alterações
ocorridas nas forças produtivas a partir de novos parâmetros de produtividade
mexeram extraordinariamente com o mundo social, político e de classes.
Guardando-se as devidas proporções no espaço e tempo, pode-se afirmar que a
atual revolução técnica-cientifico deve provocar grandes modificações na vida
social como aconteceu com a revolução industrial na segunda metade do sec.
XVIII.
No
campo internacional assistimos ao fim da chamada guerra fria. O tipo de
socialismo então existente, com todas as suas deformações ainda era um
contraponto ao predomínio absoluto do capitalismo imperialista, principalmente
nos conflitos internacionais. Trinta
anos após esses acontecimentos ainda se estuda o seu desmanche, que além de
resultado de suas próprias contradições internas, deveu-se também à vitória do
capitalismo na emulação entre os EUA e a URSS no campo do aproveitamento e da
inclusão da ciência e da tecnologia na produção. Enfim, a liquidação do então chamado sistema
socialista mundial, nos recorda a frase do célebre filósofo alemão: tudo que é
sólido desmancha no ar!
Hoje,
os EUA reinam absolutos na arena internacional. Os países que afirmavam
perseguir um caminho não capitalista sucumbiram à nova lógica produtiva e à
arcaica estratificação política que teimavam em preservar. A evolução política
e econômica da China, do Vietnã e de maneira particular Cuba, merece um estudo
específico em outro momento.
Os
impactos da ciência e da tecnologia provocaram enormes mudanças no processo
produtivo, cujo desenvolvimento e influência nas relações sociais ainda é
difícil prever até aonde podem chegar. Para os trabalhadores, como classe,
pode-se afirmar que piorou drasticamente as condições de trabalho e vida.
O
capital financeiro, expressão máxima do capitalismo nos tempos atuais, pouco
mudou exceto na aplicação de meios eletrônicos que permitem a sua operação em
temos globais instantaneamente. De resto, pouco se importa com o processo ou
relação de produção, uma vez que opera diretamente com os lucros que as
atividades econômicas podem gerar.
No
mundo do trabalho as consequências foram cruéis. As taxas de mais-valia
assumiram proporções estratosféricas. A relação trabalho humano social e
quantidade de riqueza criada diminuiu aparentemente o papel da força de
trabalho na produção de bens e serviços permitindo a diminuição da contratação
de trabalhadores, ocasionando desemprego e gerando um mercado de reserva nunca
visto na história da humanidade. Essas tendências próprias do capitalismo estão
se estendendo rapidamente às atividades agrícolas.
A
robotização e a simplificação de trabalhos complexos têm sido elementos
importantes da precarização dos trabalhadores. Atualmente, é possível prever
que o chamado “estado do bem estar social”, a garantia de trabalho, de direito
social e previdenciário, de reconhecimento da especialização de trabalhadores,
o conceito de garantir o sustento do trabalhador e sua família para garantir a
reprodução do capital para a burguesia não cabem mais nas condições atuais.
A
própria manutenção do mercado industrial de reserva não tem mais sentido para o
empresário, que sabe que a tendência atual é o aumento de desempregados e a
diminuição constante da quantidade de força de trabalho necessária para a
manutenção e desenvolvimento da produção, garantindo e aumentando sempre a taxa
de lucros. A rotatividade da mão de obra e o imenso mercado de reserva garantem
a reposição. Tal é a base para a precarização do trabalho, da atividade
intermitente, contratos provisórios e tantas outras medidas que esmagam os
trabalhadores cuja maior parte ainda não percebeu que se trata de um novo nível
da luta de classes. Os sindicatos e organizações populares foram enfraquecidas
por medidas judiciais e econômicas.
O
número de trabalhadores seja na indústria, nos serviços e no campo diminuiu
drasticamente. A renda do trabalhador no PIB tem caído constantemente. O
desenvolvimento do capitalismo, nos tempos atuais, jogou milhões nas ruas e
campos lutando pela sobrevivência. Os ideólogos burgueses não têm vergonha de
denomina-los de “empreendedores”. O Congresso Nacional em uma medida
compensatória aprovou o pagamento de um “auxilio emergencial” no ínfimo valor
de R$ 600,00, e esperava-se o surgimento em torno de uns vinte milhões de
necessitados e surgiram mais de cinquenta milhões, criando imensas e perigosas
filas na porta da Caixa Econômica em plena pandemia. Soma-se a tal massa os
milhões que não conseguiram dispor de todos os documentos e requisitos
exigidos, e, ainda a enorme massa daqueles que vivem na roça. Este é o tamanho
mínimo da miséria em que o capitalismo jogou o povo brasileiro.
Acredito
que as mudanças ocorridas aprofundaram uma nova realidade social. Hoje, o
capital além de explorar os trabalhadores também explora toda a sociedade e
todo o povo. Pode-se afirmar que a contradição principal entre os trabalhadores
e os patrões extrapolou as paredes da empresa e expandiu-se para toda a
sociedade.
Radicalizou
suas piores tendências: violência, marginalidade, preconceitos, racismo,
xenofobia, busca incessante pelo lucro e o poder, misoginia, discriminação
social e as diversas formas de degradação moral e ética. Esse universo deve ser
o nosso campo de luta. Não se trata de desprezar e abandonar as lutas, a
ideologia e a política dos trabalhadores, mas, entender que as consequências do
desenvolvimento do capitalismo fez emergir atores que devem ter um papel
destacado na luta política e social. Neste sentido, não acredito ser a melhor
política compartimentar e separar esses diversos segmentos. Não é fundamental,
em minha opinião, que tenham organizações especificas de diferentes níveis na
estrutura de estado, o que importa é uma política unitária e consciente do
papel do capitalismo e das classes na situação em que vivem. A diversidade e
complexidade dessas lutas no campo das contradições do capitalismo não devem
estreitar-se nos limites burocráticos de especificidades de cada uma delas.
Acredito
que o fundamental é o entendimento teórico dessas questões e a nossa capacidade
de criar políticas unitárias e dar importância a cada uma delas em cada momento
e situação objetiva que estiver enfrentando. Não há contradição entre o que
podemos conceituar como particular e o geral. As manifestações se aglutinam, se
desdobram e se unem dialeticamente, de certa forma, assemelhando-se a células
no campo biológico. Podemos exemplificar, com a luta geral contra o racismo e a
igualdade racial que assumem especificidades relacionadas à mulher negra que
integram o combate contra o racismo e também pelos direitos de gênero. O mesmo
se pode dizer sobre a juventude negra que é a primeira vítima a sofrer
diariamente a violência e arbítrio policial. Da mesma forma, as diferentes
ações de combate aos preconceitos e injustiças devem integrar-se e assumir
política unitária e combativa.
As raízes históricas e sociais desses
segmentos são bastantes diversas na questão geográfica e no tempo. A luta das
mulheres no Brasil, por exemplo, é muito diferente daquelas que vivem em alguns
países árabes, asiáticos e africanos. O mesmo ocorre com o racismo, no Brasil
com a vida, costumes, cultura, religiões e outras manifestações da raça negra
perseguidas e violentadas desde o infame sistema escravagista, diferentemente
do que acontece em grande parte dos
países latino-americanos nos quais o
racismo é mais forte com os indígenas, e
também em muitos países onde a aversão
aos imigrantes assume formas racistas.
Portanto,
admito que manifestações homofóbicas, machistas, preconceituosas, enfim,
diversas atitudes que contrariam direitos fundamentais da pessoa humana que não
são diretamente ligadas a relação trabalho X capital pode ser abrigadas no
conceito geral de Defesa dos Direitos Humanos e de defesa da natureza e do meio
ambiente. Sejam contra o racismo, contra a violência às mulheres e a misoginia,
à luta LGBT, a defesa dos direitos da pessoa deficiente ou diferente, contra a
violência policial e tantas outras formas de exploração e abusos que contrariam
os direitos fundamentais do ser humano.
Acredito
que as profundas mudanças ocorridas no capital estenderam suas mazelas para
praticamente toda a sociedade confirmando as previsões do filósofo alemão
anteriormente citado. Neste sentido, julgo interessante estudar a ampliação do
nosso universo de luta, equacionando teoricamente esses conceitos para
compreender as diferentes formas que estão assumindo as lutas populares nos
tempos atuais. Mais do que em qualquer outro período histórico a defesa,
garantia e ampliação dos direitos inalienáveis da pessoa humana e da preservação
do meio ambiente e da natureza somam-se às bandeiras históricas das lutas
libertárias dos trabalhadores e do povo por um mundo melhor, contra o
capitalismo, pela democracia e o socialismo.
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*Edvaldo
Alves é sociólogo, militante comunista do Partido dos Trabalhadores de Vitória
da Conquista, Bahia.
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