Translate

Seguidores

domingo, 19 de fevereiro de 2017

O projeto de educação do governo da hora: uma falácia ou ingenuidade?


"Expõe-se ao ridículo ao demonstrar tamanha inabilidade para lhe dar com os números contábeis da fazenda municipal e desconhece as suas infinitas possibilidades estatísticas para efeito de planejamento dos dispêndios municipais. "

*por Herberson Sonkha

É perfeitamente agradável aos ouvidos abordar um tema que cogite inflectir sobre o papel e as possibilidades educacionais numa jornada pedagógica com um tópico frasal: “a educação move o mundo”, contudo, considerar que a educação enquanto orientação escolar é peremptoriamente revolucionária é muita ingenuidade ou desonestidade intelectual.

Se ela não possibilitará a revolução, muito menos fará a formação técnica, humana, filosófica e política integral dos sujeitos históricos de nosso tempo. Não é esta a sua função primaria numa sociedade de classes antagônicas, conflitantes. É uma ilusão achar que a educação per-si fará a revolução que libertará quem subsiste exclusivamente da venda da única coisa que efetivamente lhe pertence que é à força de trabalho.

Pensar e acreditar que a educação sozinha vai quebrar esses grilhões criados pelo capitalismo e derrubar a ordem civil burguesa é infantilismo intelectual, principalmente numa época em que a burguesia abdicou há séculos desta tarefa quando o liberalismo clássico subiu ao poder instituindo o individualismo e já nem ouve mais os alaridos do liberal estadunidense contra os resquícios do Ancien Régime, ao conclamar a Desobediência Civil (1849), no dizer do liberal convicto Henry David Thoreau (1817-1862).

Não existe isso e a história vai confirmar em inúmeros processos históricos de ruptura social qual foi o papel da educação, senão manter ideologicamente quem está no poder, no controle da máquina. Assim, a educação é, das atividades desenvolvidas pelos humanos organizados em bandos ou grupos socialmente constituídos, a mais controversa por se tratar do pensamento e da prática elaborado pelos sujeitos numa determinada sociedade com rígidos controles civil e penal.

Dito isso, penso que as últimas movimentações do atual governo peemedebista de Vitória da Conquista causa estranheza, para não dizer caquética. Expõe-se ao ridículo ao demonstrar tamanha inabilidade para lhe dar com os números contábeis da fazenda municipal e desconhece as suas infinitas possibilidades estatísticas para efeito de planejamento dos dispêndios municipais. Nem quero adentrar o chão batido do controverso e arenoso terreno da educação sem antes definir o conceito e a função social da educação. Pois, nós educadores bem sabemos que essa verve já produziu ao longo de um século, mais folhas escritas e horas de diálogos do que a Vera Cruz supõe ter acumulado capital, fornecendo papel para alimentar a discussão ás custas da exploração de mão de obra absoluta e a pilhamento de pequenos lotes de terras dos pequenos aldeões no sul da Bahia.

Mas, a omissão seria um crime inafiançável e imprescritível, porque aqui ou acolá, sempre haverá alguém lembrado de omissão por desconhecimento ou por conveniência pecuniária. Então, parto do pressuposto mais elementar à educação que é um Projeto educacional. Porque se deve ter um projeto educacional? Responder a esta indaga, exige de cada educador uma coerência mínima. Qual seria ela senão a práxis pedagógica, independente de que bases teóricas, ou seja, liberal ou emancipatória! Quer seja como gestor, quer seja como educador não se deve negligenciar essa necessidade. Fala sério... Instituto Airton Sena (IAS) nunca foi referência para uma educação libertaria para os filhos das classes trabalhadoras e das populações subjugadas.

O IAS, organização ideologicamente articulada ao capital, serve à lógica educacional liberal apregoado pelos órgãos unilaterais internacionais que financiam a educação na América Latina (FMI e Banco Mundial). Não ultrapassa a matriz educacional pragmática e bancaria tão elementar à formação de uma massa disforme de indivíduos aptos ao exército de reserva de mão de obra ou como uma variável oculta necessária para tencionar para baixo o valor da força de trabalho. Aliás, por tabela desencadeia as demais precarização nas relações de trabalho, cuja função não excede a função compulsória de mais valia, Kapital versus Trabalho, aumentando a exploração do capitalismo.

Não é fácil formar sujeitos críticos e com a capacidade de compreender e intervir criticamente na realidade sócio-histórica e econômica, posicionando-se do lado do trabalho e contrário as relações de exploração causadas pelas contradições intrínsecas ao desenvolvimento do capitalismo. Mesmo nova, a arquitetura dessa escola velha, triste e apática que temos não cumprirá este papel. Não existe esta possibilidade. O atual Senhor da Prefeitura não tem a menor noção disso e, como bem disse George Bernard Shaw, “A democracia muitas vezes significa o poder nas mãos de uma maioria incompetente.” Pasmem...

Ainda falando de educação, gostaríamos de relembrar que a lógica adotada pelo governo atual não consegue subsumir as contradições imanentes de uma ordem social burguesa que concentra e centraliza a partir da exclusão em todos os sentidos. O PT não deu conta disso e amargou as conseqüências da primeira geração. Criticamos o nosso PT não teve disposição política e por isso não quis construir nada de revolucionário da educação de Vitória da Conquista nestes 20 anos no poder. Programas educacionais importantes foram criados, mas asfixiados pelos limites da lógica liberal de governar.

O tecnicismo pragmático das finanças petista (hegemônica) de orientação positivista-cartesiana ensimesmado de austeridade engessou iniciativas educacionais fantásticas e, que, poderiam se levadas ao limite, a superação do estado de alienação e coisificação criado pela cultura liberal herdada do mesmo peemedeb Tinha-se a opção de avançar para uma proposta de emancipação humana e não o fez. A educação é o único lugar em que se fizer pirotecnia será descoberto, pois não se admite velhas formas envernizadas como se fossem novidades, como por exemplo, apresentar o IAS como sendo o redentor da educação como se a educação fosse apenas ajustes nos indicadores do IDEB.  Estão reinventando a roda, como fazem ao pintar os meios fios da cidade como sinônimo de qualidade de serviço público. Ah... Caiu no mesmo lugar comum que tanto incriminou o PT no rádio como se este fosse o mais hediondo dos crimes...  O lugar de fala da educação é o debate forte, tenso e profundo e sua tradição remota os tempos longínquos da ditadura militar.

Não é porque o PT esteve na governabilidade com seus governos no comando da institucionalidade que educadores intelectuais e militantes deixaram de fazer militância e construir suas críticas. O nosso PT cometeu vários equívocos, mas não fica grunado a pecha de incompetente e desinformado. Os governos do PT em Vitória da Conquista ouviram da militância do PT (à esquerda) duras críticas que apontava corretamente aos gestores que não tinha projeto educacional emancipacionista para educação. Mas, inegavelmente tocou projetos inovadores para a cidade, Bahia e o Brasil, mesma sabendo que só mitigavam situações graves.

Mesmo sabendo que isso não atendia a luta dos educadores por mudanças mais radicais e, perfeitamente, possíveis de serem feitas. Não fizeram porque não compreenderam teoricamente que sua estada na institucionalidade era passageira e que deveriam aproveitar a oportunidade para fazer o máximo de mudanças radicais necessárias a erradicação culturas perniciosas deixadas pelas elites oriundas da tradição coronelista caótica, visando contribuir com a luta universal de transformações emancipacionistas.

Neste sentido, o governo municipal da hora, que também é peemedebista, diz que vai fazer grandes transformações na educação de Vitória da Conquista contratando uma consultoria especializada em maquiar indicadores do IDEB, como nos velhos tempos de FHC. Esse gestor aceitou não só o receituário de Washington, como também adotou consultores estadunidenses pernósticos para MEC, visando promover a adequação jurídica do Estado à lógica neoliberal para facilitar às exigências econômicas, sociais e filosóficas liberais dos órgãos multilaterais internacionais. Tudo isso para obter empréstimos do FMI e Banco Mundial. Veja o que isso gerou de problemas, endividamento do Estado e o atraso no debate mundial sobre educação sem subjugação do povo brasileiro.

Portanto, este governo que já começa desgovernado, tem feito algumas articulações perigosas que implicará nos resultados futuros, mas serão sentidos imediatamente ao perceber que política educacional não se faz somente com indicadores frios que não refletem a realidade dos e das conquistenses acostumados com participação e intervenção política. Essa mudança de comportamento é incontrolável e não retroage, portanto terá que auscultar a cidade e não somente empresários como tem feito, pois a cidade possui uma memória histórica dos tempos que os dispêndios municipais eram loteados pelos interesses mesquinhos capitalista dessas elites abjeta e imoral. Não é a toa que a cidade lembra como eram distribuídos os recursos públicos entre alguns empresários que faziam fortuna nas costas da pobreza e sofrimento população conquistenses.

Um comentário:

  1. A luta pela educação em Brumado é a luta por uma formação sócio-técnica universal sólida que permita a inserção qualificada no mercado de trabalho e um aporte adequado ao desenvolvimento teórico-metodológico da docência. A boa formação intelectual far-se-á necessária para compreender criticamente a realidade socioeconômica e política de seu tempo, sem perder de vista a emancipação humana como estação final da humanidade.
    Neste sentido, uma educação que não propicia a reflexão crítica aos sujeitos de uma determinada comunidade educacional, na qual tornar-se-ia incapaz de envolver todos as/os sujeitos históricos, no sentido de apreender minimamente as categorias fenomenológicas que visam dialogar com a diversidade (etnia, religião, orientação sexual e gênero) é uma educação estéril.
    Pior ainda será se esta não se articula organicamente com os embates das luta de classes encetadas pelas instituições políticas das/dos trabalhadores e pelos movimentos sociais, pois esta pífia educação está fadada a ser uma educação tradicionalmente bancária. Esta educação per-si não liberta, senão, aprisiona mais as/os estudantes, leva ao estranhamento no exercício da docência e a mercadorização da educação.
    Esta importante luta dos e das docentes de Brumado reflete tão somente esta necessidade política de superar o estado de alienação da sociedade, romper com o conceito de mercadorização na educação e fomentar a criticidade nos e nas docentes. Como diria o indefectível Edson Gomes, “vamos amigo lute! Vamos amigo lute! Senão a gente acaba perdendo o que já conquistou”....

    ResponderExcluir

Buscar neste blog

por autor(a)

Arquivo

Inscreva seu e-mail e receba nossas atualizações: