Translate

Seguidores

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Ao Amigo Sonkha (o Herberson)


 * Por Vinícius de Moraes


Li suas ponderações e as acho extremamente inquietantes. Digo isso por comungar de vossas considerações sobre a identificação do ser professor (ou educador?) em seu apropriado tempo histórico. Nisso, as limitações, na verdade, determinações do sistema econômico vigente são expressas em várias frentes. Ouvimos nas escolas que as configurações mundiais se modificaram, mas percebemos que ainda nos comportamos como reles colônia.

Não tenho fontes acadêmicas oficiais que determinem esse fato, mas não consigo ver a mínima coerência nas ações voltadas ao ensino no Brasil. A expansão do ensino superior ocorreu, é um fato, mas suas falhas são tão óbvias e perigosas, que mesmo um analfabeto de minha espécie consegue perceber seus riscos e reflexos futuros.

O que trato nessa questão é a não compreensão lógica de um país resolver qualificar sua educação partindo do ensino superior. Afinal, como alunos adestrados a uma fácil aprovação e aprovados de maneira desenfreada podem dentro das academias se transformar “magicamente” em profissionais realmente qualificados? Que dirá cidadãos conscientes.

Como vc bem coloca, é nossa maldita LDB que restringe quer essa qualificação, quer seu próprio questionamento. Afinal, como nós bem testemunhamos, a academia onde esperávamos encontrar o real debate e a procura por saídas é na verdade o centro da conformidade suprema, do deixes como está. Aí de quem contrariar tal “ordem”, nós sabemos disso.

Só uma colônia emburrecida como a nossa tentaria pegar analfabetos reais ou funcionais e esperar transformá-los em profissionais pensantes. Países que resolveram obter reais resultados com a educação agiram principalmente nas séries infantis. Ali sim o educador pode causar mudanças profundas e colher junto com a sociedade, o fruto de seu esforço.

Aqui nós batemos de frente com alguns problemas estruturais. Ora, os frutos citados obviamente não seriam colhidos em poucos anos de um único governo. Levaríamos talvez mais, mas não menos que duas décadas para vermos os resultados reais dessa transformação. Só que, como plantamos sementes que durem apenas o intervalo de um mandato (ou dois), não vemos quiçá ameaça de vivenciarmos tais transformações. Daí nos mantemos enchendo universidades, não as qualificando e vendo sair delas “dipRomados” analfabetos de nível superior. Me enquadro nestes, ainda que eu não tenha saído e que relute esse fato.

Um país que esqueceu o que venha a ser planejamento de longo prazo, que se limita a pensar o mundo por meros quatro ou oito anos, não pode conseguir superações reais para um problema tão pretérito e endêmico. Essa é uma inquietação nossa e de não mais que uma minoria. Continuamos usando os títulos distribuídos em academias para reforçar o desejo de se elitizar e alcançar ganhos puramente monetários, sem qualquer preocupação em devolver para a sociedade que pagou sua oportunidade uma mínima retribuição por tal “empréstimo”.

Não perderemos tempo com estes no momento, mas os liberais gritarão que o “dipRomado” tem de ser “livre” tanto quanto o mercado. Questionar de quem se tira para que outro seja mais livre é algo que nem mesmo em nossas mais esperançosas tentativas vimos ser qualificadamente exposto. A ampliação sem precedentes do exército de reservas é algo que esse mesmo e “liberto” mercado almejava e já colhe há anos. Ver quem sai ou está nas universidades se questionar sobre isso, infelizmente, parece ser cada vez mais difícil.

Dentro dessa configuração vemos os educadores sendo limados e obrigados a se limitar em meros professores tentando fazer seus “desiluminados” aprendizes se transformarem em qualquer coisa, não que transforme ou possibilite uma modificação futura, mas sim agrade e faça rir na atualidade o sacro e liberto mercado. Das Kapital agradece.



Saudações,
Vinícius...
“mas eu queria somente lembrar
que milhões de crianças sem lar
são frutos do mal que floriu
num país que jamais repartiu (pátria amada Brasil)
esse é o futuro do país”
                                                                    Autores Criminalizados



________________

Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)

0 comments :

Postar um comentário

Buscar neste blog

por autor(a)

Arquivo

Inscreva seu e-mail e receba nossas atualizações: