Translate
Seguidores
Prof. Davino constrange Lemos a reduzir a carga horária sem diminuir salário na justiça para cuidar do filho autista
“Não mexe comigo. Que eu não ando só"
(BETHANIA, 2012)
*por Herberson Sonkha
Davi é o primogênito do professor Davino Nascimento e da enfermeira Ilana. Um adolescente com inteligência musical e forte inclinação artístico-cultural. Tudo leva a crer que herdou essa verve musical do pai, o poeta, compositor e professor jequieense licenciado em Letras vernáculas pela UESB. Depois de mais de uma década, veio Guilherme (Gui), uma criança linda e extremamente carinhosa. Embora quase imperceptível nos primeiros meses de vida, Gui nasceu com transtorno do espectro autista (TEA).
Essa sigla (TEA) não significa absolutamente nada para a secretaria municipal de educação (SMEDE) de Vitória da Conquista. Deixou (e continua deixando) inúmeras mães atípicas desesperadas porque suas crianças são privadas do acesso à escola, pois a prefeita e o secretário se recusam a contratar profissionais qualificados para a função de cuidadores de crianças com necessidades especiais.
No caso do professor Davino Nascimento, sua solicitação negada escancarou a situação de falta de respeito e empatia à demanda das mães atípicas e de servidores públicos municipais. O governo dessa senhora ignora completamente esse fato (ignorância jurídica ou negligência política), ao negar um direito líquido e certo. Essa intransigência bolsonarista da prefeita e seu secretariado sobre esse fato, causou dor à família. O pequeno grande Gui sempre foi bem-vindo e amado por todos familiares e amigos.
Isso não quer dizer que esse fato não mudou inteiramente a dinâmica da vida do casal, causando sacrifícios e, em algumas situações, comprometimento da assiduidade de ambos no trabalho em função de que trabalham em turnos diurno e noturno. Tudo isso é desnecessário e poderia ser perfeitamente evitado caso o governo não fosse tão irresponsável e inconsequente a ponto de demonstrar sem qualquer receio da justiça ou dos olhares mais atentos da população à absoluta indiferença dessa gestão aos servidores públicos municipais.
Essa nova realidade, passou a exigir dos dois uma atenção redobrada e que foi prontamente assumida por eles, especialmente pela mamãe de Gui que é enfermeira, uma excelente profissional da área de saúde. Não pretendo discutir conceitualmente a TEA porque não tenho estofo intelectual para aprofundar nesta temática tão necessária. O fato de não dominar o conhecimento científico exarado na área pela academia, não me impede de acompanhar alguns estudos científicos basilares que comprovam que crianças com TEA precisam de um conjunto de condições muito específicas.
Essas condições são marcadas por um nível de comprometimento infinitamente maior para com essas crianças autistas por causa de como se processa o desenvolvimento do comportamento social, da comunicação e da linguagem. Aliás, eles perceberam que Guilherme tem interesses e atividades com determinadas especificidades que são exclusivas de crianças com TEA. Passaram a adequar a organização da dinâmica da casa às rotinas de aprendizagens que são realizadas continuamente. Afinal, porque uma mulher negaria um pedido desse senão por motivações políticas comezinhas que incitam o ódio de classe, de raça e de criminalização das minorias como fazem os bolsonaristas.
Em agosto deste ano, a revista Carta Capital, na seção Educação, a jornalista Luana Tolentino entrevistou o baiano Muniz Sodré de Araújo Cabral, um dos mais respeitados expoentes da intelectualidade brasileira. O jornalista, sociólogo, tradutor e professor da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UERJ) vem escrevendo sobre o recrudescimento do racismo e seus efeitos destrutivos na meteórica passagem da extrema-direita fascista pelo Palácio do Planalto, apoiado por alguns governos estaduais e municipais (a exemplo de Vitória da Conquista).
É consenso no mundo acadêmico (talvez em boa parte do Movimento Negro Brasileira) e entre intelectuais brasileiros que Muniz Sodré é uma autoridade científica com relevantes formulações teóricas. Sodré aborda a questão socioeconômica, cultural e política da etinicidade negra no Brasil com várias publicações bem avaliadas pela crítica especializada na área. Possui um vasto currículo de pesquisas e debates sobre a escravidão, a natureza do racismo e a demonização das religiões de matriz africana no Brasil.
O pensamento de Muniz Sodré em alguns aspectos convergem com a atuação política do professor Davino Nascimento na rede que não restringe apenas a defesa de seu filho Gui, mas a luta diária desprendida pelo Sindicato do Magistério Municipal Público de Vitória da Conquista (SIMMP). Entre outras afinidades, destaco a orientação religiosa candomblecista e o labor como professores que enfrentam nas ruas, no debate democrático e no bico da pena o establishment branco, cristão, conservador e racista. Davino Nascimento atua como professor da rede municipal de educação de Vitória da Conquista, enfrentando o peso das engrenagens opressoras do conservadorismo reaça da pseudo intelligentsia branca conquistense (embora haja muita gente ultraconservadora vinda de outras cidades para esse governo) no comando da prefeitura, atravessada pelo que Sodré chama de “mal-estar civilizatório”.
Essa articulação retórica entre esses dois sujeitos sociais distintos, decorre do entendimento de que a afirmação inequívoca de Muniz Sodré em sua entrevista aponta para a dimensão enigmática do racismo, no sentido de que existe interação ao correlacionar o racismo em âmbito universal com o particular. Concretamente, a explicação de Sodré considera o “mal-estar universal”, com um processo civilizatório inextricavelmente ligado ao particular nacional. Temática desenvolvida por ele em sua obra “O fascismo da cor: uma radiografia do racismo nacional” para abordar o fascismo verde-oliva de verve bolsonarista.
Muniz Sodré (2023), é um antigo candomblecista com cargo de Obá no tradicional ilê Aressá no terreiro Axé Opô Afonjá, em Salvador. Sua aprendizagem remonta os tempos da tradição da oralidade exercida cirurgicamente pelo Mestre Bimba, cuja expressão de capoeira na Bahia se tornara respeitadíssima. Sob a esfinge do “Malandro demais se atrapalha”, Muniz Sodré questiona o governo bolsonarista e orienta seu aprendizado contra a ideia de que é possível fazer tudo de imoral sem qualquer tipo de punição aos fascistas de plantão. Essa frase talvez tenha sido eternizada por ser reescrita de outra maneira pelo carioca, cantor e compositor de partido-alto, Bezerra da Silva.
Ninguém está absolutamente sozinho, como alertou a compositora baiana Maria Bethânia em 2012, na nona faixa do quinquagésimo álbum ‘Oásis de Bethânia’ (esse governo não escuta Bethânia pelas razões políticas impostas do clã bolsonarista), quando disse: “Não mexe comigo. Que eu não ando só". O ogã Davino Nascimento se reputa à essa premissa tão inexorável a qualquer candomblecista, enquanto filho de Santo de Pai Cely do Ilê Asé Kossíonilê (Ogum Megê) para responder as perseguições desse desgoverno municipal. Davino Nascimento decidiu raspar a cabeça para que seu Ori pudesse acolher o Oxu, conectando-o ao seu ancestral Sagrado (orixá) confirmado no roncó como um valente guerreiro Ogum Xoroquê, dando-lhe um título e um cargo no ilê como ogã.
Portanto, o governo municipal fascista subestimou o ogã Davino Nascimento ao achar que o mesmo estava sozinho. Não sabe que além de ocupar um cargo de suma importância pela responsabilidade dentro dos rituais de Candomblé, o militante ocupa uma posição respeitável na base sindical do SIMMP. Sua força advém de quem carrega consigo um orixá dual, convergindo a força de Ogum, sob a égide da mão absoluta de Exu que dá o caminho para que o autêntico trabalhador que manuseia metais no calor do fogo passa forjar todas as armas necessárias que serão utilizadas para vencer todas as guerras.
Na educação, o ogã Davino Nascimento estabelece que a principal luta é vencer o racismo, a criminalização às minorias, a opressão e as perdas salariais de quem é peça indispensável no processo de ensino-aprendizagem porque segundo Muniz Sodré a escola é a “comunidade de partida”, portanto fundamental na transformação da vida de qualquer pessoa. Assim como Sodré, a luta desse ogã e do SIMMP consiste na busca por mudanças profundas no sistema educacional do país para erradicar todas essas formas de silenciamento, exclusão, opressão e pauperização da categoria, sobretudo o racismo conquistense e deve começar pelo nível básico.
Aqui há uma convergência de entendimento entre o pensamento e a práxis política de Muniz Sodré, de Davino Nascimento e do SIMMP que conflui para o enfrentamento político por considerar que o juízo de que o governo de Bolsonaro promoveu uma interrupção no processo de desenvolvimento de um modelo em curso. Esse rompimento drástico causou enormes atrasos e vários retrocessos em conquistas históricas da s categorias laborativas de direitos socioeconômicos, culturais e políticos em apenas quatro anos. Enquanto em Vitória da Conquista, o governo municipal de extrema-direita está no poder há mais tempo (duração de oito anos), portanto o estrago é bem pior.
O governo municipal da cepa da extrema-direita que ascendeu ao poder local em 2016, de alguma forma explica o porquê da negação intransigente de sua solicitação de redução da carga horária sem prejuízo de redução de salário. Açodadamente, o governo municipal ignorou (por desconhecimento) o exemplo de jurisprudência da decisão da 3ª Vara do Trabalho de Rio Branco que concede o direito à redução da jornada de trabalho sem prejuízo em seu salário para que o(a) trabalhador(a) possa ajudar a cuidar de uma criança diagnosticada com transtorno do espectro autista (TEA).
A origem de todos os males que fragilizaram todas as políticas públicas é o governo de Bolsonaro, que atacou (orçamento e estrutura jurídico-administrativa) todas as políticas públicas estruturantes da educação, da saúde e do desenvolvimento social do Brasil. Isso só revela quão “a consciência fascista sabe que a verdadeira resistência ao poder desmedido, à aniquilação da vida, está na educação e na cultura. Eles desmoralizaram a cultura e tentaram desmoralizar a educação” (SODRÉ, 2023).
A jornalista Luana Tolentino relembra que Muniz Sodré houvera dito que as eleições no segundo turno de 2022 no Brasil estavam sob a regência de Exu, orixá do caminho e da comunicação. Uma espécie de introito para perguntar sobre a natureza do orixá que rege o terceiro mandato do presidente Lula. Supõe Muniz Sodré que é o “princípio nagô da justiça”, guiado pelo orixá Xangô que rege o governo com braço forte da justiça e, é simbolizado pela pedra, um sinal de estabilidade.
Alguns sinais apontam isso quando o governo busca por justiça ao demonstrar que a gestão tem feito escutas coletivas, contrariando a administração anterior que governava exclusivamente para ricos brancos, absolutamente surdo para as populações negras, povos originários, campesinas e as perifericas. Muniz Sodré observa que “A questão do desmatamento diminuiu, a matança, a morte dos yanomamis parou. A justiça também se impôs a essa pretensa força golpista dos militares” (SODRÉ, 2023).
Concluindo que o princípio de Xangô é o fogo que pode simbolizar a construção, mas adverte também sobre as dificuldades, sobretudo àquelas relacionadas às chantagens (Câmara e Senado), mas considera que muitas coisas vão ser feitas (vide a Câmara de Vitória da Conquista). Essa é a base que deve nortear todas as lutas a serem travadas por justiça no país, especialmente a conquistense.
É nesse contexto que ocorre os retrocessos sociais, econômicos, culturais e políticos que afeta mais incisivamente à população negra periférica e os povos originários promovidos pela extrema-direita no Brasil, analisados por Muniz Sodré. Aqui se insere a extraordinária conquista na justiça do ogã Davino Nascimento e do SIMMP que constrangerá o atual governo municipal fascista de Sheila Lemos, coagindo-a a rasgar a vergonhosa e aviltante devolutiva negativa dada à solicitação do professor Davino Nascimento.
O atual governo municipal, último bastião do fascismo em Vitória da Conquista, será coagido pela justiça a fazer aquilo que a prefeita Sheila lemos tem negado, mas fez apenas aos apaniguados por pura escrotidão política, já que se cogita nos bastidores a existência de dois possíveis casos em que servidores foram atendidos em seus pleitos relembrando o corrupto ACM (Aos amigos, tudo, aos inimigos, a força da lei).
A decisão de conceder esse direito ao ogã Davino Nascimento abriu não apenas o maior precedente histórico da categoria, mas promoveu a desmoralizado pela justiça do "governo para pessoas" (os ricos). Terá que engolir a arrogância e prepotência para ceder a toda a rede municipal de educação. Aliás, a todos, todas e todxs servidores municipais na mesma condição de mãe e pai de crianças autistas. Maria Bethânia, sabiamente tem razão, pois não se deve mexer nem com quem anda com orixás, muito menos com quem anda com a coletividade sindical.
Laroiê Exu!
Ogunhê!
0 comments :
Postar um comentário