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A natureza do “Estado Violência” fascista contra a enfermagem
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Fonte Agência Brasil/Foto de Fábio Rodrigues |
“Estado Violência
Estado hipocrisia
A lei que não é minha
A lei que eu não queria”
(TITÃS, 1986)
*por
Herberson Sonkha
Assistir inconformado à ação truculenta da polícia contra a manifestação legitima e democrática dos profissionais de enfermagem em Brasília. A irritação se deve ao fato do comportamento benévolo da Policia Militar para com os atos fascistas golpistas de 08 de janeiro, mas extremamente violentos com manifestantes, derrubando e disparando spray de pimenta na manhã de segunda-feira (3) tomada pela manifestação na Esplanada dos Ministérios.
É
o “Estado Violência” vigilante da burguesia, gravada há quase quarenta anos
pela banda Titãs, desnuda a Lei de Estado brasileiro expondo como se age com extrema
violência, hipocrisia e que nunca foi uma lei democrática popular, mas de
manutenção da burguesia brasileira. A frieza da burguesia é decisiva para incitar
a fúria policialesca irracional contra pessoas em luta por seus direitos
negados.
Os
milicos foram incapazes de reconhecer que esses profissionais da saúde até
ontem eram ovacionados pelo trabalho de excelência salvando vidas prestado à
nação durante a pandemia do Convid-19. A violência policialesca não é um privilegio concedido apenas aos profissionais de enfermagem em luta, mas às classes trabalhadoras e as populações periféricas e ocorre diariamente nos quatro cantos do
país. É o Estado sendo usado escancaradamente como comitê político da burguesia
para gerir os interesses da burguesia capitalista e garantir seus mecanismos de
reprodução do capital no livre mercado.
A
polícia foi autorizada por esse comitê político para oprimir, torturar e matar
o seu próprio povo que faz com que as canções do álbum “Cabeça Dinossauro” se
torne atualíssima e necessária neste momento. Durante o tempo em que prevalecer
esses interesses capitalistas da burguesia brasileira controlando o Estado para
hegemonizar com selvageria essas relações socioeconômicas e políticas no Brasil,
quem não acumular riquezas será alvo fácil da violência.
O
Estado brasileiro seguirá mantendo a mesma hipocrisia e violência de sempre
contra a população negra pauperizada e periferizada. Prevalece o distanciamento
(que se amplia cada vez mais no Brasil) das pessoas do mundo do trabalho de
todas as riquezas e dos privilégios da burguesia que governa o Estado de
maneira autoritária. Não haverá transição à democracia e muito menos a construção
efetiva da verdadeira democracia popular de alta intensidade participativa.
Vendo
a força polícia pública mobilizar seu destacamento para agredir abertamente e
arrastar violentamente profissionais de enfermagem imagino como isso deve
servir pedagogicamente para aguçar a consciência de classe dessa categoria
laboriosa, principalmente aquela parcela alienada em relação a sua condição de
classe social, chacoalhando para tirar do sono profundo de classe média que
sonha ficar rica e virar burguesia.
O que se verifica nessas quase quatro décadas da
gravação é que a Lei não só não resolveu todas as mazelas da sociedade denunciadas
pela banda Titãs, como permanece sendo um Estado de contínua violência contra as
populações periféricas brasileiras.
Nesse
sentido, a banda Titãs, no seu terceiro álbum gravado em estúdio em 1986,
denominado de “Cabeça Dinossauro” estava hiperconectada com as contradições,
mazelas e os anseios populares daquele momento. O que levou a banda a denunciar
publicamente todas àquelas mazelas no país herdadas da ditadura militar, cuja
cumplicidade e responsabilidade era da burguesia brasileira.
À
época o álbum teve grande repercussão, o jornal paulista Estadão escreveu que
"é um disco chocante, punk, nervoso e muito curioso. Um disco de
'rock-veneno', um grito." Realmente, o disco é um grito estridente repleto
de canções fortes com reflexões críticas contra a burguesia de um país cheio de
contradições. Um Estado que reprime violentamente as pessoas que militam em organizações
políticas da classe operária ou qualquer pessoa da periferia e do campo,
principalmente pessoas negras porque eles as consideram vagabundas, traficantes
ou perigosas.
O
peso da balança só desequilibra para o lado das pessoas pobres, pretas e
periferizadas que sofrem com a covarde violência das forças policiais do Estado
liberal burguês afim de evitar reações políticas conscientes mais amplas e
articuladas contra o sistema capitalista e a ordem civil burguesa. A violência se
aplica exclusivamente contra políticos opositores ao regime; pessoas da classe operária;
representações políticas sindicais e das populações subalternizadas. Pancadaria
e tiro contra qualquer pessoa que ouse levantar a voz contra a burguesia e o seu
sistema capitalista, inclusive as vozes musicais.
O
LP do Titãs contou com várias músicas abordando exatamente essas mazelas urgentíssimas
em um país extremamente militarizado e ideologicamente conservador. O álbum
virou um estopim que incendiou as ruas do país, inclusive nas periferias com
músicas intensas a exemplo de “Igreja”, “Polícia”, “Vai pra rua”, “bichos
escrotos”, “família”, “homem primata” e tantas outras canções de protestos.
O
baterista da banda Titãs, o Charles Gavin, autor de “Estado Violência” vai
dizer que se desenhava nas ruas do Brasil um conjunto de problemas estruturais
em decorrência do sistema capitalista selvagem. Gavin questiona o processo lento
de transição da ditadura militar à Democracia, o retorno dos direitos civis e
das liberdades democráticas. A tortura, o terror beligerante e a intimidação
generalizada em função da violenta repressão do aparato militar do Estado,
criou um clima de desilusão e um cenário de distopia.
A
capa do álbum é emblemática e muito sugestiva porque foi inspirada na famosa
pintura de Leonardo Da Vinci, "A expressão de um homem urrando", uma
alusão à dualidade entre a racionalidade (cabeça) e o primitivo (dinossauro). O
disco foi produzido com raiva do mercado, sobretudo da gravadora por causa da
escrotidão burguesa com o segundo trabalho da banda, que sabotou o álbum “Televisão”
gravado em 1985 e produzido por Lulu Santos com clássicos do tipo "Não vou
me adaptar", "Autonomia", "Massacre" e "Homem
cinza".
Enfim, a polícia denunciada pelas canções da banda Titãs continua a mesma e mata 6 mil pessoas por ano no Brasil com a garantia, cumplicidade e silenciamento do Estado brasileiro. Minha total solidariedade à luta imprescindível dos profissionais de enfermagem pela aplicação do Piso Nacional a toda a categoria, mas também espero que essa árdua e dolorosa luta sirva com combustível que alimenta energia intelectual da consciência de classe que não aceita violência e hipocrisia. Antes, luta por outra sociabilidade que elimine a exploração de força de trabalho.
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